Elas acabaram na cabine de isolamento, um lugar escondido na floresta e distante do acampamento, que parecia ser propositalmente frio e úmido. Fora isso, não era tão ruim. Elas poderiam caminhar até o acampamento principal para as atividades diárias e, de qualquer maneira, o lugar era bem pacífico.

Essa era, pelo menos, a visão de Emma. Liv estava bem mais estressada e aborrecida. Ela não tinha que estar ali, ela era a vítima. Nos primeiros dias de reclusão, ela se recusou a falar ou até mesmo reconhecer a presença da colega. Quando ela resolveu reconhece-la, foi para culpa-la por tudo que havia acontecido.

O que as fez falar uma com a outra sem brigar foi o tempo. Uma chuva forte tinha começado de madrugada, enquanto as duas dormiam, e tinha obrigado ambas a permanecer na cabine de isolamento durante o dia inteiro. Quando Emma escolheu protestar sobre isso, Liv, que estava ocupada pendurando algumas fotos em seu lado da cabine, simplesmente ignorou. Mas então um vento forte veio através da janela, que estava aberta, e derrubou todas as fotos de Olivia, que foi tentar fechar a janela. Sozinha, porém, ela não conseguiria. Logo, de má vontade, foi obrigada a pedir a ajuda de Emma.

“Está emperrado!”, disse Liv.

Emma dirigiu um olhar para ela. “Então você está pedindo minha ajuda?”

Liv suspirou pesadamente. Resolvida a aceitar a oferta de paz dela, Emma levantou-se de sua cama, foi até a janela e ajudou Olivia a fechá-la.

Liv então deu um outro suspiro e agradeceu a colega.

Vendo que ela foi pegar as fotos que caíram no chão, Emma foi ajuda-la na tarefa. “Alguma estragou?”, perguntou ela.

“Graças a Deus, não. Mas essas eu nem me incomodaria, na verdade. Tenho outra foto, essa sim, essa tem que ser guardada a sete chaves. É a única que tenho dele.”

“Dele quem?”, perguntou Emma.

“Meu pai”, respondeu a outra. “E por favor, não faça piada sobre eu não ter pai, só uma foto dele.”

“Não posso fazer piada. Também só tenho uma foto da minha mãe.”

“Deixe-me ver se eu entendi. Eu não tenho pai, só uma foto dele. Você não tem mãe, só uma foto dela. Qual é a data do seu aniversário?”

“3 de maio”, disse Emma.

Liv empalideceu. “O meu também!”, disse ela, que não precisou explicar mais nada. Emma já tinha entendido onde ela tentou chegar.

“Ai meu Deus!”, disse Emma. “Quantos anos você tinha quando seus pais se separaram?”

“Três meses. Você também?”

Emma assentiu. Por um momento, as duas se encararam. Seria realmente possível? Sem aviso, Emma levantou-se do chão e foi até sua mala, procurando algo dentro dela.

“Meu pai sempre teve essa foto da minha mãe. Eu olhava para ela todos os dias, e eventualmente ele simplesmente me deu a foto. E eu a carrego comigo desde então.”

Liv logo levantou-se do chão e abriu uma de suas gavetas, de onde tirou uma caixa. De dentro, ela tirou a foto de seu pai que era dela desde que ela tinha 6 anos de idade. A foto estava desgastada e as bordas estavam enroladas. O brilho no olho de seu pai, a camisa com dois botões abertos, o rasgo no meio da foto... Liv já tinha todos esses detalhes dentro de sua memória, de tantas noites dormidas agarrada a ela.

“A sua foto está rasgada no meio?”, perguntou Emma, enquanto ainda procurava a sua.

“Está”, Liv confirmou.

“Achei!”, gritou Emma. “Na contagem de três!”, ela disse.

“UM”, as duas contaram. “DOIS, TRÊS!”

Quase imediatamente, as duas mostraram suas fotos uma a outra. As duas fotos se uniam no meio, onde estavam rasgadas. Nenhuma das duas conseguia conter o sorriso. O rosto tão conhecido do pai de Emma brilhava na foto de Liv, e o sorriso brincalhão da mãe de Liv estava lá, na foto de Emma.

“Esse é o meu pai”, disse Emma, olhando para a foto de Liv.

Liv riu, incrédula. “E essa é a minha mãe”, disse ela.

Elas olhavam uma para a outra, incapaz de acreditar no que tinham acabado de descobrir. Por 11 anos, acreditaram serem filhas únicas, e agora, no lugar mais improvável de todos, em um acampamento no sul do Maine, elas tinham acabado de descobrir que não eram filhas únicas. Elas eram gêmeas.

“Qual o nome dela?”, perguntou Emma.

“Você não sabe o nome da nossa mãe?”, perguntou Liv.

“Meu pai não menciona o nome dela. Ele se refere a ela como... bem, tua mãe, ou como ela.”

“Felicity Smoak. Nosso pai... O nome dele é Oliver, não é?

Emma confirmou e abraçou a irmã. “Isso. E você é minha irmã”, disse ela. Liv retribuiu o abraço. 11 anos. Elas tinham muito o que conversar.