Out On The Town

Capítulo 17 - Klaus


1° de julho de 2022

— Eu preciso de ajuda.

Respirei fundo, tentando controlar a raiva que estava sentindo.

Um dia.

Eu pedi um dia de folga para que eu pudesse conhecer melhor minha filha. Um dia em que eu pudesse esquecer as minhas responsabilidades e focar nela. Não achava que isso era pedir demais, mas, pelo visto, era.

— Só um minuto, Kol. - tirei o telefone de perto do rosto e virei para Hope. - Pare o carro aqui perto da calçada. - ela fez o que eu disse. - Coloque em ponto morto e puxe o freio de mão. Isso. - voltei a minha atenção para Kol. - O que é?

— Você está ensinando alguém a dirigir? - ele estava estranhando a situação.

— Isso não é da sua conta. O que você quer?

— Ok, estressadinho. Preciso que você venha para a empresa.

— Eu estou de folga. Eu te avisei hoje de manhã.

— Eu sei, mas surgiu um problema. Tem dois advogados no telefone ameaçando processar a empresa e eu não estou conseguindo ver o que aconteceu de errado. Ou eu te ligava ou ligava para Elijah.

Engoli um xingamento. Ligar para Elijah não adiantaria de nada, só estressaria ele.

— Tá bom, eu estou indo. Estarei aí em 15 minutos.

— Se apresse, por favor.

Desliguei a chamada e olhei para Hope.

— Desculpe. Vou ter que ir trabalhar.

— Tudo bem. - ela me deu um meio sorriso.

Desci do carro e trocamos de lugar.

— Você prefere que eu te deixe no hotel ou com a sua mãe? - perguntei, já saindo dali. Se fosse em outra situação, eu teria perguntado se ela queria ir comigo, mas não queria jogá-la para os lobos, não quando eu ainda não a conhecia bem.

— No hotel. - ela disse, então acrescentou. - Eu estou com a chave do quarto. Além do mais, ela precisa conversar com as amigas.

— Ok. - ficamos em um silêncio confortável até chegar na frente do hotel.

— Obrigada por me ensinar a sair com o carro. - Hope disse, um sorriso estampado no seu rosto.

— Por nada. E desculpe ter que interromper.

— Tudo bem. - ela deu de ombros. - Eu sei que seu trabalho é importante.

— É importante, mas não tanto assim. Não na maior parte do tempo. No momento, estão no telefone com meu irmão ameaçando processar a empresa e ele não consegue achar qual o erro no contrato, então eu preciso ir.

— Meu Deus. - ela arregalou os olhos. - Não vou mais te atrasar. - ela colocou a mão na maçaneta do carro. - Ah, e, quando você tiver tempo, podemos continuar a aula?

— Claro. - sorri para ela. - Estou livre o fim de semana inteiro.

— Obrigada, Klaus. - ela já estava com a mão na maçaneta, quando eu lembrei que Caroline tinha pedido para avisar se algo fora do previsto acontecesse.

— Lembre de avisar a sua mãe que você está aqui.

— Tá bem.

Ela me surpreendeu me dando um beijo na bochecha e saiu do carro. Esperei ela entrar no hotel para sair. Depois disso, fui para o trabalho o mais rápido que pude.

Coloquei o carro na minha vaga e fui logo chamando o elevador, onde encontrei Kol já me esperando.

— Finalmente. - ele apertou o botão do último andar, o 18°.

— Eu levei menos de 15 minutos, o que mais você queria?

— Que você tivesse atendido de primeira, como sempre. - ele zombou. - Aliás, eu sei que te disse que você devia encontrar alguém, mas uma garota com menos de 20 anos não era bem o que eu tinha em mente. Pense na nossa imagem.

Olhei para ele, incrédulo.

— Você de todas as pessoas está me pedindo para pensar na nossa imagem? Não fui eu que fui pra clínica de reabilitação.

— Não se deve mencionar a reabilitação. - ele falou, num tom sombrio. - Eu sou um homem mudado. Além do mais, se você tivesse piorado um pouco, esse era o seu caminho também.

— Eu sei.

— Só tome cuidado, por favor. - ele disse.

— Você realmente acha que eu estou saindo com uma garota com metade da minha idade?

— Você disse que estava ensinando alguém a dirigir.

— Eu disse que não era da sua conta.

— O que quer dizer que era exatamente o que você estava fazendo e que era uma mulher. Considerando as estatísticas, não acho que seja alguém maior de 21 anos.

— Não é o que você está pensando.

— Então o que é?

— Eu não vou te dizer agora.

— Você percebe o quão incriminador isso é?

— Sim, mas eu te prometo que não estou fazendo nada ilegal. E você me conhece. Isso parece com algo que eu faria?

— Não, mas você está sendo muito evasivo. Estou preocupado.

— Não se preocupe. Eu vou te contar tudo quando a hora certa chegar. Agora podemos focar no problema que você me chamou aqui para resolver? - falei, já saindo do elevador, cujas portas tinham acabado de abrir.

— Tá.

●●●

Depois de quase uma hora para descobrir o que tinha acontecido de errado e mais 40 minutos de negociação, tudo estava certo de novo. O carregamento seria enviado amanhã pela manhã e tudo ficaria bem. Eu tinha prometido supervisionar e conferir pessoalmente o empacotamento da carga e a entrega no aeroporto, então, depois que a reunião terminou, fui para a indústria. O prédio em que eu trabalhava abrigava a parte administrativa da empresa, enquanto a parte industrial ficava numa parte mais afastada da cidade, e era de lá que todos os pedidos saíam para entrega.

Quando cheguei lá, vi que a maior parte desse carregamento já estava separado, mas o avião só sairia amanhã de tarde, então alguns funcionários viriam terminar de arrumar pela manhã. Falei com o grupo que estava responsável por organizar e pedi para que, se possível, eles ficassem até mais tarde, com pagamento de hora extra, claro.

Tentei ajudar a encaixotar, mas logo me disseram gentilmente que minha ajuda estava atrapalhando mais do que ajudando, então fiquei de lado e conferi mais uma vez se estava tudo certo com o carregamento. Fiquei lá até o último dos funcionários sair. O horário normal do fim do expediente era 18 horas, mas ficamos lá até as 19, quando o caminhão que iria para o aeroporto terminou de ser carregado. O motorista estaria aqui às 6 da manhã e iríamos para o aeroporto de cargas da cidade vizinha.

Suspirei aliviado quando finalmente cheguei em casa, já perto das 20 horas. Entre a conversa com Caroline, ensinar Hope a dirigir, as acusações de Kol, a reunião de emergência na empresa e ter ficado até depois do horário, eu podia afirmar que o dia tinha sido intenso pra mim.

E eu nem tinha dormido na noite anterior. Tinha completamente esquecido disso.

E também que estava com fome.

Pedi um sanduíche pelo serviço de delivery e, enquanto esperava, fui checar minhas mensagens. Tinha recebido algumas mensagens de Caroline.

"Caroline: Obrigada pelo dia de hoje.

Caroline: Espero poder te ver de novo amanhã."

Tive que sorrir com a mensagem.

"Klaus: Também espero.

Klaus: O que tem planejado?"

Esperei alguns segundos para receber uma resposta.

"Caroline: Acho que vou visitar os túmulos da minha mãe e de Stefan de manhã.

Caroline: Mas à tarde ainda não tenho uma programação.

Klaus: Ótimo.

Klaus: Vou ter que trabalhar amanhã de manhã, mas também estou livre à tarde.

Caroline: O problema era maior do que você deixou Hope pensar?

Klaus: Sim e não.

Klaus: Eu acho que passei bem o tamanho do problema, mas eu prometi que supervisionaria tudo pessoalmente, então acabei trazendo mais responsabilidade para cima de mim.

Caroline: Ah, sim, entendi.

Caroline: Você quer vir e aproveitar a piscina amanhã de tarde?"

Meus músculos tensos começaram a relaxar com o simples pensamento.

"Klaus: Sim. Piscina seria uma ótima ideia.

Caroline: Estamos combinados então.

Klaus: Mal posso esperar."

Poucos minutos depois disso, meu jantar chegou. Comi, tomei banho e fui me deitar, mas vi uma mensagem de Elijah e me obriguei a ficar acordado por mais alguns minutos.

"Elijah: Kol acabou de me mandar uma mensagem perguntando se você já tinha me contado, não quis me responder quando eu perguntei o que era e disse que tudo já tinha sido resolvido.

Elijah: O que diabos aconteceu?"

Passei a mão pelo cabelo e pensei em como responder a mensagem.

"Klaus: Tivemos um problema, mas tudo já se resolveu.

Elijah: E o que foi esse problema?

Klaus: O carregamento que ia para a Nova Zelândia. Concordamos que chegaria até o dia 10 de julho, mas alguém digitou errado e no contrato saiu 1 de julho.

Klaus: Eles ligaram hoje porque o contrato dizia que mandaríamos a carga com um rastreador, para que eles pudessem acompanhar tudo, mas, como eles não tinham recebido um código de rastreio, imaginavam que era um golpe.

Klaus: E lá já era dia 2, então estávamos com um dia de atraso.

Klaus: O avião já sairia amanhã, mas só à tarde, então apressamos tudo para dar um jeito de fazer o carregamento sair de manhã.

Klaus: Tivemos que dar um desconto de 20% ao comprador para compensar pelo atraso.

Klaus: Enfim, foi resolvido.

Klaus: Aproveite suas férias e não se preocupe com a empresa.

Klaus: Estamos lidando com os problemas que estão surgindo."

Menos de um minuto depois ele me respondeu.

"Elijah: Ok.

Elijah: Espero que tudo corra bem de agora em diante.

Elijah: Posso perguntar como foi com a razão da sua folga?

Elijah: Queremos saber.

Klaus: Bom, eu me encontrei com ela de manhã e falamos sobre o que fizemos nesses últimos 17 anos e como o pai arruinou todas as nossas chances de felicidade naquela época.

Elijah: Ah, sim.

Elijah: Ele realmente não gostava dela.

Elijah: Quer dizer, ele também não gostava da Hayley, Camille, Davina ou Marcel, mas era muito forte com a Caroline.

Klaus: Sim.

Klaus: Você sabia que o acidente dela não tinha sido um acidente?

Elijah: ...

Elijah: Você quer dizer que ele armou o acidente?

Klaus: Sim.

Klaus: Ainda bem que ele já está morto, se não eu provavelmente cometeria um crime.

Elijah: Eu sinto muito, Niklaus.

Elijah: Não fazia ideia de que ele faria algo como isso.

Klaus: Não me surpreendeu tanto assim quanto o fato de eu não ter pensado nisso até ela me falar.

Klaus: O pior é que isso não é o pior.

Elijah: O que mais ele poderia ter feito?

Klaus: Ele ameaçou matar ela, eu e o bebê.

Klaus: Depois lembrou as consequências de não fazer o que ele queria e obrigou ela a mentir pra mim.

Elijah: Quando ela foi embora da segunda vez, certo?

Klaus: Sim.

Klaus: E, pra completar, ainda dava uma pensão para Hope.

Klaus: Eu sabia que nunca iria entender ele, mas dessa vez ele se superou.

Klaus: Como que alguém vai de "quero te matar" para "tome esta pensão de milhares de dólares todos os meses pelo resto da sua vida"?

Elijah: Também nunca consegui entender.

Elijah: Hope?

Elijah: Seu corretor automático corrigiu Care para Hope?"

Respirei fundo, não acreditando que tinha deixado escapar. Eu sabia que em algum momento ia ter que começar a falar para as pessoas, mas queria estabelecer uma relação com ela primeiro. Meu irmão favorito era um bom lugar para começar, então resolvi não enrolar

"Klaus: Não, o celular não corrigiu.

Klaus: Hope é minha filha.

Elijah: Sua filha?

Klaus: Sim.

Klaus: Caroline não tinha perdido o bebê.

Elijah: Puta merda.

Elijah: Você tem uma filha de 16 anos.

Klaus: É.

Klaus: Eu descobri sobre ela ontem à noite no aeroporto.

Elijah: Meu Deus.

Elijah: Você realmente não suspeitava?

Klaus: Não.

Klaus: Por que eu pensaria que Caroline estava mentindo sobre ter perdido o bebê?

Klaus: Sim, nosso pai tinha acabado de ameaçar a vida dela, mas eu não imaginava que ele fosse descer tão baixo a ponto de escondê-la de mim por tanto tempo.

Elijah: Não acredito que ele fez isso com você.

Klaus: Pois é."

Parei um momento e bocejei. Precisava ir dormir para acordar cedo e acompanhar a entrega.

"Klaus: Preciso ir.

Elijah: Boa sorte amanhã.

Klaus: Obrigado.

Klaus: E vá aproveitar suas férias que estamos tomando conta de tudo.

Elijah: Obrigado.

Elijah: Hayley acabou de pedir para nos atualizar, quando lembrar."

Revirei os olhos. Ele colocava a culpa em Hayley, mas o maior curioso era ele mesmo. Elijah sempre levou tudo a sério e se tinha uma coisa que realmente era sagrada para ele era a família.

Programei um alarme para as 5 da manhã e coloquei o telefone na mesinha ao lado da cama. Fechei os olhos e tudo o que eu podia pensar era que, apesar de tudo, o dia tinha sido ótimo.