Outra vez

Capítulo 4 - Não diga


— It’s all for today. (É tudo por hoje.) – Davi suspirou reunindo os papéis a sua frente e se levantando da mesa circular em que a reunião semanal com os dirigentes dos principais setores da Marra acontecia. - I hope to see everyone next week. (Espero ver todos na semana que vem.)

Enquanto caminhava em direção a saída se despedindo de alguns diretores pôde ver Megan pelo canto dos olhos se levantando da mesa e o seguindo. Sabia que sua próxima reunião seria com ela e sabia o assunto em pauta, mas queria evitar o máximo a discussão que aquilo geraria.

— Me acompanhe. – Limitou-se a dizer assim que se despediu de mais um diretor e a viu a seu lado. – Tenho algumas coisas a inspecionar antes da nossa reunião, mas pode ir me adiantando o assunto.

Eles começaram a andar lado a lado e Davi teve que reduzir seu ritmo para que ela pudesse acompanhá-lo de salto enquanto lhe entregava um Marra tablet com algumas projeções.

— Os números de venda do primeiro final de semana do novo Marra Fone forem menores que no último lançamento. This is a problem. (Isso é um problema).

— Não acho que devemos nos preocupar tanto. – Davi lhe devolveu o tablet depois de olhar as projeções e cumprimentar uma estagiária que passava na direção contrária aos dois. – É uma queda de 3%.

— É o bastante. Estimávamos 5% a mais nas vendas. – Davi assinava um documento autorizando algo na área de desenvolvimento de produtos e sabia o quanto Megan estava irritada. Não só pelos números, mas pela sua tentativa deliberada de atrasar ou até mesmo burlar a reunião.

— Good work, John. (Bom trabalho, John). – Parabenizou um de seus programadores depois de ver o avanço que ele tinha feito em um dos códigos de programação para um novo software. – 7% é menos prejuízo do que há três anos tínhamos. – Voltou sua atenção para Megan que descruzou os braços e tentou acompanhá-lo novamente pelos corredores da empresa.

— It is enough, Davi. You didn’t realize this is... (É o bastante, Davi. Não percebe que isso é...) – Megan deixou de falar quando viu que se aproximavam de um grupo de estagiários ávidos em escutar o que estavam discutindo. Davi viu quando ela sorriu para eles e todos se dispersaram da conversa e voltaram a trabalhar, Megan sabia ser intimidante até mesmo com um sorriso. – Você não percebe que números ruins são o primeiro indício de que algo não vai bem.

Davi sorriu por vê-la preferir falar em português. Megan só fazia isso quando queria agradá-lo para conseguir algo ou para que ninguém entendesse o que estavam dizendo. Eles se encaravam de frente agora e ele podia notar que ela estava impaciente, pois batia o pé no piso de granito e mexia as mãos constantemente em cima dos braços cruzados.

— O produto é bom. – Davi teve vontade de abraçá-la, mas não o fez. – Dê mais alguns dias para que ele se consolide no mercado e atinja suas tão esperas metas.

— One week (uma semana) e voltaremos a falar sobre isso se os números não melhorarem. – Davi recomeçou a andar em direção a sua sala sabendo que não poderia se arriscar mais a contraria-la e tentar postergar o assunto. – O que me leva ao próximo assunto.

— Esqueça, eu não vou ao Brasil. – Davi entrou no elevador vazio sendo acompanhado por ela, apertou o botão do vigésimo andar e com as mãos nos bolsos esperou por aquilo que ela pudesse argumentar para que ele mudasse de ideia, no entanto, Megan permaneceu em silêncio, ainda de braços cruzados esperando que o elevador chegasse ao andar pretendido.

Davi suspirou mediante aquela calmaria antes da tempestade, sabia que sempre era pior. Percebia pelo canto do olho as mãos ainda em agitação em cima dos braços cruzados, o pé impaciente, as sobrancelhas arqueadas e uma expressão raivosa que culminava com um pequeno bico em seus lábios. Megan era obstinada quando queria algo, mas quando o assunto era voltar para o país natal Davi também sabia ser persistente e lutar contra todos os argumentos que ela normalmente apresentava.

As portas do elevador se abriram e ele pôde notar que Rosemary, sua secretária, já o esperava com as demandas do dia e um copo grande de café. Davi suspirou feliz tomando um gole, enquanto pegava todos os papéis que precisavam de sua assinatura e agradecia com um sorriso.

— Thank you, Rose. You’re an angel. (Obrigado, Rose. Você é um anjo). – Ouviu Megan dizer enquanto entrava em sua sala examinando os papéis. Rose também trouxera algo para ela, ao invés do café que ela evitava ela ganhou um copo de suco. – Stawberry! This is my favorite. (Morango! É o meu favorito.) – Davi viu as duas conversarem e sorrirem pela porta entreaberta e agradeceu pela secretária incrível que tinha, capaz de acalmar os ânimos até mesmo de Megan Lily Parker Marra.

Três minutos depois Megan entrou na sala e fechou a porta com um sorriso no rosto, a tensão do elevador havia sido dissipada e ela respirava calmamente enquanto sentava ao seu lado no sofá. Bebeu mais um gole do café quente em suas mãos e viu Megan terminar de beber o suco que estava em suas mãos.

— Pensei que seu suco preferido fosse outro. - Davi disse, tentando não olhá-la e mexendo em algo em seu Marra tablet.

— Era. Mas há alguns anos ele ficou com gosto de laranja podre e a mistura não ficou mais tão deliciosa. – Davi sabia que merecia aquilo mediante seu comentário impertinente. – Prefiro valorizar somente o morango agora.

Davi encontrou a notícia que queria na internet e estendeu o tablet para Megan, não deixando de observar o anel de diamante que repousava em seu anelar da mão direita, aquilo não era mais segredo, mas não deixava de incomodá-lo.

— Ao que parece o morango preferiu se misturar com outra fruta, dessa vez mais escocesa. – Davi não pôde deixar de ser irônico enquanto ela lia uma matéria na coluna social do New York Times que anunciava o noivado da princesa do Vale do Silício com o ator em ascensão Ian MacKay.

— It's none of your business. (Não é da sua conta.) – Megan acusou enquanto praticamente jogava o tablet em cima da mesa com raiva, talvez por ele ter a ousadia de tocar nesse assunto com ela.

— Isso afeta mais a Marra do que o fato de eu aparecer em um lançamento de barba. – Davi queria entender como ela tinha aceitado aquele noivado. – Você mal conhece esse cara. Vocês namoram há menos de oito meses.

— Olha, ele sabe contar. – Megan também se mostrou irônica e Davi notava que ela estava controlando seu tom de voz. – Isso é pessoal, não é assunto para nossa reunião.

— Tudo o que você faz também afeta essa empresa. – Davi não sabia até que ponto tentava desviar o assunto do Brasil e até que ponto queria realmente saber o que Megan sentia.

— I know. (Eu sei.) – Ela revirou os olhos como se fosse óbvio e olhou para o anel em seu dedo, olhando em seguida Davi nos olhos. – Eu planejei essa matéria, eles só publicaram aquilo que eu deixei.

— Não é só isso, Megan. – Davi se sentia impotente mediante aquele olhar, em frente aquela mulher madura que ele não conhecia mais. - Estou preocupado com você. Com os motivos pelos quais você está fazendo isso.

— I like him. (Eu gosto dele.) – Davi sentiu que ela vacilou com o que ele tinha dito e desviou o olhar rapidamente, se não estivesse acostumado com aquele semblante frígido que ela demonstrava perante ele, podia jurar que seus olhos marejaram.

— Os verdadeiros motivos. – Davi sussurrou, segurando uma das mãos dela para que ela pudesse olhá-lo novamente. Ela manteve o olhar, mas rejeitou o toque rapidamente.

— Já conversamos sobre isso. Você prometeu, Davi. – Ela sempre tinha que relembrá-lo daquilo.

— Não acho que tenhamos sido 100% honestos. – Megan já estava com o tablet nas mãos para retomar a reunião e Davi se sentia frustrado.

— Talvez seja tarde demais para isso, mas a conversa que você deseja há muito tempo acontecerá. – Davi a olhou de maneira interrogativa, ela tinha recusado sumariamente aquilo há muito tempo. - No Brasil.

— Megan... – Davi suspirou, ela não poderia o colocar nessa posição. Ela não sabia o que o impedia de voltar para o Brasil, mas tinha noção do quanto ele desejava conversar sinceramente com ela há muitos anos.

— Foi lá que nossos problemas começaram e é lá que eles deveriam terminar.

Davi sentiu um peso no coração por ouvi-la falar daquela maneira, mas ele sabia que já tinha errado muito com ela tanto no passado quanto ao longo dos últimos anos, ele reconhecia que ambos mereciam aquela conversa, a mágoa ainda estava ali, dos dois lados.

— Partimos na sexta-feira, fazemos o lançamento na Marra no sábado, eu revejo minha família, participo da TecNow, conversamos e volto em uma semana. – Ele pontuou todos os elementos profissionais que ela insistia para que ele fizesse no Brasil e esperava que ela aceitasse.

— Tenho mais um ponto para essa lista, Davi. – Ele balançou a cabeça e se essa era a única maneira de colocar tudo a limpo entre os dois, talvez, ele conseguiria até mesmo enfrentar Jonas Marra. – Mais um lugar.

— Vamos ao Brasil primeiro, uma coisa de cada vez. – Davi suspirou não acreditando que concordaria com aquilo.

Megan ponderou por alguns segundos e assentiu, voltando para algumas pautas que aquela reunião exigia. Davi tentava se concentrar em outros assuntos, mas em sua cabeça ele tentava entender aquela atitude de Megan, o motivo pelo qual ela concedeu algo que ele queria muito e ela evitava apenas para que Jonas Marra pudesse conversar com o filho desconhecido.

A reunião durou mais uma hora e Megan saiu de sua sala às onze horas dizendo que arrumaria tudo para que fossem ao Brasil. Ela parecia contente com o acordo a que chegaram e Davi tentava compreender aquele ser humano intrigante.

— Já está na hora de cortar esse cabelo. – Megan disse quase como uma ordem, bagunçando os fios de cabelo dele enquanto saia da sala e fechava a porta. Ele sorriu sem acreditar naquilo, em um segundo eles estavam discutindo, no outro ela o mirava divertida e dizia algo engraçado e no seguinte eles falavam de negócios. Davi admirava cada dia mais cada uma das facetas dela e se punia mentalmente por ter permitido que tudo isso lhe escapulisse por entre os dedos.

Ele olhou os papéis em cima de sua mesa e viu que nada daquilo lhe prendia a atenção no momento. Saiu do escritório e pediu para Rose cancelar sua agenda durante a tarde, ele não voltaria mais no escritório aquele dia. Ela o olhou surpresa, ele nunca fazia aquilo, nem quando estava gripado ou indisposto, mas se manteve em silêncio, como sempre.

Davi suspirou quando sentiu o ar gelado de começo de dezembro com que foi recebido do lado de fora da Marra. Sabia que era um aficionado no trabalho e sua tia Rita dizia que isso era uma forma de preencher uma lacuna que faltava em outra parte da sua vida, ele não gostava de pensar em quão certa ela estava quando o repreendia daquela maneira. Ele não viajava a lazer, os únicos países que tinha visitado eram a trabalho e, para isso, vivia enfurnado em feiras tecnológicas e lançamentos, além disso os únicos amigos que possuía também eram por causa da tecnologia.

Em dias como esse ele questionava sua decisão de ter deixado o Brasil tão repentinamente, mas sua vida, naquele momento, estava de ponta cabeça e ele pensou que, talvez, o trabalho a frente da Marra International o ajudaria a colocar todas as coisas no lugar novamente, consertando erros do passado e tentando ser feliz.

Era madrugada. Davi ainda trabalhava em casa digitando alguns códigos para melhorar a segurança de uma empresa bancária que o havia contratado. Tudo aquilo era interessante, mas se tornara chato nos últimos meses devido a repetição com que fizera aquilo e ele nunca pensou que a tecnologia pudesse se tornar chata para ele.

Indagava-se quase todos os dias o que fizera da sua vida saindo do Rio de Janeiro e se afastando de tudo e de todos. Fizera aquilo por Manuela, ela queria ficar mais perto da família, do irmão e do pai, que ainda estava preso, mas tinha sido transferido para um presídio da cidade. Há meses ela tentava agrupar provas para conceder liberdade ao pai e Davi não via aquilo com bons olhos, mas evitava falar sobre aquilo já que ele mesmo tinha denunciado o pai da namorada à polícia, ela dizia que o perdoara, mas ainda se ressentia por aquela atitude.

Além disso, em muitos dias Davi mal via Manu, apesar de morarem debaixo do mesmo teto, ela viajava constantemente para fazer consultorias a diversas empresas e estava se consolidando como um nome forte no mercado tecnológico. Quando estava na cidade ficava mais com o irmão e a cunhada ou com o advogado do pai do que no próprio apartamento, por isso Davi se surpreendeu ao ouvir a porta abrir suavemente.

— Achei que já estava dormindo. – Manu disse assim que o encontrou no quarto que os dois dividiam. Ele estava deitado preguiçosamente na cama com o computador no colo e apenas a olhou rapidamente enquanto ela guardava uma mala em um canto do quarto.

— Estava trabalhando. – Ele ainda digitava algumas linhas de códigos quando ela se sentou ao seu lado.

— O advogado do meu pai me ligou hoje. – Ela contou feliz, mas Davi não parou de digitar nem por um segundo para olhá-la, aquele assunto o enfadava, compreendia que ela gostava do pai, mas o cara era um criminoso. – Ele vai entrar com um pedido de liberdade condicional na próxima semana.

Davi apenas assentiu ainda mirando o computador, nada do que ela falava sobre o pai era relevante o suficiente para interessá-lo e ele preferia não opinar.

— Como está a ONG? – Manuela perguntou aparentemente interessada e Davi parou abruptamente o que fazia. Ela não podia estar interessada verdadeiramente naquilo, já que ela abandonou o trabalho voluntário há um mês alegando falta de tempo e problemas pessoais.

— O projeto Jovens Empreendedores começou novamente, temos vários jovens interessados. – Ele comentou e como previra ela não demonstrou nenhum interesse se encaminhando para o banheiro da suíte.

A verdade era que estava farto de tudo aquilo e nem seu trabalho na ONG era capaz de tirá-lo dessa rotina tediosa, já que a gestão da organização o impediu de trabalhar com as crianças o código aberta, porque tinham conseguido uma empresa de tecnologia que doaria equipamentos novos e teriam que trabalhar com os softwares dessa empresa, desenvolvendo ideias e produtos para ela em troca de financiamento todo mês. Ainda seria bom para as crianças da periferia que teriam aulas de programação e refeições diárias, mas deturpava todos os ideais do guerreiro Golias.

— Davi, parece que não conversamos há tanto tempo. – Manu reclamou ao sair do banheiro já com a camisola e passando creme nas mãos.

— A culpa não é minha. – Davi deu de ombros. – Estou sempre por aqui. – Vivendo uma vida entediante, ele completou apenas em pensamento.

— Você sabe por tudo o que minha família tem passado no último ano. Mas, tenho uma notícia maravilhosa. – Davi fechou o computador e a olhou, pensando o que poderia ser maravilhoso naqueles dias. – Jana está grávida. – Davi sorriu com a alegria dela.

— Tomara que assim eles criem juízo. – Ele disse pensando em todas as loucuras cometidas pelo irmão de Manu.

— Estava pensando, Davi. – Se Manu escutara o que Davi falara não reagiu. –Podíamos ter um filho também. – Davi a encarou assustado com aquela proposta, o relacionamento dos dois não era bom a ponto de chegarem a considerar aquela hipótese.

— Para quê? Para ele ver a mãe de vez em quando? – Davi rebateu irritado. É lógico que queria ser pai, mas não sabia se aquele era o momento nem se Manu era a pessoa indicada para isso.

Analisando sinceramente o relacionamento deles definhava a cada dia que conviviam um com o outro, as vezes, preferia quando ela não voltava para casa depois de um dia cansativo. Sempre achou Manu forte, uma guerreira, mas ela se mostrava cada vez mais fraca em lidar com sua vida pessoal e profissional e não conseguia convencê-lo de que tudo o que fazia era em busca de seus ideais como Maya.

Talvez esse fosse o problema, ele se apaixonara pela guerreira com a qual jogava e quando descobrira que ela era uma pessoa de carne e osso foi fraco o bastante para ceder a uma paixão que deveria ter permanecido apenas no plano virtual. Tentara se convencer de que Manu era tudo o que precisava, mas quando ela o afastou de tudo e de todos pôde ver que ela era igual a ele, não que isso fosse algo negativo, mas uma relação sustentada por dois workaholics lidando com problemas cotidianos, agravados pela ambição exacerbada de uma das partes nunca é um sinal positivo.

— Como você pode dizer isso? – Davi percebeu que ela estava com raiva. – Se eu não venho para casa é porque tenho coisas mais importantes para fazer.

— Mais importantes do que eu. – Davi constatou magoado.

— Já conversamos sobre isso, Davi. – Ela se levantou exasperada. – Você não quis ampliar nosso negócio de consultorias, eu não podia perder as oportunidades que me ofereciam.

— Você acha que um bebê resolveria todos os nossos problemas? – Davi resumiu farto de todas aquelas discussões, sempre que se viam nos últimos dias uma simples conversa culminava em uma briga e os motivos sempre eram os mesmos, a ambição dela, a simplicidade com que ele levava a vida, as mentiras que foram deixadas ao longo do caminho, a Marra e, até mesmo, Megan.

— Poderia amenizá-los. – Davi se levantou da cama irritado com aquilo, tentara de todas as formas que aquelas pequenas desavenças do início não se transformassem em algo mais, tentara ser paciente, mas falhara miseravelmente. Aquele poderia ser o momento em que ambos desistiriam de fazer tudo aquilo dar certo, mesmo que ele tivesse relutado com isso por muito tempo.

— Um bebê não é, nem nunca foi a solução. Acho que... – Ele sentiu as mãos dela segurá-lo antes que ele dissesse o que queria.

— Foi um dia longo, Davi. Talvez tenha sido errônea essa ideia de gravidez agora. Desculpa. Vamos dormir. – Ela disse já indo para cama e puxando as cobertas e ele apenas assentiu.

Mais uma vez ela havia evitado as palavras que terminariam tudo aquilo. Davi sabia que era questão de tempo até que tudo aquilo fosse arruinado de vez.

— Boa noite. – Ela murmurou e ele respondeu virando de costas para ela, uma barreira invisível os separava naquele momento.

Dias depois o inevitável aconteceu e ele e Manuela não eram mais um casal. Davi aproveitou uma mensagem enviada por Ernesto para se refugiar no Rio de Janeiro e tentar esquecer todos os problemas que estava vivendo tanto na vida pessoal quanto na profissional.

Não tinha ressentimentos por seu término com Manuela, entendeu que era uma história que precisava ter vivido para entender melhor seus próprios sentimentos, mas essa relação o afastou de alguém de quem gostava muito e isso ele não tinha conseguido reparar ainda, apesar das inúmeras tentativas.

Sendo assim, a proposta de Megan era muito tentadora. Sabia que ela estava noiva de outro, mas nos últimos três anos tinha aprendido que, por mais madura que ela estivesse, aquela bad girl que ele tinha amado algum dia ainda estava ali, ele só precisava saber como acessá-la para que ela pudesse ouvi-lo, perdoá-lo, mas o passar dos anos e da convivência diária provara que aquilo não era fácil.

Davi admirava o sol se pôr da sacada de seu apartamento e se pergunto há quanto tempo não parava um segundo para olhar a sua volta. Sua vida se resumia a trabalho nos últimos anos e talvez a ideia de voltar ao Brasil fosse boa naquela ocasião. Não poderia dizer que sua vida era chata, como há três anos, cada dia representava um novo desafio como presidente da Marra, mas sua vida pessoal estava com saldo negativo há tempos e ele não sabia como remediar isso.

O celular tocou em seu bolso e ele relutou em atender ao ver a projeção do nome de Megan, suspirou porque sabia que era algo importante, do contrário ela não ligaria. Apertou a tecla verde e ouviu a voz risonha dela do outro lado da linha. Ela deveria estar falando com alguém próximo.

— Davi, quem bom que pôde atender. – A voz dela assumiu o tom impessoal que era destinado a ele. – Esqueci uns papéis em seu escritório, será que John pode buscá-los?

— Claro, é só pedir a Rose para entregá-los. – Suspirou, queria encerrar aquela ligação o quanto antes para não correr o risco de dizer algo que pudesse estragar o trato que tinham feito aquela manhã.

— Não está em seu escritório? – Davi notou um tom surpreso na voz dela.

— Estou em casa. Não trabalhei a tarde. – Na verdade, seu dia se resumira em almoçar sozinho em um restaurante nas cercanias do apartamento e dormir a tarde toda, ele estava exausto mentalmente.

— Aconteceu alguma coisa? – Era impressão ou ele sentira uma ponta de preocupação na voz dela?

— Não, minha cabeça estava cheia. – Essa era a única resposta que ele poderia dar para não se arrepender depois. Não poderia dizer a ela que passara a tarde reavaliando sua vida e que ela permeou seus pensamentos, embora quisesse dizer aqui.

— Tudo bem. – A voz dela vacilou como não soubesse o que dizer a seguir.

— Até amanhã, Megan. – Ele encerrou a conversa antes que o silêncio se tornasse mais constrangedor do que aquilo.

— Até amanhã. – Ela murmurou e ele desligou antes que não pudesse controlar suas palavras. Ele gostaria de pedir desculpas mais uma vez, mas já tinha dito muitas coisas aquele dia. Já tinha testado todos os limites de Megan.