Emma e Olivia passaram o resto do dia conversando, trocando informações e histórias de suas vidas. Depois de 11 anos, elas tinham muito o que falar. O dia se tornou noite e, não querendo parar de conversar, as duas juntaram suas camas e as fotografias que antes estavam separadas, agora estavam unidas pelo rasgo, presas na parede.

“Nossa mãe é presidente de IT de um grande banco de Londres”, explicava Liv.

“O que é presidente de IT?”, perguntou Emma.

“Ah, ela mexe e protege os computadores de lá”, disse a outra.

“Nosso pai é presidente da nossa empresa, a Queen Consolidated.”, disse Emma.

“Nós temos uma empresa?”, perguntou abismada a outra. “Uma empresa nossa?”

“Sim! Nós temos uma empresa. Minha, e agora sua também.”

“Liv...”

“Sim?”

“A mamãe... você sabe. Seguiu em frente?”

“Não. Ela sempre disse que desistiu de namorar há algum tempo atrás.”

“Papai também não namora. Ele teve uma namorada, mas nada sério. Ele desistiu há algum tempo também.”

“Engraçado, não é?” disse Liv. “Mamãe não namora e papai também não.”

Emma sorriu. Liv não precisava explicar mais nada, Emma já tinha captado tudo. Embora ela e sua irmã fossem muito novas sobre amor e suas consequências, para as duas tudo era bastante óbvio. Emma já tinha encontrado várias pessoas divorciadas em Starling City e nenhum deles, por mais que odiassem seus exs, tiveram que se separar de um dos filhos e viver em lados diferentes do Atlântico.

Emma sentou-se na cama em um pulo. “Eu tenho uma brilhante ideia! Além de brilhante, na verdade!” Ela se virou e olhou para Olivia, que apenas levantou as sobrancelhas em descrença. “Oh, vamos lá! Não olhe para mim assim!”, disse ela.

“Ok, tudo bem”, disse Liv. “Qual a sua ideia?”

“Você quer saber como papai é. E eu estou desesperada para encontrar nosso pai.”

“Você está sugerindo que nós... troquemos de lugar?”

“Sim! É simples. Quando o acampamento terminar, você vai para Starling City no meu lugar e eu vou para Londres no seu. Eu não vejo nenhum problema nisso.”

“E eu vejo mil!”, disse Liv. “Nós somos diferentes, Emma”, completou ela.

“Nós somos iguais fisicamente, isso é o que importa. Jeito de falar, jeito de andar, jeito de agir... isso tudo nós podemos treinar.”

Liv continuou olhando com descrença.

“Não acredita em mim?”, perguntou Emma. “Me observe”, disse ela.

“Olá”, começou ela, com sotaque britânico e voz mais suave como a de Olivia. “Eu me chamo Olivia. Minha mãe é presidente de IT em um grande banco! Ela conserta os computadores e não deixa que nenhum hacker invada o sistema!”

Olivia estava impressionada. Era como se ela tivesse acabado de falar. “Ok, você consegue. Mas eu não!”

Emma continuou encarando-a, esperando que ela ao menos tentasse.

“Honestamente!!”, disse ela, tentando fazer a melhor encenação de sua irmã. “O que há de errado com você? Eu não vejo nenhuma semelhança. Você é estúpida, eu não!!”

“Uau!”, disse Emma. “Muito bom. Achei que fosse eu falando”, riu ela. “Está vendo? Nós nem teremos tanto trabalho assim. “Vamos lá! Por favor! Sabe o que é o melhor disso tudo?”

“O quê?”

“Quando a gente mudar, mais cedo ou mais tarde, eles vão ter que nos trocar de volta. E para fazer isso...”

“Eles vão ter que se ver de novo, é claro!” disse Liv, sorrindo amplamente.

Emma deitou-se novamente na cama para dormir. E é por isso que esse plano é vai muito além de ser só brilhante, pensou ela.

Com toda a preparação e ensino, o acampamento passou rapidamente. Liv ensinou a Emma tudo o que ela precisava saber sobre sua mãe, seu trabalho, sua avó, seus amigos, os cômodos da casa, absolutamente tudo. Emma fez o mesmo. Liv tinha o cabelo um pouco mais curto, de modo que Emma precisou aparar as pontas do seu. A parte mais difícil foi, porém, foi o fato de que Liv tinha a orelha furada e Emma não. Resolvendo problemas técnicos como esse (graças a Deus Liv conseguiu furar a orelha de Emma com uma agulha, um pedaço de maçã e gelo), o tempo voou. Logo as duas estavam na entrada do campo se despedindo.

Com alguma relutância, Liv entregou seu passaporte e seu bilhete aéreo para Emma, que estava vestida com um vestido e um casaco, com cabelo solto, pronta para a viagem. Parecia estranho ver Emma em suas roupas. Mas Liv se sentia ainda mais estranha por usar as roupas de Emma. Blusa, calça jeans, jaqueta e cabelo preso.

Suspirando um pouco, Emma então disse.

“Fique tranquila. Nós não vamos estragar isso.”

“Não, não vamos. E lembre-se: sua função é descobrir como papai e mamãe se separaram.”

“Eu sei”, disse Emma. “E você está descobrindo como eles se conheceram”, completou ela, no que Liv assentiu.

Elas foram interrompidas por Ian, que veio despedir-se de Liv. Ele então olhou para Emma e disse “Só vim me despedir antes do ônibus partir. Obrigada por tudo”.

Emma riu e disse “Obrigada você, Ian. Obrigada por tudo.”

Depois que Ian saiu, ela virou-se para Liv e disse “Viu! Já está funcionando! Não esqueça de ficar em contato, ok?”

“Não vou esquecer. Dê um abraço na nossa mãe por mim.”

“É a primeira coisa que vou fazer. Agora tenho que ir, e Diggle já está para chegar.”

As duas riram e deram um último abraço antes que a falsa Liv fosse até o ônibus que a levaria até o aeroporto. A nova Emma ficou parada, esperando que seu tio chegasse. Uma pequena parte dela queria fugir e admitir todo o plano para alguém, mas outra parte muito maior dela imediatamente rejeitou a ideia. Poderia ser ridículo e alguém em algum momento ia descobrir, mas isso não importava. Se ela tivesse somente uma semana com seu pai, seria melhor do que conhecê-lo apenas por uma fotografia recortada.

Quando Emma chegou em Londres, já havia um motorista lhe esperando com uma placa escrito “Olivia Smoak”. Ela cumprimentou o motorista com um sorriso, e ele simplesmente pegou suas malas e a levou para fora do aeroporto em um carro preto lustroso. Ela estava com sono, mas não dormiu no caminho do aeroporto para casa. Ela estava admirando (discretamente, é claro, Liv morava há anos na cidade e não se admiraria tanto com ela) a cidade e nervosa por finalmente estar prestes a conhecer a mãe.

Ela tentou acalmar a si mesma, mas não é como se ela tivesse tido tempo. 10 minutos depois o motorista parou em frente a um grande prédio e disse “Bank of London”, milady.

“Obrigada”, foi tudo o que ela conseguiu dizer. Lentamente ela saiu do carro, esperando que ela não aparentasse estar tão nervosa como ela realmente estava. Quando o motorista disse a ela que ela poderia subir que ele a esperaria, ela percebeu que havia permanecido parada, congelada em frente a porta do banco.

Ao passar pela porta giratória da entrada, ela logo a viu. Vestida com um vestido de bolinhas que lhe caía até metade das coxas, lá estava ela. Sua mãe. Seu cabelo parecia um pouco mais curto do que o da fotografia, de modo que ela tinha perdido os cachos da ponta, assim como a própria Emma. Um sentimento de puro alívio, porém, passou pelo seu corpo. Tirando o cabelo, sua mãe tinha mudado muito pouco desde a fotografia. Ela era exatamente como Emma tinha imaginado que ela seria.

Ela estava assinando alguns documentos no balcão de recepção do banco e, dessa forma, demorou alguns momentos para vê-la. Quando ela o fez, porém, ela largou os documentos de lado e sorriu para ela, abrindo os braços.

Ela não conseguiu se segurar por mais tempo. Emma correu para a frente, abraçando-a com força. Emma esqueceu o mundo e se concentrou sobre a mulher que tinha se ajoelhado para lhe abraçar. Que sorria, abraçava-a de volta firmemente e que acariciava seus cabelos, tagarelando que tinha morrido de saudades e que ela mesma teria ido busca-la se não tivesse ficado retida de última hora em uma reunião sobre o melhor antivírus para o banco.

Emma sempre se perguntou como seria quando ela conhecesse sua mãe pela primeira vez. Agora, finalmente, ela sabia. E era muito melhor do que como ela tinha imaginado.