Out On The Town

Capítulo 2 - Caroline


12 de junho de 2005

Quando acordei pela segunda vez de manhã, sentia os braços de Klaus ao redor da minha cintura nua, me abraçando. Sim, nós já tínhamos acordado uma vez e depois nos cansado até adormecer de novo. Pessoalmente, acredito que esse seja o melhor jeito de acordar.

Percebi que ele tinha acordado porque o braço ao redor da minha cintura começou a aplicar um pouco mais de pressão. Logo em seguida, ele começou a distribuir beijos pela minha escápula, migrando em direção ao pescoço.

— Meu Deus, você já quer mais? - perguntei, virando o rosto de volta para ele.

— Eu só não consigo acreditar que você está aqui. - ele sussurrou perto do meu ouvido, sua voz rouca e profunda. - Acho que eu quero tirar proveito se por acaso isso for um sonho muito vívido.

— E isso é tudo o que você quer fazer se for só um sonho? - eu falei e, antes mesmo que ele pudesse responder, eu o cortei. - É, pensando bem, eu faria o mesmo. - ele começou a rir e beijou minha bochecha.

— Eu espero que não seja um sonho. Quero você comigo de novo. - eu virei de frente para ele.

— Acho que não é um sonho. Se fosse um sonho, eu não estaria com fome.

Ele deu um de seus sorrisos de lado e então olhou para relógio que estava na mesinha ao lado da cama.

— Bom, já são 12:40. O que você quer fazer?

— Acho que já está um pouco tarde para fazer o almoço do zero. E eu estou com muita fome. - era verdade. A última vez que eu tinha comido tinha sido num restaurante na interestadual perto das 18 no dia anterior.

— Ok. Quer sair ou eu vou comprar e trago para casa?

— Acho que ainda não estou pronta para matar a cidade de susto. Vou deixar para amanhã.

— Ok. Então eu vou comprar o almoço no Arnold.

— Nossa, eu senti saudade da comida do Arnold. Tinha esquecido disso até agora.

Ele sorriu e então se levantou.

— Preciso levantar. Se ficarmos mais tempo deitados aqui, não vou conseguir te alimentar.

— Se eu não estivesse com tanta fome, talvez não levantasse. É uma proposta tentadora. - sentei na cama, com o lençol enrolado na altura das axilas. - Minhas roupas… - eu comecei a procurar pelo vestido que eu estava usando, mas não o achei.

Klaus já estava se vestindo para sair, mas parou para me dar atenção. Ele segurava uma de suas camisas na mão e, apesar de ser uma camisa bem antiga, eu a adorava.

— As suas roupas e coisas ainda estão em caixas no sótão. Eu já deveria ter dado para a caridade, mas não queria admitir que você não voltaria mais.

— Eu sempre vou voltar. Não se preocupe quanto a isso. Pode até demorar, mas eu volto.

— Eu vou cobrar. - ele sorria e me entregou a camisa. - Pegue. Não sei o que você vai fazer, mas os vizinhos novos são curiosos.

— Curiosos? - perguntei, um sorriso começando a se formar no meu rosto enquanto eu colocava a camisa dele e a abotoava.

— Os netos do senhor Hunter começaram a morar aí depois que ele teve um avc.

— Hmmm. - eu disse, já me levantando e indo até ele.

— Sério. - ele tentava manter a expressão séria no rosto dele. - Parece que sempre que eu viro na direção da janela o garoto está lá, olhando diretamente para cá.

— Então talvez eu não tenha que me preocupar tanto assim, certo? Claramente, ele já estava interessado em quem estava na casa desde bem antes de eu chegar. Mas tudo bem. Eu precisava mesmo estar vestida para pegar minhas coisas.

— Suas coisas? - ele perguntou, um pouco confuso.

— Claro. Você acha mesmo que eu passei dois anos em outro estado e vim sem trazer nada?

— Claro que não. Estava inclusive me perguntando se você veio descalça de Cincinnati até aqui. - ele estava com um sorriso irônico no rosto. Bati de leve no braço dele, enquanto um sorriso estampava também o meu rosto.

— Eu escondi minha mala e meus tênis debaixo de um arbusto. Claro que eu não ia vir sem literalmente nada.

Ele respirou fundo.

— Eu acho que realmente preciso ir. Tudo me diz para ficar em casa, porque eu ainda não estou acreditando que você está aqui e que não vai ter ido embora quando eu chegar. Além disso, ver você usando minha camisa de novo está afetando todo e qualquer pensamento racional que eu possa ter.

— Se você quer saber, eu também acho que estar aqui está eliminando meus pensamentos racionais. Minha fome até passou.

— Não. Você precisa comer. Nós dois, na verdade.

— Infelizmente não dá para viver de amor, né?

Ele sorriu de lado e pegou a carteira em cima da cômoda. Então me beijou e saiu do quarto.

— Volto em 20 minutos.

Olhei pela janela e vi ele saindo de casa com o carro, então vi minha mala e meus tênis ainda escondidos no arbusto. Desci as escadas para o primeiro andar e, para a minha sorte, a chave estava na porta. Enquanto entrava, um carro parou na frente da casa.

Resolvi entrar em casa de novo. Se quem quer que fosse quisesse falar com Klaus, com certeza iria descer. Mal tinha trancado a porta de novo e a campainha tocou. Olhei pelo olho mágico e vi uma mulher parada em frente à porta. Bom, teoricamente eu estava morta, mas qual seria o problema de assustar alguém?

Abri a porta, estranhando a situação. Quando olhei para ela, vi que seu cabelo loiro estava preso em um rabo de cavalo elegante e que ela estava com um vestido floral e bolsa combinando com os saltos. Tudo sobre ela gritava elegância e riqueza. Ela primeiro tinha um sorriso no rosto, mas quando me viu sua expressão se tornou confusa.

— Hm, bom dia. - eu disse, tentando ser educada.

— Quem é você? - ela perguntou, fazendo quase que uma careta de nojo, como se eu estivesse abaixo da sujeira dos sapatos dela. Eu odeio pessoas assim.

— Olha, é você quem está querendo entrar, então acho que quem deveria estar fazendo essa pergunta sou eu.

Ela revirou os olhos.

— Certo. Eu sou Camille O'Connell, sobrinha de Kieran O'Connell, única herdeira da O'Connell&Co. - eu reconhecia o nome da empresa como o de uma que produzia materiais de escritório, entre outras coisas. - Agora, responda a minha pergunta.

— Dinheiro não me assusta, mas já que você respondeu, meu nome é Caroline Forbes.

— O que diabos você está fazendo aqui? Eu nunca te vi aqui.

Então ela ia na minha casa? O que ela fazia na minha casa? Nunca imaginaria Klaus sendo amigo de uma mulher arrogante como essa.

— Eu moro aqui. E você, o que faz na minha casa?

Nem sabia se ainda podia chamar assim, mas tudo o que eu queria era que ela sumisse da minha vista e não aparecesse mais. Pela primeira vez, ela pareceu observar a roupa que eu estava usando. Então eu vi todo tipo de pensamento passar pelo seu rosto, até que ela resolveu por uma expressão de deboche.

— Não sabia que Klaus trazia prostitutas para casa. Muito menos que dava a elas o direito de chamar esse barraco de casa. Se qualquer um dos dois for um hábito, vai ter que sumir.

Antes que eu pudesse perceber, minha mão tinha voado na direção da cara dela, produzindo um tapa muito sonoro. Não era do meu feitio fazer algo do tipo, mas quem ela pensa que é?

— Quem diabos é você para aparecer na minha casa, me chamar de prostituta e ainda por cima falar mal dela? Afinal de contas, o que você está fazendo aqui?

— Só você está em casa?

— Meu namorado saiu para comprar o almoço. Se seu assunto for com ele, por favor, espere no carro. Não gostei de você.

— Namorado? - ela parecia confusa e com raiva.

— Sim, eu e o Klaus estaríamos juntos há 4 anos e meio. Eu sofri um acidente de carro e fiquei dois anos longe, mas agora eu estou de volta.

Ela olhou para mim parecendo um pouco confusa. E depois pareceu lembrar.

— Ah, meu Deus. Você é a garota que disseram que morreu. - então ela começou a rir.

— Qual o seu problema?

— Ah, meu anjo. Você é o meu problema. Quando Klaus voltar, diga a ele que a noiva dele passou aqui. - ela disse, exibindo a mão esquerda, que tinha um grande anel de diamante no dedo anelar. - Acho que precisamos todos ter uma conversinha. - ela se virou e saiu andando em direção ao carro que estava parado em frente a casa.

Eu só fechei a porta e comecei a chorar.

Claro que tinha outra pessoa na vida dele. Ele era incrível. Eu não esperava que levasse menos de dois anos para que ele já estivesse noivo de uma outra pessoa, mas, pelo visto, eu estava enganada.

●●●

Dez minutos depois, a porta se abriu para revelar um Klaus carregando uma sacola de compras. Eu ainda estava no sofá chorando feito uma condenada. Logo que ele me viu, largou a sacola em cima da mesa e veio se ajoelhar ao meu lado.

— O que foi? - ele passou a mão pelo meu cabelo, tentando tirá-lo do meu rosto. Afastei a mão dele e me sentei.

— Não me toque. - Ele olhava desesperado para mim e tentava entender o que tinha acontecido. – Acho que você esqueceu de mencionar que tem uma noiva agora.

Ele engoliu em seco.

— Eu não te falei porque não tem importância…

— Como não tem importância? - cortei-o. - Você vai casar. Isso tem importância, sim, Klaus. Se eu soubesse que você já tinha outra pessoa, não teria vindo aqui. Pelo amor de Deus. Isso tem que ser um pesadelo. Você não fez isso comigo. Você… - ele se aproximou de mim como se fosse me beijar, mas eu o afastei. - NÃO! Não faça isso! Você tentar me beijar só piora tudo.

— Care, relaxe, por favor. - ele estava calmo e seus olhos só mostravam um monte de dor e preocupação.

Comecei a respirar fundo. Ele não parecia querer se justificar, então resolvi dar o benefício da dúvida. Fui me acalmando aos poucos. Klaus continuava de joelhos na minha frente, ainda esperando que eu parasse de chorar. Quando ele achou que era seguro, começou a falar.

— Eu não mencionei ela, por que ela não é importante. - ia começar a protestar, mas ele só continuou. - Não é importante, por que eu não a amo. Não a amo, porque você é a mulher da minha vida. - ele engoliu em seco. Parecia ter mais algo para contar. - Depois do acidente, passei muito tempo depressivo e sem nem pisar na empresa do meu pai. - esqueci de mencionar: o pai dele é um empresário, dono de uma empresa que fabrica artigos de papelaria; Klaus é um dos seis herdeiros (são muitos irmãos, não questione) e trabalha lá em um dos cargos administrativos. - E, com razão, ele realmente não gostou disso. Me obrigou a ir trabalhar, o que acabou me fazendo muito bem. Pelo menos, eu não tinha que passar o dia inteiro em casa, pensando que poderia ter evitado tudo.

— Não podia. - sussurrei.

Ele negou com a cabeça e olhou para mim com um olhar levemente sonhador.

— Às vezes, gosto de pensar que podia. Gosto de pensar que as nossas vidas seriam diferentes hoje. Não sei. Enfim, de volta ao ponto, meu pai resolveu criar uma parceria com uma empresa que trabalha com a produção de materiais de escritório e queriam algo sólido para selar essa união.

— Pera. Você quer dizer… um casamento arranjado?

Eu sempre soube que Mikael era louco, mas um casamento arranjado para firmar uma parceria era extrapolar o nível.

— Sim. Meu pai me obrigou a fazer isso ou me demitiria. E eu simplesmente precisava manter a cabeça longe de você, para a minha sanidade mental. Então, eu só aceitei. Pensei que seria um jeito de te esquecer, mas… isso já é pedir demais. Principalmente considerando a sua “substituta”. - ele fez aspas com os dedos.

Eu apenas ri. Aparentemente, eu não era a única a não gostar de Camille.

— Me perdoa? - ele pediu.

— Claro. Quer dizer, você realmente podia ter me avisado que talvez chegasse uma mulher aqui que parecia andar com um saco de lixo debaixo do nariz, mas eu te perdoo.

Ele sorriu, de um jeito que eu não me lembrava que ele sorria. Eu ia prestar mais atenção nesses sorrisos daqui pra frente. Ele beijou meus lábios e eu soube que estava tudo bem.

Tinha toda a merda de eu estar “morta” e de ele ter uma “noiva”, mas esses momentos eram muito importantes para que eu perdesse por pensar na merda que estava acontecendo ao redor. Por hora, eu iria fingir que nada estava acontecendo e só aproveitar.