Saímos os três rindo e conversando da aula de dança. Eles são tão legais, que ás vezes vem na minha cabeça o nosso destino. Quando o meu plano com o Thiago finalmente acontecer, o Binho ficará arrasado, além de que a Mili me odiará. Não me sentiria bem com essa situação, não mesmo, mas prefiro não pensar muito nisso agora, se é que é possível.

Nós iriamos dar uma volta pelo jardim do castelo, e para isso precisava ir até o meu quarto pegar minha câmera, pois eu adoro registrar todos os momentos da minha vida nela.

Quando cheguei na porta do meu quarto me deparei com Thiago e Tati conversando. Eles pareciam ter tanta intimidade que eu até estranhei.

– Oi. – Eu disse.

– Ana... – Tati disse. – Desculpe, nem reparei que nós estávamos trancando o caminho. – Ela disse saindo da frente da minha porta.

– Não tem problema. – Eu disse. – Vocês são amigos?

– Sim. – Dessa vez Thiago respondeu. – Somos todos amigos dentro do castelo. – Sorri levemente para demonstrar compreensão.

Entrei no quarto e peguei a câmera que estava em cima da minha escrivanhia. Lembro-me até hoje de quando ganhei ela de presente no meu aniversário. Era o presente que eu mais esperava, isso há três anos. Depois disso comecei a colecionar fotografias. Existem várias espalhadas no meu mural, em gavetas, ou em qualquer lugar do meu quarto.

Saí do meu quarto para ir até o jardim encontrar Binho e Mili, mas antes que eu pudesse ir até as escadas o Thiago me puxou.

– O que foi? – Perguntei.

– Você ficou estranha quando me viu com a Tati.

– Não fiquei não, foi só impressão sua.

– Ana, eu te conheço.

– Ta, eu confesso que senti um pouco de ciúmes sim, mas foi bobeira minha.

– Foi mesmo. Você sabe que eu sou apenas seu. – Sorri.

– É melhor eu ir, se alguém nos ver aqui podem desconfiar. – Ele concordou e eu fui para fora.

Binho e Mili estavam sentados em um banco no jardim enquanto conversavam. Cheguei perto dos dois e sentei-me ao lado de Mili que estava no meio.

– Até que enfim, Ana. – Disse Binho rindo.

– Desculpa. – Eu ri também.

Ficamos o dia conversando e rindo, nunca imaginei que em tão pouco tempo nós nos aproximaríamos tanto.

***

Tudo passou tão rápido que quando me dei conta, a família real partiria em poucas horas para a França. Suspirei por saber que precisava levantar mesmo com sono. Arrumei-me, colocando um vestido – como sempre – verde que ia até pouco acima dos joelhos e um sapato com um pequeno salto quase imperceptível, nude.

Fui até a sala de estar e algumas pessoas, que provavelmente trabalhavam no castelo, levavam as malas para dentro do carro que transportaria a família. Eu ainda não tinha tomado café da manhã, mas antes que isso pudesse acontecer eu pude ouvir minha mãe pedindo para uma empregada me acordar com urgência.

– Já estou acordada, mamãe. – Eu disse e ele se virou para mim.

Fui até ela um pouco confusa, não sabia por que havia tanta agitação logo cedo.

– O que aconteceu? – Eu perguntei olhando pessoas correndo de um lado para o outro, com um ar de preocupação.

– A família real já está para ir para a França, mas o carro estragou de última hora e a viagem atrasará algumas horas. Por falar nisso, porque a senhorita atrasou?

– Eu acabei dormindo mais do que o previsto. – Ficamos alguns segundos em silêncio. – Eu achei que eles iriam embora mais tarde.

– Bom, se eu fosse você já ia me despedindo do seu noivo, você só o verá novamente em duas semanas. – Ela disse antes de sair para dar ordens á uma criada.

Eu fiquei pensativa... Duas semanas? É muito tempo. Se bem que vivi minha vida toda sem ver ele e fiquei muito bem. Qual é Ana, você o conhece há apenas uma semana, ainda nem deu tempo para se apegar. Eu pensei tentando me convencer disso.

A verdade é que durante essa uma semana eu passei tanto tempo com Binho e depois com Mili, que acabei me acostumando. Vai ser estranho acordar amanhã sabendo que não os verei na mesa do café da manhã e depois no almoço, na janta... No que estou pensando? Depois que eu me casar vou ficar tanto tempo com Binho que não aguentarei mais olhar para a sua cara. Preciso aproveitar minhas duas semanas de “liberdade”.

Além disso, vou ter mais tempo para passar com Thiago ás escondidas. Nessa semana tive que estar tão presente para a família real que mal pude conversar com ele, entre outras coisas.

Percebi que já fazia alguns minutos que eu estava ali parada olhando pra nada e pensando na vida enquanto aquelas pessoas continuavam correndo para lá e para cá, parecia que não tinham sossego. Fui até a cozinha, pois queria comer ao menos uma maçã, afinal a minha fome continuava ali. Nunca vi o cômodo tão vazio como hoje, certamente as cozinheiras também estão nessa correria. Fui até o fruteiro e peguei aquela fruta vermelha que ao vê-la, tive a impressão de que pedia para ser devorada. Mordi o primeiro pedaço e ela estava incrivelmente suculenta e doce. Antes que pudesse morder novamente, ouvi passos adentrando pela cozinha e me virei para ver quem era.

– Resolveu aparecer? – Binho disse brincalhão.

– Eu acabei dormindo de mais e perdi o café. – Eu ri fraco.

– Bem, eu te vi entrando na cozinha e resolvi vir atrás. Queria me despedir de você.

Fui ao seu encontro e abracei-o. Acho que foi inesperado para Binho, que no começo não sabia bem o que fazer, mas acabou me abraçando também.

– Eu gostei de te conhecer. – Afirmei com um pequeno sorriso.

– Posso dizer o mesmo. – Ele concordou na mesma forma que eu. – Além disso, vou sentir saudades.

– São só duas semanas. – Eu disse como se não me importasse. – Passa rápido.

– Eu espero. – Ele disse com um riso sem graça, talvez por eu não dizer que também sentiria sua falta.

O clima – talvez pesado – foi interrompido com a chegada de Mili que vinha até mim entre pulinhos. Ela estava sorridente, o que me fez sorrir também.

– Vou sentir muito a sua falta, cunhadinha. – Ela disse carinhosa.

– Eu também, Milizinha. – Olhei disfarçadamente para Binho e ele parecia ainda mais constrangido. Eu apenas não quis admitir que sentiria a falta dele, o que tem de mais?

Na verdade, eu ainda nem tenho certeza se vou sentir saudades dele. Talvez essas duas semanas nem afaçam diferença na minha vida. É isso aí, eu não estou nem me incomodando. Na verdade, um pouquinho, já que a Mili tem se mostrado uma ótima amiga.

Ficamos conversando e se despedindo várias vezes enquanto tudo era resolvido para a viagem. E quando isso aconteceu, eles realmente se foram. Confesso que senti um vazio dentro de mim, mas isso é momentâneo, eu acho.