O domo se fecha. A escuridão acorda a multidão em polvorosa na platiea e as estrelas do céu holográfico iluminam a todos os fãs.

— Bem vindos ao segundo dia da Guerra Galática!

Muito coro, muita festa, muita ansiedade.

— Tá pronta pra hoje, Milene?

— Eu tô sempre pronta, Rogério!

— Então relembra o nosso público o resultado da nossa estreia maravilhosa.

— Bom, Rogério além daquela cerimônia de abertura incrível recontando a Mitologia Grega, tivemos a luta entre Alice de Golfinho e Ban de Leão Menor! A luta foi chocante, mas a super inglesa Alice levou a melhor e se classificou para a próxima fase. Melhor sorte para Ban na próxima vez.

— Teremos Guerra Galática de novo, Milene, o que você sabe que eu não sei?

— Eu já quero todo ano, Rogério. — e riram os dois com muita aprovação do público.

— E tivemos também a excelente luta entra Jabu de Unicórnio e Nachi, o Lobo! Uma tremenda vitória do Unicórnio em um confronto eletrizante!

— E tivemos também um show de encerramento incrível dos Maquiados depois da luta não é?

— Que banda! Eu quero muito o cabelo do vocalista pra mim.

— Ele é lindo demais mesmo, Milene.

— Mas chega de papo Rogério que hoje teremos mais duas lutas para assistir!

— É verdade, é verdade, senhoras e senhores.

A multidão responde com muita empolgação para alegria dos narradores.

— Mas antes, Milene...

— Num dá pra começar sem ela, né Rogério.

— Vem aí… a nossa Organizadora.

‘Saori! Saori! Saori!’ gritam as arquibancadas quando o holograma enorme materializa a figura elegante com seus cabelos pintados esvoaçantes. A mensagem de boas vindas é repetida como na primeira vez, os clipes espalhados pela rede são tão populares que o final da fala de Saori é repetida em coro por todo o estádio.

'...um deles se torne o próximo Cavaleiro de Ouro!'

E então a princesa desaparece nas estrelas. No céu estrelado, um conjunto de estrelas próximas brilham com mais força do que todas as outras. O narrador anuncia.

— Diretamente do Canadá, representando as Montanhas Rochosas e nevadas do continente norte americano, nosso primeiro lutador tem 15 anos de idade e traz toda sua força para representar a Constelação de Urso! Um rugido do urso para Jack! Jack, o Urso!

A torcida ruge com o enorme garoto que, de mãos na cintura, observa sua Sagrada Armadura montar sua silhueta protegendo-o de tudo.

— Esse cara num tem 15 anos nem a pau, Rogério. — disse Milene fora do microfone. — Vê na ficha aí direito.

— Tá 15 anos, a gente só aceita.

— Vai, vai que mudou as estrelas.

Rogério ligou o microfone.

— Nosso segundo herói da noite vem da Grécia! Diretamente do berço dos antigos mitos gregos, onde todas essas histórias de todas essas constelações tem sua origem. Um lugar de mistério e de muita história. Ele tem 14 anos de idade e representa o cavalo alado dos mitos gregos. É Seiya de Pégaso!

A torcida vem junto de Seiya, ele faz um aceno tímido e entra na Arena. Curiosamente, no entanto, sua Armadura não o veste e ele parece pronto para lutar com seu macacão vermelho.

— Ih, eu acho que deu algum problema ali. — falou Milene para Rogério.

— Diretor, avisa lá que o menino tá sem a proteção. Num vai ter a cena? Certeza? A turma gosta da cena. Tá. Tá. Vamo sem mesmo. — disse ele pra Milene antes de voltar pro ar. — — É isso mesmo que vocês estão vendo minha gente. O desafiante Seiya vai enfrentar o Urso Jack sem a sua proteção. Será que ele está louco Milene?

— Ou muito confiante, né, Rogério? Mas olha o tamanho do Urso. Eu não sei de onde vem essa confiança.

— Ah, vocês acharam que não teriam surpresas não é? O que será que vai acontecer, Milene. Vamos à luta!

— Lá vão eles…

— Ih, que eu acho que vai acabar rapidinho, o Urso já ameaçou Seiya, estalou os punhos, avançou como um touro e… parou! Seiya parou o Urso com as mão nuas!

— É incrível, Rogério. Olha o peso, mais de 1500 quilos e o moleque mirrado daquele conseguiu segurar o Urso.

— Ele tá nas cordas, num foi tão fácil assim. Eu to achando que o Urso Jack está brincando com o menino, viu. Olha lá, ele retornou e agora Seiya é quem ataca com um diretaço que o Urso bloqueou. Vê aí no medidor, Milene.

— Ihhh, Rogério. Só 900 quilos.

— Mas também sem a proteção. Talvez ele tenha cometido um grande erro, Milene.

— Lembrando a todo mundo que as Armaduras Sagradas que esses guerreiros usam podem dar a eles poderes especiais para usar na luta. É loucura não estar com elas.

— Seiya continua socando o Urso, mas com aquela Armadura ali ele num vai a lugar nenhum. Só vai machucar a mão dele.

— O Urso está rindo, Rogério!

— Estamos todos. Mas olha lá! Seiya tentou uma voadora! Bateu quanto aí, Milene?

— 1100, Rogério. Já melhorou.

— Mas tá longe ainda. Esse sorteio não ajudou o garoto, eu acho.

— A gente não sabe como seria se ele estivesse com sua Armadura né.

— Bom, ele fez a escolha dele. Seiya está agora rodeando Jack, provavelmente tentando encontrar alguma brecha que seus mil quilos consigam fazer algum efeito. Jack nem sequer se dá ao trabalho de levantar a guarda. E lá foi ele de novo. É inútil. Num vai dar certo.

— Agora foi ainda menos, Rogério. Só 800 quilos, eu acho que ele tá cansando. Nossa, o Jack pegou ele!

— Sim, minha gente, pode ser o final do primeiro round, o Urso Jack pegou Seiya com as duas mãos e o levantou da Arena. Olha a diferença de tamanho entre esses dois, a diferença de força. Pode ser o fim para Seiya.

— 1800 quilos, Rogério. Mil e oitocentos!

— Mil e oitecentos? Mas não é possível, um ser humano normal morreria com tanta pressão no pescoço, mas a gente tem que lembrar aqui que esses jovens são dotados de imenso poder.

— Dois mil, Rogério!

— Até quanto será que Seiya aguenta, será que ele vai desistir?

— Dois e duzentos. Que loucura!

— Dois e duzentos e subindo a pressão. Todos de pé que esse é o momento derradeiro da luta.

— Meu deus, pior que parece de verdade. — disse Milene fora do microfone.

— Pode falhar às vezes, mas eles são bons.

— Dois e quinhentos Rogério, mas não é possível o que a gente está vendo!

— Que brilho foi aquele Milene?!

— A pressão subiu para 3 mil, Rogério. Três mil!

— Não é possível, Seiya irá perder a qualquer momento e… mas, o quê? O que está acontecendo? Seiya está… abrindo o abraço do Urso?

— Rogério, isso é incrível. A enorme pressão que os medidores estão captando não era do enforcamento de Jack, mas das mãos de Seiya! Ele está quebrando a Armadura do Urso!

— Mas isso é inacreditável. Veja, veja! Seiya está com as proteções do braço de sua Armadura de Pégaso e quebrando a Armadura do Urso. Ele deu um chute giratório e finalmente se livrou do aperto!

— Agora a luta vai começar, Rogério, tô sentindo!

— Eu também. E vocês aí na plateia? Se preparem que o Pégaso finalmente chegou!

— Ué.

— O que aconteceu?

No centro da Arena, no entanto, Jack de Urso caiu inconsciente. Sua armadura totalmente rachada e despedaçada pela Arena.

— Um segundo, um segundo…

— Acho que falhou de novo alguma coisa.

— Aguardem um instante, por favor todos. Eu acho que… eu acho que houve uma falha técnica, vamos confirmar com nossos diretores.

— Veja Rogério, o Seiya está com a proteção de perna da sua Armadura também!

— Sim, é verdade Milene. E o computador está anunciando que é vitória por NOCAUTE de Seiya de Pégaso!

A plateia vai ao delírio, mas Rogério e Milene ficam confusos na cabine.

—/-

O corpo de manutenção retira os pedaços da Armadura de Urso da Arena e Jack sai apoiado por Seiya, para muitos aplausos das arquibancadas. Os dois vão até o vestiário atravessando um túnel curto.

— Você não devia ter lutado sem sua Armadura, Seiya. — disse Jack.

— Bom, não era pra nenhum de nós estar lutando com nossas Armaduras.

— De qualquer forma, parece que sua Armadura escolheu te ajudar dessa vez. — disse Shun, se aproximando a eles.

— Que chute incrível, Seiya! — disse uma garota muito feliz para Seiya quando ele chegou.

— Obrigado Xiaoling.

— Eu vi exatamente o que você fez, ouviu? Não pense que me enganou. Aqueles tontos da TV podem num ter visto, mas eu vi que num foi só um chute. Foram vários!

— É realmente impressionante Seiya. — disse Jack.

— O seu aperto também é incrível, Jack. Se não fosse a Armadura me ajudar, eu provavelmente teria perdido.

— Bom… agora sou eu! — anunciou Xiaoling. — E aí, Shiryu! Cê tá pronta?

Os olhos de todos foram ao outro lado do vestiário em que uma misteriosa garota de longos cabelos pretos estava até então apenas olhando pela abertura que tinham para observar a batalha na Arena. Ela descruzou os braços e acompanhou a baixinha mais empolgada para a Arena.

— Boa sorte. — disseram todos às duas.

Os comentaristas anunciaram e a luta logo se iniciou, os jovens todos se amontoaram no espaço reservado do vestiário para assistirem a luta por um ângulo melhor. Shiryu, assim como Seiya, escolheu não usar sua Armadura, ao contrário de Xiaoling.

— Shiryu de Dragão e Xiaoling de Ursa Menor. Eu não lembro delas de quando éramos pequenos. — comentou Seiya ao ver as duas lutando na Arena.

— Xiaoling chegou depois que você já tinha partido. — disse um garoto ao lado de Seiya. Era Jabu.

Seiya desviou os olhos dele.

— Mas Shiryu realmente não parece ser daqui. — comentou Shun.

— Eu fico me perguntando quantas crianças essa Fundação arruinou com a vida. — disse Seiya amargo.

— Parece que a luta acabou. — comentou outro dos garotos.

— O quê? — disse Seiya procurando a tela. — Ah, foi só o primeiro round, Ichi. Aliás, logo será você e o Shun, como nos velhos tempos.

— E como nos velhos tempos, é claro que eu vou vencer. — e deu risada.

— Eu não teria tanta certeza. — comentou Shun chegando mais perto deixando Ichi desconcertado.

Seiya deu risada com os dois, mas também se dedicou a observar melhor a luta entre Shiryu e Xiaoling.

— A Dragão parece incrível. Se ela passar, ela vai te enfrentar Seiya. — comentou Ichi.

— Ih, então você tá frito Seiya. É melhor usar a Armadura completa contra ela. Ela está aqui alguns dias já e ela arrebenta nos treinos. — debochou Jabu.

O sino soou novamente e Dragão venceu também o segundo round para profunda alegria da plateia que assistia. Seiya viu como Xiaoling vinha sendo carregada por Shiryu até o vestiário.

Jabu foi ao seu auxílio enquanto Ichi e Shun parabenizaram Shiryu assim que ela chegou. Xiaoling chorava de dor.

— Ah, Xiaoling, o que aconteceu? — perguntou Seiya preocupado.

— Ela está fingindo. — disse Shiryu, muito séria.

— Ah, você percebeu? — riu Xiaoling.

— Você deveria ter lutado sério.

— Eu iria perder de qualquer forma, você é muito, muito forte. Você tá perdido, Seiya. — comentou a Ursa Menor.

— E aí, Jack, você está melhor? — perguntou Jabu ao ver o grandão aparecer novamente no vestiário após passar pelo centro médico.

— Sim, sim. — disse ele, mas Seiya viu que havia ainda alguns ferimentos em Jack, graças aos seus chutes.

— Eu não entendo. O que vocês fazem aqui? Porque estão lutando nesse torneio idiota? É proibido que os Cavaleiros entrem nesse tipo de batalha por causa de um prêmio.

— Proibido? — perguntaram juntos Jabu e Jack.

— Eu realmente ia gostar de ser um Cavaleiro de Ouro. — comentou Ichi.

— Aquela nem deve ser uma Armadura de verdade, Ichi. — disse Seiya.

— Eu tenho meus motivos. — disse Xiaoling cheia de si.

— Ora, e você Seiya? Isso é medo por acaso? — perguntou Jabu e os dois estavam prontos pra se pegar ali mesmo.

— Seiya e eu decidimos lutar esperando que nossas irmãs possam nos assistir e nos encontrar. — disse Shun apartando. — Eu nem gosto de lutar.

— Não gosta de lutar… — debochou Jabu.

— E você Shiryu? Porque está aqui? — perguntou Xiaoling para quebrar a tensão do vestiário e todos se viraram para ver o que ela diria. Ela descruzou os braços e sem olhar para ninguém respondeu só para si mesma.

— O meu Mestre me disse que aqui era o meu lugar.

— Você não parece muito convencida disso. — comentou Seiya após um breve silêncio.

Ela não respondeu.

— Bom, é isso. Já que fui eliminada, só me resta ir treinar mais. A minha sorte é que minha mestra fica aqui na cidade. Eu vou amanhã mesmo. — comentou Xiaoling. — Eu vou logo falar com ela que eu preciso ficar tão forte quanto a Shiryu de Dragão.

— Aqui!? — perguntou Seiya interessado. — A minha irmã também foi enviada para treinar aqui na cidade. Você… você a conheceu? Seu nome é Seika.

— Ah, a Seika. — disse Xiaoling para brilho dos olhos de Seiya. — Não. Infelizmente não. Quando eu entrei na Academia, ela já tinha saído.

Mais uma decepção fez Seiya socar um dos armários.

— Mas a Mii conhece!

— Mii? Quem é Mii?

Xiaoling puxou Seiya até a entrada do túnel e apontou para o camarote iluminado em que Saori Kido distribuía seus acenos para os fãs; ao seu lado uma garota que Seiya já havia visto antes.

— Aquela é a Mii? É a Alice, não é?

— Isso. Eu chamo ela de Mii, porque ela é como uma irmã mais velha. A gente treinou junto, mas ela chegou muito antes do que de mim. E ela com certeza conheceu sua irmã.

Seiya segurou Xiaoling nos braços e a abraçou.

— Obrigado Xiaoling!

—/-

Tarde daquela noite, quando o jardim estava deserto, as fontes desligadas e os grilos cantando. Seiya arrastou Shun para uma aventura noturna.

— A gente não deveria estar acordado a essa hora, Seiya.

— Fala baixo Shun, eu preciso falar com essa Alice.

— Não dá pra esperar amanhã?

— Ela tá sempre acompanhada daquela chata da Saori. Eu preciso falar, é importante, Shun. Vamos, me dê uma força aqui.

— Você fez sete anos de treinamento e não consegue subir ali no telhado?

— Anda logo, Shun.

Shun fez pé para Seiya e o arremessou no telhado, para um protesto silencioso de Seiya com o amigo. No telhado, próximo aos quartos do sótão, Seiya se aproximou calmamente e viu a luz acesa de um quarto; pisando nas telhas como um gato ele se aproximou, mas viu que a janela estava com a cortina um pouco fechada. Enfiou a cara no vidro tentando enxergar Alice, mas quando a garota puxou a cortina com força, Seiya viu que era o quarto de Saori Kido. Ela vestida de pijama e um rosto incrédulo.

Seiya tombou pra trás e caiu do telhado ao lado de Shun.

— Corre Shun!

Disse ele baixo e os dois voltaram para os dormitórios.