Os quatro cavaleiros de Gwyn

Capítulo 2: Corajosos, dedicados e aflitos


O grupo seguia uma viagem, se preparando psicologicamente para a dura batalha que estava por vir. Era um longo caminho para chegar em Oolacile. Artorias se via com um extremo peso sobre seus ombros, tendo que ser responsável por parte da segurança de Anor Londo e Lordran em geral. Mas, independente do que estivesse sentindo, uma mistura de medo, apreensão, euforia e orgulho, teria de deixar todas essas coisas de lado para lutar. Gough via como o amigo não parecia muito bem. Sua cegueira trouxe também um maior poder de percepção do mundo e do coração das pessoas. Tranquilo e atencioso como sempre, ele dizia:

– Artorias, sei o que passa contigo neste instante e com absoluta certeza não será algo fácil. No entanto, não estás sozinho. Nos 3 somos uma equipe e iremos nos ajudar mutuamente.

O cavaleiro sentia poder nas palavras, coisa que apenas Gough conseguia fazer com êxito. Era forte o suficiente para ver seus problemas e explica-los á alguém, por mais que fosse doloroso:

– Contra Manus, Kalameet e o que mais for, conto com vocês. Mas já tiveste alguma vez a sensação que o inimigo não está em lugar algum, exceto dentro de si?

– Minha visão, por exemplo?

– Não. Algo como...se teu inimigo fosse ninguém além de ti.

– Hmm...suponho que não. Porém, se é isso que sentes, imagino que deva ser algo comum entre seres como nos. Se não senti algo assim, imagino que minha hora de encarar isso virá. Apenas tenho sorte de ser ainda tarde, hahahaha!

Artorias não se via muito motivado:

– Ou azar. É um dos piores inimigos que enfrento.

Gough se viu um pouco responsável pelo baixo astral do companheiro:

– Mas lutas com determinação, pelo bem de seus votos. Caso aconteça comigo, farei o mesmo, ainda que seja o último homem de pé.

Sif latia ao lado. Dizia que também estava ao lado de Artorias nessa luta. O cavaleiro via como ele era importante para todos seus companheiros. Se lembrava de como Ciaran o via importante e como ele fazia o mesmo. Se não fosse por ele, pelo menos lutaria pelos outros. Isso que se constavam seus votos: “Lutar pela vida de seus companheiros, líderes e súditos”. Se lembrar disso o acalmava e mantinha foco em sua cabeça.

Andaram por muito tempo. Felizmente, Lordran não anoitecia nunca graças ao poder da chama. Dádivas assim eram consideradas milagres e foi isso que Gwyn, o lorde das cinzas, fez. Milagres porém deveriam ficar onde estão: em um plano mental. Quando eles vinham para o plano real, eles aconteciam...á um grande custo.

Os 3 chegavam em uma grande floresta, fechada e escura. Atravessavam aquelas árvores, achando que não iria ter muito fim. Artorias, no entanto, ficou tranquilo afirmando que isso era a prova de que estavam chegando em Oolacile. Gough se tranquilizou um pouco, sabendo que estavam perto do objetivo mas também ficou imaginando que tipo de coisas encontrariam.

Depois de muita caminhada, viam uma luz além das árvores. Provavelmente estavam chegando cada vez mais perto da civilização. Depois que as atravessaram, o sol brilhou com imensa força, cegando aqueles que olhavam. Já acostumados com a luz, abriram os olhos e viram um bonito cenário: um lago raso e cristalino, onde era possível ver o próprio reflexo. O som de pássaros voando e piando no meio da migração. Mas, havia algo á mais. Uma criatura, com corpo e cabeça de leão, asas de águia, chifres de bode e cauda em forma de uma serpente. Tinha também penas e pelos brancos como neve. Haviam 2 desse no lago. Artorias avisava o grupo:

– Não me recordo de criaturas assim quando vim a primeira vez.

Ele sacava suas armas. Sua espada na mão esquerda e o escudo na direita. Sif estava sempre com sua espada na boca e se colocava em posição de batalha, rosnando. Artorias dava passos lentamente, enquanto os 2 monstros olhavam. Quando ele pisou na água, os dois rugiram extremamente alto. Nesse rugido, uma bola de trovão saiu da boca de ambos. Rápida, ela voou em direção ao grupo. Artorias, como era rápido, conseguiu girar com a espada e cortar aquela energia com velocidade pura. Gough viu que a luta estava armada e sacou seu arco:

– Cuide do da direita. O outro é meu. Sif, vá e ajude Gough! – Artorias dava ordens.

Sif latiu e fez o que lhe foi ordenado. Correu o mais rápido possível. Ao chegar em uma certa distância, brandia sua espada e causava cortes na criatura mas eles não eram fatais. O monstro tentava atacar com suas garras, presas e chifres, mas Sif tinha patas ligeiras, como seu dono. Nenhum deles acertava e abria inumeras oportunidade para contra-atacar. Gough segurava a enorme flecha no arco, esperando o momento certo para atirá-la, já que o inimigo se movia muito.

Artorias cuidava de um sozinho. Ambos eram ferozes na luta. O cavaleiro, com um tipo de impulso, deslizava por sobre a água e atacava com muita força e abrindo grandes ferimentos. A água, antes limpa e transparente, se tingia de carmesim, a cor da morte e da dor. Artorias segurou sua espada, apontando ela contra o leão. Em um deslize, ele estava percorrendo como uma bala de canhão. O animal era rápido e ainda assim inteligente. Antes que pudesse ser atingido, ele abriu as asas e voou. Artorias errou e a criatura o rodeava. Nisso, com mais um rugido, soltou uma sequência de bolas de trovão. Artorias não teria como escapar, apenas resistir. Sacou seu escudo e defendeu a rajada. Ele não teve grande disciplina com escudos e dependia mais de sua agilidade e fôlego para se defender. O golpe foi intenso para ele, que abriu guarda, sem aguentar tudo com seu braço. O leão estava logo acíma dele e viu nisso uma oportunidade. Voando agora para baixo, iria esmagar o cavaleiro com suas enormes patas. Artorias, com o pouco que tinha de ar nos pulmões, se jogou para o lado e evitou o impacto matador. Estava agora de costas para o leão. Agora iria poder descansar, nem que por um instante, até que viu a cauda do leão abrir os olhos e mostrar as presas venenosas:

– Ah, maldição...!

A serpente parecia acumular veneno em sua boca e estava para cuspi-lo. Um toque daquílo poderia corroer qualquer coisa. Artorias se viu sem saída. Um instante antes que a serpente pudesse fazer algo, Sif deu um pulo de costas e de cima, caiu e desferiu um poderosíssimo corte, arrancando a serpente do corpo do leão. Ele logo então urrou ao perceber o quão horrendo era ter uma parte de si arrancada.

Por Sif ter deixado seu inimigo livre, o outro aproveitou enquanto os 2 estavam com a guarda baixa. Ele também levantou vôo e com um impulso de asas, fez um rasante pelo chão preparado para fincar os chifres nas costas de Artorias. Nem Sif ou seu dono poderiam fazer algo quanto a isso. Artorias percebe e levanta seu escudo, até ver que o ataque foi interrompido. Uma estaca enorme perfurou a cabeça do leão. Caiu no chão, sem vida, enquanto o que sobrava de seu rosto demonstrava profunda dor:

– Hahahah!! Bem no alvo!!

Gough estava tão distante que nem parecia que estava lá. Como sempre, acertava o seu alvo no lugar mais mortal possível. Artorias ficou aliviado de ter sido salvo, mas os problemas ainda não tinham acabado. O outro inimigo ainda estava de pé e o cavaleiro não teve dúvidas. Colocou as duas mãos ao chão, deu um alto salto mortal e com a espada, desceu sobre o crânio do outro. Aquilo perfurava como uma agulha em seda. Antes de tirar a espada, ele girou a arma por completo e só assim o leão morreu. Ao tirar, uma chuva de sangue se formou. A luta chegou ao fim. Apesar de um pouco cansados, concordaram que foi mais fácil do que esperavam. Perto dos perpétuos dragões, aqueles monstros foram brincadeira de iniciante:

– Se não fosse por ti, teria tido um triste fim. Mas o que houve, Gough? Tua rapidez com o arco costumava ser melhor! – Artorias se alegrava com a vitoria.

– Não podes culpar um velho como eu por não ter pratica há anos. Mas devo dizer-lhe, foi maravilhoso puxar o arco novamente.

Ambos então riram um pouco. Apenas Sif ficou sério. Ele não tinha muito senso de humor.

Atrás dos leões, havia um caminho estreito na pedra. Eles foram andando por lá e depois que atravessaram, viram um campo, quase como um altar. Haviam pequenas estátuas que lembravam pessoas, rodeadas e olhando para o centro. O sol brilhava como se lá fosse o centro do mundo. As árvores eram saudaves, a grama era verde e o ar era mais puro ainda, como se fosse o lugar mais vivo que existisse. Sem muito tempo para apreciar a vista, eles foram andando, até que ouviram uma voz:

– Quem são? Por favor, aproximem-se.

A voz era de uma senhora. Era gentil, serena e materna. Artorias olhou para ver de onde o som vinha. Gough ouviu melhor e apontou para um grande cogumelo na parede. O grupo chegou mais perto e viu que o cogumelo tinha olhos, apesar de minusculos:

– Oh, o cavaleiro do manto azul. Retornastes.

Artorias ficou um tanto confuso com isso:

– Receio que não nos conheçemos.

– Não, porém observei-te á distância a primeira vez que viestes.

Ele se lembrou de quando veio averiguar a situação antes. Talvez foi daí que a senhora o viu:

– Por que não falou comigo antes?

– Não sei se és inimigo ou aliado. Podes responder?

– De que lado estás então? – Gough era quem entrava na conversa.

– Do fogo.

Gough se animou pela resposta da senhorinha e riu um pouco, enquanto respondia:

– Então somos aliados, minha amiga.

– Ohohoho, ainda bem. Não é todo dia que podes ser amigo de um cogumelo falante. Antes de qualquer coisa, como chegaram aqui?

Artorias ficou mais tranquilo e respondeu:

– Haviam 2 criaturas guardando a entrada. Ambos nos atacaram e fomos obrigados a recorrer de força.

– Pobrezinhos deles. Sinto-me imensamente culpada por isso ter acontecido. Eles eram guardiões de Oolacile, contra as criaturas que vagam do outro lado. Eu os criei para defender-nos contra qualquer coisa.

– Não a culpo, é uma época severa a que vivemos. Mas você os criou? Diga-nos, quem és?

– Meu nome é Elizabeth, sou a protetora desta floresta e de Oolacile em si.

– Hmm. Sabes que há um imenso mal sobre aqueles que tanto protege, não? – Artorias falava de negócios.

– Estou ciente disso. Porém, daqui nada sou capaz contra Manus. Se somos aliados, tenho um pedido a fazer.

– Peça. – Gough era gentil o suficiente para ajudar.

– Manus capturou a princesa de Oolacile e a mantém perto. Se vão á caminho de Manus para destruí-lo, peço que a salvem. Ela é o bem mais precioso que temos agora.

– Elizabeth, sabes que viemos por Manus então deves entender que não será tarefa fácil. E ainda provavelmente tua princesa pode ter sido vítima das atrocidades daquele monstro.

– Sim, sei disso. Mas, enquanto nada tentarmos nada será resolvido.

Artorias pensava um pouco. Já tinham problemas demais para cuidar do que ficar resgatando princesas em perigo. Mas, se ela estava com Manus, poderiam matar 2 coelhos com uma cajadada só:

– Não prometemos nada, porém, faremos algo quanto a isso.

– Oh, muito obrigada! Vós sois gentis para esta senhora. Veja bem, eu a criei desde criança então a vejo como filha mais do que princesa.

Artorias se virava de costas e falava, enquanto já andava para longe:

– Tenha em mente que nosso objetivo é Manus e não a princesa. Agora, muito tempo foi perdido aqui. Devemos seguir caminho. Venha Sif.

Gough agradecia tudo que Elizabeth disse a eles e então se foi, junto do companheiro. A senhora ainda os deu votos de boa sorte:

– Que as chamas vos guiem!

E se afastavam dela, deixando aquele local sagrado para quem deveria: aos pássaros, á natureza, ao silêncio. Elizabeth pensou um pouco, triste com o rumo que as coisas tomavam:

– *Oh, menina tola! Por que fizeste isso? Por que tentaste falar com um monstro?! Sempre carregou consigo um bondoso coração e olhe onde isto levou-a! Até teu nome a condena: “Anoitecer”. “Anoitecer de Oolacile”. Talvez que seja por isso que queira entender Manus. Pergunto-me se há destino...se tudo isso estava escrito nas ainda brancas páginas da história...*

O grupo atravessava o santuário até entrar em uma floresta. Ela era bem bonita e mais bem cuidada. Não era para menos. Haviam criaturas cuidando dela, podando seus galhos com tesouras e movendo a terra para que ficasse fértil. Eram uma espécie de pessoas feitas de galhos, com mantos feitos de folhas. Lá, também haviam gigantes de pedra, protetores da floresta armados com rústicos martelos. Artorias e o resto passavam por lá, mas ninguém parecia atacá-los. Provavelmente Elizabeth tinha o poder de controlar a floresta por lá e avisou da chegada dos cavaleiros.

Á medida que andavam, algo parecia errado. A floresta ia ficando cada vez menos verde. As grandes árvores davam lugar á plantas baixas e as mesmas acabavam por revelar algo assustador. A terra estava preta, consumida por uma espécie piche que distorcia as coisas e dava um toque tóxico ao ar. E quando viram isso, ouviram um alto barulho vindo de longe. Parecia um bater de asas. De asas enormes. Gough e Artorias sabiam bem o que aquilo significava. E não era nenhuma boa notícia:

– O som de...! – Artorias se espantava

– Asas de dragão! – Gough não ficava atrás.

Quando viram, a criatura aterrizou em frente a eles. De fato, era um dragão. Tinha o pescoço comprido, rosto pontiagudo, olhos vermelhos e escamas claras. Ele parou, e ficou lá sem fazer nada, apenas olhando para o grupo. Todos sacavam as armas, mas antes que fizessem alguma coisa, ouviram um som grave e chiado, como uma distorção sonora. Gough entendia o que isso significava e pedia:

– Artorias, Sif! Abaixem as armas!

– Enlouquecestes?!

– Isso era língua dos dragões! Ele não deseja lutar! – Gough os convencia.

O arqueiro era um homem com precisão em tudo, até em suas informações. Artorias não queria acreditar naquilo mas se tratando de Gough, não queria desconfiar dele também. Obedeceu as ordens e Sif fez o mesmo:

– Kalameet... – Gough dizia.

– *Teu parceiro é bravo na luta e lento no raciocínio. Um dia tais atos o levarão ao fim.*– Kalameet usava sua estranha maneira de se comunicar.

– Entendes o que digo?

*Sim, entendo. Não há porque ocupar teus pensamentos em falar minha língua. Contanto que entremos em consenso, podemos nos manter assim.*

Artorias não entendia nada do que Kalameet dizia, mas percebeu que o dragão sabia a sua língua:

– Dragão, sabes o que houve por aqui?

Kalameet falava e Gough servia como um tradutor:

*As trevas e corrupções daquele ser que seu tipo encontraram acabaram perdendo controle e tomando a vida daqueles que a merecem.*

– Sim, nossas vidas correm extremo perigo nessa situação.

Kalameet abria as asas e ficava em duas patas, exacerbando ódio:

*Tuas vidas?! Tuas vidas mal valem cinzas dos cadáveres! Fostes vós que trouxeram a ruína e devem pagar por vossa própria estupidez! Se fostes apenas vós que morressem pela praga seria ótimo!*

Artorias ficou com receio em ter enfurecido o dragão. Ao abrir as asas, o cavaleiro viu algo estranho. Uma das asas dele estava completamente negra e era como se a corrupção em suas asas se espalhasse para o corpo:

– Então as trevas de Manus o consumiram...

Kalameet se acalmou e voltou a falar:

* Sua praga conseguiu pegar-me, mas está longe de me vencer! Porém, se isso continuar, meu tempo no mundo irá embora pouco á pouco e perderei a sanidade.*

Gough ouvia as palavras do dragão e parece que até mesmo ele enfrentava o mesmo problema que o grupo. Com um senso de justiça, ele disse:

– Ouça-me: podemos lhe ajudar. Se nos destruirmos a fonte de trevas, é capaz que toda essa praga desapareça. Nossa missão aqui é justamente essa.

*Onde queres chegar?*

– Minha proposta a ti é que deixe-nos passar ilesos para lutarmos contra Manus e que bloqueie a passagem contra qualquer invasor.

Kalameet voltava a abrir as asas:

*HA! Lacaio de vossa espécie. É isso que pareço á ti?! O que fazes pensar que aceitarei teu plano egoísta?*

Gough não perdia muito humor:

– Nossa espécie tem um ditado que diz “o inimigo de meu inimigo amigo és”. Parece que ambos compartilhamos o mesmo desejo de Manus morto.

*Manus ou seja lá como o chamas pode viver enquanto não se envolva no meu caminho. Porém, enquanto teu plano puder retirar esta maldita praga humana de mim, fico satisfeito. Mas, como toda grande exigência, quero que realizem um pedido meu em troca.*

Eles já tinham que vencer Manus e salvar a princesa de Oolacile, mas, pelo menos, se ouvirem o pedido terão um enorme problema tirado do caminho. Gough e Artorias concordaram em ouvir o que o dragão queria:

*Se por algum acaso estas trevas me consumirem por completo, me tornando um dragão de escamas negras e perder a sanidade, peço que acabem com minha vida.*

– Do que tens medo ao viver enlouquecido, dragão? – Artorias perguntava.

*Nada temo em vida se não vive-la em vão. Minha raça também possui orgulho como vós. Vivi sozinho como o último de minha espécie que o fez da maneira que deveria ser. Se entendes o que digo, então poderei lutar lado-a-lado convosco sem ferir minha crença ou me arrepender disto.*

Artorias e Kalameet não eram muito diferentes, apesar de tudo. Ambos tinham seu orgulho e temiam a mesma coisa. Fossem ambos com a mesma aparência e as mesmas capacidades, faria sentido, mas não. Talvez fosse pelo fato que ambos eram guerreiros. Artorias servindo lorde Gwyn e Kalameet servindo...bem...á si mesmo. O cavaleiro deu alguns passos á frente, se curvou como gesto de honra e disse:

– Muito bem, apesar que...não gostaríamos de chegar a este ponto.

*Não sei se diz a verdade ou goza de meu sofrimento. Se tudo isso acabar como desejo, lembre-se: Não somos amigos, apenas temos um inimigo em comum.*

Gough, melhorou seu humor e complementou:

– E cabeças duras como rochas, hahahaha!

Kalameet nunca havia sido do tipo que fala muito, então não era nem um pouco bem humorado. Ele apenas concordou com Gough, abriu asas e voou pelo vale ao longe. Mesmo tendo sido uma conversa tensa, foi bem melhor saber que um dos grandes inimigos agora estaria fora do caminho.

Todos eles foram andando. Á medida que adentravam, a floresta ficava ainda mais escura e sombria. Uma hora, chegaram em uma espécie de pequeno coliseu. Estava devastado e vazio. Percebiam que logo após e já estariam nas ruas de Oolacile. Artorias parou e suspirou:

– Gough.

– Diga.

– Fique aquí vigiando. Eu e Sif iremos sozinhos para Oolacile.

O arqueiro achou aquilo loucura e não aceitou:

– E deixá-lo ser consumido pelo Abismo sem motivo? De maneira alguma!

– Gough, é algo que eu devo fazer.

– É algo que DEVEMOS fazer, Artorias!

O cavaleiro perdia a paciência:

– Se formos todos lá, não teremos como reportar um fracasso nosso! Anor Londo ficará exposta aos perigos do Caos e do Abismo e quando tomarem consciência do perigo, será tarde demais!

– Isso não justifica correr um risco desses! – Gough também ficava bravo.

– Gough, me escute uma única vez!

– Acha que verei tua vida ser arrancada de ti sem nada fazer?!

– Eu não pretendo morrer lá!

– Acha que Ciaran gosta de vê-lo se atirar ás garras do perigo dessa maneira?!

Quando Ciaran era citada, aquilo se tornava pessoal para Artorias:

– Deixe-a fora disso!! – Ele gritou.

Gough viu que acabou pegando pesado e tentou se acalmar antes que as coisas piorassem. Artorias podia ser assustador quando tomado pela raiva:

– Por que queres tanto ir sozinho?

– Porque tem alguma resposta que posso encontrar lá embaixo.

– Sobre Manus?

– Não. Sobre mim. Até porque...

Ele andava em direção ás ruas da cidade e dizia:

– O que é coragem sem um pouco de irresponsabilidade?

Gough se sentiu tocado por aquilo. Era como se Artorias de uma hora pra outra tivesse adquirido conhecimento referente a todos os anos de vida do arqueiro. Talvez, mesmo agora, Artorias o lembrasse um pouco de sua juventude, mesmo que sendo apenas um pensamento remoto. Ele queria poder um dia ver como que Artorias era para poder se lembrar sempre dele:

– Tens razão. Confio em ti, amigo, se é isso o que queres. Ficarei naquela pequena torre, observando a cidade. Caso venha a vê-lo correndo perigo, irei ajudar e caso Kalameet tente algo, farei o mesmo.

Artorias fazia sim com a cabeça:

– Obrigado. Venha Sif.

E então ele andava pelo coliseu, até colocar os pés em Oolacile. A cidade, toda de pedra, era impecavelmente grande. Era como um enorme templo, que descia para baixo, em direção ao escuro buraco do Abismo. Era um sentimento estranho. Ele queria prosseguir pela cidade e ao mesmo tempo queria voltar para Anor Londo. Não por medo, mas por preocupação. Preocupação que Ornstein e Gwynevere corressem perigo. Não exatamente ambos. Estava mais preocupado com Ciaran do que qualquer outra coisa. Ele via como tinha a chance de não voltar mais de lá. Mas, essa foi sua decisão. Não podia mais voltar atrás. Por Gough, Ornstein, Ciaran, Kalameet, Elizabeth, todos. Voltar agora seria realizar seu maior medo. Viver em vão.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.