A chegada na capital levou algumas horas, mas os soldados não tiveram complicações pelo caminho. A única coisa que não conseguiam tirar de suas cabeças era a sensação de insegurança constante que os acompanhava junto ao silêncio torturador que foi estabelecido enquanto cada um deles se perdia em seus pensamentos.

Com os caminhões parados de frente para o portão, os soldados começam a descer um trás do outro. Os mais fracos se apoiando em seus companheiros para que suas pernas não cedessem durante a trajetória para dentro. Grande parte deles estava mentalmente instável e pareciam que iriam surtar a qualquer momento.

Zahir desceu do caminhão e logo virou sua atenção para a ponte que levava para a capital. Joseph e Alícia se aproximavam dele enquanto observavam as condições deploráveis dos soldados que seguiam para serem tratados pelos magos que usavam magia de cura. Ele então foi na direção de seus irmãos em um passo acelerado, sem se deixar distrair por nada em seu caminho.

— Irmãos... -Ele diz em voz alta, atraindo a atenção de seus irmãos para ele. – Lá no forte... o gigante...

Ele diz enquanto sua voz fraquejava só de se lembrar do que ocorreu algumas horas atrás.

— E-Eu... eu... -Ele diz enquanto fica cara a cara com Joseph, que coloca a mão em seu ombro no intensão de acalmar seu irmão.

— Não se preocupe com isso. -Joseph diz com um sorriso tranquilizador em seu rosto. – Momon já nos explicou tudo o que aconteceu!

Joseph percebe que por um breve período, os olhos de Zahir são tomados por um intenso vazio por ouvir o nome de Momon. Mas logo ele volta a si diz:

— M-Momon!? -Zahir diz em descrença. – E-Ele está aqui?

— Fiz questão de vir na frente para assegurar que o caminho de vocês fosse seguro. -Zahir escuta uma voz grave vinda detrás de Joseph, a voz de alguém que conheceu a algumas horas, mas que já havia ficado marcada em sua cabeça como uma espécie de trauma.

Joseph dá alguns passos para o lado, revelando a forma de Momon que se aproximava deles aos poucos. Ele continuava a usar sua armadura negra com detalhes em dourado que havia conseguido de alguma maneira naquele lugar.

— Espero que tenham conseguido voltar em segurança. -Momon diz. – Não haviam muitos monstros no caminho, mas fiz questão de afastar aqueles que encontrei.

— S-Sim... obrigado... -Zahir responde enquanto encara Momon.

Momon nota o olhar constante de Zahir sobre ele e pergunta:

— Algum problema?

Zahir balança a cabeça e responde:

— Nenhum! Estou apenas um pouco cansado.

Joseph e Alícia contorcem seus lábios em um sorriso, pelo menos até a próxima pergunta de Zahir.

— Onde está Reiss? -Zahir pergunta.

Os sorrisos de Joseph e Alícia desaparecem e seus rostos tomam uma expressão de tristeza.

— E-Ei... o que é que... -Alícia vira seu rosto para que posso esconder as lágrimas que começam a jorrar de seus olhos. – O que houve?

Enquanto Momon foi atrás de vocês do Fort Myrth, eu enviei uma pequena tropa para escoltar as pessoas da cidade em que Reiss estava. Mas quando chegaram lá, a única coisa que encontraram foi uma pilha de corpos espalhados pelos escombros da cidade. No centro dela, haviam vários corpos de demônios espalhados pelo chão, foi quando encontraram Reiss. Ele estava encostado em uma parede semidestruída, empunhando sua espada manchada de sangue e com um ferimento profundo em seu peito. O mais perturbador era o sorriso de satisfação em seu rosto.

Zahir estava em choque com o que seu irmão havia acabado de dizer, mas ele ainda conseguiu encontrar as palavras certas para dizer naquele momento.

— O irmão Reiss sempre foi muito durão... -Zahir diz. - ...tenho certeza que morrer lutando pela sua cidade foi mais que um prazer para ele.

— Sim. -Joseph diz. – Conseguimos salvar algumas pessoas que haviam se escondido durante o ataque.

— Vamos... -Joseph diz. – Precisamos cuidar de todos que retornaram. Devem estar exaustos depois de tudo o que aconteceu.

Zahir acena com a cabeça e logo os três seguem para o palácio. Mas antes de se afastarem muito, Joseph vira sua atenção rapidamente para Momon.

— Você não vem? -Ele pergunta.

— Logo. -Momon responde. – Preciso cuidar de algo antes disso.

Joseph apenas acena e vira para seguir seus irmãos.

— Venha assim que estiver pronto. -Ele diz antes de começar a andar. – Precisamos discutir algumas coisas urgentes.

Momon não responde, apenas se vira e dá alguns passos para frente.

Joseph sente uma pequena brisa vinda de trás dele, e ao verificar com um breve olhar por cima do ombro, ele percebeu que Momon não estava mais lá.

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Estava escurecendo quando os cavaleiros adentraram no palácio, foi quando Zahir se virou para Joseph e então disse:

— Irmão... -Joseph não virou seu olhar para ele, apenas continuou andando enquanto olhava para frente. - ...não confio naquele cavaleiro.

Mesmo sem encarar seu irmão, Joseph o responde da maneira mais franca que ele conseguia:

— Nós também não confiamos! -Ele diz. – Mas se quisermos salvar esse mundo, não temos escolha a não ser confiar nele!

Zahir olha para Alícia, que continuava cabisbaixa ao lado dos dois.

— Ok... -Zahir responde. – Mas e se ele nos causar algum problema?

Joseph demonstra um sorriso decepcionado.

— Se ele se virar contra nós, creio que não poderemos fazer nada. – Joseph diz. – Tenho certeza que ele mostrou apenas uma fração de seu poder...

Zahir deixa escapar um sorriso irônico enquanto diz:

— Eu vi.... do que ele é capaz.

— O estado que vocês e seus homens estavam... também foi obra dele, não foi? -Joseph pergunta.

— Aquela pessoa tem um poder que não deveria existir nesse mundo. -Zahir responde.

— Sim, mas ele existe. -Alícia responde. – E devemos estar preparados para enfrenta-lo a qualquer momento!

— Você acha que teríamos alguma chance? – Zahir pergunta. – Mesmo que lutássemos juntos, creio que...

— Isso... -Joseph diz. – Apenas o tempo nos dirá!

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— AINZ-SAMA! -Albedo deixa um grito de felicidade escapar enquanto a armadura de Ainz desaparece pelo ar e ele toma sua real forma esquelética.

— Estou de volta Albedo! -Ainz diz. – Demiurge disse que tinha algo que gostaria de conversar comigo.

Albedo faz uma cara um pouco desapontada, logo Ainz refaz sua fala.

— Mas é claro que vim ver também como vocês estão. -Ele diz. – Se estão se saindo bem sem mim por perto.

Aquilo não era exatamente o que ela gostaria de ouvir, mas mesmo assim ainda a deixa feliz.

— Demirge está em sua sala de experimentos! -Ela afirma. – Gostaria de algo agora que retornou?

Ainz balança a cabeça negativamente.

— Estou bem, obrigado. -Ele diz. – Pelo tom de voz, creio que o que ele tem a dizer seja de muita importância.

— Sim. -Albedo diz. – Qualquer coisa que precisar, lembre-se de que estarei sempre aqui.

— Obrigado. -Ainz agradece enquanto coloca a mão sobre a cabeça de Albedo, deixando-a corada. – Agora, se me der licença...

Ainz retira a mão que estava sobre a cabeça de Albedo e usa seu anel para se tele transportar até a sala de Demirge.

Sua sala era escura, com uma forte luz que era focada apenas em seu centro, onde havia uma mesa de feita de metais dos mais variados tipos e ferramentas que Ainz nunca havia visto antes.

— Ainz-sama. -Uma voz chama seu nome vindo de seu lado direito.

Era Demiurge, ajoelhado e de cabeça baixa reverenciando seu ser supremo.

— Levante-se Demiurge. -Ainz diz.

— Sim. -Demiurge diz.

— O que você queria falar comigo? -Ainz pergunta.

Demiurge toma um ar sério e diz:

— Venha comigo por um momento.

Ainz acompanha Demiurge até o pé da mesa onde havia o corpo de um humano deitado sobre ele.

— Posso pedir para que usai a ressurreição nesse humano? -Demiurge pede.

Ainz estranha o pedido de Demiurge, mas também sabe que ele não pediria algo dessa magnitude apenas por compaixão.
Ainz então retira um pequeno bastão de dentro de seu sobre tudo e o aproxima da cabeça do humano morto sobre a mesa. Um brilho é emitido do cristal mágico que ficava no topo do objeto, passando o brilho para o corpo.

— Tudo está indo... -Ainz interrompe sua fala quando o brilho se transforma em fragmentos de luz que se desfazem no ar.

— Demiurge, o que isso significa!? -Ainz diz aflito.

— Como pode ver Ainz-sama, creio que ressurreição não seja uma coisa possível neste mundo! -Demiurge diz.

"Quer dizer que esse mundo é uma espécie de servidor com *permadeath?" (Morte permanente*)

Ainz fica em choque ao ouvir o que Demiurge disse. Se aquilo for mesmo o que estava dizendo, significa que caso ele ou um de seus amigos morram, não haverá maneiras de eles serem trazidos de volta a vida.

— I-Isso é muito sério Demiurge! -Ainz disse. – Tem certeza que não é apenas uma condição especial deste humano que está impedindo que ele seja trazido a vida?

— Esse humano não morreu a muito tempo e estava saudável quando o trouxe para meus experimentos. -Demiurge disse. – Então crio que não seja esse o caso.

— Quando foi que você descobriu sobre isso? -Ainz pregunta.

— Depois de meus experimentos, tive algumas complicações com as formigas quimeras, onde uma delas acabou morrendo. -Demiurge diz. -Então tentei usar o item que havia me dado a algum tempo para que pudesse ser usado nessas ocasiões, mas o mesmo aconteceu e a formiga permaneceu morta. Logo senti que devia ter lhe avisado.

— Está me dizendo que não havia testado nos seres humanos? -Ainz diz. – Porque se foi isso, está me dizendo que foi apenas um jogo de sorte!

A expressão de Demiurge não muda.

— Me desculpe por isso Ainz-sama. -Demiurge se desculpa. – Mas sim, é isso mesmo.

— Não se preocupe com isso. -Ainz diz. – Eu pedi para me avisar sobre qualquer irregularidade depois de tudo. Você fez bem Demiurge!

Finalmente a expressão séria de Demiurge se transforma em um sorriso diante o elogio de Ainz.

— Apenas cumpri com meu dever Ainz-sama! -Ele afirma. – Mas... Ainz-sama.

— Sim? -Ainz responde, dando permissão para que Demiurge fale.

— Se me permite dizer... -Demiurge diz. - ...sinto algo diferente em você desde que retornou.

"Algo diferente? Mas não aconteceu nada que pudesse mudar..."

— É claro! -Ainz se lembra. – Gostaria de perguntar uma coisa.

— Por confus... que dizer, para ser o mais convincente possível eu tive que usar um item permanente de troca de aparência, e um dos efeitos é transformar o corpo e parte da personalidade de quem o utilizou. -Ainz explica a situação. – Você sabe se existe alguma maneira de cancelar os efeitos deste item?

Demiurge coloca a mão em seu queixo para pensar sobre a pergunta de Ainz, logo ele chega a uma conclusão:

— Se tratando de um item mágico já utilizado, a magia ficará mais fraca com o passar do tempo, então creio que a qualquer momento você deve voltar ao normal. -Demiurge diz. – Mas é um alívio saber que não há nada de errado.

— Reúna os guardiões e explique a eles o que acabou de descobrir. -Ainz diz. – Preciso retornar para a capital dos humanos.

Demiurgo nota algo de diferente na voz de Ainz quando ele diz sobre a capital.

— Algo grande está acontecendo? -Demiurge pergunta.

— Por enquanto, apenas alguns incômodos. -Ainz responde. – Mas nada que precise se preocupar!

Demiurge acena com a cabeça, entendendo a situação de Ainz.

— Caso precise de algo, não hesite em nos contatar. -Demiurge diz.

— Sim, conto com vocês. – Ainz diz enquanto sua armadura negra volta a cobrir seu corpo.

Ainz se vira para o lado escuro da sala e da alguns passos antes de desaparecer em meio as sombras, deixando Demiurge encarregado de informar a todos sobre isso.

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Momon estava de volta a ponte que levava para dentro da capital. Estava escuro, a pouco a noite havia chegado enquanto estava em Nazarick. Agora, ele precisava resolver algumas coisas e depois ir até Joseph novamente.

— Acho que vou passar naquela loja de armas para verificar o progresso com a espada. -Momon diz para si mesmo. – E também tem isso...

Momon tira um pequeno adorno para espadas de uma das bolsas penduradas em sua armadura.

— Peguei isso após derrotar aquele gigante. É provável que seja um daqueles itens sagrados que ouvi dizer. -Momon diz. – Talvez eu pergunte o que ele faz para Joseph mais tarde.

Ele coloca de volta o adorno em sua bolsa e caminha em direção ao portão do outro lado da ponte.

Com três dos itens sagrados em suas mãos, Momon logo iria atrás do último dos itens necessário para a batalha final contra o senhor das trevas que, de acordo com a profecia, seria responsável por um evento cataclísmico que destruiria grande parte deste mundo.

Continua....