Nem uma semana inteira tinham se passado desde que Emma percebeu que a vida no acampamento era muito mais fácil do que ela mesma tinha imaginado. As meninas de seu grupo (verde, como a cor preferida de seu pai) foram amigáveis, as atividades não eram muito cansativas ou muito chatas. A única coisa chata era a obrigação de estender a bandeira com a cor do grupo todo dia de manhã cedo, que devia ser acompanhada pelo hino nacional americano. Exceto isso, tudo era muito divertido.

No fim da primeira semana, porém, algo meio estranho aconteceu quando ela e seu grupo foram para o refeitório almoçar. Como sempre, a mesa de buffet estava cheia de alimentos e a fila era longa, mas ela conversava com seus amigos de modo que o tempo passava um pouco mais rápido. Quando ela foi pegar uma salada, encontrou-se com a diretora Jane Bingley.

“Desculpe-me menina, mas eu preciso dessa salada de morangos maravilhosa aqui”, disse ela, pegando um pouco da vasilha de salada de morangos que estava ao lado da salada de verduras que Emma pegava. “Você quer um pouco?”

“Não posso, sou alérgica”, disse Emma, que terminou de pegar sua salada e foi sentar-se com seus amigos.

“Que azar”, disse a diretora, que virou-se então para a menina que pegava salada de maionese do seu outro lado. “E você? Quer uma salada de morango?”

“Não posso”, disse Olivia. “Sou alérgica.”

Os olhos de Bingley se estreitaram. “Você já me disse isso. Como você fez isso?”

“Eu já te disse isso?” perguntou Olivia. “Eu acho que teria me lembrado se já o tivesse dito”, disse a menina, dando uma risadinha.

“Me desculpe”, disse a diretora. “Primeira semana, e já estou tão louca com vocês crianças que já vejo dobrado. Não vai demorar até que eu comece a colocar sal no açucareiro e açúcar nos saleiros.”

Vendo que a diretora não se encontrava bem, Olivia decidiu ir sentar-se e comer sua refeição.

Depois do almoço, Liv e alguns de seus amigos decidiram ir correr um pouco nas trilhas do acampamento. Quando eles voltaram, viram que uma sessão de esgrima estava ocorrendo, supervisionada por uma entusiasmada Jane Jr. Um dos jogadores estava com o branco de seu uniforme de esgrima imaculado, enquanto o segundo, com o uniforme todo imundo de terra e grama, tentava desesperadamente ficar em pé e recuperar a tempo sua esgrima. Na verdade, a luta consistiu em uma série rápida de defesas da parte dele, que agora já tinha perdido a esgrima e se encontrava caído no chão.

“Touché!” disse rindo o jogador de branco imaculado, ao que o jogador caído no chão se levantou e tirou seu capacete e ela descobriu que o perdedor era Ian, o único garoto do acampamento, membro de seu grupo.

“E o grupo verde ganha novamente!” dizia uma empolgada Jane Jr., que se dirigiu até o vencedor, pegou suas mãos e as levantou. “A vencedora desta batalha, campeã por enquanto invicta, é Emma Queen, de Starling City. Alguém desafia?”

Houve um silêncio constrangedor. Emma cumprimentou Ian e ele foi trocar de roupa. A fama de Emma se espalhava pelo acampamento. Uma amiga de Liv a empurrou para a frente do grupo e disse “Aqui!” Empolgada que estava, a filha da diretora sequer percebeu que não fora ela quem se ofereceu.

“Ótimo! Teremos outra batalha! Grupo verde contra grupo rosa! Qual o seu nome, querida?”

“Uh, Olivia. Olivia Smoak, de Londres.”

“Legal. Agora vá se vestir, Olivia Smoak de Londres! O campo de batalha te espera.”

15 minutos depois, a luta começou. Imediatamente, Emma avançou em uma série de ataques, mas Liv rapidamente os bloqueou com uma série de movimentos diferentes. Ao contrário de sua mãe, Liv era muito boa em esportes e artes marciais. Ela ouviu sua mãe comentar uma vez com sua avó, quando pensou que ela não estava ouvindo, que ela as vezes era mais cabeça dura do que o pai e que odiava perder assim como ele.

Aparentemente, seu oponente possuía teimosia similar. Ela novamente lançou uma série rápida de ataques e defesas, forçando Liv a responder da mesma forma. O jogo rapidamente se transformou, e as duas se encontraram saindo da grama e indo em direção ao lago do acampamento com o resto da plateia correndo atrás delas. Jane Jr. Pareceu se esquecer de seus deveres como líder e responsável pelas crianças, porque ela simplesmente saiu correndo com o resto dos meninos, de tão empolgada que estava com a boa sequência de golpes que estavam sendo deferidos.

O que poucos perceberam era que as duas se aproximaram perigosamente do lago e já lutavam em um pequeno ancoradouro sobre ele. Emma, quando percebeu, já era muito tarde. Ela tentou dar um passo a frente, no que Olivia rapidamente colocou sua esgrima sob seu peito e gritou “Touché!!!”, seguida pela surpresa de perceber que Emma tinha caído no lago e de que não havia mais como evitar sua própria queda.

Dando um suspiro, Emma, que tinha caído primeiro, logo saiu da água e retirou seu capacete. Jane Jr. foi até a beira e levantou as mãos de Liv, que tinha acabado de sair do lago. “Temos uma nova campeã! Olivia Smoak, diretamente de Londres! Cumprimentem-se, meninas. Tradição da luta.”

Com um suspiro, Liv retirou seu capacete e virou-se para cumprimentar Emma. Qualquer comentário ou consolação que ela tinha planejado para dizer tinha sumido de sua mente e sua respiração ficou presa em um suspiro audível. E ela também entendia porque a multidão estava fazendo o mesmo.

Ela estava olhando para o seu reflexo. E seu reflexo era a sua adversária, Emma Queen. Elas eram idênticas. Tirando o fato do cabelo de Liv parecer um pouco mais liso do que o dela, sem os cachos nas pontas, os olhos, a cor do cabelo, o nariz e até mesmo os ouvidos eram iguais. Emma zombou, provavelmente para quebrar a tensão.

“Qual é o problema com vocês? Perdi sim, isso aconteceria em algum momento.”

“Não é isso!”, disse Liv. “Você não pode ver a semelhança?”, perguntou ela.

Os olhos de Emma digitalizaram Olivia por cinco ou seis segundos. Ela então jogou a cabeça para trás e disse “Não vejo semelhança alguma. Eu venço honestamente, você precisa empurrar alguém de um lago, estúpida.”

Com isso, ela saiu. Liv ficou onde estava, perguntando como alguém poderia ser tão rude.

“Peço menos eu não sou tão estúpida como você”, ela gritou para Emma ouvir. E foram essas palavras que deram início a grande guerra mundial entre rosas e verdes.

Semana após semana, as brincadeiras entre os grupos só foram ficando maiores e mais confusas. A primeira foi bastante inofensiva. Consistiu em uma técnica bastante simples de roubar as roupas do grupo verde quando eles estavam nadando. O grupo verde respondeu escondendo aranhas falsas dentro dos cobertores do grupo rosa. Desse ponto em diante, as brincadeiras se tornaram regulares. Quase no fim da segunda semana, porém, as brincadeiras atingiram um nível diferente. Quando Emma voltou de um jogo de basquete, encontrou todas as suas coisas em cima do telhado da cabana de seu grupo.

Quando ela foi denunciar a brincadeira, porém, Jane Jr. a considerou como diversão inofensiva entre os grupos. Emma, revoltada, sentou-se para discutir o que faria em retaliação. Uma ideia surgiu, então, como uma nova pequena brincadeira inofensiva, a qual ela chamou de plano final.

Na manhã seguinte, o hino nacional americano não foi o que acordou o acampamento, mas sim gritos da cabana do grupo verde. Fora da cabine, Emma ria enquanto observava o plano final em execução: as meninas estavam repletas de melado (colocado nas camas e nelas durante a noite pelos dois) e aranhas falsas caíam do teto bem em cima de seus rostos. Emma riu ainda mais quando viu seu clone com sotaque britânico se levantar toda suja do melado e acionar sem querer (através de uma linha sob a cama dela) um sistema que derrubava caixas presas no teto cheias de bexigas de água por toda a cabana.

Ensopada de água, Liv declarou que haveria vingança e que Emma Queen era a pessoa mais detestável que já tinha pisado no planeta.

Emma gargalhou, mas congelou imediatamente quando viu a diretora caminhar em direção a cabana rosa.

“Inspeção de surpresa!”, ela gritou pelo megafone. Imediatamente, Emma correu em sua direção. Seu plano final ainda não havia sido concluído.

“SRA. BINGLEY!!!”, disse Emma. “Não entre aí! Sabe como é, uma das garotas vomitou a noite e o cheio está insuportável! Vá inspecionar meu grupo primeiro, é melhor.”

Bingley balançou a cabeça. “Ora, se alguém está doente, aí mesmo que tenho que entrar!”

Liv ouviu o que se passava lá fora e disse através da janela aberta pela qual Emma antes observava tudo. “Pode entrar, Sra. Bingley. Aqui está tudo bem, nenhum vômito.”

“Pois então se não há nenhum vômito a senhora pode ir visitar meu grupo primeiro”, disse Emma, tentando escapar mais uma vez.

“Emma, me dê licença. A inspeção sempre começa pelo grupo rosa e você sabe disso.”

Emma não saiu da frente da porta, mas a diretora agarrou seus ombros, puxou-a para o lado e abriu a porta. Imediatamente um balde enorme de leite caiu sob a diretora. Havia ainda mais leite do que a própria Emma tinha calculado. O balde aumentou?, pensou a garota. Não importava. Ela estava em problemas de qualquer jeito. O líquido foi tanto que Jane Bingley, ao andar para o interior do quarto, escorregou de bunda e saiu deslizando até o final da cabine, onde bateu com força nas gavetas de roupa. Ao tentar se levantar, ela se apoiou no puxador do gaveteiro e abriu uma das gavetas. Como se tudo não pudesse ficar pior, o ventilador automaticamente começou a funcionar a partir da gaveta aberta e começou a lançar penas de galinha que estavam presas em cima de suas pás.

Jane Bingley, uma galinha ambulante, estava revoltada. “O que diabos você fez?”, ela perguntou a Emma.

“Eu não fiz nada!”, ela respondeu. “Ela começou e eu terminei. Além do mais, não era para a senhora ter aberto a porta! Eu avisei!”, disse Emma.

“Estou farta disso!”, respondeu a diretora, tropeçando em seus próprios pés. “VOCÊ E VOCÊ”, disse ela, apontando para Emma e Liv, “Arrumem suas malas!”.