— O que aconteceu com eles, August? – fiquei bastante preocupado ao saber que os Daliperianos atacaram Dois e Oito, logo agora que estamos com planos para juntá-los e intensificar forças.

— A Seis foi ajudá-los, Lucky – Quatro senta em sua cama para explicar o acontecido. – E, pelo visto, foi a sorte deles. Oito acabou de descobrir suas heranças e Dois, convenhamos, assim como eu não possui levados que sejam tão úteis em combates. Só que a pedra de Seis só permite um teletransporte por dia.

— E onde eles estão agora? – é estranho pensar que existem três tipiênicos sozinhos por aí.

— Eles conseguiram encontrar um hotel de beira de estrada. Seis levou algum dinheiro ao se teletransportar. Ainda estão pensando para onde ir quando ela conseguir se teletransportar novamente – Augut relata o que tem conversado com os demais guardiões.

— Eu já tenho novidades sobre a casa em Dubai – afirmo.

— Tão rápido? – ele me questiona surpreso.

— As coisas acontecem depressa aqui quando se tem dinheiro vivo.

— E então? O que você tem? – ele parece estar bastante curioso.

— Já realizei a transação, por completa. E na realidade, já podemos até nos mudar. É um grande apartamento de dois andares. Você vai gostar.

— Dormitórios? – ele me questiona, parecendo bastante preocupado, o que me faz rir levemente.

— Bom, vocês são sete, temos mais quatro tutores, totalizando 11 pessoas. Como o apartamento possui uma grande área destinada ao treinamento de vocês, além de uma área descoberta totalmen...

— Você vai enrolar por muito tempo? – ele me interrompe e eu caio na gargalhada imediatamente. – Não entendi o porquê da risada.

— Sua preocupação é ter que dividir o quarto com os outros meninos? – olho sério para August, tentando decifrar seu mente.

— Pode ser que sim.

— Temos cinco quartos. Acredito que vocês três terão que ficar juntos, August.

— Não deve ser tão ruim ter que dividir quarto.

— Talvez não.

— E quando é que a gente voa pra Dubai? – olho pra meu relógio fazendo ar de suspense.

— Em três horas. Está na hora de arrumar suas coisas. E por favor, passe este endereço aos demais.

≥ — ·

— Como é? Vocês não podem encerrar o contrato assim! – Maya comenta nervosa, seu rosto está vermelho e sua respiração inconstante.

— Maya, me perdoa, surgiu um imprevisto e teremos que nos mudar com urgência – afirmo calmamente, tentando controlar a situação.

— Swane, você assinou um contrato e precisa segui-lo – ela indica.

— Eu sei disso, Maya. Mas é realmente uma emergência.

— Do tipo Ricky sair voando pela janela do quarto? – ela solta aquilo que parecia há muito estar trancado em sua garganta. – Eu sempre achei tudo muito estranho, desde quando vocês chegaram. Mas tudo se confirmou quando Ricky saiu voando pela janela e não voltou até agora.

November e Clarisse que estão sentadas no sofá da sala, ao ouvirem em que ponto a conversa chegou, dirigem-se à cozinha, local em que estamos.

— O que são vocês? – Maya questiona, olhando para as duas garotas.

— Aliens, como vocês chamam por aqui – November diz um pouco grosseira, típico.

— Oi? – Maya cai na gargalhada. – Conta outra.

— O que você acha disso? – November acende uma pequena chama sobre a palma de sua mão.

— Ou disso? – Clarisse lança um pequeno jato de água, suficiente para apagar o fogo de November.

— Basta garotas! – intervenho na pequena exibição. – A história é longa e, bom, não é do seu interesse.

— A partir do momento que vocês entraram na minha casa e começaram a fazer esquisitices, é do meu interesse sim – ela responde incisiva.

— Certo Maya, vou pedir para as...

— Quatro acabou de passar o endereço – Clarisse informa.

— O que é Quatro? – Maya questiona.

— Mais alguma coisa? – questiono logo na sequência.

— Falou que estão pegando o voo em 3 horas e que podemos nos preparar para ir também – Clarisse explica.

— Alguém pode me responder? – Maya insiste.

— Verifiquem se Théo e Malkina também já estão se preparando. Conversem com Ricky e peça para Seis transportá-los para o endereço assim que possível. Preciso verificar algumas coisas, então, por favor, expliquem para Maya, ela não parece ser uma Daliperiana disfarçada.

November revira os olhos para mim e senta na cadeira mais próxima, Clarisse permanece em pé, escorada na parede. Enquanto as duas conversam com Maya, preciso resolver as pendências do contrato.

≥ — ·

Quando acordei os meninos ainda estavam dormindo. Conseguimos passar a noite em um hotel meio sinistro de beira de estrada. Um quarto com uma cama de casal e outra de solteiro, provavelmente para um casal com filho. Seguinte esse linha de raciocínio, sou filha de Dois e Oito. Dormi feito uma pedra gorda hibernando no inverno. Estava tão exausta de tudo o que aconteceu, que assim que deitei dormi. Olhei no relógio na parede do quarto e ainda eram 07:00h. Decidi não acordar os meninos, até porque, não temos muito que fazer até eu conseguir nos teletransportar novamente.

Foi a primeira vez que eu vi os dois garotos, e convenhamos, que tipiênicos gatos! Willow caprichou – E MUITO! – na seleção dos guardiões. Glória a Willow! Nessa madrugada descobri algo muito interessante. Os guardiões estavam trocando informações sobre a casa nova enquanto eu dormia, porém, todas as informações ficaram “armazenadas” em minha mente e assim que abri meus olhos, a conversa se passou em minha mente, como se alguém tivesse gravado o último capítulo de uma novela. Tenho um endereço em mente, o de nossa nova casa, que é o local aonde devo nos levar.

Louise, vocês já estão a caminho, certo? – faço contato apenas com a Três, sem enviar a informação para os demais guardiões.

Já sim, Seis – ela responde quase que prontamente. – Devemos chegar em cinco horas. Quatro e Lucky saíram mais cedo, mas a viagem deles é mais longa e por isso devemos chegar quase que na mesma hora.

E o pessoal que está na Irlanda? – mesmo sem conhecê-los, acabo me preocupando com todos. Agora que os Dalips sabem que estamos juntos, acredito que corremos mais perigo que antes.

Sete me informou que elas acabaram de sair. Tiveram algumas dificuldades com a garota que também morava no apartamento com eles e acabaram contando a verdade para ela. A garota reagiu muito bem e até se ofereceu para ajudar no que for preciso – Louise explica rapidamente o acontecido, e convenhamos, não é nada normal, mas sempre tem pessoas com a mente mais aberta.

Mmm, de todo modo, que bom que elas conseguiram sair. Quando você chegar lá consegue me mandar a imagem do local? – solicito.

Claro que sim. E como estão as coisas aí? – Sinto que ela abriu um leve sorriso. Isso também é possível reconhecer com esse tipo de contato telepático, sentimos os esboços de sentimentos. Quando Dois e Oito entraram em contato conosco – por engano – enquanto lutavam com os guardiões, foi possível sentir o desespero de ambos.

Os meninos ainda estão dormindo. Acho que eles se deram muito bem, Louise. Talvez pelo trabalho em equipe, ou pelo fato de um ter sobrevivido por causa do outro. – Envio uma foto dos dois dormindo (ainda não sei como fazemos isso, é como mandar uma foto por rede social, você seleciona o que quer ir. É estranho! O que aqui não é?), quase abraçados. É no mínimo engraçado.

Eles são lindos! – Três deixa escapar.

Você tem o Frank, tire o olho! – ameaço.

Frank é só meu amigo e você sabe disso, Charlie – ela brinca.

A gente tira par ou ímpar quando estivermos juntas – sugiro.

Tenho mais sorte no jokenpô – ela afirma.

Ei, acho que Dois está tendo um pesadelo. Vou acordá-lo, a gente se fala depois, beijo, tchau – afirmo enquanto corro na direção cama de Dois, que se debate sem conseguir acordar.

— Ei, Dois! Dois acorde! - Oito acorda após levar um pontapé de Dois e de imediato entende o que está acontecendo. Ele vê que não consigo acordá-lo então corre até o banheiro e enche um copo de água, e em seguida, joga no rosto de Dois que abre seus olhos na mesma hora.

— O que foi? – ele questiona.

— Pesadelo, cara – Oito responde.

— Valeu pela ajuda – Dois agradece, meio viajando ainda.

— Confesso que pensei em te arremessar na parede, mas fiquei com receio de fazer algum estrago e convenhamos, não trouxe dinheiro para o reparo – brinco e Oito ri comigo, mas Dois ainda parece meio perturbado.

— Eu acabaria contigo em três segundos – Dois afirma, segurando o riso.

— Você sabe que não e capaz – afirmo.

— Basta te segurar e voar o mais alto possível, depois assistir sua linda queda – ele ri da situação.

— Você não conseguiria me tirar do chão, Dois – afirmo e sei que aquilo é verdade. Ele também sabe, espero.

≥ — ·

Quando chegamos em Dubai, Louise nos levou até o local indicado por Quatro, que junto de Lucky, haviam acabado de chegar no apartamento. Confesso que eu estava receosa por tanta gente morar junta no mesmo apartamento, mas sei, no meu interior, que é preciso. Nossa missão aqui é maior e assim como Lucky, farei de tudo para que possamos vencê-la.

Théo chamou um táxi para nos levar até o local indicado. Louise afirmou que Swane, Sete e Cinco estão a duas horas daqui e devem chegar logo no início da noite. Há muito tempo não vejo Lucky, éramos bons amigos quando em Típien, mas na divisão dos tutores, ele foi uma das pessoas que foram contra em me deixar com o guardião que desejava; confesso que hoje consigo entender melhor os motivos.

Chegamos ao local, Lucky e Quatro estão caminhando em direção à porta do apartamento. Desço do carro e chamo por Lucky – que não mudou nada – e ele para imediatamente. Théo acerta com o motorista e depois nos segue.

— Malkina! – ele abre um grande sorriso.

— Amigo Lucky, quanto tempo! – dou um forte abraço nele. – Você lembra de Théo, olha como nosso tutor mais novo está crescido! Esta é Louise, digo, Três.

Lucky abraça Théo e, em seguida, cumprimenta Louise. Quatro estende a mão para os dois também.

— Fomos procurar um chaveiro para fazer cópia das chaves, várias delas inclusive – Lucky estende o molho de chaves iguais. – Vamos subir?

— Claro, vamos sim.

Quando chegamos ao apartamento me surpreendo com seu tamanho e beleza. Acho que nunca vi nada daquele tipo. Ele é impecável, imenso, tão diferente do local onde morávamos.

— Os quartos ficam no andar de cima – Lucky afirma –, são cinco quartos. A área de treinamento fica daquele lado, próximo à sala de jantar. Logo vocês se acostumam com o local. Bom, também não me acostumei ainda.

A noite cai e Quatro nos informa que Swane e as garotas já chegaram ao aeroporto e logo estarão aqui. Quatro e Louise se deram bastante bem e ficaram boa parte do tempo juntos, além disso, foram responsáveis pelas escolhas dos quartos. Já Théo, parece que fica perdido sem a presença de Charlie. Anda de um lado para o outro e fica questionando constantemente sobre notícias da garota.

— Como foi ficar esse tempo todo distante? – Lucky questiona quando estamos sozinhos na sala, sentados lado a lado no sofá.

— Não teve um dia sequer que não tenha pensado nisso.

— Eu lamento muito, Malkina. Mas acredito que foi a escolha certa.

— Eu sei que foi. Mas, de todo modo, dói.

— Mas você sabe que tudo vai mudar, não é mesmo? – ele me olha intrigado e posso ver um pedido de desculpas em seu olhar.

— É, eu sei.

— O que você pretende fazer?

— Não sei ainda, estou confusa – admito.

— Você saberá!

— Elas chegaram! – Louise vem descendo as escadas correndo e gritando. – Estão lá embaixo.

— Eu desço – Lucky informa e pega uma das chaves e dirige-se à porta.

— Como demoraram – afirmo.

— Teve complicação no aeroporto e elas demoraram por isso. Charlie disse que em minutos já conseguirá se teletransportar.

— Que bom! – sinto um arrepio percorrer minha espinha.

— Acabei de mandar a imagem aqui da sala para ela – Louise afirma.

— Eu não preciso ver a sala, já sei como ela é – Quatro grita do andar de cima.

— Desculpa! – Louise grita. – É que eu enviei pra todos – ela dá de ombros.

Assim que Lucky abre a porta trazendo as garotas, Charlie aparece no meio da sala com Dois e Oito. Meus olhos mal conseguem acreditar no que estou vendo, sinto meu coração acelerar em meu peito. Ele está bem ali, diante de mim. Meu amado filho.