11 anos depois

Oliver estava lendo os relatórios anuais da empresa quando ouviu um carro chegando. Em questão de minutos, um turbilhão irrompeu a porta e pulou em seu colo. Ele imediatamente riu e fechou os relatórios.

“Posso ver que você teve um bom dia na escola, então?”

“Foi tudo ótimo! Mas veja o que eu ganhei de Tio Diggle!”

Nesse momento, Emma tirou do bolso do uniforme uma passagem aérea. Oliver franziu a testa. O bilhete de avião era para Maine, com retorno em aberto e não-reembolsável.

Ao ver a expressão de seu pai, o sorriso de Emma caiu um pouco.

“Papai! O senhor disse que deixaria como meu presente de aniversário, lembra?”

“Lembro. Mas você ganhou um pônei, um castelo da Barbie e um dia de princesa com as suas amigas.”

“Mas não foi isso que eu pedi, foi? Isso o senhor me deu porque quis. O que eu queria mesmo era a autorização para ir pro acampamento legal, que era presente do Tio Diggle”.

Oliver suspirou. Desde que Diggle conheceu Emma, momentos depois do nascimento dela, ela o tem comendo nas palmas de suas pequenas mãos. Um mês antes do aniversário de Emma, Diggle comentou sobre esse acampamento de verão no Maine ao qual ele costumava mandar Sara. E claro que desde então Emma tem atormentado seu pai pela autorização para a viagem. Oliver disse não desde o princípio, mas percebeu que Emma queria muito ir, e não é como se ele lhe negasse muitas coisas, visto que ela já não tinha a mãe. Ainda assim, Oliver não gostava da ideia de passar o verão inteiro longe da filha.

“Por favor, papai! Posso ir? Tio Diggle diz que ajudou muito na educação de Sara e que vai ajudar muito também na minha”.

Oliver deu-lhe um olhar em resposta que fez com Emma se corrigisse.

“Ok, ele não disse exatamente isso. Mas ele disse que seria divertido e que ao mesmo tempo me daria uma ideia boa sobre obediência. Iria melhorar minha educação. Não diga não. Deus, não deixe ele dizer não. Você vai dizer sim, não vai?” Ela perguntou, quase implorando, mordendo o lábio inferior com os olhos arregalados. Por um momento ele olhou para ela com descrença. Era como se Felicity estivesse ali, bem na frente dele. Ela era tão parecida com a mãe, em personalidade e aparência. Tinha os mesmos olhos. O cabelo era castanho escuro liso, com cachos nas pontas, exatamente como o dela. A única coisa que ela tinha herdado dele era... nada. Pra ele, ela não tinha herdado dele absolutamente nada. Mas não era o que todos diziam. Diggle achava que o formato da boca e o ouvido eram dele. Oliver não via nada disso. Ele só via Felicity nela, e era impossível dizer não para ela, assim como ele nunca conseguiu dizer não para a mãe.

Como John observou diversas vezes ao longo dos anos, não era só ele que Emma tinha na palma da mão. Ele soltou uma risada ao ver seu biquinho (também idêntico aos que Felicity fazia quando queria alguma coisa) e beijou-a na testa. “Tudo bem. Você pode ir.”

Emma soltou um gritinho de prazer e pegou a passagem das mãos de seu pai. Correu para o andar de cima em direção a seu quarto e mesmo na sala Oliver podia ouvir sua conversa ao telefone com John, lhe contando que Oliver tinha permitido sua ida.

O Acampamento Walden era o tipo de lugar que só se vê nos filmes e nas séries de televisão. Tudo era muito bem organizado, as construções eram feitas de madeira rústica e de toras. Linhas de ônibus chegavam e partiam o tempo todo, deixando crianças agitadas para o verão. Diggle não estava impressionado com a barulheira e a agitação. Não era a primeira vez dele no ambiente. O motorista parou e ambos desceram do carro ao mesmo tempo. Uma mulher de cabelos grisalhos estava de pé sob um pequeno tronco de árvore com um megafone na mão dizendo: “Bem vindos ao Acampamento Walden! Sou Jane Bingley, a diretora do acampamento. Peguem suas mochilas e despeçam-se! Temos um longo dia pela frente!”

Emma bateu palmas alegremente, olhando para seu tio. “Isso não é ótimo?”

“Com certeza! Agora, vamos rever tudo ou Raiza me mata. Vitaminas?”

“OK.”

“Protetor solar?”

“OK.”

“Repelente?”

“Ok.”

“Selos?”

“Ok. Tio, está tudo aqui, ok? Nós verificamos duas vezes antes de viajar.”

“Hmmm. Tudo bem. Vá. A diretora era militar. Não gosta de esperar.”

Emma nada comentou sobre o que Diggle falou, mas não era nenhuma novidade. Seu desinteresse sempre que Diggle comentava algo sobre o exército ou a guerra era algo que há muito tempo ele já tinha aprendido a ignorar.

“Tio Diggle? Nós podemos fazer o aperto de mão agora?”

“Aperto de mão? Não seria apropriado.”

Emma simplesmente olhou para Diggle e esperou.

Como sempre, Diggle cedeu. Com um leve suspiro e um virar de olhos, ele estendeu a sua mão que foi tomada por uma Emma muito sorridente. Em poucos segundos, eles já estavam fazendo o aperto de mão teoricamente supersecreto dos dois, que basicamente consistia em fazer Emma treinar socos com a mão de Diggle, que no fim prendia suas mãos nas suas e simulava dar uma joelhada na barriga de Emma, que “morria”.

“Você vai se divertir e se comportar, não vai?”

“Prometo que vou tentar.”

Do outro lado do campo, uma menina com cabelo liso escuro e olhos azuis profundos tentava recuperar sua mochila que havia sido enterrada sob várias outras malas. Atrás dela, a filha da diretora Jane Bingley, chamada de Jane Jr, explicava as atribuições de cada acampante.

Olivia continuou a lutar com o peso dos seus sacos.

“Hey”, disse uma voz atrás dela. “Você está bem?”

Olivia tomou um susto. Era um menino. Um menino de cabelo loiro, com sardinhas no rosto e olhos verde claro. Ele era bonito, ao menos aos olhos de uma menina de 11 anos de idade.

“Eu estou bem. O que você está fazendo aqui?”

“Meus pais pensaram que era um acampamento misto. Você não me parece bem. Eu posso te ajudar”, disse ele, olhando para a pilha de malas ao seu lado.

Relutantemente ela balançou a cabeça. O menino sorriu e se inclinou para frente. Com grande facilidade, ele puxou livremente a mala dela, coisa que ela vinha tentando fazer nos últimos 15 minutos.

“Muito obrigada. Eu teria conseguido sozinha, você sabe.”

“Claro. Você é britânica ou alguma coisa assim?”

Emma revirou os olhos. “Não, não sou”, disse ela, acostumada com esse tipo de pergunta. “Mas moro em Londres desde pequena, então de fato, meu sotaque é mais britânico do que americano.”

O menino olhou para ela com um sorriso torto e se apresentou. “Meu nome é Ian. Muito legal você morar em Londres. Já viu a Torre Eiffel?”

“Isso é em Paris.”

“Ah sim, claro.”

Olivia Smoak!

Ao ouvir seu nome, Olivia levantou a mão e se dirigiu até Jane Jr. Jane Jr. Sorriu para ela, olhou em sua ficha e disse que ela fazia parte do grupo rosa.

“Ei, esse é o meu grupo!”, disse Ian. “Ao menos você vai conhecer alguém lá!”

Olivia lhe deu um lindo sorriso. “Ótimo!”, ela disse. Seu grupo sem sombra de dúvida seria o mais forte. Olivia não gostava de perder.