Out On The Town

Capítulo 18 - Caroline


1° de julho de 2022

Quando terminei de almoçar com Hope e Klaus, ainda faltava algum tempo para me encontrar com Elena e Bonnie, então pedi para Klaus me deixar no hotel. Aproveitei para tomar banho e pensar em como eu contaria tudo para elas. Queria acabar com todas as mentiras e meias-verdades. Todos os segredos tinham me consumido pelos últimos 17 anos, mas não mais.

Mais ou menos meia hora depois, saí do hotel e fui para a cafeteria em que tínhamos marcado de nos encontrar, que ficava na mesma rua que o hotel. Respirei fundo antes de entrar. Só tinham duas mesas ocupadas, uma com um casal de idosos e outra com as mulheres que um dia tinham sido minhas amigas mais próximas. Era estranho pensar que eu tinha me prometido que não ia perder contato com elas, mas não tinha parado para pensar que isso teria acontecido de qualquer jeito porque eu não podia dizer nada para elas.

Eu ainda falava com Elena ocasionalmente, mas não era tão frequente. Depois da morte de Stefan, se tornou um pouco doloroso ser tão próxima dela, e eu sei que o sentimento era recíproco.

— Oi. - eu disse ao me aproximar da mesa em que Elena e Bonnie estavam sentadas.

— Então você está viva. - Bonnie disse.

— Eu não estava morta desta vez. - falei, tentando fazer uma piada e quebrar o gelo.

— Nós só nos falávamos a cada 3 meses e nada muito concreto. - Elena disse, cruzando os braços sobre a barriga, que já estava enorme. - Nós tínhamos prometido nos manter em contato pelo Stefan, mas é difícil conversar sozinha. Todas as vezes que tentamos falar com você, você foi super evasiva.

— Pelo Stefan? - Bonnie parecia confusa.

— Sim. - respirei fundo. - Ele era meu marido.

— Você era casada com o Stefan? - ela estava chocada. - Como eu nunca soube disso?

— Você não estava em Mystic Falls na época do funeral dele. - Elena disse. - Foi naquela época em que você e Enzo estavam na Califórnia.

— E até lá, só Elena e Damon sabiam que eu era a mulher dele. As pessoas que foram para o funeral descobriram, mas acho que não fui alvo de fofocas o suficiente, já que nem você nem Klaus sabiam. De qualquer forma - falei, antes que elas pudessem perguntar por que eu tinha ido atrás de Klaus -, me perdoem por não ter me mantido em contato. Eu queria ter contado tudo na época em que aconteceu, mas eu não podia. - meus olhos se encheram de lágrimas.

— Como assim não podia? - Bonnie questionou.

Respirei fundo.

— Vocês sabem que o pai do Klaus era louco, né?

— Sim, você nos contou que ele te ameaçou na época do ensino médio. - Bonnie disse e depois acrescentou, num tom mais suave. - Ele tinha te ameaçado de novo?

— Sim. - respondi, já engolindo em seco.

— Você não esteve de volta só por tipo umas 3 semanas? - Elena perguntou.

— Sim. Ele já tinha uns planos muito concretos para o que ele queria para o Klaus, então quando ele descobriu que estávamos noivos e que eu estava grávida...

— Você tinha engravidado de novo? - Bonnie interrompeu.

— Sim. - Elena parecia querer falar algo, mas eu precisava terminar de falar. E eu tinha certeza do que ela ia falar. - Não tinha contado para vocês porque descobri na quinta e fui embora na sexta. Enfim, Mikael descobriu e decidiu que estava no caminho dos seus planos para o futuro de Klaus e da empresa. Então ele me ameaçou e me deu a escolha de ou contar para Klaus que eu tinha perdido o bebê, mas na verdade continuar a gravidez, me mudar para a Inglaterra e nunca mais falar com ele ou abortar e me mudar de qualquer jeito.

— Ai meu Deus! - as duas disseram em uníssono.

— A Hope é filha do Klaus! - Elena disse. - Meu Deus, agora tudo faz sentido.

— Hope? - Bonnie parecia confusa.

— Eu tenho uma filha de 16 anos. - eu disse. - Ninguém daqui sabia sobre ela até que eu encontrei Stefan. E então, quando ficamos noivos, contei para Elena e Damon, pedindo para que eles não contassem para ninguém. - olhei para Elena. - Obrigada por guardar meu segredo mesmo sem entender porque.

— Eu realmente nunca entendi. - ela disse. - E continuo sem entender, para falar a verdade. Ou porque você disse que ela era fruto de um caso que você teve assim que chegou em Oxford.

— Isso tem a ver com o resultado das ameaças que Mikael me fez enquanto eu ainda estava no ensino médio. Não podia deixar que ninguém mais estivesse em risco por saber sobre Hope. Mesmo saber que ela existia, sem saber que Klaus é o pai dela, colocava vocês em risco. Da primeira vez, eu não obedeci e as coisas acabaram daquele jeito. Não queria que qualquer um de vocês acabasse ferido por causa disso.

— Como assim o jeito que... - Bonnie começou a falar, então fez uma pausa, arregalando os olhos. - O acidente não foi um acidente?

— Não. - as lágrimas rolaram pelo meu rosto. Era libertador falar sobre isso. - Ele mesmo disse isso para mim.

Nós três ficamos em silêncio por um momento, até que uma garçonete se aproximou da mesa e pegou nossos pedidos. Logo que ela saiu, Bonnie começou a falar.

— Então você se mudou para a Inglaterra e teve um bebê sobre o qual ninguém de casa sabia.

— Sim, e ela veio comigo para cá.

— Como o Klaus reagiu a ter uma filha de 16 anos sobre a qual ele não sabia nada? - Elena perguntou.

— Melhor do que eu esperava, para falar a verdade. Inclusive, eles saíram agora de tarde para que ele a ensinasse a dirigir.

Houve uma pequena pausa na conversa, durante a qual acredito que elas estavam absorvendo tudo. Era informação demais para quinze minutos de conversa.

— Bom - Elena começou -, vocês vão ser o assunto da cidade pelo próximo mês. Boa sorte. Talvez assim eles vão sair do meu pé por ter ficado grávida pela primeira vez aos 36.

— Se for te tirar do foco, eu fico feliz em ser o assunto da cidade pelos próximos dois meses.

— Você vai embora de novo? - Bonnie perguntou.

— Daqui a dois meses. Eu amo o meu trabalho e Hope vai começar o penúltimo ano do ensino médio. Acho que não é uma boa ideia mudar de escola ou continente agora.

— Vendo por essa perspectiva, você está definitivamente certa. Nós quase não mudamos de bairro no ano passado porque Torrance ia começar o último ano do ensino fundamental. - ela disse com um sorriso no rosto.

Depois disso, começamos a falar das nossas vidas, do que tínhamos feito e relembramos um pouco dos velhos tempos também. Era bom conversar com elas, mesmo que tivéssemos perdido toda aquela proximidade que tínhamos enquanto crescíamos. Uns 40 minutos depois, recebi uma notificação. Hope tinha me mandado algumas mensagens.

“Hope: Oi.

Hope: Já estou de volta no hotel, mas não se preocupe.

Hope: Fique aí o tempo que quiser.

Hope: Está passando uma reprise de Game Of Thrones na tv, então eu estou entretida.”

Estranhei ela já estar lá, afinal tinha se passado pouco mais de uma hora e meia desde que eles tinham me deixado no hotel.

“Caroline: Ok.

Caroline: Aconteceu alguma coisa?

Hope: Klaus precisou ir no trabalho.

Hope: Alguma coisa sobre estarem ameaçando processar a empresa e um problema que o irmão dele não conseguia resolver.

Hope: Pra falar a verdade, eu não entendi muito bem, mas parecia ser algo sério.

Caroline: Tem certeza de que vai ficar bem?

Hope: Sim, mãe.

Hope: Eu não vou abrir a porta para ninguém, se isso é o que te preocupa.

Caroline: Eu confio em você.

Caroline: Volto mais tarde.

Hope: Ok."

— Tem algo errado? - Bonnie perguntou.

— Não sei. - respondi. - Hope já voltou para o hotel. Aparentemente Klaus teve uma emergência no trabalho e teve que acabar com a aula deles mais cedo.

— Você vai precisar ir? - Elena perguntou.

— Por enquanto, não. Ela já tem 16 anos, não tem problema ficar algumas horas sozinha no quarto de hotel.

— Eu continuo esquecendo que ela cresceu. Na minha mente, ela ainda é aquela menininha de 6 anos que eu conheci quando você e Stefan casaram.

— Às vezes eu também ainda penso nela assim.

— Eu imagino como ela parece agora. - Elena começou a divagar. - Foi por causa dela que eu comecei a pensar em ter filhos.

— Isso foi antes ou depois da fase em que ela fingiu odiar Damon?

— Durante, eu acho. Era fofo e engraçado demais, principalmente quando ela esquecia de fingir que não gostava dele. Aí eu comecei a pensar "e se eu tiver uma coisinha fofa que finja não gostar do Stefan?" - eu e Bonnie começamos a rir. - Claro que primeiro eu fui terminar a residência e depois ficava triste pensando que meus filhos nunca fingiriam não gostar do Stefan, mas decidimos que era a hora.

— Acho que chega um momento em que temos que seguir em frente. A última coisa que ele quereria para nós é que parássemos de viver nossas vidas porque ele não está mais aqui. - eu disse, não sei se mais para ela ou para mim.

— Sim...

— É muito difícil seguir em frente? - Bonnie perguntou.

— Sim. - respondi. - Da primeira vez que eu saí com um cara, chorei a noite quase toda quando cheguei em casa. Se torna mais fácil com o passar do tempo.

Continuamos conversando por mais uma hora, mais ou menos, e até passaríamos mais tempo, mas Bonnie precisou ir embora. Saímos de lá com a promessa de nos encontrarmos de novo na semana seguinte para terminarmos de conversar.

Enquanto andava de volta para o hotel, não podia parar de sorrir. Finalmente estava livre do peso de tantos segredos e tinha mais uma vez o apoio daquelas duas mulheres incríveis que eu tinha o privilégio de chamar de amigas.

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2 de julho de 2022

Como tinha planejado, passei numa floricultura antes de ir ao cemitério com Hope. Torci para que ela não achasse que eu era maluca por estar conversando com as lápides, mas ela aceitou bem.

Tanto quando chegamos ao túmulo de Stefan quanto ao da minha mãe, ela ficou por perto alguns minutos e depois saiu para, de acordo com ela, me dar um pouco de privacidade. Logo depois dela sair, eu sentava no chão e começava a falar exatamente do jeito que eu falaria se estivesse conversando com uma pessoa na minha frente. Era triste o tanto que eu me sentia à vontade nesse ambiente.

— Oi, Stef. Já fazem 7 anos desde que eu vim aqui, então acho que sou a pior viúva de todos os tempos. - disse, rindo comigo mesma, apesar de algumas lágrimas se acumularem nos meus olhos. - Queria vir pedir desculpa por isso. Eu sei que você nunca me culpou por não podermos vir e sempre disse que era algo fora do meu controle, mas eu devia ter lutado mais por isso. Enfim, algumas coisas mudaram. Eu comprei uma casa; não é aquela que estávamos pensando em comprar, mas é na mesma rua. Hope está no ensino médio e, apesar de não me pedir mais por um cachorrinho todos os anos no Natal, eu sei que ela ainda quer. Estou pensando em finalmente deixar, agora que ela tem idade suficiente para me ajudar a tomar conta de verdade. Além disso, ela vai para a faculdade daqui a uns dois anos, o que quer dizer que eu provavelmente vou ficar sozinha. - respirei fundo antes de continuar. - E reencontrei Klaus. Eu já namorei depois que você se foi, tanto sério quanto casualmente, mas desta vez é diferente. Não tem como não ser. Ainda não aconteceu nada, mas eu quero que aconteça e eu quero que você saiba que não estou tentando te apagar das nossas vidas. Você ainda é parte da nossa família, mesmo que não esteja mais aqui. E eu não mudaria uma decisão sequer se isso significasse que eu ia te amar, mesmo que não por tanto tempo. - neguei com a cabeça. - Não, esquece isso. Eu não parei de te amar quando você morreu. Ainda te amo e provavelmente nunca vou parar.

Era bom poder falar com Stefan, mesmo que não tivesse resposta. Muitas vezes, em casa, me pegava conversando com ele, mas, de alguma forma, estar aqui, onde eu o conheci e onde ele foi enterrado, fez com que me sentisse mais próxima dele.

Quando acabei de prestar minhas homenagens a Stefan e a minha mãe, chamei Hope e saímos do cemitério. Levei-a para almoçar e ficamos um tempo descansando no quarto. E então, como combinado com Klaus, de tarde fomos para a piscina do hotel. Eu e ele estávamos na piscina enquanto Hope tomava sol numa espreguiçadeira.

— O que vai fazer no 4 de julho? - perguntei para Klaus.

— Nunca foi meu feriado favorito e caiu mais ainda no meu conceito depois que... - ele parou, aparentemente pensando em como falar.

— Que eu te deixei poucos dias antes? - sugeri. Apesar de parecer insensível, era exatamente isso que eu tinha feito, então não tinha razão em querer fingir que não era isso que tinha acontecido.

— Sim.

— Bom, é compreensível.

— De qualquer forma, Rebekah e Marcel me chamaram para a casa deles.

— Ah, sim. - de volta à estaca zero, então. Eu e Hope arranjaríamos o que fazer.

— E eu tenho certeza que ela não se importaria se eu levasse vocês, mas não é isso que quero fazer.

— Não? - perguntei, mordendo o lábio inferior. O olhar dele se demorou um pouco na minha boca, mas ele continuou.

— Não. Eu sou egoísta. Não quero compartilhar vocês duas com o resto do mundo por enquanto.

— Então no que está pensando?

— Bom, todos os anos Whitmore faz um festival de rua. É uma aglomeraçãozinha, mas não dá tanta gente quanto na festa de rua que fazem aqui. Mais importante, não vão ficar fofocando pelas nossas costas.

— Um festival de rua parece uma ótima ideia. Fazem anos que não vou a um desses.

— Está combinado, então. - ele sorriu, mas então sua expressão tornou-se séria.

— O que foi?

— Eu queria falar sobre nós dois.

Meu coração começou a acelerar.

— Nós dois? - repeti, debilmente.

— Sim. Na verdade, é em relação a uma parte do meu raciocínio de não querer compartilhar vocês duas com o mundo. Quando eu falo isso, é porque eu quero conhecer bem Hope antes de jogá-la aos lobos. Para isso, eu não quero outras distrações, por enquanto.

— Entendi. - respondi, após alguns segundos. O que mais eu poderia dizer? Eu estava levando um fora.

— Que fique bem claro, eu queria uma distração. - ele disse, me olhando nos olhos.

— Eu queria distrair você. - respirei fundo. - Mas temos outras prioridades no momento. - ambos olhamos para Hope. - E você tem uma outra mulher a conquistar.

Ele pareceu estremecer.

— Não diga mais isso, por favor. Mesmo com contexto passa a ideia errada.

— Não deixa de estar certo. Você está tentando conquistar a confiança dela e um lugar em sua vida.

— Ainda assim.

— Sim, eu entendi. - respirei fundo e estava para dizer mais alguma coisa, quando Hope apareceu do nosso lado. Ela parecia irritada.

— Eu não acredito que vou ter que fazer isso, mas, Klaus, você pode me ajudar com uma vingancinha?

— Depende. - ele respondeu, depois de olhar de lado para mim rapidamente, como se tentando descobrir se ele devia ajudá-la nisso. - O que você tem em mente?

— Bom, dois moleques jogaram água na minha cara enquanto eu estava tomando sol e estão se recusando a pedir desculpa. Eles disseram que o único jeito de pedirem desculpa seria se eu ganhasse deles numa briga de galo.

— Eles acham que você está sozinha, então não teria como brigar e muito menos ganhar. - concluí.

— Exatamente. E é claro que não vou lutar contra eles, mas queria assustá-los.

— Ok. - ele sorriu. - Já que só é para assustá-los, não vejo que mal faria.

Logo que Hope começou a falar, pedindo pela ajuda dele, senti meu coração partir um pouco. Eu sempre era a pessoa que a ajudava nos seus planos, então era estranho ela pedir ajuda a outra pessoa, mesmo que fosse seu pai. Quando ela disse o que queria, percebi que eu realmente não teria como ajudá-la nisso, então fiquei mais tranquila, apesar da pontinha de ciúme ainda estar ali.

Fiquei observando eles dois se afastarem, indo para o lado da piscina em que os ditos moleques estavam, e rindo nas tentativas de Hope de subir em cima dos ombros dele. Vi quando os meninos, que deviam ter uns 13 anos, perceberam que estavam em desvantagem, se renderam e pediram desculpa. Depois que os meninos foram embora, os dois comemoraram e riram um pouco antes de voltar para onde eu estava.

— E aí? - perguntei.

— Problema resolvido. - Klaus disse, sorrindo, com Hope ainda em cima de seus ombros com um brilho divertido no olhar.

Meu coração se aqueceu vendo o homem que eu amava e a nossa filha interagindo tão naturalmente. E foi assim que eu percebi que ele estava certo. Não podíamos nos dar ao luxo de começar alguma coisa agora. Não quando começarmos algo podia colocar em risco a evolução da relação deles.

Toda a nossa situação já tinha roubado mais de 16 anos deles e Hope se torna mais independente a cada dia, o que é ótimo, mas eu acredito que isso pode dificultar uma relação mais próxima entre eles. E isso é o que eu quero para eles.

Tudo bem se eu tiver que esperar um pouco mais pela minha vez.