Só agora ficava claro que não tinha sido feito para durar. Eles eram muito jovens e cheios de complicações. O que eles pensavam? Brincar com fogo é perigoso, então não é de se admirar que eles acabaram com os dedos queimados. Felicity deixou os pensamentos de lado, suspirou e preguiçosamente tirou o anel de casamento do seu dedo.

“Nós nem sequer nos divorciamos ainda”, disse ele atrás dela. “É um pouco demais, você não acha?”

Ela se virou para olhá-lo, mesmo que seu cérebro tenha dito que não fizesse isso. Seu coração pulou um pouco. Mesmo sentindo raiva dele, era inegável que ele estava mortalmente bonito, com aquele meio sorriso no rosto. Ela tinha que tomar cuidado. Um deslize e ela se apaixonaria por ele novamente como um piscar de olhos.

“Mantive esse anel no dedo por doze meses. Acho que é hora de voltar para o dono”, disse ela, sentindo a ponta de seus dedos escovarem levemente contra sua pele quando ela deixou cair o anel na palma da mão aberta que ele lhe estendeu. Ele sorriu, mas ela o conhecia. Havia dor por trás de seus olhos.

“Ok, suponho que eu tenho que assinar esses papéis agora. Afinal de contas, você paga os advogados por hora”, disse ela. Oliver não deixou de reparar que parecia que ela estava assinando só mais uma conta, e isso magoou seu coração de tal forma que ele não disse mais uma palavra para ela durante a assinatura dos documentos.

Oliver suspirou e desceu as escadas para a fundição. Seu mau humor só aumentou quando viu que Roy estava sentado na cadeira que era dela.

“Roy”, ele resmungou, sentando-se de frente para ele. Houve um momento de silêncio e um olhar entre os dois, e Roy rapidamente saiu da cadeira de Felicity. De Felicity não, corrigiu-se Oliver mentalmente. Nada mais ali era de Felicity.

“Foi rápido e indolor, eu espero”

“Você sabe que não foi, Roy.”

“Na verdade, eu sei”, disse ele calmamente, antes de dirigir o olhar novamente em direção a Oliver. “Você está pensando em viver na Mansão, agora que ela se foi? Tem certeza que é sábio, considerando tudo?”

“Considerando tudo o quê?”

Roy soltou um suspiro e deu um pequeno encolher de ombros. “Memórias. Ela viveu lá, cara”.

Essa maldita palavra lembrou a Oliver o dia em que ele pediu Felicity em casamento. Talvez não fosse a palavra. Talvez ele só quisesse se lembrar de quando eram felizes. Ou talvez, como dizem todos, no fim as pessoas comecem a pensar no início. Ele tinha dito que queria construir novas memórias com ela. Boas, diferente das que ele tinha sobre tudo.

Agora... Agora ele estava sentado na fundição como um herói afastado de sua missão, um homem divorciado e um pai de uma menininha de três meses dormindo no berço improvisado no canto.

“Você vai estragar ela, você sabe”, disse Roy, de braços cruzados, vendo para onde Oliver olhava. Oliver o encarou, se levantou da cadeira e foi observar mais de perto a pequena Emma em um berço velho, que tinha sido dele e que Raiza tinha guardado durante todos esses anos. Dentro do berço, envolto em cobertores para mantê-la aquecida, estava sua pequena filha de três meses de idade. Ele se aproximou do berço para pegá-la e viu seus olhos lentamente se abrirem. Ao ver seu pai, sua boca se abriu em um sorriso e ela estendeu a pequena mãozinha, pedindo para que seu pai a segurasse. Oliver ficou feliz em pegá-la e colocá-la em seus braços. Ele não podia deixar de sorrir quando ela sorria para ele.

“Só você para me fazer sorrir agora, Emma”.

“Me pergunto porque você desistiu de dar a ela o nome de sua mãe”, disse Roy, encostado em uma das mesas da fundição.

Ela não gostaria”, disse Oliver.

“Isso é verdade. Mas eu pensei que você não fosse se importar mais com o que ela acha”, disse Roy, que sorriu ao ver como em apenas três meses Oliver já era totalmente outra pessoa.

“Eu sempre vou me importar com o que ela acha. Não é Emma? Nós sempre vamos nos importar com o que mamãe acha”.

No aeroporto de Starling City, as coisas estavam um pouco mais agitadas. Com uma mala enorme a seus pés, Felicity suspirou e fez um rabo de cavalo no próprio cabelo, sorrindo para sua filha, que estava atualmente deitada em seu peito com um portador de bebê recém-comprado. Sua filha fez um pequeno som e o coração de Felicity apertou um pouco. Lembrou-se de quando o médico disse “vocês estão esperando gêmeos”. Foi como se de repente ela soubesse que iria ganhar algo além do que esperava para amar, ao mesmo tempo em que sentia que perderia uma que já amava. Quando o médico contou a eles que eram duas, Felicity imediatamente sentiu que o casamento dos sonhos ia acabar mais cedo do que ela pensava.

Mas ela não guardava um pingo de rancor de sua filha. Eles não deveriam ter se casado mesmo. Eles não deveriam sequer ter considerado a ideia de ter crianças. No entanto, amor é uma bala no cérebro. Eles não estavam em perfeita saúde quando tomaram essa decisão. Mas ela não estava arrependida de ter filhos. Ela realmente lamentava que a bebê em seu peito jamais conheceria o homem louco, excêntrico e absolutamente maravilhoso que era seu pai. É claro que, analisando friamente, era a melhor coisa a se fazer. Era melhor para sua filha não saber sobre seu pai do que sofrer com os efeitos de um casamento infeliz. Não era?

Ela estava no balcão de check-in antes que ela percebesse. O atendente não disse nada, apenas acenou com um sorriso simpático antes de passar para a próxima pessoa na filha.

Felicity caminhou pelo corredor do aeroporto, ainda um pouco atordoada. Tudo tinha acabado. Realmente tinha acabado. Ela havia se divorciado de Oliver Queen, ela agora estava caminhando para o voo que a levaria de sua querida Starling City para Londres, Inglaterra.

Era a coisa certa a se fazer. Ela repetiu isso para si mesma várias vezes. Todavia, quando ela se sentou em seu lugar no avião e viu como o mesmo levantou voo e fugiu pelo ar, não havia nada a dizer para si mesma que a fizesse parar de chorar. Realmente tinha acabado.