Out On The Town

Capítulo 7 - Caroline


30 de junho de 2005

— Tem certeza de que não quer ir no médico? - Klaus me perguntou pela milésima vez. Bom, não era a milésima vez, mas parecia ser. - Você pode ter desidratado. Ou pode estar doente mesmo. Eu não sei. Pode ser algo sério e eu me odiaria se fosse e...

O interrompi com um beijo.

— Eu estou bem. De verdade. Eu acho que o almoço deve ter caído mal. Se quiser mesmo me levar no médico, só pra ter certeza, podemos ir. Se isso te acalmar um pouco, também. - eu o olhava atentamente. Ele se preocupava demais.

— Ótimo. Vá se arrumar. - ele pediu e eu subi as escadas para o banheiro.

Logo que cheguei no banheiro, a primeira coisa que eu fiz foi arrumar o cabelo. Depois, comecei a escovar os dentes, mas comecei a enjoar e abri a tampa do vaso sanitário para vomitar. Do nada, eu senti uma mão segurando meus cabelos e outra passando nas minhas costas, como que dizendo que tudo ia ficar bem. Isso é bem o estilo de Klaus.

Me virei para ele e o abracei, sendo que ele se sentou encostado na parede e me puxou para o colo dele. Eu me sinto como uma criança quando ele faz isso. Mesmo assim, eu adoro.

— Você quer mesmo ir? - ele perguntou.

— Não. - suspirei. - Você sabe que eu odeio hospitais e agulhas.

— Sim, eu sei.

— Além disso, eu não estou tão mal. - pausei um pouco antes de continuar. Admitir aquilo era vergonhoso. - Eu te liguei mais porque estava me sentindo sozinha e queria que você chegasse em casa logo.

— Nós precisamos arranjar um trabalho para você. - ele disse, num tom sério, apesar de eu saber que ele estava brincando. Dei-lhe uma cotovelada de leve nas costelas.

Eu estava pensando muito sobre isso ultimamente. Nunca quis ser dependente de ninguém e, desde que completei 15 anos, eu trabalhava. No verão, quando eu não tinha escola, era algo mais formal, e eu tinha trabalhado em uma loja de roupas num ano e numa sorveteria em outros dois. E mesmo enquanto estava em aulas, eu arranjava alguma coisa que não atrapalhasse tanto a escola, como passear com cachorros, dar aulas particulares e ser babá. Já em Cincinnati, eu trabalhei numa loja de materiais para construção e, por incrível que pareça, me sentia muito à vontade lá. Não era exatamente onde eu queria estar, mas era perto.

Nos últimos dias, eu tinha ido atrás da minha antiga escola para pegar os documentos declarando que eu tinha terminado o ensino médio. Apesar de toda a cidade já saber que eu tinha voltado, o diretor quase caiu para trás na cadeira quando eu entrei na sala dele. Quando pedi pelo meu diploma, ele pediu apenas um momento e olhou no grande arquivo que estava do outro lado da sala.

— Aqui está. - ele me entregou. - Só falta você assinar.

Assinei o papel e saí da escola mais feliz do que tinha entrado. Eu deveria ter colado grau com a minha turma no dia do acidente, mas, como descobri depois, ninguém colou grau naquele dia, só 2 semanas depois. Enfim, agora eu tenho aquilo que me impediu de fazer o que eu realmente queria: uma licença de corretora de imóveis.

Em Ohio, onde eu estava morando, a legislação sobre isso me obrigava a ter o ensino médio completo, o que eu não podia comprovar, então nada feito. Agora que eu tenho o diploma, posso finalmente fazer o curso (apesar de aqui na Virgínia não ser exigido). Ele leva seis meses, e é o que eu estou planejando fazer, por enquanto.

Ainda não comentei nada disso com ele, exceto que fui atrás do meu diploma, e agora não parece o momento certo, então digo uma outra coisa, que não deixa de ser verdade:

— Precisamos, mas minha carência não é a razão para isso.

— Sim, senhora.

Recostei contra o peito dele e ele começou a enrolar uma mecha do meu cabelo no seu dedo. Estava bem relaxada e, honestamente, eu poderia dormir ali, mas algo não saía da minha cabeça.

— O pior é que foi estranho. - falei depois de alguns momentos. - Eu estava só escovando os dentes. Isso não acontece. Nem mesmo quando eu estou doente de verdade.

— Na verdade já aconteceu, mas foi quando você estava grávida... - Klaus disse, sua frase se tornando mais lenta à medida que ele falava. Não conseguia imaginar meu rosto nesse momento. - Você acha que, talvez...

— Eu não sei. - fiz um cálculo mental. - Estou atrasada uns dois dias, mas não dei importância, porque acontece de vez em quando. Mas antes eu não tinha com o que me preocupar.

— Estávamos muito descuidados naqueles primeiros dias.

— Sim. - mordi o lábio inferior. Estava nervosa com aquela situação. - Acho que podemos comprar um teste na farmácia. Se for negativo, deixamos isso de lado.

— Combinado.

●●●

Klaus tinha me dito que ia comprar o teste e que eu podia esperar em casa, mas eu estava ansiosa demais. Fomos juntos para a farmácia e, enquanto íamos procurar onde estavam, uma mulher jovem que estava atrás do balcão veio na nossa direção. Pela maneira como ela se portava e como se vestia, parecia ser a farmacêutica responsável ou a gerente do lugar. Ela era negra, alta e tinha um cabelo cacheado belíssimo, fugindo do alisamento que era quase que imposto nas mulheres com cabelo assim.

Antes mesmo que eu pudesse me perguntar o que ela estava fazendo ali, já que tinham quatro atendentes sem fazer nada, ela começou a sorrir.

— Klaus? Klaus Mikaelson? - ela parecia surpresa. - Eu passo três anos sem te ver e agora você só aparece aqui.

— Viviane Lescheres. - ele também estava sorrindo agora e eles se abraçaram. - Quanto tempo.

— Desde que a faculdade terminou, eu acho. E agora é Viviane Navarro. - ela sorriu.

— Você e Armand finalmente se resolveram? - Klaus disse em tom de brincadeira.

— Sim. - ela ria. - Casamos em dezembro do ano passado.

— Parabéns. - ele disse, e apesar de estar tranquilo, realmente parecia feliz.

Só observei aquela troca entre eles, sem me sentir deixada de lado ou com ciúmes. Klaus já tinha me falado de Viviane, que tinha sido vizinha dele enquanto eles cresciam. Ele me contou que eles tinham ficado uma vez, antes de irem para a mesma faculdade, onde ela tinha conhecido esse tal de Armand. Ela era um ano mais velha que ele, mas eles sempre tinham sido inseparáveis e, como ele estudava em casa, terminou o ensino médio um ano mais cedo e eles foram juntos para a faculdade.

— Não vai nos apresentar? - Viviane perguntou, já me indicando.

— Sim, desculpe. - Klaus disse. - É que faz tanto tempo que as duas estão na minha vida que eu esqueço que não se conhecem. Viviane, esta é minha noiva, Caroline Forbes. Care, esta é Viviane.

— Eu escutei muito sobre você. - eu disse, sorrindo e estendendo a mão para ela apertar. - É bom finalmente te conhecer.

— Então essa é a famosa Caroline? - ela perguntou e Klaus assentiu com a cabeça, pousando sua mão na base das minhas costas. - Agora eu entendo porque ele voltava para casa religiosamente a cada duas semanas no último ano de faculdade.

— Duas horas não é tão longe. - ele se defendeu.

— Mas nos três primeiros anos também não era e você ia em casa só uma vez no mês.

— É verdade. Elijah me disse que o maior benefício de termos começado a namorar foi você ir mais para casa. - eu disse.

— Isso é um absurdo, até Elijah está contra mim? Ele nem está aqui. - Klaus protestou.

Tive que rir. Viviane viu que os outros funcionários já começavam a encarar e nos perguntou do que precisávamos.

— Um teste de gravidez. - eu falei, indo direto ao ponto.

Ela pareceu um pouco surpresa, mas logo nos encaminhou para o corredor onde eles ficavam. Depois que pegamos um, ela nos levou até o caixa antes de ser chamada por um dos funcionários para atender um cliente que estava com dúvidas.

— Boa sorte. - ela disse, me abraçando. - Espero que tenham o resultado desejado.

Pagamos e saímos de lá.

●●●

20 minutos depois, minha cabeça estava a mil.

O timer que tínhamos colocado para o teste tinha acabado de disparar e eu tentava criar coragem de me levantar e ir olhar. Não queria criar expectativas, mas elas se formaram do mesmo jeito.

Eu queria que desse positivo.

Então, quando eu entrei no banheiro e vi os dois risquinhos no teste, não aguentei e comecei a chorar e a rir ao mesmo tempo. Klaus me abraçou e ele também estava rindo.

— Eu mal consigo acreditar. - ele disse, ainda me abraçando.

— No que?

— Que, de certa forma, temos tudo o que perdemos de volta. Nada pode substituir o que perdemos, mas estamos no ponto em que estávamos quando tudo deu errado.

— Espero que isso não queira dizer que tudo vai começar a dar errado agora. – o risco de tudo dar errado era bem grande. Não seria o "acaso" desta vez, já que existiam ameaças bem palpáveis ao nosso futuro juntos.

— Dessa vez não. Eu tive umas ideias. – ele me soltou e eu pude ver o rosto dele, que se iluminava com um sorriso que dizia que ele estava aprontando algo. Seus planos eram brilhantes, o que dificultava meu trabalho de impedi-los quando eram más ideias, já que demorava para tirar a ideia da minha cabeça e depois da dele.

— Prossiga.

— A legislação do país permite que alguém seja casado com duas pessoas?

— Até onde eu saiba, não. - o que ele estava planejando? Será que queria casar com nós duas?

— Ótimo. - ele olhou para mim e deu um de seus sorrisos de lado. - O que você acha da semana que vem?

— Para que?

— Pro nosso casamento. Pra que mais poderia ser?

Se eu estivesse bebendo alguma coisa, teria engasgado com certeza.

— Nosso casamento? - eu não entendia o que estava acontecendo.

— Sim. Se nos casarmos, quando forem expedir a licença para eu me casar com Camille, vão encontrar esse impedimento. Então meu pai vai tentar fazer com que nós nos separemos, mas, a essa altura, já vamos ter falado do bebê. Apesar de Mikael parecer sem coração, ele preza pela família, então vai nos deixar ficar juntos. Se estiver de extremo bom humor, pode até deixar que Freya e Camille casem no Canadá.

— Já é legal por lá?

— Parece que só falta em alguns estados e que vão começar a votar uma lei nacional.

— Eu não fazia ideia, mas não me surpreende. Eles são bem mais evoluídos que nós.

— De volta ao ponto, a essa altura, nós já teremos tornado público que teremos nosso bebê e, bem, Mikael pode parecer sem coração, mas ele ainda preza pela família. Ele vai nos deixar ficar juntos. E talvez ele até deixe Freya e Camille se resolverem.

Respirei fundo algumas vezes, ainda processando o plano dele. Não acreditava que ia dizer isso, mas...

— Pode dar certo. Eu ainda tenho que pensar como, mas esse seu plano louco pode dar certo. O problema é ter que confiar em Mikael pra isso.

Ele segurou minha mão.

— Eu sei. Talvez eu devesse dizer que ia fugir com você e que ele nunca mais ouviria falar de nós. Isso ia irritá-lo, mas ele não ia reclamar. Eu não sou o filho favorito e você também não é a nora favorita dele.

— Ele gosta de Hayley? - eu não queria parecer chocada demais, mas eu estava surpresa.

— Não, mas ele gosta ainda menos de você.

Tive que rir.

— Pelo menos agora eu sei que não é pessoal. - Klaus sorriu para mim e eu me arrependi das palavras no momento em que elas saíram da minha boca.

Eu não tinha tanta certeza assim de que não era pessoal. Nunca conversei com ela sobre isso, mas não acho que Hayley tenha sido ameaçada para sair da vida de Elijah.