Out On The Town

Capítulo 3 - Klaus


13 de junho de 2005

Quando eu cheguei em casa e vi Caroline chorando no sofá, a última coisa que passou pela minha mente foi Camille ter ido até lá e ter falado merda, mas ninguém nunca descobre nada do jeito certo. Camille fez com que Care achasse que eu já tinha superado ela, o que não podia estar mais distante da verdade. Tenho que admitir que não tinha lembrado da existência dela até a hora em que Caroline contou que ela apareceu aqui.

Teoricamente, mesmo em noivados arranjados, você lembra que está noivo, mas para mim era mais difícil. Talvez fosse porque nem eu nem Camille demonstrássemos qualquer tipo de interesse um no outro, mas eu acreditava que tinha outra razão.

Como o fato de que eu planejava pedir para Caroline casar comigo na noite do acidente.

FLASHBACK ON

12 de junho de 2003

Eu tinha preparado uma surpresa enquanto ela estava pegando o vestido. Só quem sabia era Elena e Bonnie, as melhores amigas dela, e Marcel, um dos meus amigos mais antigos. No fim das contas, basicamente só eles apoiavam o nosso relacionamento. Eles e Elijah, para falar a verdade. O resto da minha família achava que eu merecia mais do que ela e a única família que ela tinha era o pai distante, que não estava nem aí para ela.

Quando terminei de organizar tudo, comecei a ficar ansioso e resolvi ligar para ela.

— Oi, onde você está, amor? - perguntei, tentando disfarçar meu nervosismo, mas já tendo certeza de que estava transparecendo na minha voz.

— Fui buscar meu vestido. - ela respondeu, simplesmente, como se eu não soubesse ainda.

— Sozinha? - eu tentei soar como se eu não soubesse disso e como se não estivesse nos meus planos.

— Klaus, eu vou ficar bem. - ela falava tranquilamente. - Eu fui só pegar o meu vestido. Eu vou estar em casa em menos de vinte minutos.

— Porque você não me disse, Care? - tentei parecer preocupado. Na verdade, não precisei fingir muito. Sempre ficava preocupado quando ela precisava passar pela ponte. Não confiava nas técnicas de engenharia de um século atrás. No momento, a ponte estava em obras, o que melhoraria a situação no futuro, mas no momento só piorava as coisas. - Eu teria te levado.

Ela riu de leve, uma risada melódica que me fez perceber que provavelmente estava exagerando.

— Nik, você precisa relaxar. Estou grávida, não morrendo. Eu ainda posso dirigir meia hora pra pegar o meu vestido.

Respirei fundo. Eu estava pirando. Pirando com ela, com a expectativa, com o pedido, com tudo.

— Tudo bem. Só chegue logo em casa, por favor. - pedi, quase sussurrando.

— Okay. - fizemos um momento de silêncio e eu podia ouvir sua respiração, o que me acalmou bastante. - Klaus? - ela chamou.

— Sim?

— Eu te amo.

— Eu também te amo.

— Te vej-

Ela não terminou a frase, que foi substituída por gritos e um barulho de colisão e de água.

— Caroline? CAROLINE! - gritei, desesperado.

Ela não respondeu nada, então eu continuei chamando seu nome, até que a ligação caiu. Daí eu realmente me desesperei. Não sabia para quem ligar. Tentei os bombeiros, polícia, ambulância, segurança nacional, exército, salva vidas... todos os números utilitários que eu poderia tentar, enquanto pegava o carro e saía correndo na direção da ponte.

Quando cheguei lá, as autoridades já estavam na cena, questionando todos os operários da obra sobre o acidente. Mas o acidente tinha acontecido no horário de almoço, e nenhum deles estava lá para testemunhar. Em cima da ponte, dava para ver alguns pedaços do parachoque do carro e alguns estilhaços de vidro. Mais abaixo, no rio, dava para ver o carro, mas nem sinal dela.

Quase me joguei da ponte para ajudar com a procura, mas me impediram por questões de segurança e porque tinha começado a chover.

— Vamos ter que parar as procuras por hoje. - a xerife me disse, assim que a chuva começou a piorar.

— Se não procurarem por ela agora, amanhã vai ser tarde demais.

— Sinto muito.

Mas que porra eu ia fazer com a minha vida? A razão de eu continuar nesta merda de planeta tinha sido tirada de mim.

25 de julho de 2003

Eu passei as últimas semanas nutrindo esperanças de que ela voltaria para mim, de que tudo ficaria bem, de que eu a abraçaria à noite mais uma vez, de que criaríamos nosso bebê juntos... mas, depois de seis semanas, eles acabaram desistindo de procurar e fecharam o caso, dando ela como morta.

E foi aí que eu fiquei doente. Doente de raiva, de ódio, de saudades. Por muitos meses, bebi muito mais do que deveria todos os dias. Raramente ia à Mikaelson's Company. Eu estava verdadeiramente arrasado. Foi assim que eu cheguei ao fundo do poço.

07 de novembro de 2003

Eu estava recebendo ajuda psicológica, para lidar com tudo o que estava me afetando e, foi com essa ajuda que descobri que trabalhar tirava minha cabeça de tudo, comecei a ir muito. Muitas vezes, ia até nos domingos. Era algo que me mantinha focado e com a cabeça longe de tudo. Então, um belo dia, meu pai me ofereceu uma proposta. Disse que precisava selar o acordo com Kieran O'Connell de um jeito mais firme.

— Como pretende fazer isso? - perguntei, desinteressado.

— Você vai casar com Camille, a sobrinha de Kieran. - ele afirmou.

— Não estou interessado. - respondi. - Por que não pede pro Finn? Ele é o mais velho dos irmãos e blablabla, não tem nada na vida... e adora agradar você e a mãe.

— Finn resolveu virar padre.

— É sério isso? - no momento em que meu querido irmão poderia finalmente servir para alguma coisa, ele resolve fazer algo que o impossibilita de fazer isso?

— Sim. Você é o único filho que eu posso usar. Elijah está com Hayley, Kol é muito novo e Finn vai ser padre.

— Por que não pergunta se Freya quer? Tenho certeza de que ela está bem mais interessada do que eu.

Mikael ficou vermelho.

— Niklaus Mikaelson, você vai casar com Camille, se não eu te demito.

Pensei por um tempo antes de responder. Porra, eu precisava do emprego pra me manter no foco.

— Ok. - respondi, minha voz seca. - Eu faço isso. - ele estava começando a sorrir. - O que não quer dizer que eu vou sair com ela mais do que o necessário. E não pense que vai ter netos meus.

— Não pedi por isso.

Depois disso, eu tive que começar a agir como se eu fosse o noivo amoroso daquela mulher arrogante.

FLASHBACK OFF

Felizmente, meus dias com a Camille estão contados. Estar aqui, com Caroline em meus braços novamente... tenho certeza que é uma segunda chance. Uma segunda chance que a vida está me dando pra não ser idiota e não perder tempo.

É segunda de manhã e eu, teoricamente, deveria estar no trabalho, mas hoje vou me dar ao luxo de faltar. Além de ajudá-la com todas as coisas, ontem ainda fomos dormir bem tarde. Tinha combinado de comer pizza e tomar umas cervejas à noite com Marcel, mas tinha completamente esquecido com tudo o que aconteceu. E aí, depois dele chegar aqui, ver a situação e dizer que precisávamos desse tempo, Care insistiu que ele ficasse. Pude perceber que ele ficou feliz por se sentir incluído e que o gesto dela foi completamente espontâneo.

E eu a amei ainda mais por isso.

Ficamos conversando por muito tempo e Marcel acabou saindo perto da meia noite, mas eu e Caroline continuamos conversando. Era engraçado, quase como se estivéssemos conhecendo um ao outro de novo.

Caroline começa a se mexer ao meu lado e se vira para mim. Ela ainda está com os olhos fechados e seu cabelo está desarrumado, mas isso só completa o pacote. Ela é adorável, não importa o quanto seu cabelo esteja desordenado. Logo em seguida, ela abre seus olhos e sorri para mim.

— Bom dia, flor do dia. - falei, olhando em seus olhos verdes.

— Bom dia. - ela falou com uma voz sonolenta, depois olhou o relógio, que marcava sete e cinquenta e três. Ela pareceu se assustar um pouco. - Você não deveria estar chegando no trabalho?

— Sim, mas hoje eu não vou.

— Você não deveria faltar por minha causa. - ela estava com sono, o que deixava sua voz mais arrastada, mas a reclamação teve tanto efeito em mim quanto teria se ela estivesse completamente desperta.

— Eu prometo que é só hoje. - beijei seus lábios bem de leve e ela sorriu. - Hoje é um dia importante, sabia?

— Hm, não. Por que?

— Porque vamos te encontrar. Bem, juridicamente, é claro. Depois, eu posso te levar pra ver suas amigas e...

Ela me beijou.

— Muito obrigada, senhor Mikaelson. Eu realmente estava me perguntando se você iria me deixar escondida aqui para sempre.

— Parecia um bom plano, até você questioná-lo.

Ela sorriu e ficamos em silêncio por alguns momentos, até que ela se levantou.

— Eu estou faminta. O que tem para fazer para o café da manhã?

Descemos as escadas e preparamos o café da manhã, saindo para a delegacia quase que imediatamente depois.

●●●

Como se minha SUV não causasse impacto suficiente, eu fui abrir a porta para Caroline, afinal o cavalheirismo ainda não morreu. E também, que o mal faz causar um sustinho ou outro em alguém uma vez na vida? Bem, como é uma cidade pequena, a notícia vai chegar em muita gente bem rápido e aí acabou-se o sossego.

Primeiro, passamos na delegacia de polícia para saber como proceder, já que eu duvido que algo desse tipo seja recorrente. A maior parte da equipe se emocionou quando ela chegou, afinal eles a conheciam desde que ela era criança, das vezes em que ela vinha visitar Elizabeth no trabalho. Eles correram as digitais dela pelo sistema para se certificar de que ela era ela mesmo, depois tiveram que fazer um B.O., em que ficou registrado que ela perdeu os documentos, e nos encaminharam para o cartório, onde se seguiu toda uma manhã de burocracia para refazê-los.

Acho que nunca me senti tão bem de estar em um cartório.

— Como você se sente tendo direitos de novo? - perguntei para ela, que sorria enquanto saíamos de lá.

— Aliviada. Você não tem noção de como era difícil fazer as coisas sem documentos. Eu comecei a admirar a força de vontade das pessoas que chegam aqui dessa forma.

Estremeci pensando nela sendo deportada (para onde, eu não sei) ou presa porque não tinha documentos. Quer dizer, provavelmente não aconteceria, mas era uma possibilidade, não só para ela quanto para outras milhares de pessoas.

Tentei tirar o pensamento da cabeça.

— E agora que você é uma mulher com direitos o que quer fazer? E quem você quer ver?

— Acho que antes de fazer qualquer coisa, seria bom almoçar.

— Sempre é uma boa ideia. - eu disse e ela sorriu, enquanto íamos para o carro.

— Daí estava pensando em passar no túmulo da minha mãe e deixar flores e ver se as meninas queriam me ver hoje à tarde.

— Eu tenho certeza que elas querem te ver. - disse, não conseguindo evitar um sorriso. - Não queria ter que te compartilhar com o mundo tão cedo, mas, já que vai acontecer, é menos mal que seja com elas.

Não vi seu rosto, mas podia sentir ela revirando os olhos, tentando não sorrir.