Out On The Town

Capítulo 6 - Klaus


30 de junho de 2005

— Eu pedi a Caroline em casamento. - disse a Elijah.

Estávamos na sala dele na empresa e tínhamos passado a tarde pensando em um jeito de melhorar nosso sistema de distribuição, que precisava definitivamente passar por uma remodelação antes do retorno às aulas em setembro. No ano passado, passamos um perrengue porque os produtos esgotaram em várias livrarias e a reposição não chegou rápido o suficiente, o que resultou em produtos estocados nas prateleiras. Enfim, uma vez que essa conversa tinha acabado, ainda sem uma resposta muito definitiva, ele pediu que sua assistente, Marissa, trouxesse café para nós dois. E então eu tomei coragem e lhe disse.

Já faziam mais de duas semanas e, apesar de eu estar mais do que feliz, ainda não tinha contado a ninguém. As únicas pessoas a quem eu queria contar eram Elijah e Marcel, já que o resto da minha família não apoiaria. O pior é saber que eles não apoiariam não porque eu estava noivo de Camille, mas por causa de Caroline. Eles acreditavam que ela estava muito abaixo do meu nível social, o que quer que isso quisesse dizer.

Elijah me encarou por alguns segundos em silêncio, provavelmente considerando as implicações daquilo que eu tinha acabado de dizer.

— Você sabe que isso resolve um problema, mas deixa o outro maior ainda, certo?

Respirei fundo.

— Sim, eu sei. Mas eu vou resistir contra o outro problema. Vou tentar convencer o pai a me deixar sair. - todos os meus irmãos sabiam que aquilo era um casamento arranjado, mas, ainda assim, achavam que eu tinha concordado com aquilo por livre e espontânea vontade.

— Não acho que isso vá acontecer.

— Também acho que não, mas não custa nada tentar arranjar uma solução para convencer ele que minha felicidade vale à pena.

— Pelas circunstâncias, acho que você fez a coisa certa. Parabéns, Nik.

— Obrigado.

Saí da sala de Elijah e voltei para a minha, finalmente me livrando do peso de não ter contado antes para ele. Eu meio que estava evitando me encontrar com ele nesses últimos dias, porque não queria que ele se sentisse forçado a guardar segredo. Além disso, ele estava bem ocupado esses dias e só estávamos nos encontrando aqui na empresa, onde as paredes têm ouvidos.

Era quinta-feira e eu estava doido para voltar para casa. Segunda feira seria 4 de julho e eu estava ansioso porque tínhamos combinado de ir a uma festa na casa no lago dos Gilbert. Não era muito o meu estilo, mas Caroline queria ir, então nós iríamos. Marcel me disse que também tinha sido convidado, então fiquei imaginando o tamanho da festa e quis travar. Eu odeio multidões. Posso até estar lá na frente e falar algo, mas ficar no meio de uma multidão era sufocante para mim.

Já estava na metade do caminho para o estacionamento quando fui abordado por Camille, que praticamente se jogou em cima de mim. Tive que segurá-la para que ela não caísse, o que, olhando em retrospectiva, talvez não devesse ter feito. Ela se aproveitou da proximidade física.

— Klausinho, você não quer me ajudar a escolher as coisas para o nosso casamento? - ela sussurrou no meu ouvido, tentando fazer essa cena escrota parecer qualquer coisa sexy.

— Não, muito obrigado. - soltei-a e fiz ela ficar de pé de novo numa posição normal. - Não tenho a menor intenção de me casar com você. A única pessoa que precisa da minha ajuda para isso é a Caroline.

Ela franziu a testa.

— E quem é Caroline?

— A minha noiva. Sabe, uma de verdade, que eu amo.

— Ah, aquela mulher que estava usando sua camisa? Eu pensei que ela fosse uma prostituta.

Controlei todos os instintos que me diziam para bater na cara daquela vadia.

— Sabe, teve um momento em que eu pensei que isso podia funcionar de alguma forma, apesar de claramente não estarmos atraídos, mas agora eu vejo que não. Você é má. O que Caroline te fez antes de você assumir que ela era uma prostituta? Ela é a melhor coisa que já aconteceu comigo e eu não vou tolerar que você ou qualquer um a insulte.

Ela pareceu surpresa por eu ter me posicionado. Geralmente, eu deixava que ela fizesse o que queria, desde que ficasse fora do meu caminho.

— Me desculpe, mas... eu pensei que eu fosse a sua noiva.

— Ah, claro. Você esteve presente num momento de desespero da minha vida. Se eu não aceitasse casar com você, eu perderia a porra do meu emprego, coisa que eu realmente precisava, se quisesse manter minha saúde mental. Você foi a parte indesejada do contrato. Eu nunca parei de me arrepender dessa decisão.

— Eu sei que você não vai fazer isso por bem, mas, saiba que, daqui a três meses, nós vamos estar casados. E eu não vou deixar você sair disso facilmente. Muito menos meu tio ou seu pai.

— Por que você e Freya não se assumem logo?

Ela empalideceu.

— Como você sabe disso? - ela perguntou, sua voz muito baixa.

— Enquanto eu tentava escapar, tive que ir atrás de todos os recursos possíveis. Um deles era a minha irmã, que ficou muito animada com a possibilidade.

Ela pareceu pensar por alguns segundos e depois falou:

— Ah, não Klaus. Eu prefiro muito mais ver você aí pensando num jeito de sair de um acordo impossível. É muito mais divertido do que deixar você sair fácil dessa. Ah, caso não queira que eu escolha o bolo e a comida sozinha, apareça na confeitaria e buffet Lafayette às oito da manhã, amanhã.

— Eu não me importo que você escolha a porra toda sozinha. Não me importo que você case com uma laranja e, sinceramente, não dou a mínima pra você. Eu não vou casar com você, Camille. E se você pudesse ver algo à sua frente que não fosse do plano do seu tio, não ia querer casar comigo também.

— Você diz isso, porque nunca quis tentar nada. Tem que se importar ao menos um pouco comigo. Passamos uma parte desses últimos dois anos juntos, não é?

— Juntos? Você quer dizer, saindo em encontros onde eu não olhava para a sua cara e nem você para a minha? Aqueles em que nós dois ficávamos o tempo inteiro vendo a televisão do restaurante?

— Se realmente não se importasse, não teria ido em nenhum.

— Não foi você que teve seu emprego posto em perigo se não fosse às merdas dos encontros. Não pense, nem por um momento, que eu já senti algo em algum momento por você.

— Ótimo. Então eu realmente espero que você compareça ao casamento. Afinal, eu acho que você tem mais amor à própria vida e à vida das pessoas que você ama do que à sua felicidade, certo?

Ela saiu, um sorriso maligno estampado em seu rosto.

Um arrepio passou pela minha espinha e resolvo continuar meu caminho até o estacionamento. Meu telefone começa a tocar e eu logo reconheço Sweet Caroline, que é o toque exclusivo dela no meu telefone. Sim, eu tinha um toque diferente só para ela, para que eu soubesse que era ela sem precisar olhar no identificador de chamadas. De qualquer forma, meu humor já começou a melhorar e atendi o telefone.

— Oi. - falei, um sorriso crescendo no meu rosto.

— Oi. Eu sei que você provavelmente está ocupado, mas já está perto de vir para casa? - ela perguntou, sua voz fraca e, ao mesmo tempo, tranquila.

— Já estou no estacionamento, pegando o carro para ir para casa. O que houve? - perguntei, já entrando no carro e ligando-o, mas não saindo. Eu nunca dirigia enquanto estava no telefone. Não mais, pelo menos. Tinha aprendido a lição do pior jeito possível.

— Acho que estou doente.

— Vou chegar em casa daqui a 15 minutos. Talvez 10.

— Sem pressa. Eu não estou muito mal, só um pouco.

— Sim, senhora. - eu disse. - Preciso desligar para chegar logo em casa.

— Ok. Te amo. Obrigada por ser tão cuidadoso comigo.

— Também te amo.

Desliguei o telefone e foquei em chegar logo em casa.

●●●

Assim que cheguei em casa, encontrei Caroline sentada na pia da cozinha, tomando um copo d'água. Larguei minhas coisas em cima da mesa e fui até ela. Dei-lhe um beijo na testa.

— Como você está? - perguntei.

— Estou melhor. Bem melhor, na verdade.

— Mas, o que era?

— Não sei. Eu estava enjoada e vomitei duas vezes depois do almoço.

Engoli em seco. Odiava quando ela estava mal e eu não podia estar perto.

— E agora você está perfeitamente bem?

Ela balançou a cabeça, considerando.

— É. Estou muito bem, agora que você chegou. - ela sorriu para mim.

— Tem certeza de que não quer ir no médico? Você pode ter desidratado. Ou pode estar doente mesmo. Eu não sei. Pode ser algo sério e eu me odiaria se fosse e...

Ela me interrompeu com um beijo.

— Eu estou bem. De verdade. Eu acho que o almoço deve ter caído mal. Se quiser mesmo me levar no médico, só pra ter certeza, podemos ir. Se isso te acalmar um pouco, também. - ela me olhava, seus olhos azuis brilhando.

— Ótimo. Vá se arrumar.

Observei-a subir para o banheiro enquanto eu ficava no sofá, apenas esperando que ela descesse. Depois de uns dois minutos, eu resolvi subir. Não, não sou nem um pouco impaciente. Chegando lá, encontrei Caroline debruçada sobre o vaso sanitário, jogando tudo para fora. Segurei os cabelos dela e fiquei passando a mão em suas costas. Então ela se virou para mim e veio me abraçar. Me sentei encostado na parede e a puxei para o meu colo.

— Você quer mesmo ir? - perguntei. Era engraçado como, antes de ver, eu estava mais preocupado do que agora que eu tinha visto que ela só estava passando mal.

— Não. - ela suspirou. - Você sabe que eu odeio hospitais e agulhas.

— Sim, eu sei.

— Além disso, eu não estou tão mal. Eu te liguei mais porque estava me sentindo sozinha e queria que você chegasse em casa logo.

— Nós precisamos arranjar um trabalho para você. - disse, brincando. Ela deu uma cotovelada de leve nas minhas costelas. Caroline ia arranjar um emprego, não porque precisava, mas simplesmente porque queria e porque não aguentava ficar em casa. Além disso, ela nunca deixaria que ninguém a sustentasse, não se ela mesma pudesse se sustentar.

— Precisamos, mas minha carência não é a razão para isso.

— Sim, senhora.

Ela se recostou contra o meu peito e eu comecei a enrolar uma mecha do seu cabelo.

— O pior é que foi estranho. - ela falou depois de alguns momentos. - Eu estava só escovando os dentes. Isso não acontece. Nem mesmo quando eu estou doente de verdade.

— Na verdade já aconteceu, mas foi quando você estava grávida... - fui falando, minhas palavras saindo mais vagarosamente enquanto eu falava. Ela olhou para mim, uma expressão que era um misto de apreensão e choque no rosto. - Você acha que, talvez...

— Eu não sei. Estou atrasada uns dois dias, mas não dei importância, porque acontece de vez em quando. Mas antes eu não tinha com o que me preocupar.

— Estávamos muito descuidados naqueles primeiros dias.

— Sim. - ela mordeu o lábio inferior. - Acho que podemos comprar um teste na farmácia. Se for negativo, deixamos isso de lado.

— Combinado.