Fui para o meu quarto e deitei na minha cama, mas logo alguém entrou. Era o Thiago, mais uma vez.

– Thiago... Se alguém te ver eu não sei o que será de nós.

– Não tinha ninguém no corredor. Não precisa se preocupar. Eu só queria te dar isso. – Ele disse ao pegar uma caixinha no bolso.

– O que é? – Sentei-me na cama para pegar a caixinha.

– É simples, mas é de coração.

Abri a caixinha e sorri ao ver que era um anel dourado com uma pequena pedrinha de cristal. Era lindo.

– Obrigada Thiago, eu adorei.

– Sério mesmo? – Concordei. – Ele era da minha avó. Ela me deu para que eu presenteasse a mulher que eu amasse. – Sorri emocionada.

– Eu também te amo. Te amo muito.

Ele se aproximou e nos beijamos. Foi um beijo calmo e doce.

***

Acordei com alguém abrindo as cortinas. Abri meus olhos com dificuldade por causa da luz e me deparei com Tati segurando um vestido que causava reflexo por conter alguns brilhos.

– Ana, você está atrasada. – Ela disse um pouco apressada.

– Atrasada para o que?

Olhei no relógio e vi que já eram 10:00 da manhã, nunca acordei tão tarde, mas ainda não sabia o que me esperava para eu estar atrasada.

– Apenas se arrume e vá até a sacada principal. Deixa que eu te ajudo. – Ela disse.

– Tudo bem, mas eu não estou entendendo nada.

– Você vai entender quando chegar a hora.

Coloquei um vestido rosa clarinho com alguns bordados. Ele era longo, porém discreto ao mesmo tempo. Meu sapato era um rosa pouco mais escuro que o vestido. Fiz uma maquiagem simples e neutra. As joias era de prata, simples também. Não coloquei nenhum anel, pois já estava com o que Thiago havia me dado na noite anterior.

Fui até a sacada principal e quando olhei para baixo me deparei com centenas de pessoas gritando eufóricas. Junto comigo estavam meus pais, e os pais de Binho, com um sorriso de orelha á orelha.

– É com grande prazer que apresento á vocês minha filha, Ana! – Meu pai gritou em um microfone e todos aplaudiram e gritaram. – Ela será a nossa futura rainha, juntamente com seu noivo, atual príncipe do Reino Unido, Rubens!

Binho entrou e se posicionou ao meu lado. Percebi que inúmeras câmeras de jornais locais focavam suas lentes em nós, o mais novo casal queridinho da população.

– Eu tenho um pedido a fazer. – Disse Rubens no microfone, enquanto pegava algo em seu bolso.

Ele se ajoelhou e toda a “plateia” vibrou por isso. Eu não sabia exatamente o que estava acontecendo, ou melhor, estava com medo de descobrir.

– Luciana Shneider, você aceita se casar comigo? – Ele pediu e eu fiquei paralisada.

Olhei para os meus pais que fizeram sinal positivo com a cabeça, certamente estavam com medo da minha demora para responder.

– Sim. – Eu disse.

Ele sorriu e eu sorri também para causar uma boa impressão. Ele pegou o anel de noivado e foi colocar no meu dedo, porém outro anel já ocupava o lugar. Era o anel do Thiago. Ele olhou para mim como se pedisse para eu tira-lo, para assim, colocar a nossa aliança. Acabei tirando o anel de Thiago e colocando na outra mão.

Logo após isso ele se aproximou para nos beijarmos, mas eu não estava preparada, por isso desviei e o abracei.

Depois de nossos pais fazerem alguns discursos perante á população, fomos encaminhados para o escritório do castelo para dar uma entrevista ao jornal oficial do reino. Eu não sabia o que esperar do jornalista, por isso estava muito nervosa e com medo de não conseguir fingir que estava ao menos feliz com tudo isso.

– As câmeras já estão prontas. Primeiro o Rubens responde e depois a Ana, tudo bem?– Concordamos.

Sentamos e recebemos algumas orientações de como reagir.

– Qual foi sua reação ao saber que se casaria, Rubens? – Perguntou o repórter.

– Eu fiquei um pouco assustado no início, pois nunca havia me imaginado casando, mas foi só eu saber que era com a Ana que eu já me acalmei. – Ele disse sorrindo.

– E você, Ana?

– Na verdade nem faz muito tempo, eu fui pega de surpresa e só descobri quem era o noivo quando fui apresentada ao Binho.

– E você gostou dessa surpresa? – Ele voltou à pergunta.

– Claro. – Menti.

– Percebi que vossa alteza chamou seu noivo de “Binho”, isso quer dizer que vocês já têm certa intimidade, certo?

– Sim. – Respondeu Binho. – Já descobrimos inúmeras coisas em comum entre nós. – Ele disse com um sorriso no rosto.

– Como será a relação entre Jordânia e Reino Unido á partir de agora?

– Jordânia e Reino Unido sempre foram amigos e agora com o nosso casamento isso só se intensificará. Nós nos ajudamos quando necessário e isso continuará assim. – Binho respondeu.

Respondemos mais algumas perguntas e a minha única vontade era de sair correndo daquele escritório.

Depois do almoço eu peguei um livro na imensa biblioteca que o palácio possuía e fui parra o jardim, já que lá era o lugar onde eu mais gostava de ficar. Ás vezes me distraía da história e começava a pensar em tudo o que estava acontecendo na minha vida, a verdade é que ainda não caiu a fixa de que eu vou me casar. E pior ainda, com quem eu não amo.

Romeu e Julieta, que é o livro que estou lendo, tem uma história que me lembra muito com a minha e do Thiago. Pessoas de mundos completamente diferentes que se amam. A diferença é que nós não estamos nos esforçando para ficar juntos, diferente do livro que eles lutam de todas as formas para que isso aconteça. Será que nós deveríamos fazer isso também? Será que se fizéssemos acabaria em tragédia, assim como para Romeu e Julieta? Provavelmente sim.

Ninguém aceitaria que a princesa de Jordânia se casasse com um simples guarda, seria o desastre do nosso país. Meus pais me odiariam para todo o sempre, além de que provavelmente seríamos expulsos da realeza, tendo que viver na miséria. As coisas aqui são muito radicais. Ou você segue as regras, ou seguem você... Até a sua eliminação.

Eu preciso lembrar também que por culpa de uma complicação no útero de minha mãe eu não pude ter irmãos, o que significa que se não for eu, quem governaria Jordânia? Eu não posso deixar que qualquer pessoa tome o poder. Eu verdadeiramente me importo com isso, quero acabar com tudo o que há de ruim aqui, inclusive essas regras malditas que te impedem de ser feliz.

– Incomodo? – Uma voz grave interrompe meus pensamentos.

Olhei para trás e me deparei com Binho. Ele segurava um pequeno buquê de flores do campo, que provavelmente ele mesmo colheu no jardim.

– De forma alguma. – Respondi mesmo tendo minhas dúvidas se ele não incomodava mesmo.

– Eu colhi algumas flores para você. – Ele sorriu e eu peguei as flores.

– Elas são lindas. E cheirosas. – Disse ao cheira-las. – Mas se meu pai soubesse que você está arrancando as flores do jardim, no mínimo te daria uma bronca. – Rimos.

– Um pouco de rebeldia faz bem de vez enquanto. Você deveria tentar.

– O que você quer dizer com isso? – Disse com um tom desafiador.

– Pelo pouco que te conheço já deu para perceber que é santa. Não faz as coisas que são consideradas erradas.

Talvez ele tivesse razão, mas não era assim que eu queria ser enxergada. Por um momento de impulso eu fui até uma plantação de flores próxima e arranquei um punhado.

– Satisfeito? – Perguntei e ele riu.

– É, você está começando bem.

– E qual seria o próximo passo, mestre? – Brinquei.

– Sair comigo hoje á noite após o jantar.

– Escondidos, você quer dizer?

– Sim, até porque se não for assim não teremos o mínimo de privacidade.

– Tudo bem. E para onde você vai me levar?

– Na verdade eu estava esperando que você tivesse alguma sugestão, já que eu não conheço a cidade de ponta a ponta.

– Nem eu conheço na verdade. Passei o maior tempo da minha vida até agora trancada nesse castelo.

– Já que é assim vou te levar para um passeio de moto. Topa?

– E você sabe dirigir?

– Claro que sim. Fiz as aulas escondido do meu pai, mas mando super bem em cima dela.

– Eu vou confiar em você, mas pelo amor de Deus, não me derruba.

– Prometo que isso não vai acontecer. – Ele riu fraco.