Out On The Town

Capítulo 5 - Caroline


13 de junho de 2005

Eu estava aproveitando a tarde na companhia das minhas duas melhores amigas e eu simplesmente não conseguia acreditar na normalidade daquilo depois de todo esse tempo. Claro que eu tinha amigas em Cincinnati, mas elas não eram tão próximas quanto Elena e Bonnie. O tipo de amizade que você forma no ensino fundamental e no médio é diferente de qualquer outro, porque nessa época você tem uma necessidade de compartilhar tudo sobre a sua vida com aquelas pessoas. Não é que as amizades que você faz depois disso sejam menos fortes ou profundas, as coisas só são menos intensas.

Nós estávamos na casa de Elena e toda a cena era familiar. Tirando o choro quando nos reencontramos, claro. Depois de dois anos delas acreditando que eu estava morta e eu mal lembrando da importância delas na minha vida, nós três estarmos juntas de novo era algo importante e emocionante.

"Caroline: Elenaaaaa

Caroline: Você vai estar em casa hoje de tarde?"

Depois de uns poucos minutos, a resposta chegou.

"Elena: De quem é esse número?"

Só então eu lembrei que meu número tinha mudado e que o código de área era de Cincinnati. Ela provavelmente achava que era uma tentativa de golpe.

"Caroline: Sou eu, Caroline.

Caroline: Queria saber se você e Bonnie estão livres hoje de tarde.

Elena: Quem quer que você seja, essa é uma brincadeira de muito mau gosto.

Elena: Não sei quem você é, ou como conseguiu meu número, mas para, por favor."

Fiquei bem perto de me chatear por isso, mas eu não podia culpá-la. Eu estava desaparecida há 2 anos e ninguém mais tinha esperança de que eu fosse aparecer. Resolvi ligar para ela. Só precisou chamar duas vezes para ela atender.

— Olha, não importa quem você seja, essa brincadeira é de muito mau gosto. - ela disse, sem dúvida reconhecendo o número. - Eu vou desligar a ligação e bloquear seu número, ok?

— Elena, sou eu. - eu disse, torcendo para ela não ter desligado ainda. Ela ficou em silêncio por um momento. - Desculpa ter te preocupado, eu tinha esquecido que tinha trocado de número. E que meu número agora é de Cincinnati, algo que pretendo corrigir em breve.

— Caroline? - a voz dela parecia emocionada. - Ai, meu Deus. É você mesmo?

— Sim. - eu estava me emocionando também.

— Eu devo estar sonhando.

— Não. Isso é bem real. Enfim, você vai estar em casa hoje de tarde? Eu preciso conversar com você e com a Bonnie. Estou morrendo de saudades.

— Ah, Care... nós também. - ela disse.

— Coloca a Bonnie na chamada.

— Tá bem.

Depois de uns poucos segundos, ouvi a voz de Bonnie.

— Elena? - ela parecia curiosa. - Por que estamos numa chamada com um número de Deus sabe aonde?

— Por minha causa. - falei. - Meu número ainda é de outro estado, mas eu voltei pra Mystic Falls.

— CAROLINE! - ela praticamente gritou. - Você está bem?

— Sim, eu estou bem.

— Olha, não faz isso de novo, por favor. - ela disse, sua voz claramente embargada.

— Eu prometo. - tive que sorrir.

— Vocês vem aqui pra casa agora de tarde pra Caroline nos contar o que aconteceu, certo? - Elena falou.

— Claro. - Bonnie respondeu.

— Com certeza. - concordei. - Mas eu também quero saber sobre vocês. Eu perdi dois anos da vida de vocês.

— Pode se preparar, o que não vai faltar hoje é história.

Tive que rir. Ainda nos falamos por alguns minutos antes de desligar a ligação e eu ir almoçar, indo direto para a casa de Elena depois.

Agora, estávamos sentadas no chão da sala da casa da família Salvatore, para onde Elena tinha se mudado no verão passado. Eu já tinha estado lá outras vezes, principalmente fazendo trabalhos de escola com Stefan no ensino médio, e era um pouco estranho estar ali sem ele por perto, mas logo a estranheza passou e começamos a conversar naturalmente.

Depois de algum tempo, Damon chamou Elena para atender uma ligação, e ela voltou super feliz depois de uns minutos, o que, eu tenho quase certeza, deixou o Damon um pouquinho enciumado. Deixei isso de lado. Ela geralmente estava feliz, então... estava tudo bem. Depois de um tempo tudo voltou ao normal, apesar de eu ter tido a impressão de que elas tiveram uma conversa enquanto eu estava no banheiro. Quando eu voltei, as duas pareciam animadas, o que me deixou um pouco triste. Quer dizer, era compreensível que elas não fossem me contar literalmente tudo depois de eu ter passado 2 anos fora, mas ainda assim doía um pouco. Tínhamos um pacto para não ter segredos entre nós três, e, mesmo que agora tivéssemos crescido e percebido que você não precisa contar tudo para as suas amigas para ser amiga delas, ainda me sentia um pouco mal por isso. Logo deixei isso de lado e voltei a me concentrar em ouvir as histórias delas e como todos estavam.

Então teve a hora que eu resolvi que ia ligar pro Klaus pra ir pra casa e elas me impediram, dizendo que precisavam falar sobre o namoro da Bonnie e do Enzo e eu acabei ficando por mais meia hora. Minha amiga parecia estar realmente feliz com ele, apesar de eu não fazer ideia de quem ele fosse. De acordo com ela, eles se conheceram na faculdade e ela o tinha convencido a vir passar algumas semanas aqui.

— Para ser bem honesta, eu só vim hoje por você. - Bonnie disse. - Enzo não conhece mais ninguém por aqui, então ele não tem o que fazer.

— Desculpa. - eu disse. - Se eu soubesse que você estava nessa situação, teria marcado pra outro dia, depois de ele já ter conhecido o pessoal.

— Eu não me importo. Nem ele, para falar a verdade, já que foi ele quem me disse para vir.

— Sério?

— Sim. - ela sorriu. - Ele me disse que ouviu falar demais de você no último ano para que eu ficasse com ele enquanto podia vir para cá falar com você.

— Acabou de subir no meu conceito.

Passamos mais algum tempo conversando, mas, perto das seis, eu resolvi que era melhor ir. Ainda podíamos conversar por bastante tempo, mas eu estava um pouco cansada do meu dia.

Eu ia ligar pro Klaus vir me buscar, mas a Bonnie se ofereceu pra me dar uma carona, já que ela tinha que ir para casa para dar atenção ao pobre Enzo e minha casa ficava no caminho. Eu ia ligar pra ele, mas achei que não fosse preciso. Nunca era.

Logo que desci em casa, Bonnie saiu praticamente voando.

— Isso não foi estranho. - falei para mim mesma.

Andei até a porta da frente que, estranhamente estava aberta. Tentei ligar as luzes, mas, aparentemente, estava sem energia. Quando prestei mais atenção no ambiente, vi muitas velas e meu único pensamento era: que porra é essa?

Olhei para o chão e vi um pedaço de papel, um guardanapo, já gasto e desbotado pelo tempo. Em um dos lados estava escrito "oi loirinha, me passa seu número" e o outro lado dizia "quer meu telefone? Liga pra polícia, minha mãe vai te dar com prazer." Comecei a rir com a lembrança. Que tipo de garota responde isso pra um cara que está dando em cima dela? Se estivesse com medo, não responder era muito mais inteligente, mas eu não estava com medo. Conversamos a noite toda depois disso, e ainda assim não dei a ele meu número. Não ia dar em nada de qualquer forma. Que universitário ia querer qualquer coisa com uma garota de ensino médio? Minha versão com 16 anos achou que era uma boa ideia responder isso (e ainda bem que ela achou). Havia um envelope ao lado de onde o guardanapo estava no chão. Aparentava não ser tão antigo quanto o guardanapo, mas também não tinha sido feito hoje. Abri o envelope com cuidado e vi que tinham dois pedaços de papel dentro, um mais desgastado do que o outro. Peguei o mais antigo e o abri.

Não fiquei surpresa ao reconhecer a caligrafia elegante dele.

E eu realmente liguei. A princípio, nossa querida xerife Forbes não quis me dar seu número (que tipo de mãe daria a um cara de quase 20 anos o número de sua filha que tinha acabado de fazer 16?), mas ela acabou cedendo ao meu charme depois de ver minha ficha criminal limpa e meu sobrenome (e depois de você insistir um pouco, pelo que ela me contou depois). Então eu te liguei e você percebeu que eu não pararia de te importunar até você aceitar sair comigo. Sinceramente, para mim, foi a melhor decisão que você já tomou até hoje. Não sei se vou mudar de ideia quanto a isso em alguns minutos, mas espero que sim. Vá ao lugar onde eu te beijei pela primeira vez.

Quando terminei de ler, peguei o mais recente. Ele dizia:

É o lugar do nosso primeiro beijo, mas também é onde eu quis te explicar tudo o que estava acontecendo. Nossa primeira e única briga depois de você voltar. Tudo por causa de um mal entendido. Se lembre, você é a única que eu amo e a única que sempre vou amar.

Fui para o sofá, segurando aqueles pedaços de papel na mão, ainda sem entender nada, e uma lágrima solitária escorrendo pelo lado do meu rosto. Encontrei uma foto, que, a essa altura, devia ter uns cinco anos. Eu devia ter uns 16 anos e ele uns 20. Eu estava dormindo apoiada nele enquanto ele sorria e tirava a foto. Eu simplesmente adorava aquela foto. Um outro envelope estava grudado na parte de trás da foto, também com dois pedaços de papel.

Essa foi a primeira vez que você aceitou vir dormir na minha casa. Me lembro de como você estava com medo de que sua mãe descobrisse. E de como você só se acalmou depois de praticamente adormecer nos meus braços. Sinceramente, aquela foi a melhor sensação que eu já senti na minha vida. A sensação de ter o poder de te acalmar, mesmo que estivesse mais nervosa do que o normal, minha loirinha. E a sensação de que você poderia fazer o que quisesse comigo, que eu continuaria babando e arrastando céus e terra por você... Deus, eu simplesmente percebi que estava mais apaixonado por você do que deveria. Mais do que era seguro. Mais do que já estive por qualquer outra garota. E foi aí que descobri que era sortudo por ter você. O homem mais sortudo do mundo. Vá para o lugar onde descobrimos nosso pequeno milagre.

Eu estava chorando de novo. Peguei o outro papel.

Você ter voltado me fez perceber que sou ainda mais sortudo do que imaginava. Não só por ter você, mas por ter te perdido e ter te achado de novo. Por você ter voltado pra mim. Por poder te ter em meus braços de novo. Pela segunda chance que eu recebi de fazer isso, mesmo que você provavelmente ainda não saiba o que está acontecendo. Estou com medo de estragar tudo de novo. Você promete que vai me ajudar a fazer isso dar certo? Eu preciso de você comigo, dessa vez mais do que nunca. Pelo amor de Deus, vá logo pro banheiro. Não sei se vou aguentar mais tempo.

Merda, por que ele tinha esse poder de me fazer chorar tanto de alegria, de emoção? Subi as escadas rapidamente e entrei no banheiro, vendo a foto do ultrassom que fizemos grudada no espelho, com um outro envelope perto dela. Toda a dor que eu não senti quando descobri que tinha perdido o bebê chegou agora. As lágrimas caiam de quatro em quatro, até que eu tomei coragem para ler o bilhete.

Uma foto do membro mais novo da nossa pequena grande família. Lembro do dia em que você me contou. Você me ligou chorando e praticamente implorando para que eu voltasse para casa e eu saí do trabalho literalmente correndo, só pra te encontrar encostada na parede do banheiro, chorando, com um teste positivo na mão. Então eu sentei do seu lado e passei meu braço sobre os seus ombros e te puxando pro meu colo. Eu não podia entender porque você estava tão triste. Fora o fato de ter sido muito fora de hora, era exatamente o que você tinha me contado que queria. Era o que eu queria com você: uma família. Pessoas por quem lutar. Também era uma forma de minha família finalmente entender que você é o que eu quero. Você estava com tanto medo... então eu te envolvi ainda mais forte e te disse que você ia ser perfeita, porque você era perfeita para mim, e assim seria para os nossos filhos. Bem, isso é o que eu quero com você. Uma família. Mas... tem algo faltando, certo? Vá ao seu lugar favorito da casa.

Ao mesmo tempo que ler isso fazia com que toda a dor que eu não senti me invadisse, eu me sentia bem. Mesmo com tudo o que tínhamos passado, com todas as dificuldades e os julgamentos das pessoas, ele queria estar comigo. A carta não era de hoje, mas, se ele a tinha colocado ali, o sentimento devia continuar. Peguei a segunda carta.

Eu sei que esse com certeza não foi o melhor bilhete e que eu deveria ter trocado a mensagem dessa vez. A foto também. Mas, eu queria que você lembrasse que eu quis isso. Que eu ainda quero. Sim, eu sei que vai ser difícil ter tudo de volta, principalmente por causa de certos obstáculos no caminho... mas eu quero muito tudo isso. Quero a nossa família. Eu queria o pacote completo com você e continuo querendo. Vai ser difícil? Claro. Eu nunca disse que ia ser fácil. Nenhum de nós, na verdade. Eu estou disposto a tentar, se você estiver. Se estiver, por favor, pelo amor de Deus, vá para o lugar onde você voltou para mim. Segundo me disse algumas vezes, seu lugar favorito da casa inteira.

P. S.: feche a porta do quarto quando passar.

Eu estava chorando muito. Que inferno, Klaus. Pare de mandar bilhetes e apareça logo de uma vez pra me dizer o que diabos está acontecendo. Cruzei o corredor até entrar no quarto (lembrei de fechar a porta) e parar em frente à janela. Vi então um post it, que apenas falava "SE VIRE". A essa altura, eu estava completamente nervosa. E talvez com um pouco de medo de estarem performando um ritual na minha casa por causa da quantidade de velas. Fechei os olhos e virei. Fiquei desse jeito por uns 15 segundos, até criar coragem de abrir os olhos.

Quando abri os olhos, vi Klaus em pé na minha frente segurando um buquê de flores. Ele parecia um tanto quanto nervoso. Nessa hora, meu coração se acelerou de verdade. O que estava acontecendo?

— Klaus, mas o que... - falei, ou pelo menos tentei, já que fui parada pelos seus lábios.

— Eu ainda tenho muito o que falar, Care. Eu só preciso que me escute, ok? - ele perguntou, passando a mão pelo contorno do meu rosto. Eu acenei com a cabeça, olhando em seus olhos. Eu não estava entendendo literalmente nada. - Por onde eu começo? Bem, eu devia começar dizendo que isso ia acontecer em circunstâncias muito diferentes, mas, bem, houve um atraso de exatamente dois anos, - ele estava falando do mesmo dia do acidente? - e eu tive que mudar algumas coisas, uns pequenos detalhes. Eu não sabia que tanta coisa ia acontecer, mesmo que você estivesse longe de mim. Eu estava certo disso dois anos atrás, mas, agora, estou mais certo ainda de que é a coisa certa. Não importa o que perdemos, muito menos qualquer coisa que tenha acontecido. Não importa o que qualquer um vá dizer, não importa o que vão pensar ou o que vão fazer para tentar impedir isso. Eu te amo, Caroline. E eu falei sério quando disse que queria o pacote completo com você. - eu estava sem ar. E ainda não tinha conseguido parar de chorar. Só piorou quando ele se ajoelhou e tirou uma caixinha preta de veludo do bolso, abrindo-a para mostrar um anel com um pequeno diamante quadrado. Eu estava sem ar. - Caroline Forbes, minha doce loirinha, aceita se casar comigo?

Passei uns bons segundos tentando encontrar as palavras, mas, no meio tempo, acenei a cabeça e sorri feito uma retardada. Ele estava rindo da minha cara, o que eu provavelmente estaria fazendo também, se estivesse no lugar dele.

— Eu não tenho certeza de como isso funciona, mas eu acho que você deveria dizer algo. - ele continuava sorrindo feito um idiota.

Ainda passamos alguns segundos desse jeito, ele rindo da minha cara e eu tentando reaprender como falar.

— Sim. Sim. Claro que eu aceito me casar com você, idiota. Eu te amo. - falei, me jogando em cima dele, sentando-o no chão (não propositalmente) e o beijando.

— Calma, amor. - ele falou, tirando o anel da caixinha e puxando a minha mão direita, colocando o anel no dedo anelar. Depois ficou observando, e, por fim, beijou minha mão. - Agora sim. Onde estávamos? - ele perguntou, me beijando e me sentando na borda da cama. Eu estava beijando-o e algo me ocorreu. Parei o beijo e me afastei alguns centímetros para trás. Ele parecia confuso quanto ao que estava acontecendo.

— Antes de qualquer outra coisa, eu queria te perguntar algo.

— O que foi? - seu tom de voz era preocupado.

— É sobre as mensagens que você escreveu. Na verdade, sobre o jeito como você as escreveu. - ele parecia confuso. - Por que você escreveu de grafite? Se só as mais antigas ou só as mais novas estivessem de grafite, eu não teria perguntado, mas já que todas estão assim, eu acho que preciso perguntar.

— Ah. Isso. - ele relaxou e sorriu. - É porque eu estou certo do que eu sinto. - ia abrir a boca para protestar, mas ele me impediu e continuou a falar. - O grafite é apagável sim, mas deixa marcas no papel e assim eu espero seguir: corrigindo os erros que eu possa cometer, mas aprendendo com eles. - as lágrimas voltaram a se acumular nos meus olhos. - Além disso, eu descobri que o grafite sobrevive ao teste do tempo. Após alguns anos, a tinta da caneta começa a desbotar ou manchar e pode apagar, mas o grafite não. Ele mantém-se estável e legível por anos. Então, se você quiser manter os bilhetes, não tem risco de eles desbotarem ou se tornarem ilegíveis daqui a alguns anos.

Eu estava em choque.

— Você realmente pensou em tudo, não foi?

Ele sorriu de lado.

— Não pensei no que faria se você dissesse que não.

— Essa era uma coisa que não aconteceria, acredite. Não precisava se preparar para isso.

Klaus me beijou novamente e estar ali com ele era o suficiente para mim.