Após passarem pela saída subterrânea descendo por um pequeno lance de escadas, enfim chegam a uma espécie de túnel, cuidadosamente, devido ao pouco de escuridão que ainda tem. Com suas lanternas ligadas, finalmente começam a vasculhar cada canto prestando atenção em cada detalhe ao redor.

— Que ótimo que eu achei essa passagem. A última vez que viemos parar aqui debaixo não foi de uma forma tão agradável — Allison comenta.

— Eu agradeço por isso — você diz.

— Então, já que vocês têm mais experiência nesse lugar, pra onde que a gente deve ir agora? — Lavínia questiona.

— A gente só precisa encontrar a linha de trem. Não tá tão longe daqui — Allison diz — Andando em linha reta, apenas se baseando onde está localizado o galpão, rapidinho a gente chega lá.

— E se alguns daqueles guardas nos encontrarem? — você pergunta um pouco apreensivx.

— Não se preocupe, S/N. Eles não vão pegar a gente aqui.

— Como você pode ter tanta certeza? — Lavínia pergunta.

— Na verdade eu não tenho — Allison fala.

— Mas não vamos pensar assim, vamos continuar andando — você diz.

Seguindo em caminho reto, assim como Allison havia orientado, em instantes acabam se deparando com o que já queriam encontrar. O lugar está exatamente da mesma forma que encontrara na vez que estiveram perambulando no local.

Pelo menos é o que se lembram.

— Então é essa a trilha de trem que vocês tanto falaram? — Lavínia pergunta.

— É, é essa mesmo. Temos que agir logo antes que venha alguém. Na verdade não sei nem como nem tem aqui de guarda — Allison diz.

— Desde que a gente não se encontre com o Palooma de novo... — você comenta.

— Que raios de nome é Palooma? Quem é esse? — Lavínia pergunta dando uma leve risada.

— É o chefe guardião do bairro e um dos vigias desse lugar. Graças à ele ter reconhecido Allison a gente não se meteu em encrenca.

— Mas ele não pode nem sonhar que estamos aqui. Na primeira vez ele já desconfiou da nossa presença mas deixou a gente escapar. Na segunda eu não sei o que ele pode achar disso — Allison avisa.

— Então vamos deixar de conversa e ir logo para o que interessa — Lavínia ordena.

Sendo assim, logo põem-se a continuar a caminhada seguindo retamente pela linha de trem.

Passado alguns minutos na andança, a linha de chegada parece ter chegado ao fim mais cedo do que esperavam quando avistam uma vasta parede revestida de grandes rochas e madeiras empilhadas. Não tem como não pensar em outra coisa senão o porquê dos objetos estarem tampando a continuação da trilha, nesse caso só resta a dúvida e estranhamento que começam a rodear suas cabeças.

— Será que esse já é o sinal da gente ir pra casa? — você pergunta.

— Como voltar pra casa? A gente mal começou. Agora com esse paredão eu fiquei mais curiosa pra ver onde isso vai dar — declara Lavínia.

— Nós não vamos voltar agora. A gente já tá andando há um tempo. Não tem sentido a gente voltar — Allison comenta.

— Certo, e o que a gente faz? — você pergunta.

— O óbvio. Vamos tentar passar — Lavínia fala — Olha, tem uma passagem estreita encostada na parede. É bem apertada, mas acho que dá pra gente passar.

— É o único jeito se a gente quiser chegar até o final — Allison comenta.

— Dessa vez você vai primeiro. Já me arrisquei na primeira vez por aquele buraco. Já que faz tanta questão de ir... — você diz abrindo espaço para Lavínia.

— É claro que eu vou. Não deve ser perigoso.

Então ela chega até o espaço estreito, se apoia numas pedras jogadas no chão e, com um pouco de esforço, passando por todo o entulho acaba por conseguir atravessar a grande parede.

— E aí? Como é o outro lado? A gente não consegue ver nada daqui — você pergunta.

— Bom, na verdade não tem nada aqui. É só um caminho reto que talvez leve à algum lugar. Venham, podem vir. Eu não vou sozinho fuçar lá dentro nem me pagando — ela diz, ordenando.

— Tá bom. Espere pela gente — Allison avisa.

E assim fazem: primeiro vai Allison passando pelo mesmo espaço em que Lavínia passara e depois, você. Em segundos, ambxs se encontram do outro lado, de frente para um corredor escuro e apertado. Com suas lanternas acesas, prosseguem cuidadosamente por esse caminho até se depararem com umas tochas acesas penduradas na parede que parecem indicar algo à frente.

— Até onde vai dar esse túnel? — você pergunta com curiosidade.

— Se Allison que mora aqui não sabe, imagina a gente. Nós não viemos investigar? — questiona Lavínia.

— Também não precisa falar desse jeito. Sim, nós viemos investigar, mas S/N só fez uma pergunta — Allison fala, defendendo-lhe.

— Obrigadx. Mas eu já tô acostumadx com esse humor dela, não se preocupe — você diz.

— Eu não fui arrogante ou coisa assim. Eu só tô...

— Animada. A gente já sabe — Allison diz.

— O que eu quis dizer com a minha pergunta é que me preocupa com o que a gente possa encontrar no fim do caminho. Me incomoda e muito saber que não vimos nenhum fiscal do lado de fora e todo esse silêncio aqui embaixo — você declara com uma certa preocupação.

— Mas assim não é melhor? Tipo, pra que a gente ia querer se preocupar com os fiscais que podem matar a gente? — Lavínia pergunta.

— Ninguém vai matar a gente. Eu tô aqui com vocês — Allison fala.

— Eu não sei, mas parece meio suspeito. O caminho tá livre demais. Vocês não estranharam isso nenhum momento?

— Eu não — Lavínia dispara.

— Gente, só vamos continuar andando. Não vamos gerar uma discussão agora, por favor — Allison solicita.

— Parece que alguém tá com stress hoje. Vamo' continuar caminhando senão sobra pra gente — você diz.

Após andarem alguns metros, uma nova sensação toma conta do espaço.

De repente uma frente fria circula pelo túnel atingindo as chamas das tochas que ficam oscilantes quase apagando-as ao passo que sentem uma inclinação elevando-se a cada segundo. Durante a caminhada vocês notam que algo está a se aproximar e a todo momento se entreolham em forma de alerta. Até que enfim chegam a um sombrio e vasto jardim.

— Acho que chegamos — comenta Allison.

— É aqui? A gente passou toda essa andança pra chegar num jardim? — pergunta Lavínia.

— Mas é um belo jardim. Olha como aqui é grande. Tem tantas árvores — você diz analisando ao redor.

E realmente as mesmas árvores altas e pinheiros que avistaram antes de chegar na portaria do bairro, agora existem inúmeras delas espalhadas pelo jardim. Mesmo ele sendo tão vasto, ao mesmo tempo é muito silencioso e somente em alguns instantes ouvem-se sons de pássaros e rajadas de uma corrente de ar frio.

— Eu nunca imaginei esse lugar. Quer dizer, talvez sim, mas não desse jeito — Allison comenta.

— Como assim? Do que você tá falando? — Lavínia pergunta.

— É tudo tão bonito — você diz, encantadx.

— É, mas tudo em um clima de filme de terror — ela diz.

— Rápido. A gente precisa ver o que tem por aqui — Allison apressa.

— Como o que tem por aqui? Não tem nada aqui. É só um jardim — Lavínia fala.

— Eu acho que Allison viu alguma coisa — você diz ao ver Allison se distanciando rapidamente em direção ao outro lado do jardim.

Você e Lavínia decidem segui-lx e, juntando-se à elx, chegam ao encontro de uma espécie de um muro em ruína. Não bastando esse, em um local próximo há mais outras antigas construções e entre elas um grande objeto que lhes chamam mais ainda o interesse.

— Essas construções. Segundo os rumores sobre a história da cidade, existiam lugares em que os residentes de Miríade usavam pra...

— Pra quê? Pra brincar de detetives que nem a gente ou pra esconder mais coisas do povo? — Lavínia questiona.

— É algo bem pior — Allison respira profundamente.

— E o que é essa coisa? — você pergunta apontando para o tal objeto.

Ele é bem amplo feito de madeira muito similar com um balanço daqueles tradicionais bem firme ao chão.

— Isso é um "burro espanhol". Usado pra torturar pessoas — Allison responde — As pessoas subiam na parte de cima, como se estivessem montadas num burro e eram colocados pesos presos nos pés delas.
Eles usavam locais como esse pra realizarem atos de tortura contra os moradores dos outros bairros e também pra alguns que cometeram algum tipo de delito pra se esconder.

— Da onde você tirou isso? Aqui não é Alemanha. O que você tá falando tá parecendo com o que o Hitler fez na época da guerra. Me dá arrepios só de pensar — Lavínia comenta.

— Allison conhece muito sobre a história de Nevinny. Já me falou muitas coisas, mas essa sobre a época nazista eu não conhecia — você diz.

— Então o que o povo fala realmente é verdade? Os vizinhos de Miríade eram mesmo pessoas más? — Lavínia pergunta.

— "Maus" acho que não seria a palavra. Todos temos motivos pra fazer certas coisas. Não sabemos como funcionava naquele tempo — Allison fala.

— Mas é claro que sim. Esse bairro é afastado dos outros. Alguma coisa de errado acontecia nesse lugar. Ou acontece ainda, vai saber.

— A Lavínia tá certa, Allison. Não é possível que o que todo mundo fala seja mentira. A gente não conhece toda a história, mais o fato de Miríade ser um bairro afastado e ainda esconder coisas. Fica meio difícil pensar diferente — você declara.

— Não tem outra escolha a não ser aceitar ter que ouvir isso — Allison diz.

— Sinto muito — Lavínia diz.

— Vamos continuar andando. Não é isso que nós viemos investigar. O nosso foco ainda é a trilha.

— Mas não tem mais trilha. Ela se encerrou do outro lado — você diz.

— Tem que ter. Se antes ela existia ter que continuar em algum lugar. Mesmo se ela tiver sido completamente removida, ainda tem que existir algum fim de linha. É uma questão de lógica.

Subitamente, dois helicópteros em baixo voo passam bem próximos do jardim que estão, parecendo que o local de pouso não está longe. Em meio ao leve susto, você e seus colegas decidem apressar-se para que a investigação da noite termine o quanto antes e que não sejam capturadxs.

— O que será que vieram fazer aqui? — você pergunta.

— Eu não sei, mas parecem que não estão longe. Devem ter pousado aqui perto — Allison fala.

— Vamos continuar andando. Allison, indica algum lugar pra gente ir? — Lavínia pergunta.

— Eu sugiro que a gente siga a mesma direção em que a trilha estava.

— Ir pelo mesmo lugar? Mas a gente teria que ir pela floresta — você sobreavisa.

— Eu confesso que não tô muito segura se a gente tiver que fazer isso. Mas se tiver que ser assim, eu vou assim mesmo — Lavínia declara.

— Ótimo. S/N, a gente pode contar com você? — Allison pergunta.

— É claro. Eu não vou ousar em tentar sair daqui sem companhia.

E com cuidado, ambxs seguem refazendo a caminhada em linha reta baseando-se na possível localização de continuação da trilha. Dessa vez, desligam as lanternas para que não chamem atenção contando com a sorte de não encontrarem nenhum objeto pelo caminho que possam tropeçar durante a correria.

⌚️ Minutos depois dentro da floresta...

— Estamos há minutos andando nessa floresta e parece que não estamos chegando a lugar nenhum. Allison, se a gente se perder eu vou passar a eternidade da minha vida te culpando por isso — Lavínia fala.

— Eu também tô com medo. Até agora não achamos a saída. Também tenho medo se alguém pegar a gente — você diz.

— Calma, gente. Já falei que estamos em segurança. A gente não vai se perder. Só precisam confiar mais em mim — Allison solicita.

— Vocês já assistiram Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban ou Relíquias da morte parte um? Eu tô com uma sensação de como se a gente tivesse que nem o trio de ouro, andando pela floresta atrás de uma horcrux ou fugindo dos dementadores ou daquele professor lobisomem — Lavínia fala.

— Não sabia que gosta de Harry Potter — você diz.

— Aprendi a gostar durante os dias que eu fiquei de folga em casa. Assistia uns três filmes por dia.

— São ótimos mesmo.

— Bom, acho que agora já podem parar de reclamar porque a gente tá andando bastante. Olhem a frente de vocês — Allison diz apontando para a brecha das últimas árvores.

Olhando para a frente vocês notam que a trilha de trem está de volta ao chão, na qual segue rumo a um buraco ou portal negro. Não há nenhuma luz ou magia proveniente dele, o que lhes deixam com certa curiosidade em saber o destino. Somado à isso, mais acima, veem novamente dois helicópteros decolando de uma posição voltando pelo mesmo trajeto que fizeram. Apesar do medo, vocês apenas observam toda a movimentação e o silêncio é interrompido quando Lavínia faz um pedido...

— Bom, agora que eles já foram, que tal a gente entrar lá dentro daquele negócio e ver o que tem dentro?

— Entrar ali? Você ficou louca?! — você exclama.

— Nós temos lanternas. É tudo o que a gente precisa pra entrar num lugar escuro como esse, não é?

— Não podemos entrar ali agora. Mesmo com as nossas luzes é perigoso — Allison avisa.

— Que horas são? — você pergunta.

— Um pouco mais de oito horas — Lavínia responde — Tem mais algum lugar pra ir essa hora?

— Eu acho melhor a gente voltar.

— Concordo com S/N — Allison fala — Já chegamos até aqui e vimos muita coisa, mas agora o mais inteligente a se fazer é voltarmos pra casa.

— Olha, eu não aceito em nenhuma hipótese que chamem ou insinuem que eu sou burra, tá? O que foi? Não acredito que vocês estão com medo agora. Allison era quem mais queria descobrir tudo e desvendar os mistérios, depois de mim, é, claro, e agora tá com essa conversa?

— Lavínia, pare e pense um pouco. A gente sabe o que estamos falando. Se nos pegarem fuçando o que é privado outra vez pode ser que não saiamos dessa tão fácil como aconteceu comigo e Allison da outra vez. Os helicópteros estavam bem perto, a probabilidade de chegar alguém pode ser maior ainda.

— Que raio de palavras é "saiamos"? Que coisa mais estranha! — ela reclama — Tá, tá bom. A gente volta. Mas eu fiquei mais curiosa pra saber o que tem ali dentro. Parece tão proibido e misterioso.

— É, deve ser. Mas agora a gente precisa voltar. E agora.

E então, vocês põem-se a correr o mais rápido possível floresta adentro. Por impressão ou medo, parece que o clima na floresta acabara de ficar denso e frio lhe causando calafrios em meio ao movimento. Em sua mente, a preocupação e a incerteza se irão conseguir chegar a tempo sem serem pegxs toma conta. Por mais que tenha sido tudo tranquilo até o momento, algo diz que estão prestes a caírem numa armadilha. Está tudo fácil demais.