Duas semanas havia se passado, desde a última vez que Regina e Emma se encontraram. A loira evitou de todas as formas encontrar com a ex-esposa, sempre cautelosa de ir em algum lugar que Regina frequentava, pedia para o pai buscar Robin em casa, nos seus dias com a menina e sempre que a deixava, nunca descia do carro, conseguindo não esbarrar com a morena com sucesso. Regina percebia tal coisa, porém não fez nada para mudar isso, se a loira não desejava lhe ver, não ia impor sua presença de forma alguma. Emma estava magoada, sabia que tinha errado em explodir daquela forma na casa da morena, mas a forma que foi tratada tinha doído mais do que imaginaria. Sentia que Regina tinha preferido ficar a favor de Milah, o que a deixava arrasada e desiludida. A loira tinha se afundado em trabalho, fazendo mais horas extras do que o necessário, tinha reposto as horas perdidas do dia que não trabalhou e acumulado mais tantas outras, o que acabou fazendo com que Eloíse não tivesse motivos para pegar no seu pé. A rotina na escola tinha voltado ao normal, com as fofocas de corredor praticamente inexistentes sobre o ocorrido com Robin.

Enquanto isso, Regina tinha decidido trabalhar um pouco menos, podendo dedicar mais tempo para Robin. O que tinha sido muito proveitoso, haviam conversado sobre as intenções da família Hood-Gardener, com Regina deixando claro que faria tudo ao seu alcance para manter a vida de Robin da forma que ela desejava. A loirinha tinha se tranquilizado, confiando inteiramente em sua tia, estava segura que ela sempre a protegeria. Robin também questionou sobre o afastamento de Emma, recebendo como resposta que não era nada demais, que a loira estava muito ocupada nos últimos dias e apenas sem tempo.

Era sábado de manhã, Regina estava saindo do supermercado, empurrando um carrinho com compras, quando encontrou Mary Margareth no estacionamento.

— Oi, Regina. – Mary sorriu e abraçou sua ex-nora. – Que bom lhe encontrar, estava para te ligar, queria saber como você está. Me acompanha em um café? – Mary apontou para a cafeteria ao lado do supermercado. – Para podermos conversar melhor.

— Oi, Mary. Bom te ver também. Claro que acompanho, vamos lá. – Regina retribuiu o abraço, gostava muito da ex-sogra, caminhando ao seu lado em direção a cafeteria. – Agora que as coisas acalmaram para Robin, estou bem melhor.

As duas entraram e escolheram uma mesa ao lado da janela, fizeram o pedido de dois cafés expressos e pães de queijo para acompanhar, quando a garçonete se afastou, Mary retomou o assunto.

— Pois é, que loucura, não é? – Mary negou com a cabeça. – A Ingrid continua querendo que tudo seja como ela quer. Acredita que a vida é feita para prosperar acima de tudo. Uma herdeira para tocar os negócios é tudo que importa para ela.

— Ela deveria ter pensando nisso há quinze anos atrás, participando afetivamente da vida de Robin. Mas nunca fez questão disso. – Regina deu de ombros. – Ela não pode querer obrigar Robin, a seguir o legado de uma família que ela nem se sente parte. Durante todos esses anos, nunca se importaram de comparecer em nenhuma festa de aniversário, nenhum natal, nenhuma data significativa, apenas mandavam dinheiro, como se isso fosse o bastante.

— Eu sei muito bem disso. – Mary concordou. – Mas apesar de tudo isso, você e Emma fizeram um ótimo trabalho criando Robin, nunca deixaram faltar amor e carinho para essa menina.

— Com a sua ajuda e de David, que são mais avós que os sanguíneos dela. – Regina sorriu. – Nunca poderei agradecer o suficiente por tudo que vocês fizeram e ainda fazem.

— E nem precisa. – Mary apertou o braço de Regina gentilmente. – Fazemos de coração. Mas me diga, além de Robin, como vão as coisas?

A garçonete voltou trazendo o pedido para a mesa, Regina tomou um pouco do café antes de responder, tentando ganhar tempo para pensar no que que diria.

— O trabalho vai bem, a editora aumentou os lucros e as expansões estão fluindo corretamente. Não temos do que se queixar. – Regina pegou um pão de queijo.

— Bom saber disso, mas não era apenas em relação ao trabalho que me referia. – Mary sorriu, bebendo seu café.

—Eu sei. – Regina revirou os olhos. – Mas não sei o que dizer.

— Pode começar pelo motivo do mau humor de Emma nas últimas duas semanas. – Mary foi direta. – Ela não fala sobre, mas imagino que se desentenderam mais uma vez.

— Não sou responsável pelo humor de Emma, a vida dela não gira em torno de mim. – Regina respondeu rapidamente. – E bom, estamos divorciadas, desentendimentos fazem parte do pacote.

— Engraçado que ouvi a mesma coisa da minha filha, sobre não girar. – Mary sorriu. – As duas são muito teimosas, deveriam pararem de ser tão cabeças duras.

— Meio impossível de acontecer. – Regina bebeu mais do seu café. – Sempre fomos teimosas, mas isso costumava não ser um problema entre nós.

— Nada é impossível. – Mary pensou um pouco e continuou. – Regina, minha querida, você sabe que só fui abençoada com uma única filha, mesmo desejando e tentando ter mais. Mas o dia que finalmente a Emma te apresentou como namorada dela, eu ganhei uma segunda filha. Sim, eu já sabia que Emma te amava como mulher, não apenas como amiga, apenas esperei pelo momento que ela me contaria. Já nutria um carinho especial por você, mas quando a minha filha criou coragem e assumiu o amor que sentia por ti, naquele exato momento eu soube, eu senti a profundidade do sentimento que as unia. Desde aquele dia te considero minha filha também, eu conheço você tão bem quanto conheço a Emma. Por isso, acredite em mim quando te digo, permita-se sentir, não tente enterrar teus sentimentos no fundo da sua alma. Não te fará bem algum, muito pelo contrário. Não pense que estou aqui defendendo ninguém, apenas desejando que possam encontrar o que precisam.

— Nossa, Mary. Eu nem sei o que dizer. – Regina se emocionou, esticou sua mão e apertou a mão da ex-sogra. – Confesso que sempre lhe tive como uma mãe também. A mãe a qual eu confiava em contar sobre tudo, sempre tive em você um porto seguro, para onde eu sempre podia correr. Eu acredito em ti, sei que suas intenções são honestas e boas. Mas quanto ao que eu sinto? Perdida acima de tudo, uma bagunça sem fim.

— Tome o seu tempo, minha querida. – Mary apertou a mão da morena de volta. – Acredite mais em você mesma, dê ouvido a sua voz interior e lute pelo que deseja, seja o que for. Quando duas pessoas se amam, o amor costuma encontrar um caminho, mas apenas se você permitir enxergar ele. E acima de tudo, construir pontes para acessá-lo, pois nada acontece magicamente.

Regina concordou com a cabeça, sentindo o efeito dos conselhos recebidos. As duas continuaram conversando por mais algum tempo, até se despedirem e irem para suas respectivas casas. Regina chegou em casa, guardou todas as compras e estava se preparando para começar a fazer o almoço, quando recebeu uma mensagem de Robin, que lhe avisava que estava na casa de uma amiga e comeria por lá, voltando para casa apenas no fim da tarde. Com isso, resolveu mudar de planos, comeu algo rápido, deixando para caprichar no jantar, trocou de roupa e pegou sua bicicleta na garagem. Fazia muito tempo que não pedalava, o que sentia falta, era algo que costumava fazer junto de Emma, desde que eram adolescentes e tinha parado há alguns anos, na época que o casamento começou a desmoronar.

A morena subiu em sua bicicleta e foi rumo ao parque estadual da cidade, sentindo a sensação do vento batendo em seu rosto e apreciando a adrenalina correndo em suas veias. Era uma sensação maravilhosa, uma liberdade sentida em todos os seus poros. Quando descia uma ladeira, sentia-se incrivelmente livre, como amava essas emoções que andar de bicicleta lhe trazia. Andou por horas, subindo e descendo as colinas com habilidade. Estava começando a escurecer, quando sentiu um solavanco e um pneu estourando, perdendo o controle da bicicleta e derrapando na areia, ocasionando uma queda ao chão. Praguejou pela falta de sorte, sentindo seu joelho e cotovelo esquerdos latejarem de dor, pois tinha esfolado ambos. Sentou-se no chão e analisou seus ferimentos, que estavam sangrando um pouco, olhou para a bicicleta e negou com a cabeça, sabendo que teria dificuldades em voltar para casa naquele estado.

— Regina?

Emma que estava correndo pelo parque, viu de longe quando uma bicicleta derrapou, correndo até o local para oferecer ajuda, apressou o passo quando percebeu que era a ex-esposa que tinha caído.

— Emma? – Regina ficou surpresa, mas aliviada de ver a loira.

— Ei, não se mexe, deixa eu ver. – Emma se ajoelhou ao lado da morena, pegando com muito cuidado em seu braço para olhar. – Foi superficial, mas precisa desinfetar.

A loira pegou a sua garrafa de água, jogando na ferida para limpar, causando resmungos em Regina, pela ardência causada.

— Calminha, já vai melhorar. – Emma com todo cuidado soltou o braço, pegando a perna para jogar água no joelho ralado também. – Prontinho, pelo menos já estão limpas. Machucou mais algum lugar?

— O corpo dolorido, mas feridas só essas. – Regina respondeu, olhando para o machucado do joelho.

— Teve sorte, poderia ter sido um tombo pior. – Emma olhou para a morena. – Não sabia que tinha voltado a andar de bicicleta.

— Voltei hoje, estreia triunfal, não acha? – A morena seguia olhando seu joelho.

— De fato. – Emma sorriu quando Regina lhe olhou de volta. – Fico feliz que tenha voltado a andar.

Regina suspirou, ainda mantendo o olhar no da loira, que lhe sorria serena. Estavam muito próximas uma da outra, conseguiam sentir suas respirações agitadas. E ali estava aquela conexão, aquele sentimento familiar e inquietante. A morena lembrou da conversa que teve com Mary, sentindo que deveria se permitir apreciar aquele momento, apreciar a conexão aparentemente inquebrável que compartilhava com a ex-esposa. Munida de uma coragem que lhe invadiu, ergueu sua mão e acariciou o rosto da loira, que ficou surpresa, mas não rejeitou o afeto, fechando os olhos e apreciando o contato. Regina ergueu a outra mão, mantendo uma em cada lado do rosto de Emma, acariciou mais um pouco e deslizou a direita para trás do pescoço da loira, lhe puxando em sua direção.

— Regina... – Emma sussurrou, ainda de olhos fechados, se deixando ser puxada de encontro a boca da morena.

— Chiu, não fale nada. – Regina sussurrou de encontro a boca da loira. – Apenas me beije.