Out On The Town

Capítulo 29 - Caroline


9 de setembro de 2022

"Klaus: Estou indo"

Encarei meu telefone por alguns momentos. Eram 7:05 aqui, o que queria dizer que em Mystic Falls eram 2 da manhã. Achei que a mensagem estivesse incompleta, então esperei uma continuação enquanto tomava café, mas ela não veio.

— O que foi? - Hope perguntou ao me ver encarando o telefone.

— Seu pai acabou de me mandar uma mensagem estranha.

— Estranha tipo sexting ou estranha tipo "acho que isso não era pra mim"?

— Nenhum dos dois. Acho que ele bateu na tecla enviar antes de terminar de escrever. Ficou "estou indo".

— Não são tipo 2 da manhã lá?

— Sim. Eu acho que ele ia dizer que estava indo dormir, mas adormeceu no processo.

— É possível. Será que Lupi voltou a estranhar a ausência da gente em casa? - ela parecia preocupada.

— Espero que não. - respondi. Se era difícil para nós humanos lidarmos com a distância, para animais devia ser quase impossível.

Respondi a mensagem de Klaus com um "ok, durma bem" e segui com a nossa rotina matinal, deixando Hope na escola e depois indo para o trabalho. Assim que cheguei, parecia ser mais um dia normal, mas tinha alguma coisa errada.

Minhas suspeitas se confirmaram quando o chefe chegou e pediu para falar comigo.

— Bom dia, Caroline.

— Bom dia, Hammerstein. Queria falar comigo? - perguntei, sentando de frente a ele e me sentindo como uma criança que foi chamada à sala do diretor.

— Na verdade, sim. Queria saber o que está acontecendo entre você e David.

— O que você quer dizer?

— Ele me pediu para trocar de sala ontem no final do expediente. Disse que vocês estavam tendo problemas de convivência.

Franzi a testa, apesar de não querer me portar como se estivesse tão alheia à situação. Fiquei procurando na mente algum momento em que tenhamos entrado em atrito ou que ele tenha reclamado comigo e não consegui nada.

— Olha, vou ser bem honesta: ele não reclamou de nada comigo. Eu esperava que ele falasse comigo antes de vir até você, caso tivesse um problema, mas pelo jeito não foi o que aconteceu.

— Ele veio me dizer que não conseguiu produzir porque você passou o tempo todo no telefone.

— Minha filha estava doente e eu estava preocupada porque ela teve uma febre. Eu tinha te avisado de manhã que talvez precisasse sair por isso, lembra?

— Sim, é verdade. Desculpe por ter esquecido.

— Tudo bem. Em qualquer outra situação, eu admito que seria inaceitável. Inclusive, se quiser olhar minhas mensagens de texto de ontem à tarde, fique à vontade.

— Tudo bem, eu acredito em você.

— Obrigada. Eu também tinha avisado a ele, mas agora acho que ele foi tão compreensivo quanto eu imaginei que seria.

— Alguma coisa aconteceu antes disso?

— Ele tem estado estranho comigo desde que eu voltei. - pode confiar num homem rejeitado para ser estranho e tentar te sabotar por motivo nenhum.

— Só porque você está com um bom humor descomunal?

— O que você quer dizer com descomunal?

— Bom, você normalmente é bem humorada, mas nunca aconteceu de passar duas semanas sem um momento de estresse aqui.

— Isso é verdade. Vamos torcer que continue assim, não é?

•••

Se tem uma coisa da qual eu não duvido é do poder da percepção. Se eu não tivesse percebido que estava basicamente andando nas nuvens nos últimos dias, nada teria acontecido, mas eu tinha percebido e como recompensa, o universo me enviou um dia tão estressante que valia pelas duas semanas que eu tinha passado completamente zen.

Até o fim do dia, eu tinha apagado 5 incêndios (um de verdade) e isso tinha custado minha paz interior.

Além disso, Klaus tinha sumido o dia inteiro e, para completar, meu chefe pediu para fazer o relatório mensal de vendas da imobiliária. Quando fui perceber, já eram quase 17 horas e eu ainda estava na metade do relatório. Ia pegar o telefone para avisar a Hope que iria chegar em casa tarde e vi a notificação mais recente, informando que tinha acontecido um acidente na avenida Pulsifer.

Ela provavelmente estava presa no engarrafamento, então resolvi ligar para ela.

— Oi. - ela respondeu.

— Oi. Acabei de ver que tem um engarrafamento monstruoso na Pulsifer e eu ainda não saí do trabalho, então queria dizer que vou chegar atrasada.

— Certo, mãe. Já estou em casa.

— Achei que você ainda estaria por lá.

— Não fiquei presa no trânsito porque consegui uma carona para casa.

— Com quem você pegou carona? - eu sabia que Hope tinha juízo e que não pegaria carona com qualquer um, mas me preocupei. Nenhum dos amigos mais próximos dela morava por aqui.

— Só um amigo, nada pra se preocupar. E eu tenho uma surpresa para você quando você chegar em casa.

— É jantar? Eu estou morrendo de fome.

— Não, não é jantar. - ela parou, mas logo emendou. - Mas também vai ter.

— Ok. - ela parecia meio estranha, mas acho que talvez eu estivesse cansada demais. O que me lembrou da outra pessoa que estava estranha. - Você falou com seu pai hoje?

— Na verdade, sim. Estava falando com ele ainda agora e ele disse algo sobre estar com um problema no telefone a maior parte do dia.

— Ah, então devia ser isso. Preciso correr aqui para terminar isso e ver se chego em casa ainda hoje. Tchau, te amo.

— Certo. Também te amo, mãe.

Desliguei a chamada e voltei a me concentrar no relatório. Menos de dois minutos depois, como se estivesse ouvindo eu reclamar que não tinha falado com ele o dia todo, eu recebi uma mensagem de Klaus.

"Klaus: Frango ou carne?"

Fiquei encarando o telefone por alguns segundos, tentando achar algum sentido naquilo.

"Caroline: ?

Caroline: Você está fazendo zero sentido hoje.

Klaus: Só responda, por favor.

Caroline: Frango.

Klaus: Ok, obrigado.

Klaus: Te amo.

Caroline: Também te amo."

Bloqueei o telefone mais uma vez e fui terminar meu relatório. Por que minha família estava tão estranha hoje?

Saí do trabalho 20 minutos depois, pegando mais de uma hora de trânsito por causa do acidente na Pulsifer. Quando eu finalmente cheguei na rua de casa, parecia uma miragem. Eu só queria deitar no sofá e assistir um filme com uma taça de vinho na mão.

— Cheguei em casa. - disse em voz alta logo após estacionar o carro na garagem, quase sem acreditar que estava em casa.

No segundo que pus os pés para fora do carro, senti aquele cheiro delicioso de comida sendo preparada. Primeiro, pensei que Linda, nossa vizinha, estava fazendo o jantar, mas aparentemente ela não estava em casa, então era a comida que Hope estava preparando. O que quer que seja, tem um cheiro incrível. Não faço ideia de quando ou como ela aprendeu a cozinhar, mas, se o sabor for tão bom quanto o cheiro, eu vou pedir para ela me ensinar.

— Filha, cheguei! O que você está fazendo para o jantar? Eu estava sentindo o cheiro da rua.

Comecei a andar em direção à cozinha, onde eu podia ouvir alguém, mas escutei o chuveiro ligado. Nós não estávamos sozinhas? Será que Hope tinha percebido que tinha mais alguém em casa antes que ela fosse para o banheiro ou só pensou que eu tinha chegado? Peguei um livro que estava em cima da mesa da sala de jantar, respirei fundo e comecei a andar em direção à cozinha, tão silenciosamente quanto eu podia. Eu tinha que conseguir me defender e o fator surpresa era tudo o que eu tinha, exceto o livro em minhas mãos.

Mal tinha entrado na cozinha quando derrubei o livro.

Klaus era o estranho na minha cozinha, usando um avental e cortando um tomate. Acho que meu cérebro entrou em parafuso e está projetando imagens para acabar com o medo do que realmente está acontecendo.

— Oi, amor. - ele disse, tirando o avental e se aproximando de mim. Eu o abracei e o beijei, me certificando que era ele mesmo. - Eu te assustei?

— Sim. Puta merda. - coloquei uma mão sobre o coração, que ainda estava disparado. - Eu pensei que alguém tinha invadido a casa.

— Desculpe. Eu queria fazer uma surpresa.

— Você me surpreendeu. Mas o que você está fazendo aqui? Não - complementei antes que ele pudesse responder - que eu não esteja feliz que é você e não um doido na minha cozinha.

— Eu estou fazendo o jantar. - ele disse com um sorriso cínico no rosto. - Temos frango assado, batatas gratinadas e salada.

— Você sabe o que eu quis dizer.

— Resumindo a história, eu vou trabalhar no escritório de Londres agora, pelo menos por quatro semanas, mas indefinidamente caso as coisas comecem a funcionar normalmente.

Tentei parecer menos chocada, mas não consegui.

— Isso é maravilhoso! - beijei-o novamente. - Como aconteceu?

— Eu posso ter escutado Elijah conversando com a Hayley sobre o escritório de Londres e como ele era bagunçado e me ofereci para vir. - ele sorriu novamente e eu levantei uma sobrancelha. - É sério. Eu me ofereci para vir, mas eles disseram que estavam pensando em me mandar de qualquer jeito.

— Você devia ter me contado.

— Achei que não devia deixar mais uma pessoa tão ansiosa quanto eu estava nessa última semana.

— Meu dia teria sido melhor se eu imaginasse que você ia estar em casa me esperando quando eu voltasse.

— Você me faz parecer uma dona de casa entediada dos anos 50.

Tive que rir.

— Estava com saudades.

— Eu também. - ele voltou a cortar o tomate que estava na tábua, e então olhou para mim por cima do ombro. - Vai me ajudar ou vai ficar só olhando?

— Eu passei o dia inteiro me estressando e ainda tenho que cozinhar quando chegar em casa? Sinto muito, mas hoje não. Estava pensando seriamente em pedir comida antes de Hope dizer que ia ter janta.

— Tudo bem. Quer falar sobre isso?

Ficamos conversando sobre nossos dias até o jantar ficar pronto, quando Hope convenientemente apareceu. Nós comemos e, depois ela foi estudar enquanto eu e Klaus fomos para a sala. A televisão estava ligada fazendo ruído de fundo e nós estávamos conversando, quando o apresentador do jornal disse que eram 21 horas.

— Tá ficando tarde. - ele disse. - Acho que eu deveria ir e fazer o check-in no meu hotel. Eles provavelmente estão se perguntando se algo aconteceu.

— Você não vai para um hotel. - falei, mutando a televisão. - Por favor, fique. Eu me acostumei a acordar do seu lado, então essas duas últimas semanas foram estranhas. Todos os dias eu acordo imaginando que você vai estar lá, mas você não está. - respirei fundo. - Enquanto estivermos em cidades diferentes, tudo bem, mas, quando estivermos na mesma cidade, eu me recuso a dormir longe de você.

Ele me calou com um beijo. E então deitou no sofá, usando meu colo como travesseiro.

— Ainda bem que estamos de acordo. Nós passamos 17 anos separados e agora que estamos juntos de novo eu não quero estar longe por um momento sequer.

— Eu te ajudo a tirar as coisas do carro.

— Como...

— Eu sei que você basicamente saiu do aeroporto e foi buscar Hope na escola. - cortei sua questão. - Então, mesmo que você fosse ficar no hotel, suas roupas ainda estariam no carro porque você não teve tempo de parar no hotel.

— Meu Deus, mulher. - ele sorria. - É por isso que eu te amo. Você é a pessoa mais esperta que eu conheço.

Tive que sorrir.

— Bom, eu não deduzi que você vinha e isso estava um pouco óbvio.

— Óbvio? - ele estava confuso. - Eu fui tão discreto quanto pude.

— Em retrospectiva, ontem quando nos falamos, você disse "vejo vocês amanhã" e não "falo com vocês amanhã", como geralmente diz.

— Eu fiz isso? - ele parecia genuinamente surpreso e eu assenti. - Eu só mudei a data da passagem depois de desligar a ligação.

— Você não vinha hoje?

— Eu só vinha domingo e planejava te contar tudo, mas então... eu não sei. Talvez eu tenha percebido que passar mais dois dias naquela casa vazia ao invés de pagar 20 dólares a mais para estar aqui era uma ideia estúpida.

— Você está muito desesperadamente romântico esses dias.

— São só 17 anos de sentimentos reprimidos saindo de uma vez só. Provavelmente daqui a um ano eu vou voltar a ser um romântico normal, você vai ver.

— Eu não estava reclamando. - sorri.

— Ainda bem. - ele bocejou. - Desculpe. Numa tentativa de me acostumar com os horários daqui, eu não pisquei o olho a viagem inteira.

— Quanto tempo faz que você está acordado?

— Perto de 36 horas, eu acho. Eu tomei um energético antes de embarcar e um café depois de chegar aqui, mas o efeito já passou.

— Meu Deus, você vai roncar igual a uma motosserra hoje.

— Eu não ronco.

— Quem te disse isso? - ele parecia chocado demais para responder. - Desculpe. Eu sei que prometi que te contaria caso você começasse a roncar, mas não me incomoda.

— Você literalmente continuou dormindo durante um terremoto enquanto estávamos em Santa Mônica.

— Eu sei. Se algum dia se tornar um problema, eu te aviso. Agora vamos pegar suas malas e depois dormir.

— O resto pode esperar até amanhã, certo? - ele perguntou e eu sorri. Foi exatamente o que eu perguntei quando voltei de Cincinnati.

— Sim. - respondi, fazendo cafuné na cabeça dele. - Todo o resto pode esperar até amanhã.

Eu estava com um bom pressentimento.

Nós teríamos não só um amanhã, mas vários. Finalmente não tinha nada nem ninguém no nosso caminho.