Depois da janta subimos para os nossos quartos e esperamos todos irem também. Pela primeira vez na vida coloquei uma calça que tinha em meu armário para alguma emergência, foi tão emocionante coloca-la. Quando os corredores estavam vazios nos encontramos em meu quarto para achar a melhor maneira de sairmos do castelo sem sermos vistos.

– Os guardas ficam a noite inteira vigiando o castelo por dentro e por fora. Será difícil encontrar uma maneira para sairmos daqui. – Eu disse.

– Você tem certeza que não tem nenhum guarda que poderia nos ajudar? – Ele perguntou. – Digo isso por que um dos guardas do meu castelo é meu amigo, ele que me ajuda sempre.

Pensei em Thiago, mas não sei se seria uma boa ideia. Ele não gostaria de me ver saindo com o Binho sem ninguém para me proteger.

– Sim. Não tem ninguém.

Pensamos mais um pouco e eu me lembrei de um lugar que poderia nos ajudar se tivéssemos sorte.

– Binho, vem comigo.

Ele não entendeu muito bem no início, mas mesmo assim me acompanhou. Fomos cuidadosamente até a biblioteca. Sorte que a troca de turno dos guardas é nessa hora, ou seja, a maioria ainda não estava em seus postos.

– Você acha que algum livro pode nos ajudar? – Binho perguntou.

– Não. Eu acho que isso pode. – Eu disse ao arrastar um tapete que cobria uma passagem secreta que tinha no chão.

– Para onde isso nos leva?

– Para um porão. Meu pai sempre disse que usaríamos isso em algum caso de emergência, mas até agora não precisamos. Eu nunca entrei aí dentro, mas acredito que tenha alguma passagem para fora.

– Não custa tentar. – Concordei.

O porão era escuro e um pouco empoeirado. Acho que as criadas entravam lá de vez em quando para limpar, pois apesar da poeira ele até que estava limpo. Assustei-me com a luz acendendo. Olhei para trás e vi que era Binho, ele tinha achado o interruptor.

– Acho que agora vai ficar mais fácil encontrar alguma coisa. – Ele disse e eu concordei.

Andamos um pouco pelo enorme porão e eu finalmente achei uma escada, que no fim dela tinha uma pequena porta.

– Olha isso. – Eu o chamei.

– Vamos abrir para ver onde dá. – Ele disse.

Com um pouco de dificuldade conseguimos abrir a porta. Logo que ela foi aberta pude sentir o vento que entrava no porão. Binho colocou a cabeça para fora para certificar de que não tinha ninguém no lado de fora. Logo depois acabou saindo, o que significava que a barra estava limpa. Ele me ajudou a sair de lá também.

– Nossa. – Eu disse quando já estava fora do porão.

– O que foi? – Ele perguntou enquanto fechava a porta.

– É estranho ver as coisas fora do castelo.

– Você ainda não viu nada, nós temos muitos lugares para ir.

– E a moto?

– Nós vamos ter alugar, já que não pude trazer a minha. Mas eu pesquisei e tem um lugar não muito longe daqui.

– E nós vamos até lá como?

– Andando. Ou você não gosta?

– Não, por mim não tem problema nenhum. Só não estou acostumada.

– Você vai gostar. É bom sentir o vento batendo no rosto, ver as pessoas andando na rua sem nem saber quem você é. Elas te tratam de igual para igual, sabe?

– Saber eu não sei. – Ri fraco. – Mas sempre quis experimentar.

Fomos a pé até a loja que alugava carros e motos. Eu sei que isso é tão simples, alguns consideram uma prática chata ter que andar tanto, mas eu estava achando aquilo tão mágico.

Meus cabelos voavam por causa do sereno da noite e um leve frio percorria em meu corpo, uma das melhores sensações da minha vida. Ta, eu sei que é estranho dizer isso, mas eu quase nunca, quase nunca mesmo saio á noite. Na verdade é quase algo impossível de acontecer, já que lá no castelo as regras são claras: dormir logo após o jantar, que é servido as 20h00min.

– Você ta adorando, né? – Binho disse, rindo um pouco.

– É tão óbvio assim?

– Considerando que você não para de sorrir... Sim. – Eu ri.

– Eu estou me sentindo muito bem. Estou me sentindo fora da lei. – Rimos.

– Eu disse que um pouco de rebeldia te faria bem.

Chegamos na loja e o Binho escolheu uma moto. Como eu não entendo nada dessas coisas fiquei só olhando. Montamos na moto e eu estava morrendo de medo de cair daquilo, mas acho que não tem perigo.

– Preparada? – Ele disse ao ligar a moto.

– Sempre. – Menti.

O momento em que ele acelerou a moto foi como se todo o meu corpo tivesse ficado para trás, eu ainda não sabia como não tinha caído naquele exato momento. Mas apesar dos apesares, eu adorei aquela sensação, um pouco de adrenalina faz bem de vez em quando.

Lembro até hoje de quando fomos até a inauguração de um parque de diversões aqui em Jordânia. Nós fomos os convidados de honra, mas meus pais não me deixaram ir em um só brinquedo. Isso foi um trauma na minha vida.

– Binho. – Eu praticamente gritei para que ele ouvisse. – Obrigada.

– Pelo que? – Ele perguntou.

– Se não fosse você, eu estaria trancada no meu quarto agora. É bom mudar a rotina.

– Não precisa agradecer. Eu gosto da sua companhia.

Continuamos correndo. Quer dizer, a moto corria. Quando chegamos perto de um descida eu fiquei com muito medo. Fechei meus olhos e abracei forte o Binho. Mas nada aconteceu. Até que ele parou e eu finalmente abri meus olhos.

– Você é bom. – Eu disse.

– No que exatamente? – Ele disse com um sorriso e eu entendi direitinho o que ele queria dizer.

– Eu to falando que você é bom dirigindo a moto. Não pense em besteira. – Rimos. – Mas onde nós vamos? – Perguntei.

– O que você acha da gente comer um cachorro quente.

– Comer cachorro quente? Como assim? – Fiquei um pouco assustada.

– Ah é. – Ele riu. – Esqueci que você não está acostumada com essas coisas. Cachorro quente é uma comida típica americana. Eu adoro.

– Não é feita de cachorro, né?

– Não. – Ele riu. – Pode ficar tranquila.

Comemos o cachorro quente e aquilo é realmente muito bom. Eu me atrapalhei um pouco para comer, já que não tinha nenhum prato ou talher, mas acabei conseguindo. Binho começou a rir.

– Do que você está rindo?

– Tem molho no seu nariz. – Ele continuava rindo e eu fiquei envergonhada, mas ri junto.

– Porque não me avisou antes? – Disse ao limpar o molho.

– Porque você estava tão bonitinha que eu quis esperar um pouco. – Corei.

– Lembra quando você me perguntou se tinha superado minhas expectativas? – Ele concordou. – Eu acho que sim.

– Sim oque?

– Você superou sim. No começo fiquei com medo de você ser chato, ou sei lá. Mas não. – Ele sorriu.

– Cada vez que eu converso com você tenho mais certeza que eu tive muita sorte por nos escolherem.

– Como assim?

– Nesse momento eu poderia estar com qualquer princesa, mas eles te escolheram pra ficar comigo e me escolheram pra ficar com você. – Sorri.