A manhã de sábado veio muito rápido e com ela os primeiros raios de sol adentravam o quarto. Rachel sentiu os indícios da consciência chegando, mas não abriu os olhos de imediato, optando por apertá-los por conta da cabeça pesada e do corpo mole. Seu primeiro som foi um longo gemido, em seguida arriscou abrir os olhos, só para se arrepender.

Quem havia esquecido as malditas cortinas abertas?!

Lentamente, a jovem garota se sentou na cama, olhando ao redor do quarto um pouco desorientada, os cabelos apontando para todos os lados e o pijama torto. Rachel franziu as sobrancelhas em completa confusão. O que diabos havia acontecido?

Seus olhos então caíram para as duas meninas dormindo nos colchões infláveis. Dormindo era um elogio, elas pareciam mortas. Ainda confusa, Rachel mais uma vez inspecionou o quarto e viu as garrafas de água junto à cartela de analgésicos, o que ela rapidamente agradeceu e tomou. Além da cabeça pesada e da dorzinha constante, sua boca tinha um gosto ruim e a claridade estava incomodando.

Aos poucos a realidade a atingiu, se lembrava vagamente da noite anterior. Se lembrava de chegar na festa, de aceitar um copo cheio e de Santana segurando uma lixeira enquanto ela vomitava. Ainda assim eram lembranças vagas e isso a fez se desesperar.

— O que foi que eu fiz? – perguntou, temerosa.

O frescor da água foi bem vindo em sua boca seca. Após longos goles, Rachel encarou mais uma vez suas amigas e suspirou pesadamente, ela não sabia em que estado elas acordariam – se seria tão mal quanto ela -, e isso preocupava a menina, elas tinham que enfrentar os adultos da casa em algum momento.

Seu corpo cansado gritava por um banho, e mesmo que a ressaca a fizesse querer ficar o dia inteiro na cama, ela precisava levantar. Esticando a mão para alcançar o celular no criado-mudo, Rachel apertou os olhos por causa do brilho da tela, o qual ela diminuiu rapidamente, e viu que eram dez da manhã. Gemendo outra vez, a menina jogou seu edredom para o lado e virou para sair da cama.

— Argh! No que eu fui me meter!

Rachel tropeçou em um sapato em seu caminho até a porta, xingando quando isso fez sua cabeça doer mais. Tina acordou com o barulho, levantando a cabeça do travesseiro, o rosto completamente confuso.

— Rachel?

— Sim. – a menina grunhiu – Desculpa te acordar. Você sabe o que aconteceu noite passada?

Tina encarou a amiga por alguns segundos, tentando acordar completamente antes de se sentar no colchão e esfregar os olhos.

— Um desastre, Rach. Santana nos achou na festa e ficou furiosa, ela praticamente te rebocou até em casa.

— Merda. – Rachel gemeu – E... Qual era o meu estado? – perguntou, agora hesitante.

— Quer a verdade? – Tina fez uma careta. Rachel assentiu – Deplorável. Você fez um escândalo por causa de Finn Hudson e ainda foi arrastada pra fora da festa, pela Santana.

— Na frente de toda a escola?!

Tina apenas assentiu, condolente pela amiga.

Ótimo, era tudo que ela precisava! Agora toda a escola pensava que ela era um bebê e, pior ainda, que ela era louca e estava dando em cima do quarterback. Simplesmente perfeito.

— O que você pretende fazer? – Tina perguntou, depois de alguns minutos de silêncio.

— Não sei. – Rachel suspirou esfregando o rosto – Merda, que dor infernal.

— O que vai dizer aos seus pais?

Rachel encarou a amiga, confusa.

— O que eu vou dizer à eles? Nada, ue. Eles não vão ficar sabendo disso, óbvio que não. Eu tenho amor à vida.

— Ah, é? E o que você vai dizer sobre isso? – Tina apontou.

— Isso o que? – Rachel olhou pra si mesma.

— O seu estado. Você está uma zona, Rachel.

Rachel abriu a porta de seu closet onde havia um espelho de corpo inteiro e gemeu internamente com seu reflexo. Seu cabelo estava um ninho de rato, sua maquiagem borrada e seu semblante claramente de cansaço. Ela definitivamente tinha o aspecto pós festa.

— Eu preciso dar um jeito nisso antes de aparecer lá embaixo. Preciso de um banho.

— Vai lá, eu serei a próxima. – Tina declarou e se deitou novamente, fechando os olhos.

— Espera um pouco... Como você não está no mesmo estado que eu? – então ela encarou a menina ressonando ao lado de Tina, completamente morta para o mundo – Como ela consegue dormir, por Deus?!

— Eu não bebi tanto, Rach... Ou então você é fraca pra bebida. E Mercedes pode dormir através de uma bomba explodindo.

Rachel fez uma careta. Ela odiava o fato de estar se sentindo daquele jeito, sendo que ela não havia bebido tanto... Ou pelo o que ela se lembrava, não havia sido tanto. Maldita inexperiência. Sua irmã fazia parecer tão simples e divertido.

Ela decidiu não ficar mais pensando nisso e apenas encarar as consequências de sua aventura. Por fim Rachel abriu a porta de seu quarto e espiou o corredor, suspirando aliviada quando não viu ninguém. A porta do quarto de Quinn estava fechada, assim como o de Sam. O banheiro estava vazio, e foi lá o seu destino, antes que alguém a visse naquele estado.

O banho foi muito bem vindo, Rachel lavou seu cabelo pra tirar todo aquele nó e... Aquilo era vômito seco? Teve vontade de chorar, ela não conseguia se lembrar de parte da festa e isso a assustava muito. E ainda suspeitava que Santana estivesse furiosa. Meu Deus, ela havia feito um escândalo! Na frente de Finn! Rachel queria que um buraco no chão a engolisse para sempre.

Depois de se sentir um pouco melhor, Rachel saiu do banho e voltou para seu quarto enrolada numa toalha já que havia se esquecido de pegar roupas limpas. Tina estava mexendo em seu celular e Mercedes ainda roncava em seu colchão.

— Sua vez. – Rachel anunciou, entrando em seu closet.

...

— Olá, família. – uma voz anunciou entrando na cozinha pela porta dos fundos, carregando além de sua bolsa de roupas uma embalagem de padaria – Trouxe rosquinhas!

— Quinn! – Blaine levantou da cadeira que ocupava na mesa e correu para abraçar a irmã – Estava com saudade!

— De mim ou das rosquinhas?

— Dos dois!

Quinn sorriu e apertou o irmão antes de soltá-lo e caminhar até Shelby, que estava no fogão cozinhando ovos.

— Hey, Shel. – a cumprimentou com um beijo na bochecha.

— Oi, querida. Fez boa viagem?

— Foi tudo bem. – a menina bocejou e colocou suas coisas no balcão – Humm senti saudade da sua comida.

— Vá lavar as mãos e sente-se. Estou terminando de preparar o café da manhã.

— Traga as rosquinhas! – Blaine reivindicou de seu lugar na mesa.

Quinn lavou as mãos e serviu-se de uma xícara de café antes de caminhar até o irmão, que estava acompanhado.

— E quem é esse rapaz bonito, hein?

Kurt sentiu o rosto esquentar e deu um sorriso tímido.

— Sou o Kurt.

— Ele é da minha turma. – Blaine informou, abrindo a caixa de um de seus doces favoritos.

— Prazer em conhecê-lo, Kurt. Pega uma rosquinha, antes que essa draguinha coma tudo.

— Blaine, lembre-se dos seus irmãos, filho. – Shelby disse levando os ovos e as panquecas que havia feito para a mesa.

Após terminarem de comer, Shelby liberou os meninos para assistirem TV até que o pai de Kurt viesse buscá-lo. Shelby e Quinn continuaram entrosadas na conversa até ouvirem passos nas escadas.

Depois que Rachel e Tina estavam de banho tomado e parecendo menos deploráveis, elas desistiram de tentar acordar Mercedes e resolveram enfrentar o resto da casa. Rachel só precisava aparecer para seus pais não desconfiarem e então inventar alguma desculpa para voltar para o andar de cima.

— Oh, apareceram as margaridas. – Shelby cantarolou para as meninas adentrando a cozinha.

— Bom dia. – elas disseram em uníssono.

— Parece que houve uma baita festa do pijama por aqui. – Quinn brincou e cutucou a irmã quando ela passou pela mesa.

— Bom dia, meninas. Pois é, Rachel convidou Tina e Mercedes para dormirem aqui, então Blaine se achou no direito de fazer o mesmo. – Shelby explicou e se voltou para as meninas - Achei que fossem dormir o dia inteiro. Onde está Mercedes?

— Bom dia, Sra. Schuester. Mercedes ainda não acordou. – Tina respondeu, observando a amiga abrir a geladeira e fechar logo em seguida com uma careta.

— Tina, querida, sem formalidades. Pode me chamar de Shelby. – a mulher sorriu para a amiga de sua filha e então se virou para Rachel – Essa é Quinn. Filha mais velha do Will.

— Prazer em conhecê-la. Tina, não é?

— Isso. E o prazer é todo meu. – disse educada.

— Rach, dormiu bem? – Shelby perguntou à filha, vendo seu semblante apático.

— Sim. – respondeu monotonamente, se jogando em uma cadeira e abaixando a cabeça na mesa.

— Pois não parece. – Shelby rolou os olhos e se levantou – O que vocês vão querer de café da manhã, meninas? Quinn trouxe rosquinhas.

— Café. – Rachel respondeu imediatamente, sem levantar a cabeça.

— Mas você não bebe café. – a mãe estranhou – Tá tudo bem?

— Er, Sra. Schu- quero dizer, Shelby, não precisa se preocupar, Rachel e eu podemos fazer nosso próprio café da manhã. – Tina interveio logo que percebeu que sua amiga estava fazendo tudo menos disfarçar seu estado.

— Hmm, okay. – Shelby franziu a testa mas deu de ombros – Vou dar uma olhada nos meninos.

— Bom, e eu vou levar minhas coisas para cima e descansar. – Quinn disse se levantando - Tina, mais uma vez um prazer conhecê-la. Diga à Mercedes que eu disse oi. – beijou o topo da cabeça de Rachel e saiu da cozinha.

— Ei, Rachel! – Tina cutucou a amiga, que apenas resmungou – Dá pra parecer menos deplorável? Você não sabe nem disfarçar...

— Experimente sentir a britadeira que está agora dentro da minha cabeça. – grunhiu.

— São consequências, gafanhoto. – Tina se condoeu pela amiga e então foi até a geladeira, tirando o galão de leite de dentro. – Acha que consegue manter cereal dentro do estômago?

— Ugh, não.

— Mas você precisa comer, senão vai ser pior.

— Você é pior que minha mãe. – Rachel levantou a cabeça finalmente e estendeu a mão – Eu vou tentar.

Rapidamente as duas meninas prepararam para si duas tigelas de cereal com leite. Rachel mais remexia sua colher do que de fato comia, e Tina apenas revirava os olhos ao seu lado. Alguns minutos depois, Santana entrou na cozinha, claramente havia acabado de acordar, devido seu cabelo bagunçado e o rosto ainda amassado e irritadiço.

Rachel se remexeu em sua cadeira e continuou comendo como se não tivesse percebido sua irmã, e Tina apenas encarava a menina mais velha pelo canto de olho.

Santana passou reto pelas meninas até a geladeira e tirou uma garrafa de água de lá, a qual ela sorveu metade sem parar para respirar. Depois ela procurou pelo galão de leite até vê-lo em cima da mesa com as meninas. Ela fechou a geladeira e caminhou lá, pegando o leite, ainda sem encarar as duas garotas. Rachel resolveu que precisava acabar com aquela tensão pairando no ar.

— San.

Santana continuou ignorando a irmã enquanto tirava uma tigela do armário e enchia de cereal. Rachel suspirou e tentou novamente. Santana revirou os olhos e finalmente encarou sua irmã.

— O que é? – disse, ríspida.

— Ei, ei, o que é isso? – Shelby interveio quando entrou na cozinha outra vez e ouviu sua filha mais velha. – To vendo que todo mundo acordou do lado errado da cama. Precisa falar desse jeito?

Santana revirou os olhos de novo, o que a fez ganhar um olhar de Shelby, e bufou.

— Diga, Rachel. – sorriu ironicamente.

Rachel endureceu no lugar, o olhar de Santana, e agora também o de Shelby, sobre ela. Tina tinha praticamente o rosto enfiado em sua tigela, tentando desaparecer. Rachel abriu e fechou a boca várias vezes, mas nada saiu. Ela não podia falar nada com sua mãe bem ali, e Santana estava atirando farpas com os olhos em um aviso para ela pensar bem no que ia dizer.

— Eu, err... Deixa pra lá. – Rachel voltou para seu café da manhã e rezou para que não ficasse desconfortável. Não que tivesse funcionado, suas bochechas estavam rosadas.

Santana deu um suspiro de alívio sutil, pelo menos sua irmã ainda tinha prudência. Shelby balançou a cabeça em confusão, sua filha podia ser esquisita as vezes. Santana então deu de ombros e agarrou seu café da manhã, com a intenção de ir comer na sala, ou melhor, em seu quarto.

— Ei, onde pensa que vai? – a mãe tratou de interrompê-la.

— Hum, comer?!

— Na mesa. Você sabe disso. E eu acabei de limpar a sala.

— Meu quarto?

— Santana. – disse em tom de aviso.

— Aff, tá bom.

Santana praticamente se jogou ao lado de Tina na mesa, de frente pra Rachel, e encarou sua irmã por segundos antes de começar a comer. Shelby manteve um olhar atento nas meninas, enquanto lavava a louça do café da manhã dos que já tinham comido.

— San, desculpe. – Rachel sussurrou antes de enfiar uma colherada de cereal na boca.

Santana levantou a cabeça e devolveu o sussurro.

— Agora não! – disse entredentes.

— Mas-

— Rachel! Eu já disse, agora não. – Santana disse lançando um olhar rápido na direção de Shelby. Rachel suspirou.

Shelby ergueu uma sobrancelha e olhou para suas filhas, Rachel tinha um olhar culpado, envergonhado, e Santana engolia seu cereal com raiva, hora ou outra lançando farpas à Rachel. Tina parecia querer sumir.

Tinha alguma coisa muito errada acontecendo.

Will entrou naquele momento na cozinha carregando sacolas de papel da mercearia. Ele cumprimentou Shelby com um beijo e depositou as compras no balcão ilha. Em seguida desejou bom dia às três meninas, recebendo em resposta três ‘bom dias’ monótonos. Ele balançou a cabeça. Adolescentes.

— Quinn chegou. – Shelby disse ao marido.

— Eu vi o carro dela lá fora. E onde ela está?

— Subiu pro quarto. Você trouxe o papel higiênico? – Shelby questionou, verificando as sacolas.

— Sim, Shel. Tudo que estava na lista.

Rachel aproveitou aquele momento que seus pais estavam distraídos e resolveu tentar novamente. Ela só precisava saber que estava tudo bem com sua irmã.

— San, você vai me desculpar? Eu não quis-

— Mas que porra! – Santana explodiu, perdendo a paciência.

A cozinha caiu num silêncio perturbador. Tina sustentava sua colher cheia no ar, a caminho de sua boca. Rachel encarava sua irmã de olhos arregalados por causa do susto, o medo agora evidente em seu semblante. Will e Shelby estavam estupefatos, encarando Santana, e Santana tinha os olhos fechados, pensando na merda que ela tinha feito.

Shelby foi a primeira a reagir, trincando os dentes com um olhar duro na direção de sua filha mais velha. Todos as crianças na casa sabiam que seus pais não toleravam palavrões. Nem a mínima palavra feia, principalmente se dirigida à alguém.

— Santana Maria Berry!

Rachel tremeu no lugar, porque ela sabia que agora a coisa ficaria ainda pior para o seu lado. Santana abriu os olhos devagar, atirou um olhar irritado para Rachel e se levantou num rompante, saindo da cozinha e subindo as escadas correndo. Shelby largou a sacola na cozinha e caminhou a passos largos até a escada.

— Santana, volte aqui agora mesmo!

Santana ignorou o chamado, apenas subindo até seu quarto e batendo a porta. Shelby fechou os olhos, apertando a ponte de seu nariz enquanto contava até dez mentalmente para se acalmar.

— Mas o que foi que acabou de acontecer? – Will foi quem quebrou o silêncio na cozinha. Rachel estava mais branca que papel.

— Pergunto o mesmo. Rachel! – Shelby entrou naquele instante – Quer tratar de me explicar por que você e sua irmã estão agindo estranho?

— M-mãe eu, eu... Eu posso explicar. – Rachel ficou de pé, de repente franzindo a testa – Foi Santana quem xingou, e-eu não fiz nada.

Tina fechou os olhos e balançou a cabeça sutilmente. Sábia escolha de palavras, Rachel. Sábia escolha de palavras.

— Com Santana eu me resolvo depois, ela não vai escapar de uma conversa. Mas não pense que eu não percebi uma faísca entre vocês, e eu quero saber agora o motivo.

Sem saída, Rachel sentiu seu coração acelerar. Ela sabia que seus pais não toleravam mentiras, mas também sabia que se contasse a verdade ela estaria morta. Maldita hora que ela quis mostrar para todos que já era crescida.

— E-eu... Eu peguei hmm... uma blusa dela, e ela não gostou.

Tina queria bater a mão em sua própria testa.

Shelby ergueu uma sobrancelha, e Will escolheu não se meter dessa vez, em vez disso se encarregou de guardar as compras.

— É isso? Todo esse alvoroço e estresse... Por uma blusa?

Rachel assentiu com a cara mais lavada do mundo. Por dentro ela queria sorrir, seria uma grande atriz na Broadway um dia.

Shelby balançou a cabeça, a cada dia ela entendia menos os adolescentes, mesmo convivendo com quatro deles em casa e já tendo criado dois. Que Deus a ajudasse.

Rachel voltou a se sentar e encarou sua amiga por breves segundos, Tina encheu a boca e decidiu por não comentar nada, deixe para Rachel dizer a coisa certa na hora certa... ou não.

Santana queria esganar Rachel. Em seu quarto, ela socava seu travesseiro com raiva, por culpa do anão sua mãe estava furiosa, como se Rachel não tivesse feito merda o bastante. Santana havia feito de tudo pra sua mãe e Will não desconfiarem de nada da noite passada e Rachel decide estragar tudo. Ótimo! Simplesmente perfeito!

E agora em cima de toda a frustração ela estava com fome, já que seu café ficara na cozinha, e Santana com fome não é uma Santana que alguém queira ficar perto.

Sua irmã era oficialmente a pessoa mais sem noção do mundo.

...

O resto do dia passou sob o clima tenso entre Rachel e o resto da família. A impressão que a menina tinha era que alguém estava vigiando algum passo em falso dela. Tina e Mercedes haviam ido para casa logo após o fiasco do café da manhã, Santana mal saíra de seu quarto até Shelby subir e conversar com ela, onde a menina havia recebido uma lição de moral sobre boca suja e como aquilo era desrespeitoso, e agora a família se preparava para sair para jantar.

— Vamos no tailandês? – Shelby perguntou ao marido enquanto colocava seus anéis e relógio.

— Sim. As crianças adoram lá e evitamos uma discussão. – Will disse, calçando os sapatos.

A figura apressada de Blaine veio pelo corredor e bateu na porta de seus pais.

— Mãe, pai, vamos! A gente tá com fome!

Will balançou a cabeça e foi abrir a porta para seu caçula.

— Ei, calma lá, seu monstrinho. É só o que vocês têm, fome.

— Sanny está começando a irritar a todos. – o menininho caminhou até a cama e se sentou – Vocês sabem como ela fica.

— Ok, ok, estou pronta. Vamos. – Shelby apressou os dois até as escadas e encontrou o resto da família na sala de estar.

— Eu poderia comer essa tartaruga. – eles ouviram Santana falar.

— Que nojo! – Quinn torceu o nariz.

— Pobrezinha, San. – Brittany foi quem teve piedade do pobre bicho.

— Eles desceram! – Blaine anunciou aos irmão espalhados pela sala.

— Finalmente! – Santana declarou, ficando de pé - Onde estamos indo?

— Tailandês. – Shelby anunciou e alguns comemoraram. Santana deu de ombros, ela só queria comer.

— Ok, quem vai comigo? – Quinn perguntou, pegando as chaves de seu carro.

— Eu vou! – Rachel e Brittany declararam ao mesmo tempo, por razões diferentes. Brittany amava passar um tempo com sua irmã mais velha e Rachel queria estar em qualquer lugar longe de seus pais, uma viagem de carro até o restaurante incluso.

— Ok, tem espaço para quatro. – Quinn riu e caminhou para a porta sendo seguida pelas duas - Eu estou escolhendo a playlist, ouviu Rachel?

— Tanto faz.

Ok, aquilo foi motivo para espanto geral. Se tivesse a oportunidade de escolher qual música tocaria, então Rachel metia o dedo. Ela estava completamente desinteressada pelo o que Quinn dissera, e pouco se importava que alguém tivesse percebido, ela só queria não ter que ir com todos.

— Ok então. Santana, Sam e Blaine, pro carro. – Shelby chamou e todos saíram.

— Tchau, Yoshi. Tenha uma boa noite e se comporte. E principalmente, fique longe da Santana. – Sam disse à tartaruga e a colocou na caixa que era seu lar.

Minutos mais tarde toda a família se encontrava acomodada em uma mesa redonda no restaurante. Shelby gostava de manter esses momentos em família, o que tem sido raro com Noah e Quinn na faculdade. Mas claro que quando estavam todos juntos, era difícil passarem despercebidos devido ao tumulto que era em qualquer lugar que fossem. Conte quatro adolescentes juntos e você terá barulho suficiente.

Rachel e Santana ainda estavam sem se falar, a mais velha ainda super irritada e a mais nova com medo de que alguém descobrisse a verdade. As duas irmãs estavam sentadas distantes, mas isso não impedia os olhares furtivos de Rachel. Até Sam já havia lançado um olhar para a menina mais nova em um sinal para ela ser mais sutil. Se Shelby ou Will descobrissem, não seria só Santana e Rachel que estariam mortas.

O garçom foi até a mesa deles para recolher os pedidos.

Rachel sentiu o estômago embrulhar ao ler o cardápio. A ressaca ainda não havia passado completamente e sua cabeça ainda latejava. Fez uma careta enquanto escolhia uma opção de prato.

— Rach, você vai espantar qualquer um com essa cara. - Blaine implicou com a irmã.

Shelby, que estava sentada ao lado da filha, a encarou.

— Pensei que gostasse da comida daqui.

— Eu gosto. - Rachel disse e lançou um olhar ao irmão por chamar atenção para si - Só não estou me sentindo bem.

— O que você tem? - Will franziu a testa, encarando a menina. Ele tinha reparado ela meio quieta durante todo o sábado.

— Nada demais, só uma dor de cabeça. Não se preocupem.

— Deve ter sido as besteiras que vocês comeram ontem. - Shelby comentou olhando seu próprio cardápio. Todos os quatro adolescentes na mesa se entreolharam.

— Sim, claro. Foi exatamente isso. - Rachel respondeu.

Ela estava suando nesse ponto. Rachel odiava mentir para seus pais, mas na linha de tiro de seus três irmãos, tudo que ela podia fazer era engolir o nó na garganta e tentar agir normalmente. Seu celular vibrou ao lado de seu prato e ela abriu a mensagem que havia chegado.

Não dê mais sinais que o suficiente por hoje, anão!

Rachel franziu a testa com a mensagem de Santana, ela apenas levantou a cabeça e olhou para a irmã, que mexia no celular distraidamente.

— Sinais de quê, Rachel?

Rachel congelou no lugar quando a voz de sua mãe soou.

Santana quis morrer. Não, ela queria matar Rachel por deixar o celular a vista da mãe.

Shelby encarava sua filha com uma sobrancelha erguida, esperando.

Rachel estava oficialmente morta.