Capítulo 14 - Fizemos merda?

– Alo? – Ouvi a voz familiar

– Oie, preciso do Rob aqui.

– Como assim, Su...? – Sua voz soou mais firme.

– Pede para ele vir me buscar. Por favor, Logan. – Minha voz não soava como a dele, era fraca. Triste.

– Pedir para um garotinho pequenininho te buscar? Como? Tele transporte? – Perguntou meu irmão mais velho com ironia.

– Não! Com super velocidade! Dã-ã

– E a força? Ele não tem força! Onde você está? – Ele me perguntou com voz de sono.

– No penhasco

– Está pensando em se matar, Susanna?! – Perguntou ele agora se despertando - Estou indo para ai!

– Calma eu só estava... – Ouvi o Bip no outro lado da linha, o jeito era esperar. Subi na árvore e me deitei em um dos galhos grossos.

Demoraram vinte minutos para a mensagem do Bernardo chegar. Pelo visto, esqueci de dizer para ele esquecer de tudo, pensei. Por escrita ele pedia para me encontrar, então respondi para me achar onde estávamos e ele perguntou “na escola?”. Com isso eu soube que funcionou, mais ou menos, o meu dom.

Olhei para o relógio mais uma vez antes de ver a picape de Logan. Ela refletia agora a luz da lua. Já estava tarde. Bem tarde, ele me pediu uma explicação e eu disse o ocorrido, menos alguns pontos. Pedi para Logan explicar ao Bê que esse não poderia ir lá em casa. Pedi também para Robert dormir no meu quarto comigo.

Robert não recusou, e também não entendeu nada o que aconteceu. ”Sou criança”, ele repitia a frase sempre que dizíamos palavras difíceis. Estava muito complicado de dizer a Sofia coisas de menina. Há pouco tempo não sabíamos dos clãs, dos nossos dons, nem nada. Então falar sobre “garotos” não era o plano. Só se fosse sobre Harry.

Sonhei com o Harry. Não era um sonho muito real. Não como os outros. Neste, tinha Isabella. Ela sorria para ele, mas depois virava o rosto. Em algum momento beijou sua bochecha. Ele não pareceu rubotizado nem nada. Parecia seguro. Parecia confiante. Como se não estranhasse ela.

Em algum momento em que Harry a segurou forte eu vi o brilho da sua faca. “Isa, não!” eu gritei, mas ela não me ouviu. Ele segurou a faca, agora próximo a garganta dela e disse em um tom grosso. “Não pensou que eu não iria saber?” Ele riu “Fui um espião dos olhos de fogo antes de virar um deles, assim como um dos seus amigos”

Abri os olhos como se estivesse levando um tiro. Isabella.

– Não é o presente... Talvez só mais um sonho. – Disse ela quando a encontrei na escola. – Eu já disse, vou tirar os olhos dele e não beija-lo. E para ter uma ligação eu teria que ser que nem você. Ou outras de muitos anos atrás, mas não sou.

– Logan, me ajuda? – Perguntou Sofia, levantando um banco para sentar conosco.

– Acha que não tem nenhum espião? – Perguntei a todos.

– Se for, é um dessa mesa, então você acabou de avisa-lo. – Disse Isa. – E mesmo assim, não é. Não há espiões dos olhos de fogo há muito tempo. Talvez até décadas. Eles não precisam disso, acho.

– Muito bem... Se diz que não temos que nos preocupar, não vamos. – Disse Logan – Confio em você com meus olhos vendados. Não vamos nos preocupar com isso, porém não vamos deixar de nos preocupar com Harry. Isabella você sem que acabar com ele.

– Ei, você é o Logan? Do clã dos olhos Dourados? - Todos olhamos para trás de Logan no mesmo instante. Não havia nada, era apenas uma árvore. Logan não respondeu. – Ei menino, estou falando com você. – Um esquilo apareceu ao lado dele.

– Olha que esquilo lindo! – Exclamou Rob. – Sempre quis ter um...

– Não sou um esquilo. – Disse o ser, se transformando em um homem alto, com a barba por fazer e braços fortes. Com certeza você não é um esquilo, pensei. Devia ter trinta anos mais ou menos. – Mas meu nome não importa. A Sra. Rosa está te convocando.

– Convocando? – Perguntei um pouco irritada e talvez até enciumada. – Porque a ele e não a mim?

– Sou um mensageiro, não tenho que saber todos os detalhes e não me importo com isso.

– Como entro em contato com ela? – Perguntou Logan – Achei que ela estava em perigo ou algo assim, por isso não voltou para casa.

– Ela quer a sua ajuda. – O homem com sobretudo falou. - Bem, eu preciso que venha comigo agora. – Todos olhamos para o Logan.

– Vai logo! – Disse Rob – Tia Rosa tem que estar precisando muito para pedir ajuda para alguém, certo?

– Vamos logo garoto. Coma isso. – Disse o homem se transformando em esquilo de novo. – Feche os olhos e toque no meu pelo, mesmo que isso soe estranho.

Depois do Logan tocou no pelo liso do esquilo, desapareceram. Olhei para os meus amigos e acho que pensamos na mesma coisa. Merda. Não sabíamos quem era o cara, como Logan foi com ele?! A culpa é dele! Porque ele tem que seguir o que o Robert fala? Onde está a tia Rosa com o Logan? Quem afinal era aquele estranho?

– Você está se preocupando, não está? – Perguntou Sofia.

– Não fale besteira. – Murmurei, coçando a cabeça.

E em pouco tempo já estava em casa. Havia posto Rob para dormir. Pedi para Sofia ir dormir após ler os livros que queria. Só foi quando cheguei no quarto que ouvi a voz da minha tia no primeiro andar. Ao ouvi-la, sai correndo. Mal conhecia. Mal tive tempo para a conhecer. Queria conhece-la, bem... Agora queria conhece-la.

Corri até lá em baixo. “Tia?!” Gritei em pensamento.

– Oi – Ela disse olhando para mim do sofá – Não grite, pode acorda-los.

– É... Eu sei, foi mal... – Falei chegando mais perto – Cadê o Logan? Ai não! Alguém o raptou. Ai meu deus!

– Calma, Susanna. O que te falei de ter calma?

– Acredito que nada, não nos falamos muito. – Argumentei. – Você foi embora sem ao menos nos conhecermos direito...

Minha tia se levantou.

– Logan está em uma missão, com outros do clã dele. Ele foi me substituir lá. Para eu poder voltar.

– Mas você é tão velha! – Eu gritei – Sabe muito mais que ele, não sabemos quase nada sobre os dons!

– Não foi um elogio, certo?

– Mas ele está em perigo? – Perguntei

– Todos estamos. Vim fazer alguns... Feitiços nessa casa. E em alguns objetos de proteção. – Disse minha tia.

– Minha mãe não me liga há algum tempo. – Meus cortes de raciocinios chegavam a me assustar e preocupar em alguns momentos.

– Disse para ela não ligar. – Minha tia foi para a cozinha e fui atrás dela. – Podem acabar indo atrás dela em busca de você.

– Porque me querem? – Perguntei. Não querendo ouvir a resposta. Olhei para tudo na cozinha. Tudo que consegui olhar, para desviar minha atenção.

– Quer mesmo a resposta? – Ela me olhou – Não, não quer...

– Diz logo tia! – Bati na mesa.

– Você faz parte de uma história dos oráculos. E também faz parte de um sacrifício – Ela me olhou – Mas eu acho desnecessário, você não precisa seguir o destino, nem morrer tentando o desprezar. É melhor ser ignorante.

– O que o Logan foi fazer? – Perguntei.

– Meus amigos precisam dos dons dele. – Rosa estava mexendo algo na panela. – Log vai ser como um... Segurança. Irá saber nos proteger quando voltar.

Fiquei em silêncio e observei enquanto ela colocava o conteúdo em dois pratos diferentes. Um para mim e outro para ela.

– Remendo me contou sobre a ligação... – Rosários me olhou – Você gosta muito do garoto?

– Não... – Disse – Ele...só se ligou a mim... A culpa é dele. Bernado queria fazer com que um outro garoto não me magoasse e outras coisas. – Olhei para minha tia – É difícil de explicar.

– Para mim é simples, termine com ele, acabe com a ligação. E fim.

– Não posso...

– Ele é um humano normal, certo? – minha tia perguntou.

– Certo – Falei.

– É só você beijar outro garoto, com vontade

– Mas ai... O tal garoto ficará ligado a mim! – Eu disse.

– Sim... É verdade. Mas se você beijar gostando e ele não gostando, você apenas se solta.

– Que outra opção eu tenho?

– Ele beijar outra garota...

– Temos coisas mais importantes para pensar, certo, tia? – Terminei de comer, antes mesmo de notar o que eu estava comendo – Mas que merda é essa?

– É receita de família – Minha tia riu – Ajuda a ficar forte.

– E quanto ao Harry? – Olhei para tia Rosa pedindo muito que soubesse todas as respostas.

– Teremos que fazer ele virar um de nós ou... – Rosa parou de repente de falar, como se não quisesse pensar no complemento da frase.

– Ou... Arrancar os olhos dele... Mesmo isso não o matando, ele se mataria se conseguíssemos.