PEV - Pokémon Estilo de Vida

Capítulo 35 – Sentimentos


Pokémon Estilo de Vida
Saga 03 – Guerra
Etapa 07 – Kevin



"Nunca vi nada selvagem sentir pena de si mesmo.
Um pássaro vai morrer de tanto gritar antes de sentir pena de si mesmo."



Capítulo 35 – Sentimentos



– Não! -



O grito saiu abafado. O famoso pesadelo havia sido sonhado novamente, mas agora todos os seus personagens estavam lá e ele já havia se tornado realidade. Estava totalmente debilitada no sonho porque além de levar um tiro, havia tido sequencia de estados de choque.

Ninguém era obrigado a ficar firme após saber que a cidade onde estava seria invadida, os habitantes seriam mortos e você era alvo prioritário. Se fosse forte o suficiente para esse sequencia ainda vinha a situação de ter tido uma pessoa sendo morta na sua frente com sangue espirrando no seu rosto, saber que seu pai havia contrato um bandido para vigiá-la e que tudo aquilo acontecia por causa da pessoa amada. Se tudo isso não derrubasse alguém, certamente ver a pessoa amada beijando outra, as suspeitas que alguém não presta se confirmar provando que foi enganada e um grupo de pessoas surgir atirando para todos os lados e você levar um dos tiros.



– Sente-se melhor? -



Escuto a frase e entendeu que falavam com ela. Estava deitada em um sofá e percebeu que tinha apenas um curativo no braço esquerdo. Havia sangue espalhado pelo seu corpo, mas não sentia dor aguda em Lívia, com exceção do braço. Apenas desconforto musculares.

Percorreu com os olhos o local onde estava e não o reconhecia. Parecia a sala de uma casa, mas que estava entregue a penumbra. Mas, pode identificar na janela, observando o exterior, por uma pequena fresta da cortina, John. Não o respondeu, não por não querer, mas por não saber ao certo. Algo estava muito errado. Ela sabia que deveria estar sentindo muita dor, ou mesmo estar morta, mas estava viva e aparentemente bem. Afinal, seu pesadelo havia se tornado realidade.

Aterrorizada por tudo que aconteceu e pelo tiro que a acertou, caiu no chão e escutava pessoas gritando, outros tiros ocorrendo e coisas que poderia jurar serem explosões. Não sabia dizer se foi muito tempo, ou pouco tempo, mas sentiu alguém tocar nela e a levantar, como se a carregasse nos braços. Não abriu os olhos temerosa pois sabia que era Kevin. Sentia a sensação gostosa, quente e protetora e que sentia no pesadelo quando ele a carregava. Mesmo sabendo que em seguida a vida de um dos dois terminaria com um tido, ela deixou-se acalmar, após tantos abalos.

Arriscou olhar para ele após algum tempo, quando sentiu que pararam de andar e foi então que percebeu o quanto achava-o bonito e que talvez morrer não fosse tão ruim. Não teria mais que pensar que ela a enganou, que não poderia tê-lo e nem que lidar com as vontades loucas do pai.

Deitada naquele sofá, ciente de que estava viva vislumbrou a possibilidade de Kevin ter morrido e não ela. Por qual outro motivo estaria bem? Lembrava-se do segundo atirador e dele atirar. O sangue espalhando para todos os lados e tudo se tornando escuro. Alguém tinha que ter morrido.



– Por que estou viva? -



John até aquele momento não havia encarado Lívia. Mas, a pergunta era no mínimo estranha para que ele ignorasse. Em pé, encostado na janela, olhou para fora uma última vez e voltou sua atenção para a loira deitada.



– Conheço poucas pessoas que questionam porque estão vivas. - Ele deu uma risada engraçada. - Na verdade, vi muito disso na Estilo de Poder. -



– Não estou reclamando... -Lívia sentou-se. Uma tontura ocorreu e respirou fundo algumas vezes, levando o braço direito a cabeça. Aos poucos o mal foi passando, talvez fosse falta de água ou fome. - Mas, lembro de Kevin me levando nos braços e alguém atirando contra nós, de frente, a queima roupa. -



– Também fiquei surpresa de estar viva. - Comentou John. - O primeiro tido que te deram eu achei que fosse apenas para te derrubar, para poderem usá-la para emboscarem Kevin. O tiro pegou de raspão, na parte interna de seu braço esquerdo, talvez um pouco mais para a direita e teria acertado seu coração. Tentaram realmente te apagarem de uma vez só. -



Lívia escutou aquilo e por instinto olhou para seu braço esquerdo enfaixado. Realmente seria dor naquele ponto dito por John. Tentou forçar as lembranças do momento do tiro, mas não encontrou explicação nela para não ter morrido.



– Kevin tirou-a de lá alguns segundos depois de cair e liberar pokémon para proteger as meninas dos Países Livres e outra para proteger quem estava na praça, como nós. - Comentou John. - O tiro a queima roupa que se lembra aconteceu, mas o sangue que se espalhou foi do atirador. A ave metálica entrou na frente do tiro, protegendo vocês e em seguida estraçalhou o atirador. - Olhou pela janela conferindo se estava tudo bem. - Nós sobrevivemos graças a ave. As balas não a feriam e ela matava o que tocava. Infelizmente, ela não foi rápida o suficiente para salvar todos. Rafael está observando Núbia na cozinha, ela levou um tiro na perna. Sarah está na cozinha produzindo algumas bombas caseiras. -



– Mas... e os outros? E o professor? -



Lívia teve como resposta a sua pergunta apenas uma negativa de cabeça. Ela fechou os olhos sentindo aquilo. Seus companheiros de aula mortos. Todos assassinatos por pessoas que nem conheciam, tudo por causa de Kevin. Como o mundo podia estar tão violento e tudo por causa de uma única pessoa?



– Então... Kevin... -



Lívia não conseguiu terminar de falar. Não era possível que Kevin tenha salvado-a, tenha vencido o pesadelo e depois de tudo tivesse morrido.



– Atrás de você! -



Lívia virou-se e mesmo com perfeição pode ver que Kevin sentado com as costas encostadas em uma das paredes, ele estava encolhido abraçando as próprias pernas e sua cabeça estava abaixada. Não podia ver, mas sentia que nunca havia visto-o daquela forma. Como se ele estivesse sem vida.



– Sinceramente, gostaria que ele tivesse morrido, mas confesso que ele não existe. - John viu que Lívia olhou surpresa. - Não se preocupe que ele não está prestando atenção. E não me interprete mal, mas morto tudo acabaria. Talvez tentassem vingar-se de mim, mas seria bem menos problemático. - John suspirou. - Ele nos trouxe para essa casa. Eu arrombei a porta. Ao que parece ninguém nos seguiu. Sacou a Meganium e usou o Aroma Doce para acalmar você e Núbia. Fez seu curativo numa velocidade assombrosa, e retirou a bala da perna de Núbia. -



John riu de nervoso apenas de lembrar a velocidade com que Kevin fazia as coisas. Enquanto o moreno verificava a segurança da casa Kevin cuidou de Lívia com o que possuía a mão, um pedaço de sua própria camisa e em seguida cuidou de Núbia usando Meganium e Luxray. A planta, com suas vinhas pequenas, retirou a bala, Kevin verificou se algo, além do músculo havia sido rompido e pareceu constatar que não e com isso usou a eletricidade para fechar a carne, queimou o local com eletricidade, fechando o buraco.



– Sempre achei que supervalorizassem as habilidades dele, mas a verdade é que é muito bom. - Ele voltou a olhar pela festa da cortina, e assim permaneceu. - Mas, também estive enganado a vida toda quanto ao que ele faria se a irmã morresse. -



– Como assim? -



Lívia pareceu surpresa sobre o que foi falado. Era tanta coisa acontecendo que duvidou que tivesse ficado desacordada por pouquíssimo tempo. Sarah fazendo bombas caseiras era algo que ela queria dar atenção, mas essa história da irmã de Kevin morta pareceu mais urgente.



– Foi pouco depois que ele terminou os cuidados médicos. Ele estava pronto para sair e nos deixar aqui, mas Sarah estava na internet procurando informações sobre tudo isso e achou um vídeo que corria por todos os lugares. Nele mostrava a irmã de Kevin, Julia Maerd, e outros sendo aprisionados num castelo, ou forte, e todos acabavam sendo mortos enquanto tudo explodia. Ao final do vídeo Murilo falou que se Kevin duvidava podia ligar para eles e quando acreditasse era para ir atrás dele, pois era o responsável e gostariam de mandá-lo para junto dos mortos. -



Lívia olhou para Kevin e compreendeu que ele realmente estava sem vida. Aprendeu pouco do loiro, mas sabia que era sua única família, direta, viva e que aquilo significava que ele estava sozinho no mundo.



– Era para ele estar possesso matando tudo para chegar até os responsáveis, mas ele viu o vídeo e caiu sentado e não respondeu a nenhuma de nossas tentativas de falar com ele. - John voltou a vigilância e não mais tirou os olhos da rua para falar com Lívia. - Ele é mais humano do que pensamos. -



Lívia levantou-se. Deu dois passos na direção de Kevin, mas parou. Queria muito brigar com aquele garoto. Sentia-se traída, apesar de saber que não havia nenhum compromisso entre eles e fora apenas um beijo a quase duas semanas. Mas, achava que significava algo, achava que era algo importante não só para ela, mas para ele também. Sentiu os sentimentos dele e pareceram tão sinceros, tão reais. Seria Kevin tão bom em mentir e manipular quanto seu pai?



– Meu pai te contratou para me vigiar? - Questionou Lívia voltando-se para ele.



O rapaz olhou-a por um instante e apenas confirmou com a cabeça voltando a sua vigilância. Lívia pensou em conversar com John sobre aquilo, mas não adiantaria muita coisa. Mesmo questionando John sobre seu pai, aquilo não ajudaria em nada. Ela precisava era confrontar seu pai e não John. Mas, talvez pudesse confrontar Kevin e talvez ele voltasse a ser a pessoa heroica que eles estavam precisando naquele momento.

Caminhou até ele e se abaixou de frente para ele. Era um misto de sentimentos, vontade de abraçá-lo, mas também de esbofeteá-lo. Optou por algo perto do segundo, pegando os cabelos dele com a mão direta e erguendo a cabeça dele. Queria ela não ter feito aquilo, havia tanta dor naquele olhar que ela saltou-o assustada.

Ele sequer reclamou do solavanco que sua cabeça deu ao cair. Levantou a cabeça, em seguida o olhar e pareceu demorar a reconhecer quem era, mas acabou por sorrir para ela. Ela podia ver como os olhos dele estavam vermelhos e como a face estava manchada, talvez ambos pelo choro, provavelmente silencioso. Ele estava bem abalado, mas ainda assim, sorriu para ela.



– Eu deveria te entregar para eles. -



Lívia disse tentando desviar o olhar e evitando responder ao sorriso. Ela sorria quando o via e ele sorria quando a via. Mesmo naquela situação onde ela estava com raiva dele não conseguia deixar de gostar de vê-lo.



– Talvez devesse mesmo. Se contasse o que te fiz e me entregasse para eles, talvez eles te convidassem para ser uma Fantasma e assim poupassem sua vida. -



Ele pareceu tão sincero que Lívia desmoronou. Inclinou-se para cima dele e deixou que sua cabeça se apoia-se na dele. Sentiu como o rosto dele estava molhado das lagrimas e como o sangue do último atirador, que ela vira, estava seco na roupa.



– Queria te bater! - Bradou a loira. - Ao menos deixar minha mão marcada na sua cara. - Disse Lívia a meia voz. - Mas, você está sofrendo tanto que... que... - Ela parou de falar. - No final, você é do jeito que eu achava que era. Um idiota! Um cara qualquer que fica correndo atrás de um monte de garotas, até das novinhas. - Ela desencostou-se dele. - Riley? Amiguinha da minha irmã? Tem ideia da idade dela e quão ridículo isso é? -



Kevin olhou para ela por alguns instantes. Poderia dizer que a diferença de idade deles era de apenas três anos e que isso não era muita coisa, poderia dizer que ele nunca teve compromisso algum com Lívia para ela ficar assim, poderia dizer que ridículo era ela de ter acreditado nele se tudo dizia para ela não acreditar e poderia dizer que ele não era daquele jeito. Mas, ele não se importava.



– Preferia que tivesse sido a sua irmã? -



Lívia levantou a mão e tentou, por mais de uma vez. Mas, aquelas palavras não pareciam vir dele. Aqueles olhos não eram dele. Apesar do sorriso o olhar ainda passava tanta dor que parecia pedir para que o punissem, que o acusassem, que o matassem.



– Está doendo, não é? -



Ela pousou a mão no rosto dele por fim. Como ela queria conseguir odiá-lo, mas era como se tudo fosse pequeno, como se a traição e colocá-la em risco não fossem nada comparado ao que já tinham vivido. Mas, não viveram nada juntos! Ela tinha certeza de que um momento nas nuvens não podia fazer tanta diferença na cabeça e no coração dela.



– As pessoas estão morrendo por minha causa. - Ele disse com a voz embargada. - Achei que eu poderia salvá-las. Sabia que ia perder algumas no processo e que eu poderia morrer, mas que iria salvá-las, mas todo mundo morreu! - Ele começou a chorar novamente. - Todos dizem que sou herói! Todos pensam que sou herói! Todos pedem que eu seja herói. E na hora que eu preciso ser herói... - Ele voltou a abaixar a cabeça, escondendo o rosto em meio as pernas, ficando encolhido. - Você está morta! Riley está morta! Nossos amigos de aula estão mortos! A cidade inteira está morta e minha irmã e amigos também! -



Lívia escutou aquilo e não deixou de perceber o som de derrota. Ajeitou-se e sentou-se a o lado dele, colocando as costas na parede. Era desconfortável, talvez as dores dela fizessem parecer desconfortável, mas não imaginava como Kevin poderia estar naquela posição por tanto tempo.



– Eu não me sinto burra. - Ela disse meio hesitante. - Pareço burra? -



Kevin olhou para ela sem entender. Ele não havia chamado-a de burra.



– Se eu não me sinto burra, também não deveria se achar um defunto. -



Ela sorriu. Não queria, mas sorriu. Mas, assim foi a primeira conversa de verdade que eles tiveram sobre algo importante para eles. O dia em que Kevin fez ela começar a ver as coisas de uma outra forma. Era inevitável sorrir diante daquela lembrança e ela sabia disso. Ela sorria e ele acabou sorrindo, o mesmo sorriso bonito que ela conhecia.



– Gosto do seu sorriso bonito. - Disse ela. - Eu não estou morta. A Riley não deve estar. Tem muita gente viva na cidade ainda! - Ela comprimiu os lábios. - Sinto por sua irmã e amigos lá fora. Mas, tem que continuar, por você e pela gente. Não vamos conseguir sem você. Você me disse que ia ficar tudo bem, lembra? - Ela respirou fundo, sentiu os olhos arderem e teve certeza, começaria a chorar. - Não precisa ser um herói, seja um vilão. Mata todos eles, mas não morre assim... sofrendo do jeito que eles querem... não é justo. -



Kevin ficou olhando-a por algum tempo sem dizer nada. Os olhos ainda vertendo lagrimas. Ele fechou os olhos e simplesmente deitou-se no ombro dela, surpreendendo-a. Se em algum momento ela viu Kevin frágil, não imaginou que ele viria se consolar com ela.

Era uma sensação estranha. Seus abraços se moviam sem ela querer, para abraçá-lo. Era como se já tivesse feito aquilo outras vezes. Afagou os cabelos dele durante um tempo e de repente começou a chorar junto com ele. Ela tinha vontade chorar desde que acordara, mas só agora estava dando vazão e não entendia o motivo.



– Como eu q-queria te odiar... - Ela gaguejou.



O rapaz apenas estendeu a mão dele para segurar uma das mãos dela. Lívia lembrou-se de quando voaram, que com um toque, parecido com aquele, eles viram os sentimentos e pensamentos um do outro. Ele não conseguia falar nada naquele momento e de certa forma ela não conseguia brigar com ele como queria, não com ele naquele estado. Ela segurou na mão dele, o choro foi parando enquanto os olhos dela iam se arregalando até que ele saltou a mão dela e a abraçou.



– Desculpa! - Ele disse em meio ao choro.



Mas, ela estava parada. Recebia o abraço ainda tentando processar o que tinha visto e ouvido. Ele havia visto o quão machucada havia ficado por encontrar ele com Riley, mas ela parecia ter visto algo muito diferente, não apenas o quanto ele gostava e se importava com a irmã a ponto de estar realmente querendo morrer.



– Você quer mesmo morrer? - Ela perguntou a meia voz.



– Isso nunca vai acabar enquanto eu estiver vivo. - Ele disse com os lábios perto da orelha dela. - Virão outros. Sempre existirão outros. Algo em mim faz as pessoas me admirarem ou me odiarem. -



– Eu te admiro, mesmo querendo te odiar. - Disse Lívia.



Kevin soltou um pouco o abraço e tentou, mesmo na escuridão, olhar nos olhos dela.



– Você me faz sorrir mesmo quando eu estou nessa situação, querendo morrer sem motivos para sorrir. Meu coração se inflama e fico querendo estar com você o tempo todo - Ele respirou. - Mas, gosto dela também. Ela me faz me sentir leve e faço as coisas sem perceber que estou fazendo. -



Kevin percebeu que ela o olhava sem dizer nada, talvez um pouco perdida.



– Sinto muito te fazer isso. Não foi a intenção e não sou... -



– Eu sei. - Ela disse meio perdida. - Eu sei que podemos gostar de duas pessoas ao mesmo tempo, durante um período, até que o tempo passe e uma se sobressaia e definitivamente você não está no melhor momento para pensar nisso... - Ela finalmente olhou para ele. - Mas, o que foram as coisas que eu vi quando segurei sua mão? -



– Existe uma técnica... -



– Isso eu entendi! -



Kevin iria explicar para ela o que explicou quando a levou para passear em Pidgeot. Que existe uma técnica antiga dos pokémon Ranger para que eles se conectassem aos pokémon. Bastava que eles tivessem os mesmos tipos de sentimentos, tivessem vivido algo parecido em suas vidas. Mas, não era aquilo que Lívia falava, ela se lembrava e isso estava deixando Kevin confuso sobre o que ela falava.



– Eu me vi abraçada a você, passeando com você, beijando você diversas vezes. Eu vi nós dois namorando, tendo uma filha! - Lívia parecia confusa. - Vi você com Riley em muitas situações como as nossas. Mas, não pareciam só imagens, pareciam... -



– Lembranças? -



Sugeriu Kevin que a viu apenas confirmar com a cabeça. Ela estava confusa com aquilo. Ele sorriu para ela e levou a mão até o rosto dela. Ele estava tendo sonhos como aquele a dias. Os com ela depois que a beijou, os com Riley desde que começou a ter contato com a menina na casa dela. Se tinha uma explicação? Ele não sabia, mas a fala dela de parecerem lembranças o agradava.



– São tão reais. - Ela sorriu enquanto ele acariciava o rosto dela. - Quase como o meu pesadelo de você me carregando para me salvar e logo após alguém atirando na gente, com a diferença que aquilo já se tornou realidade no final. -



– Você também estava tendo esse pesadelo? - Kevin perguntou surpreso.



“Vocês precisam ver isso!”



A voz ecoou pela casa juntamente com uma luz forte que surgiu com a televisão sendo ligada. John olhou para a televisão, bem como todos os outros. Tentando entender quem haveria ligado a televisão. De certa forma, a voz era estranhamente familiar.



“O Império já identificou o patife que retirou a vida do sobrinho do imperador, meu filho, e estamos na cola dele. Por isso Khubar foi invadida e cercada. Ele não passará dessa noite sem ser encontrado e capturado!”



O grupo, com exceção de Núbia que continuava dormindo na cozinha, assistia imagens do exército do império invadindo Khubar e matando algumas pessoas que pareciam tentar entender o que estava acontecendo.

Lívia e Kevin se aproximaram da televisão, bem como Sarah e Rafael. John permaneceu da janela, dividindo sua atenção entre vigiar e assistir as imagens. Eram tantos soldados que duvidava ser possível que a cidade não viesse a cair.



– Temos um grupo louco e um exército na cidade. - Sarah pareceu surpresa. - Tenho pena de quem eles estão caçando e quem estiver com ele. -



A reportagem pareceu desaparecer e a imagem de Noah, o negro colega de classe deles que desapareceu. Por alguns instantes todos ficaram mudos até que um sorriso debochado veio do negro.



– Deixa eu adivinhar, Luz das Batalhas. - Disse John que apenas viu o negro confirmar com a cabeça. - Espero que esteja longe o suficiente para eu não conseguir colocar as mãos em você. -



O grupo pareceu confuso, mas John era só irritação. Por culpa de Noah todos sabiam que ele foi criminoso.



– Deixem-me falar que talvez eu consiga tirar vocês vivos daí. - Disse Noah. - Kevin criou toda essa situação sendo treinador com técnicas e pokémon tão perigosos. Então, sim fui ai tentar ajudar esse idiota, mas as coisas começaram a ficar fora de controle. Tinha mais Fantasmas em Khubar do que se esperava e minha vida ficou em risco, bem como a vida de todos vocês. Denunciar John foi uma forma de tirar o foco de Kevin, alertar vocês de que as coisas estavam ficando complexas. -



– Poupe-me! - John estava irritado. - Como podemos sair da cidade? -



– Agora são oito da noite, as dez vocês tem que seguir para aquela praia quase deserta depois da universidade. Lá terá um barco a deriva que poderão pegar, mas precisão ser rápidos, a tempestade deve cair entre duas e seis da manhã e se estiverem no mar ainda, serão presas fáceis. -



– Por que me ajudar? - Questionou Kevin. - Quem é você? -



– Meu nome realmente é Albert Noah. No entanto, acredito que você não se lembre dessa minha aparência ou do meu verdadeiro nome, já que na Liga das Sombras, os nomes eram na maioria falsos. - Noah viu Kevin parecer incrédulo. - Como lá você me livrou de um destino cruel, vim para Khubar saldar minha divida após ter sido convidado a me juntar aos Fantasmas. -



Kevin ficou surpreso. Imaginava que todos daquela época estariam o caçando. Saber que alguém estava arriscando a vida por ele mexia com sua mente.



– Antes que eu esqueça, tenho algo para você. - Disse Noah.



A tela foi dividida em duas partes, onde uma aparecia Noah e outra que apareciam Julia, Juliana, Marjori, Lúbia e os Torques. Kevin arregalou os olhos, ainda mais quando viu que a irmã o reconheceu.



– Vou te deixar de castigo por uma eternidade! - Disse a Maerd mais velha do outro lado da tela. - Mas, antes vamos resolver seu pequeno probleminha com os Fantasmas. -



– Você... está... - Kevin caiu de joelhos começando a chorar. - Mas... então era... -



A loira Maerd se calou e também começou a chorar. John deu um sorriso de alívio esperando que agora Kevin saísse daquela depressão que havia tomado conta dele. Rafael e Sarah também acabaram sorrindo aliviados, parecia tão ruim que Kevin perdesse a única família que possuía. Lívia por sua vez abraçou Kevin naquele momento, sentindo como ele estava aliviado com aquilo.



– Eles tentaram explodir o local conosco, mas conseguimos teleportar antes com os pokémon psíquicos. - Comentou Julia. - Mas, deixa eu perguntar uma coisa... Você matou Razor, o filho do Lord Empalador? -



Kevin abraçado a Lívia sentiu um arrepio na espinha e olhou para a tela, meio sem graça.



– Puta merda! - John saiu da janela. - Você é mais perigoso que a Estilo de Poder. - O ex-criminoso olhou para a tela. - Tire-nos daqui agora, Noah! -



O negro ficou calado parecendo processar aquilo. A loira da tela balançou a cabeça negativamente enquanto todos os outros pareciam processar o que havia sido dito. Lívia afastou-se de Kevin surpresa e então os irmãos Maerds se encararam por alguns instantes.



– Fique tranquilo que chegaremos a seis da manhã. Mantenham-se escondidos que juntos vamos caçar fantasmas e império. - Disse a loira e sua imagem desapareceu.



– Que tipo de pessoa é você? - Perguntou Sarah. - Tudo bem que tem um grupo de pessoas que te odeia, mas porque matou uma pessoa dos Países Livres? -



– Ele ia matar os Mevoj! Eu achei que era um Fantasma e lutei com ele, mas quando entendi o problema ele já estava tentando me matar. Eu não podia simplesmente deixar Riley, Maya e Cody morrerem. - Kevin falou de forma forte. - Mas, isso não importa! - Ele virou-se para Noah. - Isso não muda o plano de fuga, muda? -



– Não sei se é aconselhável você estar com eles. - Disse Noah. - Não quero me meter com o império. -



– Não se preocupe! - Disse Kevin. - Eu tenho que dar um jeito nessa bagunça antes de minha irmã chegar aqui ou ela pode morrer de verdade. -



O grupo olhou para Kevin. Não havia como resolver aquela bagunça com duas forças como aquelas o caçando e isso indicava que ele pretendia matar mais pessoas. Rafael estremeceu enquanto Sarah balançou a cabeça negativamente. Mas, parecia que era a única alternativa.



– Protejo o grupo até o barco e para fora daqui. - Disse John. - Mas, você não vai conseguir matar dois exércitos sozinho, é loucura. -



– Só preciso que estejam fora da cidade e que levem Riley e Maya com vocês. - Disse Kevin. - Se fizerem isso garanto que resolvo. -



John ficou a olhá-lo pensando no que ele faria. Os outros não esperavam que ele pudesse realmente fazer algo, mas John havia passado muito tempo vendo sua organização criminosa levar a pior em cima dele, em situações totalmente contra ele. Acreditava-se que para defender a irmã ele faria qualquer coisa e pelo visto o qualquer coisa estava se aproximando.



– Não sei se poderei salvar Riley e Maya. Posso te dar a localização delas e você ir lá pegá-las, mas não consigo encaminhá-las em segurança para o barco ou qualquer outro ponto de fuga. - Disse Noah. - E sinceramente, não quero me arriscar tanto. -



– Tudo bem. - Kevin suspirou. Teria que tirar as meninas da cidade ele mesmo. - Descansem e estejam preparados pois precisarão correr bastante. -



O grupo se olhou e acabaram voltando a fazer o que faziam antes da televisão ligar. Apenas Lívia ficou ali perto de Kevin. Tudo voltou a penumbra e os dois ficaram se olhando por algum tempo. Era nítido que Kevin havia se recuperado do sofrimento, com a irmã viva ele parecia tido.



– Está bem mais aliviado em saber que sua irmã está viva, né? -



A voz de Lívia saiu tranquila. Ela aproximou o seu corpo dele esperando que ele respondesse, mas ele apensas deu um sorriso onde ela pode ver que ele realmente estava se sentindo bem melhor. O sorriso e os olhos eram quase como os de sempre, ainda pareciam preocupados, mas era muito mais animado e luminoso que o devastado que ela havia visto antes.

Um estalo. Todos escutaram em meio a penumbra o estalo e tentaram identificar o que aconteceu, mas ao verem os loiros juntos e tão próximos, resolveram que não queriam se meter. Afinal, Lívia conseguira acertar o rosto de Kevin com a mão aberta.



– Isso é por ter me traído! -