Os novos herois do Olimpo

O peso da responsabilidade de ser o líder


Nathália foi para o chalé número cinco bem antes de saber o resultado dos dois novatos. Ela tinha mais o que fazer e sentia nos seus ossos que nenhum deles era filho de Ares. Simplesmente não tinha o perfil. Sim, ela tinha muita coisa para fazer. Ser a líder do chalé de Ares era muito mais do que um posto de prestígio. Na verdade ela não via prestígio algum em ter a vida de uma dezena de pessoas diretamente sob seus comandos.

O chalé de Ares parecia um fortim do início da idade média em reforma: era de rocha sólida, com dezenas de andaimes e escadas em volta. Ele estava em eterna reforma: ameias em forma de cruz estava sendo instalados no lado leste e a cobertura de reforço para a porta dos fundos estava quase pronta. “A única certeza da vida era a mudança” diziam as palavras escritas em grego logo na entrada. A citação, atribuída ao filósofo Heráclito de Éfeso, retratava o lado evolutivo da guerra. Só conseguimos mudar depois de lutar. Lutamos para evoluir. Por isso as eternas obras.

Nathália entrou na fortaleza, fria e solitária. Por dentro a fortaleza era ainda mais impressionante e bagunçada do que por fora. Era quadrada com quase 20 metros de lado. O salão comunal tinha duas mesas enormes e estava ladeada por dezenas de armaduras e armas de todos os tipos e épocas. Pistolas automáticas da segunda guerra mundial estavam ao lado de adagas otomanas do século IX, não muito longe de um arco samurai e uma lança dos extintos índios Kariris. No térreo ainda havia quatro quartos, um em cada canto do quadrado que formava a fortaleza. Neles os filhos de Ares dormiam em beliches. Subiu as escadas para o segundo andar do prédio, esquivando-se de uma lâmpada pendurada precariamente no meio do caminho.

O segundo andar era quase todo ocupado por um enorme salão de treinos, com uma pequena sala ao fundo. Esse era o quarto de Nathália. Era um aposento pequeno, não maior do que os quartos comunais que seus irmãos dormiam. Tinha uma cama de campanha num canto, uma janela de fundo, uma escrivaninha, um baú que servia para guardar roupas, um manequim com armadura, um rack com suas armas de preferência ao lado da janela e uma estante com três prateleiras cheias de livros. Todos ou quase todos de estratégia militar e batalhas. Ele pegou um dos livros e abriu aleatoriamente. A citação do general Ulysses S. Grant saltou seus olhos: “A arte da guerra é bastante simples. Descubra onde o seu inimigo está. Chegue nele o mais rápido que puder. Ataque-o tão forte quanto possível e tantas vezes quantas você poder, e mantenha-se em movimento.” Grant foi general dos exercitos dos Estados Unidos, comandante-em-chefe das tropas federais, ou nortistas, durante a Guerra Civil dos Estados Unidos, sendo presidente logo depois. Ele sabia, mais do que ninguém, o peso da responsabilidade que hoje repousavam nos ombros de Nathália.

Os livros eram sempre um conforto. Algum tipo, pelo menos. A estante estava lá desde sempre, desde antes de ela chegar ao acampamento. Tinha sido montada por alguém na década de 50-60, alguém cujo nome eprdeu-se na história. Mas ela sempre era grata a este “livreiro”: muitas vezes a pequena biblioteca lhe ajudou quando ninguém mais podria. Tinha um livro especialmente pesado. O registro dos filhos de Ares. Todos. Ou quase. Todos os que tinham passado pelo acampamento. Os registros não eram muito complexos: nome, data de nascimento, endereço, parentes conhecidos e um espaço para uma mini-biografia. Cabia a ela, como líder do chalé, escrever quatro registros no dia de hoje: os quatro colegas que havaim tombado em bataha mais cedo.

Cada nome escrito representava muita coisa. Um amigo a menos no refeitório, um braço a menos numa batalha, uma saudade que o tempo apenas amenizaria, mas jamais apagaria. Mas para Nathália o peso era maior. Ela se sentia reponsável por aqueles nomes. O que escrever em cada um deles? E o pior ainda estava por vir: escrever cartas para a família.

Ela sentou-se á escrivaninha, uma mesa pequena que mal cabia um assunto de casa vez. Puxou uma velha máquina de escrever e colocou papel. Começou a escrever as cartas para a família.

Pegou o rascunho, escrtio á mão por alguém antes dela e pô-se a ler.

Caro Senhor(a),

É com profundo pesar que fui incubido(a) de reportar a morte de (por nome aqui), filho de Ares, membro efetivo e valoroso deste chalé.

(relate alguns feitos do falecido)

Permita-me, Senhor(a), apresentar as minhas sentidas condolências por este trágico acontecimento, já que (nome do falecido) que deu a vida ao serviço dos intereses dos deuses, bem como ao bem estar de seus colegas de campanha.

Queira aceitar, Senhor(a), os protestos da minha mais elevada consideração.

– Maldição! – Nathália gritou quando arremeteu o papel furiosamente contra o lixo. Aquele modelo estéril e sem sentimentos não significava nada. Seus amigos estavam mortos. Dois rapazes e duas moças de Ares. Eles sabiam dos riscos. Eles eram guerreiros. Eles morreram para que ninguém mais morresse naquele dia. Os primeiros a chegar ao campo de batalha e os últimos a deixá-lo. Eles morreram, mas não foi, não vai ser em vão.

– Eles vão ser vingados. Pai, mãe, eu prometo: nossos irmãos, seus filhos, vão ser vingados. Isso ou morrerei tentando.

As cartas foram escritas. Algumas regadas á lágrimas de pura fúria. Camas arrumadas, poucos pertences recolhidos. Tudo embalado para ser entregue aos filhos de Hermes pela manhã. Foi que uma explosão estremeceu o prédio. “Outro ataque?” pensou ela enquanto vestia apressadamente a sua armadura. Dessa vez nenhum filho de Ares ia morrer. Ela correu pelo lado sul, de onde a explosão tinha vindo. Mas nada poderia prepara-la para a cena que estava em vias de presenciar.