O beijo iniciou lento, um roçar de lábios, se reconhecendo, se provando, ambas de olhos fechados, as respirações descompassadas e os corações acelerados em seus peitos. Emma ainda estava ajoelhada ao lado da morena sentada no chão, se aproximou mais, apoiando-se em um braço, tomando cuidado para não piorar os machucados de Regina, repousando a mão livre no ombro da morena. Regina aprofundou o beijo, sua língua pedindo passagem na boca da loira, que prontamente cedeu, gemendo ao sentir suas línguas se enrolando. Sentiam uma explosão interna, as bocas se encaixavam e moviam-se num ritmo perfeito e delicioso. As línguas se enroscavam prazerosamente, sensualmente, esquentando a temperatura de seus corpos, fazendo as duas mulheres ansiarem por mais beijos, por mais toques e desejando que o momento durasse para sempre. Não queriam quebrar o beijo, não queriam que terminasse, queriam seguir se beijando, seguir sentindo tudo o que estava adormecido dentro de ambas e que foi despertado pelo beijo. E o beijo continuou, sedento e avassalador, até o ar se fazer estritamente necessário, diminuíram o ritmo, terminando com selinhos e colando suas testas. Os olhos ainda fechados, os peitos subindo e descendo descontroladamente, sorriram bobamente, Regina fazia carinho no pescoço da loira, que afagava seu rosto. Sem falarem nada, voltaram a se beijar, seguido de vários outros beijos, cada um mais gostoso que o anterior, sentiam as famosas borboletas fazerem festa dentro de seus estômagos. Nem perceberam que já havia escurecido, estavam em uma bolha particular, nada mais existia além das sensações que provocavam uma a outra. O celular de Emma, que estava preso no suporte em seu braço, tocou, indicando que havia recebido uma mensagem, quebrando o encantamento em que estavam presas, a realidade literalmente se anunciando. Regina encerrou o beijo, suspirando e colando sua testa na da loira.

— Emma...

— Não. – Emma choramingou. – Não quero sair daqui.

Regina abriu os olhos, acariciou a face da loira, observando bem suas feições, plantou um beijinho no nariz dela, sorrindo em seguida.

— Olhe para mim. – A morena pediu baixinho, voltando a acariciar o pescoço de Emma, que abriu os olhos. – Eu também não quero sair daqui.

— Eu sinto um mas chegando. – Emma sorriu tristemente.

— Mas precisamos ir, já está escuro, é perigoso estarmos aqui. Além disso, Robin pode estar me esperando em casa. – Regina suspirou. – Emma...

— Não me diga para esquecer que isso aconteceu, por favor, não me peça isso. – Emma a olhava tão intensamente, os olhos verdes implorando, de uma forma que fez o peito de Regina se apertar.

— Não farei isso. Não posso te pedir algo que nem eu conseguiria fazer. Emma, eu preciso confessar algo para você, antes que eu perca a coragem de dizer. – Regina respirou fundo. – O meu sangue ferve por você. Eu nem sinto mais os meus pés tocarem o chão, me sinto flutuando em um mar de caos e incertezas. Só queria voltar no tempo e poder fazer tudo diferente. Olho em volta e não enxergo nada, só vejo minha vida girando e tudo piorando, cada vez mais e cada vez mais forte. Eu necessito de estabilidade, preciso reorganizar esse pandemônio que minha vida se transformou, e isso já vem acontecendo desde o nosso casamento. Foi uma sucessão de eventos e catástrofes, uma atrás da outra. Passamos por tantas coisas juntas, tantos problemas e aflições, mas sempre estivemos ali uma para a outra, independente de como estava nosso relacionamento, sempre fomos o suporte uma da outra. Talvez esse seja o problema no momento, eu continuo esperando teu apoio incondicional e você continua me provendo ele. E tenho consciência que não faço o mesmo por você mais, minha mágoas e ressentimentos não me permitem. Eu aceito o que vem de você, mas não consigo retribuir a tua bondade e suporte infinito. Emma, você merece mais do que isso, merece melhor do que a pessoa que eu me tornei.

Os olhos de Regina brilhavam de lágrimas caindo pelo seu rosto, assim como os de Emma, que se encontrava sem palavras depois de ouvir tudo isso. A loira não imaginava de forma alguma que a ex-esposa fosse se abrir desta forma com ela, tão honesta e exposta. Em cada uma das recaídas que tinham tido desde o divórcio, passado o momento, Regina sempre se fechava, afastando a loira e a culpando por terem caído em tentação. Era a primeira vez que a morena abria seu coração após um desses momentos, ela parecia tão vulnerável e a reação de Emma foi abraça-la. A loira a puxou para seus braços, acariciando suas costas gentilmente. Regina afundou sua cabeça no pescoço de Emma, lhe abraçando fortemente de volta, sem se importar com o desconforto que seus machucados poderiam causar. Novamente perderam a noção do tempo, se perdendo no conforto que aquele abraço causava em ambas. Emma tinha tantas coisas que queria dizer, queria esclarecer, queria conseguir se comunicar de uma forma que fosse compreendida, mas as palavras ficavam presas na garganta. Com muito esforço, conseguiu organizar seus pensamentos e confessar um pouco do que tinha dentro de si

— Eu mereço você, Regina. – Emma sussurrou no ouvido da morena. – Eu sei que falhei contigo, falhei com nós, desisti de lutar e deixei o nosso casamento se afundar. Eu estava cansada e me rendi ao caminho mais fácil, e esse é o meu maior arrependimento.

Regina levantou sua cabeça, encarando os olhos verdes lagrimejantes, passou o polegar limpando algumas lágrimas das bochechas da loira e lhe puxou para mais um beijo. Esse beijo tinha um sabor diferente, como se suas confissões tivessem adicionado um ingrediente especial, sentiam tão profundamente, tão singular, era extraordinário. Encerraram o beijo com uma sensação de paz e equilíbrio. Emma ajudou a morena se levantar, limpando suas roupas sujas da areia do parque.

— Consegue andar sozinha? – Emma questionou. – Pode se apoiar em mim, se precisar.

— Acredito que consigo sim. – Regina deu alguns passos testando. – Só um desconforto dolorido.

Emma concordou com a cabeça, pegando a bicicleta caída no chão.

— Eu te acompanho até em casa, pode deixar que levo tua bicicleta.

— Não quero te incomodar. – Regina disse sem jeito.

— Regina, eu quero fazer isso. – Emma sorriu. – Nunca que te deixaria voltar assim sozinha. E sinta-se à vontade para se apoiar em mim em qualquer momento, ou se quiser fazer uma parada no meio do caminho, não se acanhe, não tenho pressa alguma.

— Obrigada, Emma. – Regina sorriu, começando a caminhar lentamente ao lado da loira. – Que sorte você me encontrar aqui, eu estaria encrencada se você não tivesse aparecido.

— Sorte eu não sei, acho que ela nos abandonou há algum tempo. – Emma deu de ombros. – Deve ser o destino.

A lua cheia brilhava majestosamente no céu estrelado, estava uma noite muito bonita, a temperatura agradável, não ventava forte, deixando um clima bom para estar na rua. Regina olhou para cima, admirando as estrelas e pensando na mulher ao seu lado, que mais uma vez estava ali para ela.

— Posso te perguntar algo? – Regina olhou curiosa para a loira, que fez que sim com a cabeça. – Por que tem me evitado?

— Ah, Regina. – A loira suspirou. – Não devíamos falar sobre isso.

— Já estamos falando, Emma. – Regina parou de caminhar e colocou a mão no antebraço da loira, fazendo ela parar ao seu lado. – Me conte, qual foi o motivo?

Emma respirou fundo, encarando os olhos cor de chocolate, que tanto admirava e gostava de olhar, sempre achou que a ex-esposa transmitia tanto por eles, que poderia se perder por horas prendida naquele olhar.

— Apenas tentando evitar mais problemas entre nós duas. – Emma deu um sorriso triste. – Além do que, você foi muita clara da última vez que nos encontramos. Não queria estragar mais nenhum dia seu.

— Emma... – Regina franziu a testa. – Eu disse aquilo no momento da raiva, você realmente me tirou do sério com aquela atitude explosiva.

— Por causa da Milah...

— Não, Emma. – Regina interrompeu a loira. – Não foi por ela, não importava quem estivesse na minha casa naquele momento, foi pela forma que você agiu. Me acusando injustamente e tirando conclusões precipitadas, que mesmo que fossem verdadeiras, não te davam o direito de agir daquela maneira comigo.

Emma desviou o olhar, murmurando que sabia que tinha errado. Regina suspirou e delicadamente virou o rosto da loira para lhe olhar novamente.

— O que mais? – Regina mantinha a mão no rosto da ex-esposa, sabendo que tinha mais do que a loira havia assumido, enxergava nos olhos verdes que tinha um sentimento mais profundo por trás daquele afastamento. – Além de querer evitar mais brigas, qual o principal motivo de ter me evitado por todos esses dias?

— Regina... – Emma negou com a cabeça. – Não quero falar sobre isso.

— Eu sei que não, por isso é necessário que fale. – Regina insistiu. - Me diga, Emma. Te conheço, sei que não foi apenas para evitar conflitos.

— Você me magoou, Regina. – Emma falou baixo. – Sei que não devia ter feito aquilo, mas tua reação me machucou. Te evitei todos esses dias por isso, não queria que acontecesse novamente.

Regina assentiu em compreensão, tirando a mão do rosto da loira. Não sabia o que responder, sentia que sua reação tinha sido apropriada naquele dia, para aquela ocasião indesejada, apesar de não ter tido a intenção de magoar a ex-esposa, então achou melhor não dizer mais nada. Apenas voltou a caminhar e Emma fez o mesmo, desta vez com um silêncio incômodo entre ambas. O celular da loira tocou novamente, que desta vez tirou do suporte em seu braço e olhou o conteúdo das mensagens recebidas.

— Robin está preocupada contigo, perguntou se eu sei aonde você está. – Emma falou parando de caminhar, digitando uma resposta para tranquilizar a sobrinha. – Estranhou você não estar em casa ainda e que deixou seu celular lá.

— Explicou que aconteceu um imprevisto? Não diga acidente, que vai assustar ela. – Regina orientou, parando na frente de Emma, ficando apreensiva com a preocupação da sua loirinha. – Foi irresponsabilidade minha sair sem o celular.

— Calma, Regina. Não precisa se culpar, você não imaginava que iria precisar dele. – Emma terminou de digitar e enviou a mensagem. – Não disse o que aconteceu, apenas que você estava bem e indo para casa, que explicaria tudo quando chegasse.

— Robin tem questionado a sua ausência.

— Eu não deixei de ver ela. – Emma franziu a testa. – Como assim ausência?

— Ela não é boba, notou que você estava me evitando. – Regina respondeu revirando os olhos. – Eu expliquei que você estava ocupada com o trabalho, que não era para ela se preocupar.

— Vou conversar com ela. – Emma garantiu. – Eu estava te evitando, mas você também não fez nenhum esforço para esbarrar em mim.

— Queria que eu tivesse feito? – Regina arqueou a sobrancelha.

Emma ficou vermelha rapidamente, desviando o olhar, fazendo a morena gargalhar gostosamente. E aquele som fez o interior da loira se agitar, que mesmo envergonhada deu um sorriso singelo e voltou a olhar para a mulher a sua frente.

— Não ria de mim. – Emma falou sorrindo, mas na realidade não se importava do motivo da risada, só queria continuar ouvindo a ex-esposa rindo daquela forma. – Não tem graça, não.

— Não estou rindo de você. – Regina seguiu rindo. – Quer dizer, um pouco talvez, mas não negativamente.

— Ah, tá bom. – Emma negou com a cabeça, sorrindo amplamente. – Pode seguir rindo de mim um pouco talvez, eu deixo vai.

— Deixa mesmo? – Regina provocou, ainda rindo. – Você fica adorável vermelha deste jeito.

— Pareço um pimentão, isso sim. – A loira revirou os olhos. – Culpa dos genes dos meus pais.

— Sua brancura é culpa deles? – Regina gargalhou. – Você consegue ser ainda mais branca que os dois juntos, Emma.

— Bem que você gosta da branquela aqui. – Emma desceu o pezinho da bicicleta, lhe deixando parada sozinha e provocou se aproximando mais.

— Quem disse? – Regina não se afastou, a risada diminuindo e abrindo um sorriso sacana.

— Teu corpo me disse, teu olhar me disse, tudo em você quando está em meus braços me dizem isso. – Emma falou firme, olhando no fundo dos olhos da morena, eliminando a distância restante entre elas e enlaçando a cintura de Regina. – Vai negar?