Em Eltar, um planeta desértico, porém avançado em tecnologia e cultura, se comparado a terra, onde seus habitantes vivem em paz há milênios, desde quando a guerra pelo poder foi cessada, porém incontáveis relíquias pré-guerra ainda estavam soterradas pelo planeta, muitas delas escondidas pelos antigos guardiões. Por ser um planeta vasto em regiões inóspitas, era quase impossível de se explorar, pois muitos exploradores já morreram tentando alcançar certos lugares, sendo assim, ainda haviam muitas dessas relíquias escondidas, mesmo depois de tantos milênios. Porém o tempo se torna simples e pequeno, como uma brisa no deserto, quando o inevitável insiste em acontecer.

Em um dos mais inóspitos lugares do planeta, longe de qualquer civilização, onde nenhum eltariano ou seres de quaisquer outros planetas pisaram depois da guerra, um lugar que de longe só se via o nada misturado com areia, pó e fumaça — mesmo que o planeta fosse de uma vegetação desértica, ainda assim, era abundante em vida animal e vegetal, graças a inteligência e tecnologia dos cientistas eltarianos — este lugar era desprovido de qualquer tipo de vida, mesmo assim, exploradores e cientistas, determinados a seguir com pesquisas históricas sobre o que havia no planeta pré-guerra, ousaram adentrar neste lugar.

Os cientistas tinham chegado à conclusão que aquela região já era inabitada mesmo antes da guerra acontecer, o que os deixavam ainda mais instigados, contudo, os erros cometidos no passado sempre servem de conhecimento para o futuro, com décadas e mais décadas de estudos arqueológicos os exploradores já estavam preparados para lidar com os infortúnios daquele lugar, e finalmente, um grupo conseguiu se aprofundar no misterioso e instigante vazio.A luz de seus refletores e lanternas, mesmo provenientes da tecnologia eltariana, não era tão eficaz mediante a estranha densidade da escuridão, era impossível descrever por onde eles andavam, só é possível ver o chão onde o pouco de luz tocava.

Seus passos e qualquer som que emitiam começaram a gerar ecos, era fácil supor que estavam em um lugar cercado por paredes e, inevitavelmente, por corpos. Depois de passarem por incontáveis cadáveres, pertencentes a todos os que ousaram pisar ali, nada os impediria agora, haviam também corpos de criaturas, que eles jamais tinham visto antes, dizimados pelo tempo, mas não antes que fizessem muitas vítimas. Haviam armadilhas ativadas pelos desavisados, a fumaça era tão densa que se não fossem os equipamentos de respiração, morreriam sufocados em questão de minutos. Parecia que o lugar queria, de todas as formas, punir qualquer um que se aproximasse, e agora não haviam mais recursos para tal hostilidade, o caminho ficou livre. Depois de um longo e sufocante caminho, que se encontrava limpo de qualquer cadáver, criatura ou armadilha, eles dão de cara com uma enorme parede, e nessa parede havia um símbolo muito conhecido ao longo da história, era o símbolo de um dos antigos guardiões: Zordon.

O grupo ficou pasmo ao saber que Zordon, um ser que sempre foi conhecido por ser justo e bondoso, havia deixado tais armadilhas. Por outro lado, apenas um ser com os poderes e conhecimento de um guardião teria condições de engenhar este lugar. A dúvida que também se gera é: o que Zordon guardou neste lugar que precisou usar recursos tão hostis e amedrontadores? E a resposta se encontra por de trás da enorme parede. Mais uma vez, as pesquisas históricas sobre os antigos guardiões se fazem úteis, o símbolo grafado na parede é, na verdade, uma escrita arcaica, criada pelos guardiões, o símbolo é uma união de caracteres sobrepostos uns nos outros, e sua tradução mais próxima é “A justiça é o verdadeiro poder”, se dito nesta língua arcaica a parede se abrirá como um portão, e assim foi feito.

Depois das palavras serem ditas a parede se abriu em duas abas iguais na direção do grupo, mas, apesar do tamanho da parede, internamente só havia uma pequena câmara que cabia uma pessoa, e no interior da câmara, gravado na parede, haviam três moldes retangulares verticais, um em cima e dois embaixo, se alinhado como se cada uma fosse a ponta de um triângulo, era no molde de cima que havia uma carta colocada, ela era negra com traços rústicos dourados, o olhar arregalado do cientista eltariano refletia o brilho dos traços que continham naquela carta, pois obviamente não era uma carta comum.

O cientista pega a carta do molde e no instante em que a toca tem o vislumbre de imagens na sua mente, é possível que tenha visto mais de cem mil imagens, mas era impossível de entende-las pois eram muito rápidas, e o vislumbre durou menos um segundo, o restante do grupo começou a tocar na carta, um a um, todos tendo o mesmo vislumbre, sem que ninguém entendesse, mas esse vislumbre não importava para eles, pois eles suspeitavam que tinham em suas mãos uma das Cartas de Hormdall, três cartas que juntas não só ampliam os atributos do seu portador mas também amplia suas capacidades cognitivas, e ao que tudo indicava, aquela era a carta-mor.

Com certeza uma das relíquias mais valiosas já encontradas, não só em Eltar, mas em todo o Universo. Com o valioso achado em mãos o grupo não se absteve de sair logo daquele lugar tenebroso, e voltam para cidade, onde se encontra o centro de pesquisa. O fato de Zordon ter escondido a carta-mor de Hormdall em um lugar tão inóspito e tão perigoso, cheio de armadilhas e criaturas, que ninguém jamais havia encontrado antes, significa que aquela carta é perigosa demais para cair em mãos erradas, ou descuidadas.

Porém, mesmo com essa possibilidade gritante, os cientistas não hesitaram em examinar a carta. Aquela poderia ser a carta-mor e, de acordo com a lenda, a carta-mor é a única carta dentre as três que possui poderes sozinha e que somente seres com intelecto equivalente ao de deuses poderia entender a carta e utilizar de seus poderes com eficácia, porém ninguém conseguia sequer entender como a carta funcionava, parecia que não havia nada a se entender, nem a tecnologia de análise, que possuem em seu laboratório, poderia identificar qualquer tipo de gravura, escrita oculta ou enigma que aquela carta poderia conter.

De fato, o inevitável iria acontecer de qualquer forma, e esse inevitável vinha em forma de curiosidade. Os cientistas decidiram se arriscar, e deixaram a carta ficar em exposição a algum tipo de energia que eles utilizam em Eltar, parecida com a energia elétrica na Terra, bastou apenas alguns segundos sobre a energia para a carta começar a emitir uma forte luz que irradiava dos traços dourados, e, seguidamente, o pior aconteceu, essa luz se expandiu e formou um volto de energia em todo o ambiente, queimando todos os aparelhos que estavam dentro do laboratório, os cientistas não sabiam se ficavam espantados ou vislumbrados com todo aquele esplendor de luz, mas não tinha mais tempo de saber, rapidamente o volto de energia se reprimiu e a carta deixou de brilhar, os cientistas, que tinham se afastado, voltaram a se aproximar da carta, tudo aquilo vindo de uma só carta era espantoso, mas o que eles viram no chão era inexplicável, havia alguém caído próximo a carta, estava desacordada e não era nenhum dos cientistas, e não havia mais ninguém dentro do laboratório, além deles.

A pessoa caída tinha a aparência de um eltariano do gênero masculino, branco de pele áspera, como eltarianos se parecem, cabelos negros compridos, e uma vestimenta negra. Quando iriam se aproximar para carrega-lo até a o centro médico, o estranho abriu seus olhos, espantando todos em volta, ele se levantou com pouca dificuldade se sentindo confuso e um pouco tonto, aos poucos ele olha em volta, como se estivesse analisando o local até que vê a carta de Hormdall e abre um ligeiro sorriso, os cientistas não faziam menor ideia do que estava acontecendo e se mantinham paralisados e em silencio.

— Onde eu estou? — perguntou calmamente o estranho.

Nenhum dos cientistas se propôs a responder, pois ainda estavam extasiados. Então o estranho disse dessa vez:

— Eu vou reformular a pergunta. Em que época eu estou?

Os cientistas se olharam com cara de espanto, e um deles, que é o mais novo, disse gaguejando o ano e a data daquele dia que correspondia ao calendário de Eltar. Imediatamente após ouvir, o estranho arregalou os olhos e em seguida abaixou a cabeça com uma expressão de lamentação, porém ele recobrou a postura e respirou fundo olhando para carta com um brilho nos olhos. Então, o mesmo jovem cientista, que respondeu ao estranho, perguntou:

— Q... Quem é vo... você?

O estranho, sem interesse em responder, foi em direção a carta-mor para pega-la, e antes que o fizesse um dos cientistas disse-lhe que a carta pertencia ao centro de pesquisa, então o estranho rebateu dizendo:

— Eu acho que essa carta pertence a outro, Zordon, eu suponho – e ainda completou – Quero saber onde ele está.

— Zordon está morto! – disse um dos cientistas

O estranho fecha os olhos, dessa vez com uma expressão de lamento ainda maior que antes, e sem dizer uma palavra ele tenta pegar a carta-mor mais uma vez, porém antes, os cientistas, com exceção do mais jovem, avançam para cima do estranho, pois mesmo não sendo guerreiros, eles sabiam que a carta era valiosa demais e que eles tinham, de fato, cometido um erro, porém um erro não maior do que avançar sobre ele. O estranho derrubou todos os cinco cientistas com extrema facilidade, matando-os no processo. Ele pega a carta-mor com propriedade, no mesmo instante surge em sua mente o vislumbre de imagens, só que diferente dos outros, ele vê e entende cada imagem, pois isso fica claro em seu olhar, então ele se dirige à saída do laboratório, e, antes que atravesse a porta, ele olha para o jovem cientista, que está tremendo de medo e não esboça nenhuma reação a não ser os olhos lacrimejantes e uma clara expressão para um choro eminente, e diz pausadamente:

— Meu nome... é Zarlon.