Nossa chegada conciliou com a chegada de Dois, Oito e Seis. Foi bastante estranho ver o jeito que Malkina – bom, eu não a conhecia, mas além de Swane, ela é a única tutora mulher que temos aqui – olhava para os meninos. Pelo menos eu achei. Ver todos juntos me fez lembrar de Branca. Sorri ao pensar que ela poderia estar aqui conosco, lutando em prol no nosso maior objetivo.

November corre para os braços de Ricky assim que o vê. Ela envolve seus braços no pescoço dele, que retribui entrelaçando a cintura dela com seus braços e puxando-a para mais perto do seu corpo. November dispara diversos beijos curtos nos lábios de Ricky, mostrando a todos que existe algo a mais entre eles.

— Cinco, vamos levar as coisas lá pra cima? – Swane parecia estar irritada com a cena que acabou de presenciar. Provavelmente November não tinha lhe contado o que estava se passando entre ela e Dois.

— Vamos sim, mas, precisamos de ajuda – comento baixinho.

— Vocês não podem esquecer que temos alguém super forte aqui – Seis brinca, enquanto recebe um forte abraço de Théo, seu tutor. – Eu ajudo a carregar, só precisam me indicar o local. Três logo se prontifica e subimos as quatro com as malas, Seis levando a maioria delas.

Como dois dos cinco quartos da casa são destinados às guardiãs, optamos por November ficar no mesmo quarto que eu, Três e Seis ficarão juntas. Swane e Malkina também ficarão em um quarto, assim como Théo e Lucky. Os garotos irão dividir o mesmo.

Estamos todos reunidos na sala e Swane está explicando o que houve com Miah, quando saímos da casa. Malkina e Jayden também mencionam que há outros humanos que sabem da nossa existência. O celular de Malkina toca logo na sequência.

— Olá Frank, tudo bem? – é justamente o rapaz que Malkina mencionou ter ajudado em algumas informações. Ela fica em silêncio, escutando o que o rapaz tem a lhe dizer. – Você tem certeza da veracidade dessas informações? – ela aparenta estar bastante preocupada e eu me sinto cada vez mais ansiosa. – Muito obrigada Frank, vou conversar com os outros e entro em contato contigo na sequência – ela então desliga o celular e fica em silêncio por alguns segundos.

— O que houve? – é Lucky quem quebra o silêncio.

— Frank disse que encontrou duas informações importantes na internet – Malkina começa a explicar – ele realizou algumas configurações que enviam para o seu computador todo o tipo de notícia, publicações e afins sobre os guardiões, utilizando termos mais comuns que possam sugerir envolvimento conosco. Enfim, a primeira notícia encontrada foi sobre a provável existência de pessoas com superpoderes na Irlanda. Vocês devem ter feito algo estranho aos olhos humanos ou então, alguém denunciou.

— Miah – November indica.

— Não sei se ela faria algo do gênero – Swane rebate. – Ela me parecia tão confiável.

— Pode ter sido outra pessoa, não sei.

— Será que meu pai, digo, Thonny descobriu algo? – Oito comenta. – Ele estava me perseguindo. Charlotte sabe para onde eu iria, ela nunca contaria para ele, a não ser que ele tenha... – Oito não consegue completar a frase. Ele olha para o chão e parece estar viajando em seus pensamentos.

— Porque você não tenta falar com ela? – Ricky sugere.

— Não, pode ser perigoso. Alguém pode tentar rastrear, não pode? – Théo questiona, parecendo estar confuso.

— Frank saberia lidar com isso facilmente – Três sussurra e é visível como sente falta do rapaz.

— O trazemos para cá então – Lucky sugere.

— Sério? – Os olhos de Três chegam a brilhar.

— Se ele concordar, porque não? – Lucky responde sorrindo. – Malkina, você mencionou dois fatos. Qual é o outro?

— Ele acredita ter encontrado pistas de onde Ugo está, o tutor da número Um.

≥ — ·

Bato na porta três vezes e espero alguns segundos antes dela se abrir e revelar alguém que há muito eu não via.

— Você pouco mudou, Thonny – exclamo sorridente.

— Digo o mesmo sobre você, Branca – ele me olha seriamente. – Entre, por favor.

Entro na casa de Thonny e parece que um furacão passou pelo local. Diversos livros estão espalhados pelo chão, há estantes caídas, cacos de vidro espalhados pela casa. Ando com cuidado para não pisar em nada e Thonny não parece preocupado em revelar o interior de sua casa, naquele estado.

— O que você quer? – ele logo pergunta, indo direto ao assunto.

— Não sei como você lidou com a saída dele, mas, você sabe, estou inconformada por Cinco ter me deixado. Você pode até pensar que eu estou pirando, talvez esteja, mas eu não cuidei a vida inteira de uma garota para ser abandonada quando acha que já pode voar sozinha.

— É a missão deles, Branca – as palavras de Thonny me atingem inesperadamente. Acreditei piamente que ele ficaria ao meu lado.

— Não posso aceitar, Thonny! Eu não consigo – sinto as lágrimas percorrerem o caminho dos meus olhos até perto de minha boca. Limpo-as com as costas de minha mão, sem me incomodar com o que Thonny está pensando.

— Tive que aceitar e você também precisa – ele se limita a dizer.

— Eu não irei aceitar assim tão facilmente. Preciso daquilo que você possui – afirmo.

— Você não é merecedora de possuí-lo, Branca – ele argumenta e dirige-se à porta, abrindo-a logo em seguida. – Está na hora de você ir.

— Você irá se arrepender, Thonny – saio depressa, correndo pela porta, sem olhar para trás. Preciso pensar em algum modo de reverter essa situação e trazer Cinco novamente para mim. Ou voltará a ser minha ou não pertencerá a mais ninguém.

≥ — ·

— Já estou sentindo sua falta – digo para Frank via skype. Estou no quarto que divido com Charlie, utilizando o notebook de Malkina.

— Eu também sinto a sua, Lou – ele pisca para a câmera.

— Quero te fazer uma oferta – prefiro já mencionar os fatos, pois, o quanto antes tudo se concluir, melhor.

— Pois então diga.

— O que você acha de vir morar com a gente? – sorrio discretamente, ainda meio desconfiada se ele aceitaria.

— Sério? – ele não esboça nenhuma reação, difícil de saber o que está pensando.

— Sim. Sabemos o quanto será importante e precioso tê-lo aqui conosco – admito.

— Eu teria que largar a faculdade – ele lembra.

— Sim, digo, trancar por um tempo – minha expressão se fecha, eu tinha certeza que entraríamos nesse assunto. – Discutimos sobre isso e prometemos recompensá-lo em breve. Você sabe, será difícil encontrar alguém que seja tão eficiente quanto você e que aceite a nossa verdade.

— Eu sei disso.

Ele fica em silêncio e sei que está considerando a oferta. Me preocupa o fato dele não vir, para nós seria realmente ter alguém que nos deixe informado aqui, sem falar que poderíamos realizar contatos externos com segurança e tantas outras coisas.

— Eu vou – ele diz repentinamente. – Vou por você, Lou.

— Fico lisonjeada, Frank, e muito feliz também – sorrio de orelha a orelha.

— Como faço para ir?

— Acho que é mais seguro você vir de avião mesmo, entende? Sem termos que utilizar nossas heranças para trazê-lo até aqui.

— É claro! Eu concordo com você.

— Lucky realizará uma transferência para sua conta, para você não ter despesas com a viagem, ok?!

— Tudo bem! – ele parece inquieto e não entendo o porquê. – Estou ansioso para te encontrar, parece que já fazem dias que não te vejo, pequena.

— Achei isso muito fofo, confesso.

— Ok, vou parar com isso – ele se aproxima da câmera e vejo seu rosto aumentar na tela. – Já que terei que me mudar, acho bom ir à universidade e providenciar o trancamento da matrícula.

— Certo. A gente se fala depois. Até mais, Frank.

— Se cuide, Lou.

A câmera de Frank foi desligada e tudo ficou preto, logo em seguida ele apareceu ausente em minha lista de contatos. A chamada foi encerrada, mas, tudo saiu conforme planejado. Daqui alguns dias terei o humano mais confiável perto de mim.

≥ — ·

A campainha toca e penso em pedir para meu pai abrir a porta, mas imediatamente me dou conta que ele está no aeroporto e deve chegar mais tarde. Saio em disparada do meu quarto para não deixar, quem quer que seja, esperando por muito tempo. Ao abrir a porta me deparo com uma mulher de cabelos curtos e olhos claros, sorrindo de canto.

— Oi, o que você deseja? – pergunto intrigada.

— Você conhece Jayden? – sua pergunta me parece estranha, não sei quem ela é e nem o porquê de me perguntar sobre o Jay. Afinal, de onde ela o conhece?

— Sim, conheço – me limito a dizer.

— Eu sei o segredo de Jayden, na realidade, sei mais do que imaginas. Jayden está em perigo e para salvá-lo eu preciso da sua ajuda.

— Em perigo? O que aconteceu com ele? – meu coração dispara quase que instantaneamente e sinto minhas pernas fraquejarem. Eu tinha certeza que não seria seguro deixá-lo viajar.

— Será que eu posso entrar? Tem mais alguém em casa? – fico em dúvida se devo deixá-la entrar, afinal, não a conheço. Bom, ela precisa me falar sobre Jayden e eu não posso simplesmente ignorar.

— Mm, tudo bem, entre. – saio da frente da porta para que ela possa entrar. – Desculpa, como é mesmo seu nome? – questiono.

— Meu nome é Branca e o seu? – ela sorri e senta-se no sofá da sala, que fica logo após a entrada.

— Sou a Charlotte. Como você me encontrou?

— Estive na casa do pai de Jayden e encontrei isto – ela retira de sua bolsa a foto que geralmente ficava na estante da sala de Jayden; uma foto só minha e dele.

— Ah, sim! – bom, se ela pegou a foto sem permissão, talvez não tenha sido tão boa a ideia de deixá-la entrar. Olho para o relógio, mas ainda falta um bom tempo para meu pai voltar do aeroporto.

— Preocupada com algo? – ela questiona.

— É que preciso fazer café, meu pai chega em instantes – minto.

— Prometo que não vou demorar – Branca levanta-se e caminha agilmente em minha direção. Ela retira algo de sua bolsa e investe contra meu rosto. Seu movimento é rápido demais e antes que eu consiga identificar o que ela utilizou, sinto o cansaço tomar conta do meu corpo e repentinamente tudo escurece.

≥ — ·

— Estranho! – Quatro de súbito, como se tivesse acordando de um sonho, embora não estivesse dormindo. – Acabei de ver uma mulher muito branca, de cabelos curtos e olhos claros carregando uma garota desmaiada, ela aparenta ter nossa idade, eu acho.

— É a Branca – comento. – Minha tutora. Como você fez isso?

— O pensamento apenas surgiu – ele dá de ombros.

— Provavelmente telepatia – Lucky explica. – Mia suma herança surgindo. A garota deve ter enviado um alerta de socorro e você conseguiu captar. E para isso acontecer, provavelmente ela sabe de nossa existência.

— Será que é a Maya? – November menciona.

— Também pode ser Charlotte – Oito diz e seu olhar é um misto de fúria e receio.