O chão estremeceu com a queda da gigantesca criatura, fazendo que alguns soldados acima do Fort perdessem o equilíbrio e caíssem. Momon por sua vez, percorreu todos os soldados com o olhar e um em específico chamou sua atenção.
Ele era um jovem de cabelo preto e curto, estava provavelmente na casa dos vinte anos de idade, com suor escorrendo por todo seu rosto devido ao choque que eles acabaram sofrer com o aparecimento do gigante e a experiência de quase serem mortos por ele. Estava usando uma armadura dourada que protegia todo seu corpo do pescoço para baixo.

— Você! -Momon diz. – Você é o cavaleiro responsável por esse lugar?

— S-Sim... -O cavaleiro responde. – Meu nome é Zahir Campbell.

Ele ainda estava com um olhar desconfiado e incrédulo, e quando Momon se deu conta disso, ele se apresentou novamente.

— Como eu já disse, meu nome é Momon! -Ele afirma. – Estou aqui a pedido de Joseph Campbell para evacuar as pessoas desse forte.

Zahir arregala seus olhos e se apoia no chão para dar impulso e ajudá-lo a se levantar.

— Meu irmão!? -Ele diz. – Ele mandou você?

— Sim. -Momon responde. – Um comboio está vindo para cá neste exato momento, então preciso que reúna todos que estão no Fort naquela área e esperem até que eles cheguem.

Momon aponta para uma das áreas abertas do Fort, uma que eles usavam para treinamento que possuía muito espaço para que os veículos pudessem parar.

— Mas e você!? -Zahir pergunta.

Momon toma alguns passos de distância e responde à pergunta de Zahir.

— Eu... -Ele diz enquanto se virava em direção ao gigante que aos poucos se levantava. - ...vou cuidar dele!

Ao se levantar, o gigante fez com que sua sombra cobrisse grande parte do forte. Os olhos do comandante se encheram de medo e ele rapidamente fez o que Momon havia mandado, correndo até uma das beiradas das muralhas e gritando o mais alto possível, para que todos que se encontravam dentro do forte pudessem ouvi-lo.

— Todos os soldados! -Ele grita. – Se reúnam na área de treino do Fort o mais rápido possível.

O gigante havia sido afastado em alguns metros do Forte, mas aquilo estava longe de ser uma boa notícia, mas Momon não precisaria se segurar para ter cuidado em não ferir as pessoas que se encontravam ali. A única coisa que ele precisava se preocupar agora era em acabar logo com aquilo para poder retornar até a capital o mais rápido possível.

Enquanto a criatura pegava sua longa espada que estava caída ao seu lado, Momon retira lentamente a katana de sua bainha e, quando a lâmina da espada é completamente retirada, Momon pula em uma das beiradas da muralha e a usa para tomar impulso e se lança na direção da criatura.

Quando se aproximou o suficiente para atacar, ele colocou a lâmina da espada para frente e fez um corte na mão do gigante que vinha para tentar intercepta-lo. Grandes quantidades de sangue caíram junto com um de seus dedos, mas Momon não havia acabado.
Com o ataque, Momon havia perdido a velocidade do impulso, então usou a extensão da mão do gigante para tomar mais uma vez o impulso necessário para desferir um poderoso golpe no peito do gigante, perfurando assim sua armadura.

— É mais resistente do que imaginei! -Momon disse em voz baixa. – Se é assim, então eu vou...

Enquanto pensava nas possibilidades, o gigante desferiu outro golpe com sua mão ensanguentada na direção de Momon. Quando ele se deu conta, apenas pode retirar a espada cravada na armadura que protegia o peito do gigante e usá-la para desviar uma parte do impacto para a lâmina, podendo assim escapar com o mínimo de danos possíveis.

Ele foi arremessado a vários metros de distância, atingindo o chão e rolando por mais alguns metros até usar os músculos de sua perna para diminuir sua velocidade e parar, dando-o a chance de se recompor.

Momon logo se coloca de pé novamente e checa o status de seu corpo, procurando por possíveis danos graves que o impacto do golpe podia ter causado a seu corpo. Enquanto se preparava para investir sobre o gigante mais uma vez, Momon sente algo quente escorrendo pelo canto de sua boca. Ao esfregar o metal gélido de sua armadura no entorno de sua boca, Momon pode ver o vermelho de seu sangue borrar o prata reluzente do metal. Pela primeira vez em algum tempo ele se lembrou do assunto que havia deixado de lado por hora, mas dia pós dia ele adquiria características cada vez mais humanas e não podia mais adiar a solução para isso.
Ele decidiu então que quando resolvesse esse problema e retornasse a capital, iria retornar a Nazarick para procurar possíveis solução para corrigir seu descuido.

— Mas o que...!? -Momon diz ao ver o estranho e repentino comportamento do gigante.

Ele levantou sua espada na altura de sua cabeça e a pressionou contra sua boca, expelindo um liquido viscosa enquanto lentamente a deslizava para o lado, dilacerando suas bochechas.

Amontoados de sangue escorriam pelo seu corpo e pela lâmina da espada enquanto o gigante parecia não se importar com a dor. Ele apenas ergueu sua cabeça e rugiu triunfantemente perante seu adversário com os músculos de sua mandíbula exposta, reconhecendo assim a força de Momon e prestes a dar tudo de si.

Nesse momento, algo diferente podia ser vista no sangue que banhava a lâmina, ele estava cristalizando, se transformando em algo diferente de seu estado normal.
O gigante posicionou a lâmina da espada e a bateu contra um bracelete que possuía em seu outro braço, fazendo com que o barulho de metal se chocando contra o estranho cristal ecoasse pelo ambiente.

A colisão entre os dois produziu inúmeras faíscas que pularam para todos os lados. Uma rachadura surgiu por toda a extensão do estranho cristal, e num piscar de olhos ele se quebrou, sendo trocado por uma intensa chama vermelha que tomava conta da lâmina da espada do gigante.
Esse era o ápice da batalha, onde os dois lutariam com todas as suas forças para decidirem quem sairia vitorioso.

Então estava apenas aquecendo, não é? -Momon diz para si mesmo. – Farei você se arrepender por ter me subestimado!

Colocando uma impressionante força nos pés, Momon pega um poderoso impulso e parte pra cima do monstro.

— O que!? -Momon diz ao ver o gigante empunhando a espada flamejante com as duas mãos e com a lâmina para baixo.

Com uma incrível força, ele crava a espada no chão e descarrega uma grande quantidade de energia sobre a lâmina, uma energia tão poderosa que Momon podia sentir de longe. Várias rachaduras se abrem ao redor da área onde a lâmina havia sido cravada, rachaduras que logo partiram em direção a Momon.

De cada uma das rachaduras que se formavam, explosões de fogo eram produzidas devido a grande magia que o gigante investiu em seu golpe, chamas que se espalhavam enquanto queimavam cada traço de vida em seu caminho.

Apesar da grande quantidade de poder que o ataque possuía, ele era bastante lento, o que possibilitou que Momon desviasse facilmente do ataque.

— Hum... Vejo que continua a me subestimar. -Momon diz. – Ataques como esse não seriam...

Momon faz uma pausa ao notar os sons de explosão e o tremor no solo que o ataque do gigante causava não haviam cessado mesmo depois de ele ter desviado. Golpes mágicos tendem a se dissipar quando não acertam seu alvo, mas aquela magia ainda estava ativa, o que quer dizer...

— Eu não era o alvo!? -Momon diz surpreso enquanto olha para trás.

A magia continuava seguindo em frente na direção do Fort Myrth, que devia ser seu verdadeiro alvo desde o início. Não queria atingir Momon, mas sim as pessoas que se encontravam dentro do forte.

— Droga! -Momon pensou. – Nessa situação eu não vou ter escolha a não ser...

Momon rapidamente se virou e deu um salto em alta velocidade em direção a magia do gigante, parando a alguns metros à sua frente e invocando uma de suas magias para que pudesse parar o ataque antes que ele chegasse a seu destino.

— Null Wall! -Ele grita enquanto estende suas mãos com força o bastante para aguentar o impacto iminente.

Uma parede de energia se materializa na frente de Momon, se estendendo a alguns centímetros abaixo do solo, aumentando assim sua resistência.
Quando as chamas se chocaram contra a defesa mágica que Momon havia criado, um calafrio percorre sua espinha e faz seu corpo ficar um tanto hesitante devido ao choque de mana que a força do impacto produziu.
A parede aguentou toda a força do impacto que a atingiu, mas como a força mágica do ataque havia sido contida em um único ponto, ela se desfez causando uma forte explosão que foi forte o suficiente para passar pela Null Wall e levantar uma grande quantidade de poeira que cobriu o redor da área.

Momon baixa os braços que havia usado para proteger seu rosto e tenta identificar algo em meio aquela bagunça que a explosão do solo havia causado.

— Primeiro vamos cuidar dessa poeira... -Momon fala enquanto a poeira a sua frente toma um tom vermelho brilhante e uma enorme lâmina flamejante corta em sua direção, tão rápida que Momon não tinha mais chances de desviar e acaba sendo acertado em cheio no peito.

Quando o peso da espada somada a força do gigante acertou Momon, ele foi arremessado a uma incrível velocidade na direção de uma das torres do forte. Quando suas costas se chocaram contra a torre, produziu um impacto forte o suficiente para esmigalhas os blocos feitos de concreto, fazendo com que Momon atravessasse a parede e batesse em algo dentro da torre, o que amorteceu seu segundo impacto e interrompeu sua trajetória pelo ar.

Os soldados apenas puderam acompanhar com os olhos o momento em que Momon desapareceu em meio a escuridão do interior da torre. Todos estavam incrédulos que o cavaleiro havia sido derrotado, tal cavaleiro que talvez pudesse ser o mais forte que já haviam visto estava agora morrendo engasgado em seu próprio sangue com os ossos esmigalhados dentro de uma torre escura.

Com o gigante se aproximando, Zahir grita para que seus soldados ataquem para tentar atrasa-lo.

— Abrir fogo! -Ele grita para que todos escutem. – Precisamos atrasa-lo até que as coisas fiquem prontas!

Alguns dos soldados subiram até a beira da muralha onde Zahir estava e ergueram suas armas para poder atirar, disparando assim cada uma das balas que haviam em seus pentes, mas nem uma única fez efeito na criatura, elas apenas atingiam sua pele e caíam no chão aos montes.
Armas eram inúteis contra ele, e os soldados estavam indefesos enquanto o gigante se aproximava cada vez mais, agora só podiam largar tudo e ter uma chance de escapar, ou esperar que mais alguém milagrosamente apareça para os salvar. Mas agora não havia mais ninguém que pudesse ajuda-los, eles precisariam sair dali o mais rápido possível, antes que aquele lugar se tornasse apenas um espaço em branco no mapa, coberto apenas por ruínas e corpos de soldados que morreram enquanto se preparavam para fugir.

Nesse momento, uma memória apagada com o passar do tempo vem à mente de Zahir, ele se lembra de como seu irmão Joseph sempre o protegia quando se metia em confusão dentro do palácio quando eram crianças e deixa uma lágrima escorrer de seus olhos ao pensar na possibilidade de jamais ver seu irmão novamente. Ele estava sem esperanças, pois ele sabia que mesmo se conseguissem escapar do forte, eles seriam perseguidos durante o caminho até a capital e seriam mortos pouco a pouco, e para piorar, a moral dos soldados que conseguissem sobreviver cairia drasticamente até o ponto de começarem a ser torturados mentalmente pelo medo de que o amanhã nunca mais chegue para eles, desse jeito o destino que os aguardava poderia ser até pior do que a própria morte.

— Se hoje é o dia em que vou morrer, ao menos morrerei protegendo o que conquistei durante minha vida! – Zahir diz em voz alta, atraindo a admiração dos soldados dentro do forte. – Fujam se quiserem, mas tenham em mente que o futuro que os aguarda pode ser pior do que a morte.

Os soldados trocaram olhares entre eles e logo chegaram a tão difícil conclusão. Todos largaram as caixas de recursos que estavam segurando nas mãos e pegaram suas armas. Os passos do gigante ecoavam cada vez mais graves no chão enquanto ele se aproximava, ao mesmo tempo que grande parte dos soldados subiam as escadas que levavam para a parte de cima das muralhas. Todos eles se enfileiravam à frente de seu comandante à medida que chegavam, colocando a mão no peito e seus rifles apoiados em seus ombros, demonstrando o respeito e a gratidão por estarem ali naquele dia. Gratidão não porque aquele seria o dia em que morreriam, mas sim porque morreriam protegendo o país a que amavam e sobre ordens do comandante que mais respeitavam. Para eles, aquela era a morte mais honrosa que poderia ser concebida durante suas vidas, e foi por essa razão que eles decidiram ficar.

O comandante deixa um breve sorriso escapar enquanto enxuga suas lágrimas e diz logo em seguida:

— Vamos mostrar para ele nosso poder! -Zahir diz enquanto volta ao tom sério de sempre.

— Sim! -Os soldados respondem enquanto preparam suas armas e se viram para o gigante, todos em duas fileiras, sendo a da frente formada por soldados ajoelhados e a de trás por soldados de pé, todos em uma formação organizada.

— É chegada a hora! – O comandante grita enquanto estende seu braço para o alto.

—Preparar... -Os soldados firmam as armas em suas mãos.

— Apontar... -Todos se concentram para focar totalmente a mira no alvo enquanto esperam pela próxima ordem, aquela que daria inicia a uma tempestade de balas que seriam dirigidas a gigantesca criatura.

—Fog... – O comandante interrompe sua ordem.

Sua língua trava e não ele não consegue mais falar, uma sensação sufocante toma conta dele enquanto ele faz um pouco de esforço para se virar para os soldados, que estavam suando tanto que faziam as gotas escorrerem e se acumularem até que caiam de seus queixos. O ambiente estava muito quieto, permitindo que eles ouvissem as próprias gotas de suar quando atingiam o chão e os passos graves que ecoavam pelo local não eram mais ouvidos.
O gigante estava parado olhando para torre onde Momon havia colidido durante a batalha, mantendo uma de suas pernas para trás, como se estivesse prestes a recuar, empunhando sua grande espada flamejante pronto para repelir um ataque repentino, ele estava em guarda.
Zahir não entendia o comportamento repentino do gigante e nem a sensação que tomou conta dele e de seus soldados. Aquela monstruosa criatura poderia facilmente acabar com todos eles e provavelmente não havia nada que pudesse ser usado para lutar contra ele.

"Nossa única esperança era aquele cavaleiro que..."

Zahir se assusta com seu pensamento por um minuto.

"Não não... Isso é impossível, nenhum humano conseguiria resistir aquele..."

Algo novamente interrompe seus pensamentos.

Das sobras da torre, ecoavam passos de uma armadura pesada em pequenos intervalos de tempo.

Zahir se vira bem devagar para olhar para a torre enquanto os passos continuavam a ecoar. Cada passo daquele alimentava o medo dentro dele, era como se penetrassem a escuridão dentro dele trazendo à tona todos seus desejos mais obscuros, aqueles que ele mais queria esconder, a sensação era de estar sendo torturado mentalmente por alguma das criaturas conhecidas como "Carniceiros da Mente".

(Obs.: Como o nome sugere, os Carniceiros da Mente são algumas das criaturas encontradas no mundo de Zahir, elas forçam sua entrada na cabeça das pessoas e as dilaceram mentalmente. Pessoas que encaram essas criaturas são encontradas ou mortas ou mentalmente insanas devido a dor a qual são submetidas.)

A torre emanava uma energia escura, tão intensa que Zahir e os soldados mal se aguentavam em pé apenas por olhar para ela, alguns deles chegaram a perder a consciência bem ali. Os passos se aproximavam cada vez mais até que algo ficou visível em meio a escuridão da torre. Do pequeno feixe de luz que cortava as sombras de dentro da torre, uma bota de metal preta bordada em detalhes dourados ficou visível e aos poucos o corpo de Momon era revelado. Os soldados arregalaram os olhos para ele, mas não de surpresa de ele estar vivo, e sim de medo, pois era o único sentimento presente no local naquele momento.

Momon estava agora equipado com uma armadura totalmente negra com alguns bordados em dourado, alguns dos soldados podiam até ver um brilho vermelho saindo de seu elmo. Era como se ele estivesse tomado pela fúria, uma fúria que supera até a dos piores monstros que Zahir já havia encontrado. Zahir já havia participado de batalhas que decidiram o futuro do mundo várias vezes, lutou contra muitos monstros ao lado de seus irmãos, em alguns dos casos, enfrentou até demônios, mas aquela era a primeira vez desde que se tornou um cavaleiro que ele viu uma energia tão escura e maligna.
Suas pernas fraquejaram e seus joelhos cederam, fazendo com que ele caísse ajoelhado nos blocos duros de concreto da torre. Por algum motivo ele estava com um sorriso no rosto quando um de seus soldados gritou por ele.

— Comandante! – O soldado chama enquanto Zahir lentamente se vira para ele, seus olhos estavam mortos, tomados pela insanidade. – Temos que sair daqui antes que aquela energia maligna comece a nos deixar loucos!

— H-HAHAHA... -Zahir caiu em gargalhadas com a proposta do soldado.

"E-Energia maligna você diz... Não... Isso... é outra coisa."

— Não apenas a energia... -Zahir diz em um tom fraco e suave. – Momon... ele é o próprio mal encarnado!

Os olhos dos soldados se enchem de terror enquanto ele volta sua atenção para o cavaleiro que olhava sua armadura, como se estivesse verificando seu estado.

— Zahir. -A voz grave de Momon ecoa pelo forte. – Como estão os preparativos?

Zahir calmamente olha para ele e responde:

— Cerca de 90% prontos, faltam apenas algumas caixas de recursos, mas logo... -Momon o interrompe.

— Já é o suficiente! -Momon diz. -Pegue seus homens e sai logo daqui.

Um dos soldados junta o pouco de coragem que resta dentro de si e pergunta.

— Faltam poucas coisas para serem recolhidas, por que quer nos tirar daqui tão rápido? -O soldado se assusta quando Momon volta a atenção para ele.

— Vou dar um jeito naquele monstro de uma vez por todas. -Momon responde num calmo tom de voz. – Você não vai querer estar por perto quando isso acontecer!

O soldado engole seco e ajuda seu comandante a se levantar.

— É hora de irmos! -O soldado diz enquanto guia Zahir até um dos caminhões onde todos os soldados estavam se dirigindo para sair.

O gigante que até o momento estava apenas observando resolve se mover e atacar os soldados para que eles não fugissem, levantando sua espada com a lâmina para baixo para usar o mesmo ataque explosivo que havia usado a alguns minutos atrás.

— NÃO OUSE TENTAR ISSO NOVAMENTE! -Momon grita e faz com que sua voz ecoe por entre o campo e chegue até o gigante.

A criatura hesita um pouco, baixando alguns centímetros sua espada, mas acaba ignorando Momon, prosseguindo com o ataque.

Momon desaparece diante da visão de todos e reaparece em frente ao gigante. Ele retira a katana que havia colocado na cintura e gira no ar, fazendo um corte na direção da criatura e desaparecendo novamente, voltando rapidamente para o alto da muralha.

Fazendo um corte no ar, gotículas de sangue se espalham pelo chão enquanto ele diz:

— Eu avisei!

O brilho do sol refletia o vermelho de sua lâmina enquanto os soldados tentavam entender o que havia acontecido, mas logo tudo ficou claro. O gigante rugiu tão alto que fez os ouvidos de todos zumbirem, e ao olhar para ele, era possível ver um de seus braços se desprendendo lentamente da carne enquanto montes de sangue caiam ao chão.
Com uma velocidade inimaginável, Momon cortou um de seus braços para que ele não pudesse mais atacar, entregando o tempo necessário para que os soldados pudessem escapar.

Um a um os grandes caminhões saiam do forte enquanto os estrondosos graves da criatura se debatendo pelo chão ecoavam no local. Passados alguns segundos desde que o último caminhão deixou o local, Momon voltou sua atenção novamente para o gigante.

— Então é isso... -Momon diz baixo para si mesmo enquanto olha sua armadura. – Com meu corpo se tornando mais humano com o passar do tempo, parece que meus sentimentos não estão mais sendo suprimidos.

Momon volta seu olhar para o gigante, que estava se recompondo do seu ferimento. Um cristal vermelho se formou na parte mutilada para que pudesse parar o sangramento.

— Agora, irei lhe mostrar algo que a muito tempo eu havia esquecido. -Momon diz em alto tom de voz enquanto as chamas de seus olhos queimam em um vermelho intenso. -Minha ira!

Inclinando a katana para trás, Momon mais uma vez desaparece diante da visão da criatura. Uma suave brisa bate na lâmina flamejante que estava agora no chão junto da parte mutilada de seu braço, não tão forte, mas foi o suficiente para extinguir as chamas.
Momon estava se aproximando, mas quando o gigante se deu conta disso já era tarde demais. Uma estranha sensação tomou conta de suas pernas, fazendo com que elas vacilassem e ele se inclinasse para frente, caindo de joelhos causando um grande tremor no chão. Ao olhar para suas pernas, a única coisa que o gigante pode notar era que elas estavam banhadas em sangue e com cortes profundos e precisos. Seus nervos e ligação haviam sido rompidas, incapacitando permanentemente seus movimentos.

Olhado para o nada, o gigante fecha seus olhos por um breve período, e quando os abre novamente, lá está Momon, parado no ar bem a frente de seu rosto.

— Chegou a hora de dar um fim em nossa batalha! -Momon diz em um tom calmo enquanto coloca uma de suas mãos sobre a testa do gigante. – Não posso perder aqui. Meus amigos ficariam decepcionados.

Os rostos ansiosos dos guardiões esperando por seu retorno passaram pela cabeça de Momon.

A mão de Momon emitiu uma luz branco que se intensificava cada vez mais, até o ponto de se tornar se tornar impossível de manter os olhos abertos diante dela.

— Humano... -O gigante junta forças para dizer suas últimas palavras. - ...forte!

Momon balança sua cabeça de um lado para o outro estralando seus lábios.

— Humano!? Não... -Momon diz enquanto sua armadura negra se desfaz no ar, revelando a forma graciosa de Ainz Ooal Gown para o monstro.

— Minha humanidade é algo de que abri mão a muito tempo! -Ainz diz intensificando ainda mais a força da luz.

Com sua magia pronta, Ainz diz suas últimas palavras:

— Agora... -Em meio ao brilho da luz cegante, o gigante consegue ver apenas aqueles dois orbes de chamas vermelhas únicas que queimavam com a ira de Ainz. - ... eu sou um overlord!

Ativando a magia, o brilho tomou conta de todo o campo, engolindo até mesmo os sons do ambiente, mergulhando tudo na luz quente e silenciosa.

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Já bem distantes do forte, os soldados seguiam seu caminho em direção a capital, todos em silêncio e de cabeça baixa. Sempre que pensavam no que haviam visto eles sentiam mal-estar e um arrepio que tomava conta de seus corpos.
— C-Comandante... -Um dos soldados quebra o silêncio dentro do caminhão e chama por Zahir. – Comandante Zahir...

Zahir olha calmamente para ele, como se já pudesse adivinhar o que ele diria a seguir.

— O-O que foi que aconteceu... -Sua voz vacila.

Com um pequeno sorriso no rosto, Zahir responde:

— Isso é algo que apenas os deuses podem lhe responder. -Ele fala com um tom calmo. – Aquilo não é algo que a mente humana possa.

Nesse momento, um forte clarão toma conta da visão de todos que tinham visão do lado de fora dos caminhões. Uma luz branca que logo tomou um tom vermelho brilhante que cobria a área do forte. Aquela área se cobriu de fumaça e chamas, e logo, uma onda de choque equivalente a uma explosão incomparável se seguiu, derrubando tudo em seu caminho até que atingiu os caminhões que já estavam a alguns quilômetros de distância, e começaram a deslizar pelo caminho até que foram obrigados a parar.

Todos os soldados desceram para ver o que estava acontecendo, mas a única coisa que encontraram foi a antiga área que protegiam, que agora era apenas um campo morto e coberto por cinzas e chamas. Mesmo sendo dia, o céu estava tão triste e escuro quanto o coração dos soldados ficaria após aquele dia.

— Vamos. -Zahir diz. – Não há mais nada para se ver aqui!

Todos sobem novamente nos caminhões sendo Zahir o último deles, mas antes de entrar ele olha uma última vez para a nuvem de fumaça que cobriu o que uma vez já foi conhecido como Fort Myrth.
Enquanto se virava para subir e tomar seu lugar entre os soldados, Zahir viu com o canto dos olhos um brilho vermelho que se destacou entre a escuridão da fumaça que subia aos céus, um par de asas flamejantes que seguiu em alta velocidade na mesma direção em que deviam seguir. Zahir sabia o que era aquilo, mas no fundo de seu coração uma voz gritava para que estivesse enganado.

Ele entrou no caminhão e logo então deram a partida, seguindo seu caminho até a capital. Mesmo estando a salvo, as horas que levaram até a capital foram as mais torturadoras que eles passaram até aquele dia.

Continua...