Opostos

Aproximação.


Capítulo VI – Aproximação

Eles são muito diferentes. Gênios opostos, eu diria. Mas tem algo em comum. A liberdade. O desapego. O medo da entrega. Quem sabe ficando juntos encontram uma solução. Bem que podia né? Ela sempre pensou assim: “Para ficar do meu lado tem que ser melhor que minha própria companhia. Eu tenho que admirar. ” E ele me parece um pedaço daquilo que a vida tem de mais charmoso. Ele não faz planos ou promessas, só surpresas, te ensinou a gostar de surpresas. Ele é diferente. ”

Tati Bernardi



Oi, professor. Esse é o meu número. (Carinha sorridente). Não, Isabella. Óbvio demais, infantil demais. Seja madura. Eu havia perdido a conta de quantas vezes já havia escrito e apagado mensagens para Edward. Depois que ele fora embora de meu apartamento, corri para o meu celular e adicionei seu número. No Whatsapp, sua foto de perfil era uma selfie em que se encontrava ele, na escola, com alguns de seus alunos. Claire estava na foto, sorridente. Sorri também, sentindo meu coração se encher de uma repentina paz. Edward me trazia paz, além de ser para mim quase que um exemplo. Resplandecia dele a satisfação em fazer o que fazia. Ele com certeza poderia ter sido um bom engenheiro, mas não seria tão feliz. Rapidamente, digitei uma nova mensagem, e dessa vez, enviei sem pestanejar:

“Que pessoa linda na foto! ”. Esperei que ele visualizasse e respondesse.

“Ora, muito obrigada, Srta. Swan! (Carinha piscando) ”.

“Estava falando da minha sobrinha, lá atrás”.

“Que pena! Achei que eu era um homem, ao menos, ajeitadinho”. Eu ri sozinha. Ajeitadinho passava longe de ser um adjetivo à altura de Edward. Ele era charmoso, bonito, inteligente, cheiroso.... Nem parecia real, com tantas qualidades assim.

Deitei-me em minha cama, sentindo o peso do dia exaustivo cair com tudo sobre mim. Minha mãe nunca mudaria? Os pais de Edward não mudaram. Rosalie, um dia, me trataria como sua irmã, como as amigas que éramos na infância? Eu duvidava muito. Porém, duvidar não significava que eu não desejava isso, pois seria muito melhor para Claire, e para a minha convivência com minha sobrinha. Sonhar ainda não era proibido...

“Você dormiu? ”

“Ainda não, só estava pensando na vida... Foi um dia difícil. Obrigada por torná-lo suportável”.

“Ao seu dispor, linda. ” Meu Deus. Edward Cullen, professor sexy de minha sobrinha, havia me chamado de linda, só no dia de hoje, três vezes. Não que eu esteja contando.

“O que você gosta de fazer? Você sabe, no tempo livre”. Eu sei, eu sei: deveria estar dormindo, mas não conseguia. Eu queria conversar mais com Edward, conhecê-lo mais. Afinal, não éramos amigos agora? Amigos sabiam o que o outro gostava de fazer.

“Eu gosto de resolver equações difíceis de matemática, de brincar com meu gato, de assistir séries...Várias coisas. Gosto de corrigir provas, também, mas isso não entra dentro do tempo livre. E você? ”. Sorri. Sério mesmo, corrigir provas? Esse homem era inacreditável.

“Ugh. Números. Eu odeio números. Gosto de ler, na verdade, eu amo. Gosto muito de literatura, e além de ela ser meio que uma obrigação também por conta da faculdade, também me ocupo dela em meu tempo livre, com outro tipo de livros. Eu gosto de séries também, pelo menos temos algo em comum”.

“E quanto a filmes? ”

“Eu adoro filmes. Principalmente se forem de terror. Tanto aqueles de terror que dá mais susto, quanto os de terror psicológico. E você?”

“Eu gosto de romances. Não ria de mim por isso. Dramas, então. Eu sou viciado”.

“Que surpresa, professor Cullen. Quem diria! Hahahaha”.

Edward era a pessoa mais imprevisível que eu já conhecera. Quem diria que ele era fã de dramas e romances? Ele era o oposto de tudo que eu era.... Porém, era o oposto de uma maneira boa. De uma maneira que fazia com que eu me interessasse cada vez mais por ele, pelo que ele fazia, pelo que ele gostava. Era loucura, certo? Edward gostava de mim, como amiga. Apenas como amiga. Ele já havia feito muito me defendendo da minha própria família, me falando da rejeição que sofrera também por seguir seus sonhos. Era isso. Só isso. Nada de mais. Você está ficando louca Isabella Swan. De todas as pessoas por quem você poderia se apaixonar.... Não, não ele. Suspirei, cansada. Eu sabia o que eu estava sentindo, só não queria admitir. Estava encantada pelo professor de minha sobrinha, estava me apaixonando por ele. Porém, por enquanto, guardaria esses sentimentos para mim. Eu já tinha muita coisa para me preocupar. Uma delas, era como eu iria acordar cedo pela manhã indo dormir tarde da madrugada hoje. Vida de universitária pobre que trabalha não é fácil...

“Edward, eu preciso dormir. Obrigada por tudo! Até mais”.

Sem esperar que ele me respondesse, larguei o celular de lado e me concentrei em dormir. Amanhã seria outro longo dia.

(...)



—E eu quero tudo pronto antes de você ir embora, Srta. Swan. É urgente! Entendeu? –Acenei com a cabeça em concordância, mas o que eu queria mesmo era mandar o meu chefe longe. Puta que pariu, eram 10h da manhã e ele queria que eu terminasse uma revisão de 45 páginas até as 12h. Era isso que fazia com que eu odiasse o meu estágio. Ele poderia, muito bem, ter me dado o artigo para corrigir antes, mas não. Ele deixou para a última hora de proposito, porque sabia que não seria ele a revisar. Se fosse em um lugar sério, que prezasse a qualidade dos serviços que entregavam, eu teria, ao menos, uma semana para revisar essas páginas. Revisar é mais do que corrigir vírgulas ou gramáticas. Uma pena que a maioria das pessoas se esquecessem disso.

Contudo, eu não poderia jogar tudo para o alto e simplesmente desistir desse estágio. Era com o pouco salário que eu ganhava dali que me sustentava, desde que eu havia saído da casa de minha mãe. E eu não queria nunca, nunca mesmo, ter de admitir para a Sra. Swan que eu não conseguia me manter sozinha com o que eu ganhava. Conseguia, sim. E ainda sobrava (às vezes) para o Mc Donald’s da Claire. Era o que importava, por enquanto. Sentindo-me resignada, bloqueei meus pensamentos pessimistas e comecei a ler o artigo. Seriam duas horas (ou mais) longas...

Quando eu já estava quase acabando, exatamente às 13h, recebi uma mensagem. Meu coração começou a pular precipitadamente. Seria Edward? Eu queria que fosse Edward? Sim, eu queria. Porém, desde madrugada, quando eu havia dado boa noite, ele nada respondera.

Contendo minha curiosidade e ansiedade, coloquei para imprimir o artigo revisado. Apesar de não ter tido muito tempo, dei o meu melhor. Estava pronto para a publicação. Um suspiro de alívio saiu de minha boca quando fui entregar o artigo para meu chefe e sua sala estava vazia. Ele havia saído para almoçar. Sortudo babaca. Coloquei um post-it em cima do artigo dizendo que estava todo revisado, e que o arquivo estava no pen-drive da empresa, caso ele quisesse, e saí de sua sala. Peguei minha bolsa correndo, arrumei minha mesa, e saí rumo a faculdade. Eu já estava bastante atrasada. No ônibus, finalmente peguei meu celular e abri o Whatsapp. Sim, a mensagem era de Edward. Meu sorriso foi imediato.

“Boa tarde, linda. Hoje é sexta feira! Já está em sua última aula da semana? ” Linda. Lá estava o adjetivo linda novamente. Pela quarta vez em dois dias. De novo: não que eu estivesse contando.

“Ainda não. Meu chefe fez questão de me atrasar! Tive que revisar muitas páginas hoje, mas agora já estou a caminho para a aula. ”

“Esses chefes... São uns porres. Por isso que ser professor tem suas vantagens. Na sala de aula, com os alunos, só você sabe e coordena o que tem de fazer. ” Edward estava certo. Ser professor era maravilhoso em alguns aspectos: você planeja sua aula, você explica da melhor maneira, você administra o tempo.... Estava ansiosa para me tornar uma professora formada. Ao contrário do que minha mãe dizia, eu não daria aula para crianças, e sim para já pré-adolescentes até o fim da adolescência, no ensino médio. Estava ansiosa para poder planejar minhas próprias aulas de Língua Inglesa e de Literatura. Eu seria uma boa professora? Esperava que sim.

“É verdade. Estou ansiosa para poder mandar e não ser mandada. ” Era, obviamente, uma brincadeira. Eu não fazia o tipo de pessoa mandona, que parecia um general e não uma professora falando com os alunos.

“Não sabia desse seu lado, Srta. Swan. Estou surpreso, pois devo admitir que você me parece muito meiga para dar ordens. ”

“É como dizem: quem vê cara, não vê coração. Sou uma futura professora do mal! (Carinha rindo). ”

“E essa futura professora do mal aceitaria meu convite? ”

“E qual seria? ” Um convite? Meu Deus. Amigos se faziam convites, certo? Certo. Não havia motivo para que eu ficasse ansiosa. Mas eu estava.

“Janta comigo? A gente pode pedir uma pizza na sua casa, ou na minha.... Ou podemos ir até a pizzaria. O que você preferir. ” Ele queria sair comigo. Queria me ver. O professor inteligente e charmoso da Claire estava me convidando para comer uma pizza com ele. Era idiotice eu estar feliz por isso? Provavelmente.

Eu poderia dizer que não, que estava muito cansada para qualquer coisa. Poderia dizer que tinha muita matéria acumulada para estudar amanhã, no sábado. Porém, ao invés de eu dizer qualquer uma dessas desculpas, eu digitei:

“Claro. A gente pode pedir uma pizza na minha casa, desde que eu possa escolher um filme para vermos um filme depois. ” Sexta à noite tinha que ter Netflix na programação, certo?

“Eu vou adorar. Te busco às 19h na faculdade. Sem discussões. Um beijo, linda. ” Linda. Quinta vez, e contando. Além de me convidar para jantar, ele ainda iria me buscar na faculdade? Eu só podia estar tendo alucinações. Provavelmente ontem, quando fui à casa de minha irmã, minha mãe me deu um tapa tão forte que me fez entrar em coma, e tudo o que Edward fez e falou ontem e hoje não passam de uma alucinação boba da minha cabeça. É isso.

Bem, alucinação ou não, eu estava bem ansiosa para comer uma pizza e ver um filme com o professor Cullen. Olhei no meu relógio: 13h30. Faltava muito ainda para às 19h? Eu contaria os minutos com prazer.

Eu já disse que amo as sextas-feiras? A partir de agora, sim, eu amo.