Opostos

Grande Passo


Capítulo V – Grande Passo



“Nada grandioso aconteceu. Apenas sinto que dei um pequeno, quase imperceptível, passo para uma vida mais madura. Eu simplesmente não suporto mais pintar o céu de cor-de-rosa para achar que vale a pena sair da cama.”



Tati Bernardi



Ponto de vista por Isabella Swan



Assim que eu entrei em meu minúsculo apartamento, me arrependi de ter convidado Edward a entrar. Ele estava mais bagunçado do que eu me lembrava, e aquilo era vergonhoso.

–Por favor, não repare na bagunça. Eu sou uma negação nesse lance de deixar a casa arrumada sempre. –Eu dei espaço para que Edward entrasse, mas continuava nervosa. Eu não suportaria ouvir alguma crítica dele. –E, por favor, também não repare no tamanho minúsculo do meu apartamento, eu...

–Isabella, pare. –Assim como havia acontecido antes, ele sorriu para mim e olhou em meus olhos. E, novamente, meu coração começou a bater rápido demais e as borboletas no meu estômago ressurgiram. Eu não fazia a mínima ideia do que ele queria falar, mas eu prendi a respiração ainda mais. –Eu não sou a sua irmã, muito menos a sua mãe. Eu não estou aqui para jogar você para baixo, linda. Você pode entender isso? Pode confiar em mim, por favor? Eu estava falando sério quando disse que entendia totalmente o que era se sentir como você está se sentindo. Saber que você espera que eu seja tão cruel com você como sua família é não me agrada muito.

Eu suspirei pesadamente. Não era nada daquilo. Não era como se eu esperasse que Edward me tratasse mal, mas eu estava acostumada a ser tratada só daquele jeito que eu já estava preparada para que acontecesse. Nada tinha a ver com ele, e sim com um geral. Que bela merda. Eu precisava trabalhar nisso. Edward estava certo em tudo o que me dissera em seu carro.

–Não é isso. Eu só não estou acostumada a ter alguém que se importa comigo além de Claire e uma amiga que está muito longe há algum tempo. Desculpe. –Novamente, Edward sorriu. Nós ainda estávamos parados próximos à porta, e aquilo estava começando a se tornar vergonhoso. Por favor, sente-se. –Indiquei a ele o sofá e ele logo fez o que eu pedi. Assim era melhor do que ficarmos parados à minha porta. Sentei-me ao lado dele também, visto que eu só tinha um sofá de dois lugares, mas eu aproveitei para manter uma distância respeitável entre nós.

–Tudo bem. Eu sei que não é fácil. Quando meus tios me aceitaram juntamente com as minhas escolhas, do jeito que meus pais não fizeram, eu simplesmente estranhei por um tempo antes de perceber que eles realmente se importavam, e que o problema não era eu ter feito escolhas divergentes das dos meus pais, e sim eles que não entendiam que eu não era uma pessoa moldada às vontades deles mais.

O professor Cullen falava como se realmente soubesse pelo que eu estava passando, e meu coração se apertou por isso. Por algum motivo desconhecido por mim, eu não queria que ele tivesse sofrido e se sentindo sozinho como eu me sinto. Era triste demais, e um homem como ele certamente não merecia tal tratamento. Porém, quem merecia o desprezo de sua própria família? Ninguém.

–Edward, posso lhe perguntar uma coisa? –Eu mordi os lábios nervosa, enquanto esperava sua resposta.

–Qualquer coisa, Isabella. –Ele se aproximou minimamente de mim no sofá e eu reprimi um suspiro. Eu nunca me acostumaria com aquela voz rouca pronunciando meu nome daquela maneira que só ele sabia.

–Você retomou o contato com eles? Com seus pais? Eles se arrependeram de reprovar suas escolhas? –Eu esperava realmente que sua resposta fosse sim. Eu esperava que ele me dissesse isso porque eu queria ter esperanças que um dia minha mãe se se orgulharia de mim como se orgulhava de Rosalie. Eu só queria ter o seu amor, isso era pedir demais? Deus, eu sentia realmente falta de meu pai e seu apoio incondicional.

–Não. Eles não se arrependeram, Isabella. Eles morreram num acidente trágico e nem ao menos deixaram que eu herdasse nada deles. Eles alegaram no testamento que eu tinha me desvirtuado na vida e que não dariam o dinheiro deles para um professor vagabundo. –Ele riu tristemente e eu tive vontade de abraçá-lo. Edward era um homem tão doce. Ele não merecia rejeição. Nem de seus pais, nem de ninguém. –Eu fiz engenharia civil por um tempo, sabe? Por um tempo longo demais, eu diria. Quatro longos anos... Então, faltando apenas um ano para que eu finalmente me formasse, eu desisti. Eu percebi que eu odiava meu estágio, eu odiava minha faculdade e odiava minha vida. Só fazia tudo aquilo por causa de meus pais, porque meu sonho sempre fora fazer matemática e lecionar. Eu sou muito bom com os números, realmente, mas não queria usar meu talento para ser engenheiro, muito menos queria herdar a empresa de meu pai. Eu contei tudo para meus pais e eles não aceitaram minha decisão. Disseram que eu ganharia uma miséria e não seria reconhecido, e que eles não sustentariam filho nenhum assim, muito menos teriam coragem de me apresentar para seus amigos ricos e esnobes. Eles me deram uma escolha: ou eu continuava na engenharia e começava a trabalhar na empresa de meu pai, ou eu poderia sair daquela casa e nunca mais voltar.

–Isso é horrível, Edward. Eu sinto muito, de verdade. Você não merecia passar por isso. –Ele colocou uma de suas mãos sobre a minha que estava perto dele no sofá, e eu aproveitei a sensação de paz que se apoderou de mim apenas com aquele simples toque.

–Ninguém merece passar por isso, Bella. Porém, eu fui para a casa dos meus tios, Esme e Carlisle. Esme era irmã de minha mãe, mas elas eram tão diferentes, entende? Esme é dona de um ateliê de arte, e ela pinta como ninguém. Ela nunca teve o reconhecimento que merecia, mas sabe o que é mais impressionante nisso tudo? Ela não se importa com o reconhecimento dos outros, porque faz o que quer e o que gosta. Isso é mais importante do que qualquer coisa. Meu tio Carlisle é médico e ele trabalha muito, mas não é do tipo esnobe. Ele realmente faz aquilo porque ama cuidar das pessoas, então, quando os dois souberam o que meus pais tinham feito, eles saíram como loucos atrás de mim pelas ruas próximas da minha casa, mesmo eles morando do outro lado da cidade. Eles me acharam e me acolheram, fazendo com que eu sentisse que, pela primeira vez na vida, eu tinha um lar. Porque eles eram os únicos que se importavam. Eles eram meus pais realmente, sabe? Uma família te apoia, independente de qualquer coisa. Não te joga para fora de casa. Por muito tempo, no entanto, eu fiquei procurando a aprovação de minha mãe e pai. A cada conquista, eles nem ao menos ligavam. Mas Carlisle e Esme estavam sempre lá, orgulhosos por mim. Por fim, quando meus pais morreram, eu fiquei triste, claro, mas foi só isso. Porque quem me acolheu foram os meus tios quando eu mais precisava, e eles são a minha única família. Eles e meus primos, claro, que sempre foram como irmãos. –Ele me lançou outro sorriso triste, e eu sorri da mesma forma para ele, pensando no que eu poderia dizer para fazê-lo se sentir melhor, mas nada vinha à mente.

–Obrigada por me contar tudo isso. É realmente muito importante para mim, sabe? Ter alguém que me entende. Obrigada, Edward.

–Sempre que precisar, Bella. Somos amigos, não somos? –Seu sorriso torto era tão contagiante que eu não tive como não retribui-lo.

–É claro que sim, Edward. –Porém, as sensações confusas que eu estava tendo desde que conheci aquele homem estavam longe de serem apenas de amizade. Contudo, se era só o que eu poderia ter, eu iria aproveitar. Ele era a melhor pessoa que eu já havia conhecido, sem mentira nenhuma. Ele fazia com que eu me sentisse um pouco menos sozinha no mundo, e aquilo era mais do que eu poderia pedir. –Somos amigos. –Falei para confirmar. A palavra amigos não me parecia muito correta, mas deixei esses pensamentos para depois.

–Então, já que somos amigos agora, acho que podemos marcar de sair. Você sabe, nos conhecermos melhor. O que você vai fazer no final de semana?

–Eu fiquei de levar a Claire no parque. –Ele sorriu.

–Ótimo. Eu adoraria ir com vocês. Posso? –Deus, ele queria mesmo sair comigo e com a minha sobrinha? Ele queria realmente gastar seu tempo comigo?

–Claro que pode! Nós duas vamos adorar! A Claire vive falando muito bem do professor dela, o tempo todo, mesmo ela odiando matemática. –Quem não falaria bem daquele homem, de qualquer maneira?

–Então, eu já vou indo. Você com certeza tem que acordar mais cedo que eu, linda. –Era impressão minha ou ele realmente me chamou de linda pela segunda vez na noite?

Assim que ele se levantou, eu levantei-me também. Imediatamente, lembrei-me do suposto motivo de ele estar aqui e fui até o balcão onde eu tinha deixado seu guarda-chuva. Edward sorriu ao vê-lo.

–Desculpe pela demora em devolvê-lo, Edward.

–Não há pressa, Isabella. Eu devo confessar que tinha dito para você que podia me levar o guarda-chuva lá na escola, mas eu gostei muito mais de vir busca-lo pessoalmente. –O professor piscou para mim e eu suspirei, dessa vez não conseguindo me conter. Como ele poderia ser tão... Ele?

–Eu também gostei de você ter vindo. Obrigada pela carona, também. –Fique. Eu queria dizer a ele, mas, sinceramente, como poderia? Nós éramos apenas amigos e amigos recentes. Amigos recentes não ficam na casa um do outro assim. Ele nem deveria querer ficar. Eu ainda apostava tudo o que eu tinha afirmando que ele deveria ter uma namorada linda em algum lugar dessa cidade esperando por ele.

–Se cuida, Bella. Você deve buscar a Claire mais vezes na escola, é sério. Eu vou adorar vê-la. –Eu sorri com aquilo. Eu também adoraria vê-lo.

–Você pode me dar o seu telefone. Assim, podemos manter contato e não só por causa de Claire. –O professor pareceu aprovar a minha ideia, pois me lançou outro de seus sorrisos lindos.

–Tudo bem. Tem uma caneta e um papel?–Eu queria dizer a ele que eu poderia simplesmente anotar o telefone na agenda do celular, mas eu achava tão legal quando as pessoas simplesmente esqueciam da tecnologia por um minuto e usavam um papel. Acho que Edward também pensava assim, então entreguei uma caneta a ele, juntamente com meu bloquinho de anotações preferido. O professor escreveu ali seu número e logo abaixo, seu nome. Assim que ele me entregou o papel de volta, eu sorri. Sua letra era tão bonita.

–Sua letra é bem bonita para quem trabalha com números, professor Cullen. –Eu provoquei.

–Ah, sim. Eu não queria falar isso, mas já que você tocou no assunto, eu era péssimo em redação na escola. Então, a professora simplesmente me colocava de castigo de vez em sempre. Eu preenchi muitos cadernos de caligrafia na vida. Serviu para alguma coisa, no entanto.

Eu gargalhei com aquilo. Eu era péssima em matemática e ele era péssimo em redação. Éramos tão diferentes. E isso só me fazia ficar mais fascinada por ele.

–Tudo bem, eu lhe mando uma mensagem para você saber o meu número. Não esqueça de escrever certo, professor Cullen. Nem pense em separar o predicado do sujeito com vírgula, e...

Eu fui interrompida, no entanto, quando Edward se inclinou até mim e me deu um beijo demorado em minha bochecha. Tudo o que eu estava falando foi se perdendo aos poucos, enquanto eu sentia seus lábios macios e quentes sobre minha pele.

–Eu sei as regras gramaticas, Srta. Swan, fique tranquila. Até mais. Se cuide, está bem? E não deixe sua mãe e sua irmã te tratarem daquele jeito de novo.

Tudo o que eu consegui fazer foi concordar com a cabeça. Ele sorriu torto pela milésima vez naquela noite e, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele caminhou até a porta e foi embora, deixando-me sozinha com meus pensamentos, com seu número, com sua linda caligrafia, e também com a pele da minha bochecha ardendo, querendo muito mais do que apenas um beijo delicado daquele homem que tinha me encantado muito mais do que poderia.