Out On The Town

Capítulo 26 - Klaus


1° de setembro de 2022

Essa era provavelmente a quinta-feira mais tediosa que eu tive em toda a minha vida adulta.

Não bastasse eu estar morrendo de sono, quando cheguei no trabalho Kol já tinha começado a tarefa que eu tinha que fazer hoje e eu não tinha o que fazer. De verdade. Fui tentar arrumar minha mesa, mas ela já estava em ordem. Depois de organizar minha mesa e perceber que a estante estava exatamente como eu gostaria que estivesse, resolvi ir ao último extremo e organizar meus emails, o que consumiu 20 minutos.

Que inferno.

Olhei para o relógio e percebi que era quase meio dia, o que queria dizer que Caroline estava saindo do trabalho.

Arrisquei a sorte e liguei para ela, que atendeu bem rápido.

— Oi, amor.

— Oi, aconteceu alguma coisa? - ela perguntou.

— Na verdade, não. Só estava procurando o que fazer aqui que ainda parecesse com trabalho para quem quer que passe pela janela de vidro.

— Tenho quase certeza que você não sorri enquanto faz negociações pelo telefone.

Tive que sorrir.

— Realmente, eu não sorrio quando estou negociando pelo telefone.

— Como que você não tem mais o que fazer hoje? - ela perguntou.

— Eu consegui cumprir o que tinha para fazer essa semana até ontem. Pra hoje, eu tinha que ir fazer uma vistoria na fábrica, mas Kol chegou 5 minutos mais cedo e já tinha se apoderado da tarefa quando eu cheguei.

— E era só isso que você tinha para fazer hoje?

— Sim. Eu ia perguntar a Kol o que ele tinha para fazer hoje, mas ele não me diz. Dividir uma função que poderia ser facilmente feita por uma pessoa é um inferno.

— Quer ouvir sobre meu dia super ocupado?

— Eu estou te atrapalhando? - perguntei, preocupado por um minuto que ela estivesse no meio de alguma coisa.

— Não, eu já acabei.

— Então sim, por favor.

— Acordamos atrasadas hoje, então não tomamos café, eu deixei Hope na escola e fui para o trabalho. Aí eu fiz um open house de manhã, engoli meu almoço -por isso que não falei com você, desculpa- e fui fazer um segundo open house. Tenho três clientes interessados na casa que mostrei hoje à tarde e um na da manhã. E agora estou terminando de arrumar minhas coisas no trabalho e vou buscar Hope na escola.

— Não sei porque ainda me surpreendo com o quanto você consegue fazer num dia.

— É o famoso vai ter que dar. - pude ouvir ela sorrindo.

— Eu sinto falta de dias corridos.

— O que você fez até agora?

— Eu limpei minha mesa. E organizei meus emails.

— Realmente, muita coisa.

— Sim.

Bocejei. Tinha sido uma outra noite longa e sem sono. Algum dia eu ia ter que me reacostumar a dormir uma noite inteira sem ela do lado. Pelo bem da minha sanidade mental, era bom que esse dia chegasse logo.

— Tá tudo bem? - ela perguntou.

— Sim. Só estou um pouco cansado.

— Ainda sem dormir bem? - ela parecia preocupada. - Você devia ir ver um médico sobre isso.

— É. Talvez eu devesse mesmo. - um terapeuta provavelmente.

— Eu preciso ir. Tenho que sair agora para dar tempo de ir buscar Hope.

— Tudo bem.

— Tchau, te amo.

— Também te amo. Tchau.

Desliguei a chamada e fechei os olhos. Realmente estava cansado.

Eu tinha dito para Caroline que estava bem, mas eu não estava. Era difícil estar desse lado do Atlântico e seguir minha vida enquanto a cada dia ficava mais claro que não era aqui que eu queria estar.

E que talvez eu nem tivesse tantos motivos para ficar quanto eu imaginava.

Sim, minha família está aqui, mas também está lá. Eu tenho uma casa aqui, mas ela parece grande demais agora, como se tivesse se tornado maior; maior e mais vazia. O quarto extra, que eu nunca estranhei estar vazio, agora me incomodava - Hope devia estar ali.

Considero por um momento adotar outro cachorro - afinal, essa foi a razão para eu adotar Lupi em primeiro lugar: solidão e uma casa vazia -, mas descarto a ideia. Eu mal tenho tempo para dar atenção a Lupi, quem dirá com outro cachorro.

Só faz uma semana que elas foram embora e eu já estou reconsiderando tudo na minha vida.

Ouvi uma batida na minha porta, que foi aberta antes mesmo de eu dizer que a pessoa podia entrar.

— Oi Hayley. - respondi, antes mesmo de virar para confirmar quem estava na minha sala.

— Oi. - ela respondeu. Só ela, entre todas as pessoas, entrava na minha sala sem que eu deixasse. Acho que era um privilégio merecido depois de mais de 20 anos de amizade. - Estou interrompendo alguma coisa?

— Não. - coloquei o telefone para mais longe. - O dia está bem parado. Na verdade, acabei de sair de uma chamada com Caroline.

— Eu não imaginaria te ver com uma cara tão abatida depois de conversar com sua namorada.

— Eu estou cansado. E com saudades delas.

— Se te serve de consolo, a primeira vez que eu fiquei longe de Jasmine por mais de 4 horas foi péssima. Com Arthur, já estava mais habituada, mas mesmo assim foi difícil. Não posso nem imaginar o que você está passando com sua filha do outro lado do oceano.

— Eu já perdi tanto da vida dela por não saber... E agora estou perdendo mais ainda, mas sabendo que estou perdendo, o que para mim só torna tudo pior.

— Mas agora você pelo menos está presente na vida dela quando pode, certo?

— Sim. Eu converso com ela ao menos uma vez no dia e, de acordo com ela, sou a primeira opção em opiniões artísticas, apesar de eu achar que ela pergunta depois a Caroline por desencargo de consciência.

— Isso já são conversas bem melhores do que eu tinha com meus pais na idade dela. E acredito que você também.

— Com certeza. Acho que a única conversa real que eu tive com eles aos 16 anos foi para concluir o ensino médio mais cedo e ir pra faculdade com Viviane.

— Você era muito grudado nela. Ainda bem que eu resolvi isso.

— Como assim resolveu isso?

— Eu não gostava dela, então colei em você e Jackson e fiz ela colar em Armand.

— Você realmente é um gênio do mal.

— Obrigada. - ela sorriu. - De volta ao ponto, acho que a razão para você estar sofrendo ainda mais com a distância é porque nunca passou mais de 2 semanas sem ver Caroline enquanto estavam juntos. E, se passaram, foi ao menos sabendo que se encontrariam depois de mais uma ou duas semanas.

— Isso é verdade. Mas o pior é a diferença de fuso horário.

— Isso infelizmente não tenho como resolver. Mas você quer ir jantar lá em casa hoje? Pelo menos você fica triste com o estômago cheio e tendo comido a comida deliciosa do seu irmão.

— Sim, obrigado.

— Além disso, é um pouco de companhia.

— Acho que estou precisando disso mesmo.

— Ótimo. Já pode sair direto daqui, ok?

— Jasmine não vai reclamar que eu estou sem gravata dessa vez?

Ela mordeu o lábio inferior, tentando conter um sorriso.

— Não posso prometer nada. É um risco que você vai ter que correr.

— Engraçado como isso demonstra que ela é a mistura perfeita de você e Elijah.

— Teimosa e a par dos padrões elegantes de moda?

— Exatamente.

— Te vejo no jantar, então.

Ela saiu da sala e eu fui cochilar um pouco antes do almoço. A não ser que alguém me visse ocioso e decidisse me dar algo para fazer, era mais produtivo tentar dormir que ficar olhando para os ponteiros do relógio.

•••

Depois que meu expediente acabou oficialmente, fui para a casa de Elijah e Hayley, sendo recebido por Jasmine.

— Tio Klaus! - ela me abraçou e eu beijei sua cabeça. - Veio jantar com a gente?

— Sim, sua mãe me chamou hoje cedo. - falei, já entrando na casa.

— Então é por isso que papai está fazendo risotto.

Meu estômago roncou. Eu cozinhava bem, mas Elijah era definitivamente o cozinheiro da família.

— Acho que sim.

— Ah, quando falar com Hope, diz pra ela que eu aprendi a fazer delineado com o vídeo que ela me mostrou.

Sorri. Eu sabia que pela diferença de idade com os primos, Hope teria mais dificuldade de interagir com eles durante os próximos anos, então era bom ver essa interação.

— Pode deixar que eu digo.

— Oi, tio Klaus. - uma vozinha me cumprimentou do sofá da sala.

— Oi, Arthur. - respondi, indo para onde ele estava e bagunçando seu cabelo.

— Você vem assistir desenho comigo enquanto o jantar não sai?

— Claro. Vou só falar com seus pais e ver se eles não precisam de alguma coisa, tá bem?

— Ok.

Fui na cozinha, onde encontrei Hayley e Elijah fazendo o jantar.

— Olá, precisam de ajuda?

— Deixe seu sobrinho longe da cozinha. - Elijah respondeu, mexendo uma panela.

— Pode deixar. Só preciso ir ao banheiro antes.

— Fique à vontade.

Fui para o banheiro, que ficava próximo da sala de estar, e depois de usá-lo, percebi Elijah e Hayley conversando na cozinha.

— Então a encomenda para a Alemanha vai sair da fábrica daqui e não da França? - Hayley questionou e pouco depois suspirou. - Mais uma vez a filial de Londres fazendo merda. Quem deixa um contrato assim passar?

— Eu honestamente não sei mais o que podemos fazer. Eu pensava que Trevor daria um jeito na loucura, mas parece que ele foi sugado para dentro da bagunça e se tornou uma parte dela.

Antes que eu pudesse perceber, estava espionando o meu irmão e minha cunhada pela parede do banheiro enquanto eles falavam de negócios. Esse definitivamente não era um ponto alto da minha vida.

— Poderíamos mandar uma outra pessoa. - ele sugeriu.

— Sim, mas quem? Tem que ser alguém com uma posição dentro da empresa, já que percebemos que mandar um subordinado não funciona.

— Sim, mas ninguém é dispensável.

Eu sou, pensei comigo mesmo. E era verdade. O meu trabalho hoje é o mesmo que Kol faz e qualquer um de nós é capaz de fazê-lo sozinho. E a maior prova disso foi o dia de hoje.

— Vamos falar sobre isso mais tarde. - Hayley disse. - Precisamos tirar Klaus da fossa.

Revirei os olhos. Eu adoro minha cunhada e, por mais que eu não esteja bem, não diria que estou na fossa.

— Um bom jantar sempre faz isso.

Saí do banheiro e voltei para a sala, onde assisti televisão com Arthur até o jantar ficar pronto. Não conversamos muito durante o jantar, mas, quando este acabou, as crianças foram para os quartos e nós sentamos na sala para tomar chá, o que queria dizer que os adultos iriam conversar. Elijah sentou-se no sofá depois de trazer o bule e as xícaras e Hayley passou as pernas por cima dele.

— Vocês parecem cansados. - eu disse, já tomando um pouco do meu chá. - Tem alguma coisa errada?

— Uns problemas com a empresa. - Elijah disse. - Não acho que vá querer ouvir sobre isso agora, principalmente depois de passar o dia na dita empresa.

— Eu adoraria ouvir sobre. - Hayley levantou uma sobrancelha. - Não que a empresa está com problemas, mas o que eles são. Preciso voltar a usar minha cabeça de modo inteligente, então escutar os problemas da empresa pode me ajudar com isso.

Eles trocaram um olhar.

— A filial de Londres está me fazendo querer arrancar todo o cabelo da cabeça. - Hayley disse.

— De novo? Eu pensei que Trevor tivesse ido para lá.

— Sim. - Elijah disse, com um suspiro cansado. - Nos primeiros dias, pareceu que tinha dado certo, mas depois de duas semanas, tudo tinha voltado a ser o que era.

— Chegamos a pensar em fechar a filial, mas precisamos de um centro de operações na Europa e nenhum outro país tem uma filial grande o suficiente para controlar as atividades. - Hayley disse. - Então precisamos de uma solução milagrosa para a filial ou teremos que transferi-la para a França.

— E o que estão pensando em fazer? - perguntei.

— Estávamos pensando em mandar alguém para lá para um teste por 4 semanas, com a possibilidade de se tornar algo permanente.

— Entendi. - coloquei o queixo sobre ambas as mãos, tentando fazer parecer que estava pensando. - Já tem alguma ideia de quem querem mandar?

— Queremos uma pessoa que já tenha uma posição dentro da empresa. - Elijah disse, olhando fixamente para mim. - Já tentamos mandar bons funcionários mais de uma vez, mas eles acabam sendo incapazes de manter rédeas firmes.

— Entendo.

— Além disso, idealmente, seria um Mikaelson. - ele se recostou contra o sofá.

— Isso reduz bastante suas escolhas. - eu estava ficando ansioso. Eles iam me oferecer o trabalho ou eu teria que pedir?

— O problema é que ninguém seria dispensável no momento. - Hayley disse. - E acho que não tem ninguém que queira simplesmente ir para lá. É uma realidade completamente diferente daqui, então vamos precisar convencer quem quer que seja.

— Acho que não seria algo seguro de dizer ao meu chefe, mas tem algum tempo que eu sinto que o trabalho que eu e Kol fazemos poderia ser feito só por uma pessoa.

— Acredito que não seria uma boa solução. - Elijah disse. - Não acho que Davina gostaria de se mudar para Londres, mesmo que temporariamente. Além do mais, eles tem 3 filhos pequenos.

Pelo visto eu ia ter que pedir.

— Entendo. - falei, fingindo que estava pensando. - Talvez o único jeito fosse me mandar para lá.

— Você é necessário aqui. - ele disse.

— Não, não sou. Depois que Hayley saiu da minha sala, eu dormi a tarde inteira, porque não tinha mais o que fazer. Eu não sou mais necessário aqui, mas posso ser lá. Além disso, eu seria a única pessoa que não reclamaria por ser transferida.

— Não sei... - ela falou, escondendo o sorriso com a xícara.

— Se der certo e eu ficar lá, eu volto por duas semanas quando quer que vocês queiram pra ajudar Kol a tomar conta de tudo e vocês poderem tirar férias.

— E por isso você é o melhor cunhado de todos. - ela sorriu. - Eu nem ia pedir isso.

— Acho que isso resolve todos os nossos problemas. - Elijah disse, tomando outro gole de chá.

— Definitivamente. - eu sorri e voltei a tomar meu chá. - Obrigado.

— Por nada. - Hayley disse.

— Vocês tinham planejado tudo isso, certo?

— Claro que sim. - ela sorriu. - Nós já estávamos pensando em te mandar em agosto, mas seu pai morreu, Caroline voltou e não tivemos como te oferecer.

— E por que não me falaram enquanto elas estavam aqui prestes a ir embora?

— Por que Trevor não tinha decidido ainda se ia continuar lá ou não, então precisávamos dessa resposta antes de te mandar, para não parecer que estávamos fazendo um remendo num remendo. - Elijah respondeu. - Se ele quisesse continuar lá, o que era improvável, teríamos que mudar a abordagem, porque sempre é desconfortável quando um chefe é substituído e continua trabalhando no mesmo lugar. Ontem, ele avisou que queria voltar para cá.

— Então eu vou para lá ocupar o cargo de chefia?

— Exatamente. - Hayley disse. - Você começa na segunda-feira que vem.

— E tem 4 semanas para colocar aquele lugar pra andar nos eixos. - Elijah complementou.

— Não se preocupe. Se eu consegui fazer Lupi não ter mais medo da guia em duas semanas, eu confio nas minhas habilidades para fazer as coisas funcionarem lá. O pior que pode acontecer é me odiarem no começo.

— Eles vão te odiar no começo. - Hayley disse. - Com certeza, deve ter algum tipo de falha de liderança congênita lá. Se você não conseguir fazer isso do jeito que é pra ser, puxa assunto dizendo que aquela taróloga disse que você era um psicopata em outra vida pra intimidar as pessoas.

— Vamos esquecer isso, por favor?

— O que? - Elijah perguntou, claramente chocado.

— Eu nunca te contei isso? - ela perguntou, ao que ele negou com a cabeça. - Foi no primeiro semestre da faculdade. Estávamos bêbados e resolvemos ir numa taróloga por alguma razão. Quando chegamos lá, ela começou a gritar depois de botar os olhos em Klaus e disse que em outra vida ele foi um psicopata, que matava as vítimas e depois bebia o sangue delas do crânio de um boi.

— Meu Deus. - ele olhou surpreso para mim. - Qual era a procedência dessa taróloga? - ele passou a segurar a perna de Hayley.

— Era uma idosa moradora de rua e usuária de crack que tinha uma placa de papelão escrito "taloroga" e dizia que cobrava 5 dólares para ler nossa sorte. - respondi. - Foi estúpido e nem tivemos a oportunidade de pagar a ela, porque ela saiu correndo. - percebi ele soltando a perna de Hayley, mas não disse nada. - De qualquer forma, não vai chegar a esse ponto.

— Não mesmo. Eu acredito que você vai conseguir resolver o problema rapidamente.

Eu não tinha dúvida que conseguiria colocar aquele lugar nos eixos, mas agora que eu tinha o incentivo da possibilidade de ficar lá depois de tudo acabar, eu tinha que conseguir. Lembrei da conversa que tive com Caroline quando fui deixá-las no aeroporto.

— E talvez algum dia, não teremos mais que lidar com a distância.

— É... talvez eu considere voltar para cá depois que Hope terminar a faculdade.

— Pensei que não tivesse interesse em voltar a morar aqui.

— E não tenho. Depois que você sai de uma cidade pequena por mais do que um ano, não tem mais vontade de voltar.

— Então talvez eu me mude para Londres. Não agora, mas um dia.

O um dia tinha chegado mais rápido do que qualquer um de nós esperava, graças à péssima administração da filial. E ao meu irmão e cunhada colocando responsabilidades nos meus ombros, claro. Pela primeira vez desde que tinha ficado sozinho de novo, senti meu coração se aquecer com a esperança de estarmos juntos de novo.

Eu estou indo para Londres.