Out On The Town

Capítulo 16 - Klaus


1° de julho de 2022

— Vem, vamos buscar nossa filha.

Meu coração se aqueceu ao ouvi-la dizer isso. Talvez porque fosse a primeira vez que ela chamava Hope de nossa filha ou pelo "vamos" e a implicação de irmos juntos, não importa onde fosse.

Voltamos para o térreo e eu fui pegar a guia de Lupi. Assim que ela me viu segurando a guia, veio atrás de mim abanando o rabo. Eu não era um dono displicente, mas na última semana não tive tempo de levá-la para passear. Com Elijah e Hayley fora, a responsabilidade caía sobre eu e Kol e, apesar de ele ter amadurecido e começado a levar o trabalho mais a sério depois que Davina entrou na vida dele, eu ainda ficava com a maior parte da carga. Estava chegando em casa tarde e sem energia para sair com ela, então tinha descuidado um pouco disso.

Lupi me deixou colocar a guia e fomos em direção à porta. Caroline passou depois que eu, já pegando a chave atrás da porta e trancando-a, como se já tivéssemos feito isso centenas de vezes.

— Obrigado.

— De nada. - ela disse, já me devolvendo a chave.

Caminhamos até o hotel num silêncio confortável. Sabia que ainda havia muito que precisávamos conversar, mas, naquele momento, as coisas pareciam estar em paz. Quando chegamos lá, Hope já estava na frente nos esperando.

— Bom dia. - ela disse, já sorrindo para nós. - Então essa é Lupi.

— Sim. - respondi, enquanto Lupi cheirava os pés dela. Não podia não sorrir.

— O que quer fazer? - Caroline perguntou a ela.

— Tenho opções? - ela perguntou enquanto se abaixava para fazer carinho entre as orelhas de Lupi. - Não é como se eu conhecesse a cidade para saber o que fazer.

— Então acho que o primeiro passo é conhecer a cidade. - Caroline disse. - Acho que nem eu conheço mais.

— Mystic Falls ficou parada no tempo. - respondi. - Nada nunca muda por aqui desde os anos 90.

— Alguma coisa deve ter mudado. Quando eu vim da última vez, o Grill estava do outro lado da praça.

Fiz algumas contas mentais. Na época que isso aconteceu, eu estava morando em Nova Orleans, ou seja, há uns 7 ou 8 anos.

Ela tinha estado aqui depois de ir embora?

— Eles tinham ido para lá enquanto faziam uma ampliação, mas depois voltaram para o prédio original.

— Ahh. Mesmo assim, podemos mostrar a cidade a Hope.

— Claro. - concordei.

— Vamos? - a própria Hope nos chamou, ainda agachada perto de Lupi.

— Sim. Só precisamos voltar na minha casa e pegar o carro e aí podemos ir. - virei-me para Hope. - Você quer levar a guia?

Os olhos de Hope brilharam. Ela claramente tinha conquistado Lupi, que estava deitada de barriga para cima, praticamente implorando por atenção.

— Tem certeza?

— Sim. Ela é bem tranquila. E, pelo visto, gostou de você.

— Ok. - entreguei a guia para ela e fizemos o curto caminho de volta para casa.

●●●

Três horas depois, com a cidade devidamente apresentada a Hope, estávamos os três sentados numa mesa no Grill, esperando o almoço chegar. Como eu já tinha dito para Caroline, quase nada tinha mudado, mas, ainda assim, ela prestou atenção em cada detalhe, provavelmente até mais que Hope. Ela parecia interessada, mas não conseguia perder a sensação de que ela talvez quisesse estar em outro lugar.

— O que você estava planejando fazer nas férias, se não tivesse vindo para cá? - perguntei a Hope, tentando preencher o silêncio enquanto esperávamos. Caroline tinha saído para fazer uma ligação para Elena. Não tinha como ela passar muito tempo na cidade sem falar com ela.

— Mamãe tinha dito que me ensinaria a dirigir. - ela olhou para onde Caroline estava. - Mas já é o segundo ano que combinamos de fazer isso e que não dá certo.

— Você não tinha idade no verão passado, certo?

— Não, mas o problema mesmo foi eu ter quebrado a perna. E esse ano estamos aqui, então...

— Bom, se você quiser, eu posso te ensinar.

— Sério? - os olhos dela estavam brilhando.

— Claro. - sorri para ela. - Inclusive, eu tenho acesso a um carro que segue o padrão inglês.

— Como? - ela estava surpresa. Não acho que estivesse esperando por isso.

— Mikael tinha uma coleção de carros. Um dia, ele estava na Austrália, viu esse carro, gostou e comprou. Não sei para quem ele deixou os carros, mas não acho que alguém vá se importar se pegarmos emprestado.

— Uau. Eu não consigo nem começar a tentar entender.

— Não tente. Só vai te dar dor de cabeça. Até hoje ninguém entende porque ele comprou um Honda Fit azul na Austrália.

— Era mais pela parte da coleção de carros. - ela tinha um meio sorriso no rosto. - Mas realmente não faz sentido.

— Coleção de carros estava entre os hobbies menos estranhos dele.

— E os mais estranhos?

— Ameaçar qualquer um que se pusesse no seu caminho. E depois cumprir. - ela parecia um pouco tensa. - E também se fantasiar de vampiro todos os anos no Halloween, só para depois dizer que só atacaria outros vampiros porque eles eram uma raça corrupta e uma aberração da natureza. - ela riu.

— Você não pode estar falando sério.

— Eu estou. Nossa diversão era embebedar ele ao longo do dia, para que ele chegasse bêbado na confraternização da empresa e começasse a dizer isso.

— O que eu perdi? - Caroline perguntou, já sentando no seu lugar original na mesa. Ela e Hope estavam de frente para mim.

— Eu estava contando para Hope sobre a tentativa anual do meu pai de ser divertido.

— Quando ele se vestia de vampiro? - ela perguntou e eu assenti. - Eu juro que ele era a única pessoa do planeta a ficar assustadora com aquela dentadura de plástico e a capa de poliéster.

— Mas não era engraçado? - Hope questionou.

— Depois de embebedar ele. - Caroline respondeu e depois deu de ombros. - O que mais?

— Klaus se ofereceu para me ensinar a dirigir.

— Que ótimo! - ela disse, claramente animada. - Honestamente, eu estava com medo de tentar te ensinar.

— Mãe! - Hope reclamou, claramente envergonhada.

— Não por sua causa, mas por eu mesma. Da vez que tentei ensinar alguém, eu quase perdi a amizade.

— Como?

Eu tinha quase certeza do que Caroline ia falar.

— Eu estressei a Bonnie até nós começarmos a gritar uma com a outra descontroladamente. E aí ela bateu o carro da avó num muro. Nunca mais tive coragem de me oferecer para ensinar ninguém depois disso.

— Meu Deus!

— Foi péssimo. - Caroline disse. - Acredite, é melhor Klaus te ensinar.

— Eu realmente prefiro não correr o risco de bater num muro assim.

— Você vai se sair bem. - eu disse, sorrindo para ela.

Ela sorriu de volta para mim e, nesse momento, nosso pedido chegou, acabando com o assunto.

●●●

— Você realmente tem coragem de me deixar aprender no seu carro? - Hope perguntou, e eu sabia que aquela era minha última chance de pular fora.

Depois do almoço, tínhamos deixado Caroline no hotel e, por mais que eu quisesse que Hope aprendesse logo no carro certo, não fui pegar o carro na casa da minha mãe. Ela ainda estava na cidade e, apesar de ela ter sido uma das poucas pessoas a ficar feliz quando soubemos de Hope, não queria que mais ninguém soubesse.

Por enquanto.

Além disso, eu esperava que não fizéssemos isso só hoje. Teríamos tempo o suficiente para ela aprender outro dia.

— Sim, mas vamos procurar um lugar menos movimentado. - respondi, já entrando do lado do motorista.

— É melhor. - ela parecia um pouco nervosa. - Eu nunca tentei antes, então estar longe de casas, pessoas e lixeiras talvez seja melhor.

— Não se preocupe. Se sua mãe conseguiu não bater em nada enquanto eu a ensinava a dirigir, você vai se sair bem.

— Eu não teria tanta certeza.

— Eu confio no seu potencial.

— Você mal me conhece.

— É verdade, mas você vai ter um ótimo professor.

Ela revirou os olhos.

Quando chegamos no local em que eu estava planejando ensinar ela, desliguei o carro. Trocamos de lugar e eu comecei a explicar para ela tudo o que precisava fazer antes de ligar o carro e sair, e a ajudei a ajustar o banco e os retrovisores. Depois instruí como ligar o carro e sair e em que momento trocar de marcha. Ela conseguiu entender e fazer tudo sem muita dificuldade e eu estava orgulhoso.

Cerca de 10 minutos depois, meu telefone começou a tocar, mas eu desliguei a chamada antes mesmo de ver quem era. Estava focado em Hope e em ajudá-la a aprender. E também em conseguir o máximo de informação aleatória o possível.

No momento, ela tinha acabado de estancar o carro.

— O que aconteceu?

— Você provavelmente soltou a embreagem muito rápido. - disse e vi um pouco de frustração no rosto dela. - É bem normal quando estamos começando.

— Mamãe me disse o mesmo.

— Ela pode dizer isso mais do que a maioria das pessoas.

— Sério?

— Eu ensinei ela e meus dois irmãos mais novos e, de longe, ela foi a que mais sofreu no começo, mas, depois que aprendeu, se tornou a melhor.

— Ah, sim. - Hope disse e olhou para mim, procurando por instruções. - O que eu faço agora?

— Pise na embreagem e no freio e coloque o carro em ponto morto. - ela seguiu o que eu disse. Meu telefone tocou de novo e, mais uma vez, eu desliguei sem ver quem era. - Agora vire a chave de volta para o início e ligue o carro de novo. Passe a primeira e tire o pé da embreagem devagar, já acelerando um pouquinho. - ela fez isso e o carro começou a se mover devagar. Sorri satisfeito. - Isso mesmo.

— Você disse dois irmãos mais novos? - ela perguntou, sem tirar os olhos da rua. Em seguida, passou para a segunda marcha.

— Sim. Eu tinha 3 irmãos mais novos e 3 mais velhos, mas um dos mais novos morreu num acidente de barco quando era jovem.

— Sinto muito, Klaus. - ela disse, já ligando a seta e fazendo a curva à direita para darmos a volta no quarteirão. - Não posso nem imaginar quão terrível deve ter sido.

— Foi horrível. - eu disse. - Provavelmente o pior ano da minha vida.

— Ainda assim, durante algum tempo foram sete irmãos.

— Sim. - o telefone começou a vibrar mais uma vez e eu desliguei de novo. Será possível que quem quer que esteja ligando não consegue entender que eu não quero falar agora?

— Não consigo imaginar como é ter um irmão, quanto mais seis.

— Você já quis? - ela olhou para mim, como se perguntando do que eu estava falando. - Um irmão ou irmã mais nova.

— Quando eu era mais nova, sim. - ela disse, ligando a seta para contornar o quarteirão. - E achei que realmente ia acontecer, mas aí Stefan morreu e aí... - ela deu de ombros. - Eu não queria mais.

— Vocês eram muito próximos?

— Sim. Ele foi tudo o que eu tive de uma figura paterna até... bem, até agora. - meu coração apertou um pouco. - Desculpe a franqueza. Não deve ser fácil escutar isso sair da boca da sua filha.

— Está tudo bem. Fico feliz que você teve alguém que representou esse papel, mesmo que só por algum tempo. Eu queria que tivesse sido eu, mas...

— A vida nem sempre funciona do jeito que queremos. - ela concluiu e ficamos em silêncio por um momento. O telefone voltou a tocar mais uma vez e, antes que eu pudesse desligar, ela falou. - Não vai atender o telefone?

— Não quero.

— Talvez seja importante. Quem quer que seja, está insistindo muito.

— Ok. - olhei para o celular e vi que era Kol ligando. Atendi a chamada. - Alô?

— Eu preciso de ajuda.