Os quatro cavaleiros de Gwyn

Capítulo 1: Os cavaleiros e uma dura missão


Quietude. Estava tudo tão quieto como de costume. Tanto silêncio que sequer parecia que haviam vivos alí de fato. Sentado, com sua lança na mão e apoiada no ombro, apenas escutava o som que não se podia ouvir, apenas pensando no barulho. Ele olhava pelo enorme vitral do salão, vendo a luz alaranjada do sol entrar e refletir pela sua armadura dourada de leão. Era algo tão grandioso e até mesmo difícil de se acreditar. Ver a luz brilhante do sol, sem todo aquele cinza sem vida e dragões voando pelo céu. Era tranquilizante e ao mesmo tempo nostálgico. Sem mais perigos para lutar, sentia um pouco de falta das caçadas:

– Esse silêncio todo está me deixando louco!

Ah, como se fosse bom demais pra ser verdade. O gigante saguão mármore ganhava um grito que ecoava por ele inteiro. Um pequeno suspiro demonstrava irritação por sua meditação ter sido interrompida:

– Cale-se, executor.

Ainda estava sentado, com a lança em ombros. Não tinhha a menor intenção em se levantar por motivo algum. O outro, um homem obeso e forte, de pele dourada como o seu enorme martelo. Ele se enfurecia e queria gritar mais:

– Ornstein, como você atura um tédio como esse?! E que história é esse de me mandar ficar calado?!

– Sou teu capitão e como tal, exijo que se cale. Vossa alteza Gwynevere não merece perder tao belo silêncio com tua voz horrenda, Smough.

Ornstein tinha uma língua afiada, apesar de sempre ser quieto. Smough apenas se enfurecia mais. O homem em si era movido por fúria com tudo. Para matar, para falar, para comer. Seu combustível era a raiva e Ornstein o enchia rápido:

– COMO É?! “Sou teu capitão”?! EU posso ser um capitão também! – Ele levantava o martelo com as duas mãos.

– Isso depende de vossa realeza Gwyn. Se a mim coubesse a decisão, o exilaria de Anor Londo enquanto não aprendesse a deixar de ser um animal selvagem.

– Eu posso matar todos os sentinelas aqui! Como que aquela mulher e até mesmo o cego conseguem ser capitães e eu não?!

– Ser um capitão não significa matar tudo que vê. É ter disciplina suficiente para dar a vida por vossa realeza, coisas que Ciaran, Gough e Artorias possuem. Tu, Smough, não sabes metade do suficiente para um capitão ser.

Smough simplesmente não gostava de ouvir essas coisas, mas, ele sabia como mexer com a cabeça de Ornstein também:

– Não te suporto!

– Idem. – Respondeu Ornstein, tentando descansar.

– Você fala tão alto de “vossa realeza Gwyn”, mas onde ele está agora? Muito preocupado em deixar aquele fogo aceso?

Ornstein ficava bem mais sério e seu tom de voz mudava:

– Perante minha presença, dobre tua língua ou eu a darei para os famintos da Cidade Podre.

– Já faz tanto tempo que ele não vem, não? E deixou tudo nas mãos daquele moleque mimado que se tranca na torre. É tão patético que prefere varinhas á armas de verdade e vestidos á armaduras. – Continuava a provocar.

Ornstein se levantou e empunhou a lança:

– Estás brincando com trovões do céu...!

– E eu aposto que só faz isso pra querer uma hora na cama de Gwynevere. Ela não é mulher para você.

– É meu último aviso! – Ele ficava em posição de batalha com a lança.

– Ei, relaxe Ornstein. Sabia que Seath conseguiu isso? Isso pode ser inveja, sabe. Mas não se preocupe. Me falaram que a filha dos dois é uma graça. Apenas espere um tempo e você vai poder fazer o que quiser. Ou não. Prenderam a pobre coitada naquele quadro, hahahaha!!

Aquilo foi a gota d’água. Ornstein deu um salto e voou pelo enorme piso. Cruzou o enorme salão em um instante. Mesmo com uma armadura pesada, era rápido como relâmpago. Ornstein em si era conhecido como o “Cavaleiro do Relâmpago” por poucos, já que seu maior título era o de “Matador de Dragões”. Ele estava prestes a desferir um golpe, agora perto de Smough. Antes disso, ele ouviu uma voz chamando:

– Ornstein!

Ele parou. A sua lança estava tocando o gordo pescoço de Smough, com um fio de sangue correndo pela ponta da lâmina e pingando no chão. Ele ficou em desgosto com que um sangue tão sujo e tão fedorento, mesmo com poucas gotas sujasse o salão. Ornstein virou para a escadaria de entrada e viu a figura de armadura prateada e tecido azul escuro, surrado, como uma espécie de pequena capa. O capacete encobria seus olhos com sombra. Se não fosse por ele, Smough estaria morto e o salão imundo. Recuou o ataque e foi andando em direção ao cavaleiro, que andava com seu lobo, um belo animal de pelugem cinza e olhos amarelos:

– Ah, Artorias, que bom que aparecestes. Estava precisando de alguém para me tranquilizar.

O cavaleiro Artorias era bastante tranquilo e dos cavaleiros de Gwyn, o mais comprometido com seus votos. Era também o mais bondoso de todos. O lobo com que andava era a prova disso. Ele o encontrou ferido, ainda filhote e desde então decidiu tomar conta dele. Para um dos capitães...não, para qualquer outra pessoa de Lordran, ter um animal de estimação e demonstrar afeto e carinho por ele era algo impossível em um mundo de tanta desordem.

Ornstein se aproximou, ignorando tudo que aconteceu entre ele e Smough no meio tempo, que também quis deixar de lado. Não queria arriscar quebrar a fria calma do capitão, que agora estava perante Artorias. Ele estendeu a mão e acariciou a cabeça do lobo. Ele se sentou e abaixou a cabeça, deixando com que passasse a mão pela sua cabeça e como um sinal de reverência. Artorias o ensinou até mesmo a se curvar perante superiores:

– Então, tens alguma notícia?

Artorias se ajoelhava e contava tudo que sabia:

– A situação é severa, capitão. Os súditos morrem enquanto a fome e a praga negra se espalham pela terra. Estão perdendo as esperanças e deixando-as corromper pela loucura.

Ornstein suspirou e falou baixo:

– Temos o fogo, vencemos os perpétuos dragões no entanto não conseguimos conter uma praga das sombras...lamentável.

Ornstein se martirizava, mas Artorias também sentia sua dor, até mais que o próprio matador de dragões. Se sentia fraco por nada fazer e deixar o problema se alastrar Ele abaixava a cabeça e voltava a contar:

– Mas...mesmo que os ventos das trevas nos tragam desgraças, pude encontrar um pequeno fio de luz que poderá levar-nos á vitória.

– Continue. – Ornstein pedia.

– Enquanto aqui estamos, as duas serpentes estão vendo o que pode ter ocasionado tal catástrofe. Kaathe avisou-me, dizendo que a causa pode estar em Oolacile, a cidade da magia.

Ornstein pensou um pouco e pediu por mais detalhes. Artorias voltou a explicar com as melhores palavras que encontrava:

– A causa do problema pode ter sido a criatura da qual o povo de lá retirava os poderes para suas façanhas...o Pigmeu Primordial. Ele é a fonte de todo o castigo na terra de Oolacile.

Ornstein se virava de costas e falava:

– Então o passado sempre está fadado a se repetir. Mesmo toda Lordran sabendo do que a Bruxa de Izalith fez, conseguem querer fazer igual e desencadeando uma nova catástrofe. Agora já não mais basta termos que cuidar das crias do caos, devemos cuidar para que Oolacile não seja engolida pelo Abísmo.

“O Abísmo”. Era um lugar em que apenas de seu nome ser citado, os calafrios desciam pela espinha de qualquer um que ouvisse. Era irônico e quase contraditório pensar que os humanos surgiram de lá, mas não se atreveriam a colocar os pés mais. Ornstein via como o desafio era grande e então disse:

– O Pigmeu Primordial...”Manus”, se recordo-me corretamente, é a causa de tudo isso. Se é ele quem corrompe a vida, se a dele chegar ao fim, a praga cessará.

– Que lorde Gwyn ouça-lhe. – Artorias levantava a cabeça e ficava de pé.

Smough não estava entendendo nada, tampouco se comprometia em fazê-lo. Era assunto dos cavaleiros de Gwyn, e ele não deveria se intrometer. Simplesmente sentou, encostado em um dos grandes pilares do salão. Ornstein pensava bastante. Ele era o líder dos cavaleiros de Gwyn, então sua liderança era de extrema importância. Artorias via como o assunto era preocupante e dizia:

– Capitão...tenho algo a pedir.

– Posso ser teu líder, mas não sou teu senhor e sabes disso. Deixa de formalidades e peça. Tens meus ouvidos.

– Peço que deixe isso sob minha responsabilidade. Irei acabar com Manus e a praga de Oolacile com minha própria espada. – Artorias colocava a mão no cabo da espada negra e azulada, presa nas costas.

Ornstein virou e rapidamente respondeu, sem segundas dúvidas:

– Lhe concedo a permissão, porém, deixá-lo ir sozinho seria uma calamidade. Se fores, irei também. – Ele empunhava a lança, já preparado para partir.

– Senhor, não irei sozinho. Sif me acompanhará.

– Colocas tua vida nas patas de um cão?

– Não subestime-o. Pode ser um lobo, porém luta mais que vários soldados juntos.

Artorias acariciava a cabeça de Sif, que permanecia imóvel, olhando para Ornstein. Aqueles olhos eram uma maneira de provar o quão forte era. Ornstein apreciava a vista. O cão realmente tinha a cara do dono. Artorias podia ser bondoso, mas era um monstro de fria calma com sua espada e escudo em mãos. A sua honra estava acima de tudo, mas a honra dos cavaleiros de Gwyn se construiu com sangue em suas mãos. Ornstein sabia que Sif também não teria receio algum em sujar suas presas e garras. Ele voltava a falar:

– Não duvido da força de teu lobo, Artorias, mas é do Abísmo que falamos. O perigo daquele lugar pode ser comparável à força dos dragões. É muito para apenas um guerreiro lutarem de frente. Além do mais, Kalameet voa por aquelas terras. Se por acaso o enfureceres, não terás chance sozinho. Sou o mais experiente em caçadas a dragões, por isso é meu dever ir.

Artorias havia esquecido o detalhe sobre Kalameet. Era o dragão mais feroz daquela era em que viviam. Não duvidavam ele ser mais forte que o próprio Seath. A diferença é que Kalameet era forte e Seath era apenas esperto. Felizmente, o dragão não tinha intenções de guerra, mas caso alguém cruzasse seu caminho, cuspiria chamas até não sobrar cinzas e Kalameet não era hospitaleiro quanto a seu território. Independente disso, ele tentou convencer Ornstein novamente:

– Sendo respeitoso, és mais requerido aqui do que conosco. Os erros da bruxa ainda ameaçam os muros de Anor Londo. Nos, cavaleiros de Gwyn, somos a única chance de conter estes males. Se vieres para Oolacile, temo que os problemas possam ser ainda mais críticos. És nosso líder e deves colocar não apenas tua vida, mas a de todos presentes neste império de vossa majestade, lorde Gwyn.

– Hmm...me agoniza aceitar tamanha verdade. Certo, ficarei. No entanto, és um cavaleiro precioso demais para que se arrisque apenas com o cão. Devo mandar mais alguém contigo.

Enquanto a conversa acontecia, Smough escutava. Ao ouvir que Artorias precisaria de algum companheiro, viu lá a chance de finalmente se livrar de todo o tédio:

– Ei, eu posso ir com ele! Se voltarmos vitoriosos, eu posso até mesmo me tornar um cavaleiro de Gwyn como vocês! – Já se animava, pegando o enorme martelo em mãos.

Artorias não se importaria muito, já que seu objetivo era ir sozinho desde o início. Sabia que Smough era forte, mas trabalho em equipe não era o mais forte com ele. Força bruta não adiantaria muita coisa contra inimigos como Kalameet:

– Seria de minha preferência que Artorias estivesse sendo cobaia nas mãos de Seath do que nas tuas.

– Me poupe disso! É a minha chance de poder mostrar que sou forte pra ficar nos ranques de vocês! – Se irritava um pouco.

– Se for para mostrar tua capacidade, será comigo e perante mim. Artorias não tem função alguma de lhe aturar pelos teus motivos egoístas.

Smough iria discutir mais, mas antes que pudesse levantar a voz, a lança nas mãos de Ornstein começou a ser rodeada por pequenos trovões. Smough sabia muito bem que não era bom sinal e desistiu. Se demorasse mais, Sif estaria rosnando para ele também. Orsntein continuou a conversa:

– Bem, suponho que assim seja. Se não queres a mim, dar-lhe-ei a chance de escolher quem irá contigo.

Artorias, rapidamente respondeu:

– Então, gostaria que Gough me acompanhasse. Depois de ti, ele é o mais apto para ajudar, tanto com Kalameet quanto com o Abismo.

– Muito bem. Procure-o por Anor Londo. Ele deve estar conversando com o ferreiro, como sempre. Diga a ele que por ordem minha ele irá acompanhá-lo.

Artorias se curvava em respeito:

– Certamente...e também...

– Hmm? – Ornstein queria saber.

– Peço que não conte a Ciaran que partirei.

Ornstein pensava mais ainda. Era um pouco de desrespeito com seus parceiros em não avisar que irá partir em uma missão de tamanha importância. Ele sabia porque Artorias não queria que Ciaran soubesse. Ambos eram amigos íntimos. Se ajudariam por qualquer coisa se fosse necessário. Nas guerras, ambos formavam a dupla mais fabulosa que o mundo poderia ver. Ele com sua espada e ela com seu par de adagas eram como ambos protegendo as retaguardas um do outro. Talvez sua amizade que resultasse nisso. Provavelmente muito mais que amizade para tanta sincronia. Mas, aí era um patamar do qual Ornstein não tinha experiencia ou interesse profundo:

– ...Muito bem. Tens minha palavra.

Quieto, Artorias agradecia com sua reverência. Virava-se e andava:

– Venha, Sif.

O lobo andava aos mesmos passos do dono. Ornstein voltou a se sentar em algum lugar para voltar a meditar. Depois da conversa, sua mente entrava mais em paz, ouvindo o silêncio muito mais claramente. Mesmo assim sua preocupação flutuava sobre si:

– *Que lorde Gywn esteja conosco...*

Artorias andou pelos caminhos abertos de Anor Londo. O pôr-do-sol era muito mais bonito vindo de fora. Um por do sol que nunca acabava. Uma terra claramente abençoada pela luz. Logo ao lado, por um portão, estava o lugar de onde o ferreiro e Gough ficavam. Ao chegar lá, ambos estavam em silêncio. Artorias já havia achado estranho, já que eram gigantes eles costumavam ter vozes estrondosas. De um lado, o gigante moldando armas em sua pequenina bigorna e com muita precisão cirúrgica nos movimentos. Gough, do outro lado e rodeado de pequenas farpas, pegava um pedaço de madeira e modelava algo nele com uma adaga. Artorias, que gostava de conversar com ele, falou:

– Vejo que pegaste gosto por este habito!

– Ah, podes dizer que sim. Irônico como eu mesmo modelei meu próprio arco assim na juventude e apenas muito tempo depois consegui descobrir e desfrutar deste prazer.

“Gough Olhos-de-Falcão”. O mais velho dos cavaleiros de Gwyn e por consequência, o mais sábio. Ele nunca se cansava de usar aquela roupa erudita de couro e peles. Ainda que fosse assim, ele era também o mais bem humorado do grupo. Sua idade veio com a vontade de sorrir mais enquanto ainda tivesse vida. Poderia também ser considerado o mais habilidoso dos cavaleiros, mesmo não sendo o mais forte. Velho, gigante e principalmente cego, surpreendia como ele conseguia acertar alvos á quase 1 quilometro de distância com suas flechas do tamanho de uma pessoa, foi daí que seu título veio:

– O que desejas, amigo? Lhe conheço muito bem para saber que não viestes aqui apenas para conversar. – Ele falava, enquanto entalhava alguma figura bonita na madeira.

– Tua intuição continua precisa como sempre. Vim para avisar-lhe que devemos partir para Oolacile o quanto antes. Há uma enorme ameaça pairando por lá e coube a nós a responsabilidade de encerrá-la.

Gough sabia muito bem do que se tratava:

– Então o Pigmeu Primordial perdeu o controle...era apenas uma questão de tempo até que isto viesse á tona. Suponho que Ornstein convocou-nos para isto.

– Correto. Estás preocupado?

– Tratando-se do Abismo, não há como abonar preocupações. Mas, devo agradecer a Ornstein. Faz tempo que estes velhos ossos não sentem um pouco de ação, hahahaha! – Gough se animava.

– Bem, se ação queres, garanto-lhe que ação terás! Devemos partir o quanto antes. – Artorias gostava daquela animação.

Gough apenas disse:

– Vá para a saída de Anor Londo. Espere-me por lá que irei em breve. Meu parceiro fará algumas flechas para mim e irei preparar algumas coisas.

– Como quiser.

Artorias então prosseguia para a saída. Apesar de ser um portão simples, dava para ir a Oolacile sem muitos problemas. E Artorias esperou por lá. Ele viu que Gough estava demorando e enquanto isso, decidiu aquecer para as lutas. Algumas brandidas com a espada, seguidas de saltos quase impossíveis de serem dados. Ele queria que Sif repetisse tudo, já que ambos lutavam da mesma maneira. Sif também tinha uma réplica da espada de Artorias e a usava igual o dono, mas com sua boca. Se Artorias fosse um lobo, seria Sif e vice-versa.

Quando Gough chegou, Artorias se aliviou um pouco:

– Estava na hora. Demoraste mais do que prometes rapidez.

Gough estava com seu elmo, que cobria a cabeça inteira. Ele disse, com a voz abafada pelo elmo:

– Há um motivo para isto.

No que ele disse, Artorias não gostou do que viu. Ciaran estava logo atras de Gough. Estava com seu vestuário de combate. Uma fina armadura negra, coberta por um manto azul escuro que percorria serpenteando todo o seu corpo. Estava também com seu capacete e máscara branca. Artorias viu isso e disse:

– Foi você quem a avisou disso?

– Peço perdão. Ela me perguntou onde você estava e fui incapaz de mentir.

Ciaran se aproximava lentamente. Ela ficava perante Artorias e fazia carinho em Sif, que ficava mais feliz, a ponto de abanar o rabo. Isso acontecia apenas com Artorias e Ciaran. Ela falava, com um tom de voz preocupado:

– Então vocês vão para Oolacile...

Artorias ficava em silêncio por um tempo, até que ele pedia:

– Gough, gostaria que me deixasse um instante a sós.

O amigo entendeu e prosseguiu pelo portão que ele abriu. Artorias queria mais privacidade:

– Vá com ele, Sif. Eu os alcançarei logo

O lobo entendeu e partiu junto. Artorias e Ciaran estavam finalmente a sós. Apenas eles, o silêncio e o brilho do sol:

– Artorias... – Ciaran falava baixo.

Ela era a mais nova do grupo dos quatro cavaleiros. Mesmo sendo a mais jovem, não ficava atrás de seus companheiros. Mas, por conta disso, era também a mais emotiva do grupo. Apesar de nunca demonstrar claramente o que sente e ocultar isso atrás de uma mascara, apenas com Artorias que ela conseguia de fato abrir seu coração e mostrar quem realmente era. Artorias não queria ofendê-la de jeito nenhum:

– É assim que deve ser. Não tente impedir-me.

Ela respondia, forte e focada como era, mas com um fio de incerteza em sua voz:

– Não vim lhe impedir, mas...se for assim, eu te imploro para me deixar ir com vocês.

Artorias foi duro e frio:

– Não.

– Mas por que não?

– Porque é perigoso demais para você ir.

– Eu sou forte e você sabe disso. Eu posso cuidar disso contigo!

– Ciaran, entenda que agora os problemas são outros. É Manus quem enfrentaremos e na pior das hipóteses, Kalameet também.

– Eu consigo se estiver junto a você. Derrotamos centenas de inimigos e poderemos derrotar mais se ficarmos unidos.

– Não.

Ela começava a se irritar:

– Por Gwyn, Artorias! Deixe de teimosia! Se eu, você, Sif e Gough formos todos juntos, poderemos vencer qualquer coisa!

Agora ele aos poucos perdia o frio na cabeça:

– Não, deixai você de teimosia! Tuas atitudes podem acabar com tua vida no tempo de uma flecha. Pensai um pouco! Se vieres, apenas Ornstein permanecerá em Anor Londo e caso algo aconteça nesse meio tempo, os demônios pode se espalhar e ele não será capaz de defender as paredes sozinho!

Artorias tinha um argumento e ela concordava com aquilo. Parecia que nada iria parar ele de ir e não levá-la. Ela se entristecia um pouco. Mais calmo, ele disse:

– Faço isso para proteger-te. Apenas te quero o bem.

– Sim...eu sei disso. Se assim for, ficarei.

Ele ficava aliviado por ouvir isso. Sem cerimônia alguma, ele partia. Antes que pudesse atravessar o portão, Ciaran falava:

– Artorias...me prometa que irá voltar com vida.

O cavaleiro parava. As garantias de vida em missões como essa eram nenhuma. Ele suspirava e simplesmente respondia:

– Um cavaleiro de Gwyn não promete nada além de dar a vida para vossa majestade. Você sabe muito bem disso. Mas, prometo-lhe que não morrerei e sairei vitorioso. Quem está prometendo isso não é um cavaleiro de Gwyn. Sou simplesmente eu, Artorias.

Ela ficava muito feliz ao ouvir essas palavras. Uma calma lhe chegava, mas ainda assim ela tinha receios:

– Artorias, eu queria poder...

– Ciaran!

Ele foi forte na resposta e apenas falou:

– Não fazei disso mais difícil do que é.

Ela se calou. Queria poder fazer com que alguns momentos de discussão pudessem durar para sempre. Ver Artorias sair por aquele portão parecia ser a visão mais desesperadora do mundo para ela naquele instante.

Gough e Sif estavam esperando do lado de fora. Artorias veio e se desculpou:

– Peço perdão pela minha demora. Partiremos imediatamente.

– Artorias, sei que tua escolha foi a correta, mas não pensas que poderia ter sido menos brusco? – Gough escutou tudo. Tinha uma audição muito boa.

– Foi dificil para nos dois. É assim que tinha que ser.

E seguiram pela estrada a caminho de Oolacile. Estava sendo difícil para ambos Artorias e Ciaran ver a partida. Ele não queria ir lá. Ele queria poder ficar com Sif treinando. Conversar e rir com Gough. Relembrar as glórias do passado com Ornstein. Falar para Ciaran exatamente o que ela iria falar para ele. Mas, tudo isso deveria esperar. Manus era o foco agora. Pensar em coisas assim poderia resultar em fracasso da missão. E a quebra da promessa de Artorias.