One More Night

O dia seguinte


Regina saiu da sua mansão com a cabeça latejando de dor, sentia-se exausta fisicamente e mentalmente. Mal podia acreditar que novamente tinha se rendido aos desejos que sentia pela ex esposa, mais uma recaída no seu histórico de relacionamento com a loira irritante. Sabia que corria esse risco, no exato momento que Emma entrou no pub, deveria ter evitado flertar com ela. Tinha disparado ofensas e acusações injustas, também tinha consciência deste fato, a loira estava certa quando afirmou isso, pois queria que a noite tivesse terminado da forma que aconteceu. Só não estava preparada para a manhã seguinte, acabou caindo na rotina de culpar a ex esposa, era mais fácil e conveniente. Velhos hábitos são difíceis de esquecer e abandonar. No fundo sentia tanta falta da presença irritante e reconfortante de Emma, que não sabia lidar com o atual status de relacionamento mantido entre as duas.

O casamento das duas tinha durado oito anos, desde os vinte e dois anos de ambas. Haviam se conhecido no colégio, namoraram por anos e após formadas na faculdade, tinham realizado o sonho do casamento tão almejado. O último ano do matrimônio tinha sido um inferno na terra. Ambas atoladas em suas próprias carreiras, ciúmes doentios em níveis exaltados e uma forte tendência de ambas as partes de uma culpar a outra pelos erros cometidos. Foram meses de brigas, choros, angustias e tormentos. Tinham praticamente destruído tudo que haviam construído juntas ao longo dos anos compartilhados. E quando já estava prestes a dar um ultimato na loira, desconfiou fortemente que estava sendo traída, reagindo com um pedido de divórcio, que foi aceito tão rapidamente e facilmente por Emma, que apenas foi a última pá de terra no casamento em corda bamba. A atitude passiva da loira tinha lhe dado uma certeza de suas desconfianças, acreditando que seus piores medos tinham se concretizado. Ter dúvidas de traição era algo normal do seu ponto de vista, qualquer relacionamento longo passa por essas fases de incertezas, e ambas tinham tido suas cotas nesse departamento especifico.

Estacionou o carro em sua vaga, no estacionamento privativo para funcionários, pegou algumas pastas no banco do carona, com documentos necessários para despachar durante o dia. Assim que entrou na livraria, vasculhou o ambiente com os olhos, observando a movimentação dos clientes e funcionários espalhados pelo local. Sorriu cordialmente para quem lhe direcionou o olhar, caminhando majestosamente em direção ao seu escritório, no segundo andar da loja. Subiu as escadas, deu uma última olhada para o andar de baixo e destrancou a porta com a sua chave, acendendo as luzes do cômodo. A decoração era requintada e clean, toda nas cores preto e branco, deixando o espaço com um ar sofisticado. Composto de uma mesa com computador e telefone com ramal, um conjunto de sofás de dois lugares e uma poltrona, uma mesinha de centro, um bar equipado com as bebidas favoritas de Regina, frigobar e um aparelho de som moderno. Nas paredes haviam dois quadros, um atrás da mesa da morena, que era de uma maça vermelha com uma coroa em cima, e o outro na parede oposta, junto aos estofados, que era de um lago com belos cisnes nadando.

Como em um passe de mágica, bastou ligar o seu computador e o telefone começou a tocar, suspirou fundo, sua ressaca estava lhe tomando um preço alto a ser pago desde cedo. Torcendo para não ser um problema ou uma ligação demorada, atendeu após o quarto toque.

— Mills falando. – Forte e profissional, seu tom de voz denunciava que não estava disponível para perder tempo. – Não quero desculpas para falhas que poderiam ter sido evitadas. Não sou a CEO, essas competências não são de minha alçada, converse diretamente com o seu superior e não me procure mais para esse tipo de besteira.

Encerrou a ligação irritada, odiava incompetência e ainda mais quando tentavam se livrar da culpa apontando para outros. Qual era a dificuldade de cada pessoa assumir seus próprios erros? Sem precisarem encontrar outros culpados ou justificativas mesquinhas? Tinha pavor que qualquer pessoa, principalmente seus funcionários, tentassem tirar vantagem de sua posição familiar. Se dentro da própria família lhe foi ensinado que nunca deveria tentar se aproveitar do status de ser uma Mills, todos deveriam ter esse bom senso. Seus pais tinham lhe ensinado que ter nascido privilegiada não era algo para se apoiar, que deveria trabalhar duro e construir sua própria carreira sozinha. Negou com a cabeça e bufou, levantando em seguida e pegando um copo de vodca em seu bar, tomou o liquido em um gole só, sentindo o alivio imediato que a bebida lhe proporcionava. Porém, como tudo que é bom dura extremamente pouco, sua paz recém adquirida foi abalada por seu celular tocando. Ao ver o nome no display, respirou fundo, sabendo que não seria uma ligação tranquila.

— Oi. – Atendeu resignada. – Não esperava que fosse me ligar.

— Desculpa, Regina. – Emma estava sem jeito. – Eu imagino que não queria contato comigo tão cedo, mas estou ligando por cortesia.

— Cortesia? – Regina estranhou, conhecia a loira como a palma de sua mão e percebeu que era verdade. – O que houve?

— A Robin se meteu em uma encrenca grande. – Emma suspirou. – Eu tentei livrar ela, mas como cheguei aqui atrasada, não teve muito o que eu pude fazer. Querem ligar para a delegacia.

— Era só o que me faltava mesmo. – Regina fechou os olhos, tentando controlar o sentimento de impotência que sentia em sua vida. – O que ela aprontou desta vez?

— Drogas, Regina. – Emma falou tristemente. – Encontraram na mochila dela e ao fazerem uma busca em seu armário, foi encontrado mais substâncias. Estão desconfiando que ela está traficando dentro da escola.

— Estou indo para aí agora mesmo. – Regina foi pegando sua bolsa e trancando sua sala. – Por favor, Emma, tenta retardar o chamado para a polícia.

— Sim, estou fazendo isso. – Emma respondeu. – Sabem que vou tentar aliviar para o lado dela, por isso estou fora das decisões sobre o ocorrido, é conflito de interesses.

— Droga. – Regina praguejou. – Justo hoje, dentre todos os dias da semana, Cora vai enlouquecer quando souber.

— Regina, se preocupe mais com a Robin, do que com a reação da tua mãe. A senhora Mills é uma adulta crescida, que sabe lidar com suas frustações. Robin está apavorada e nervosa. – Emma bufou. – Enfim, venha o mais rápido possível, pegue um über, melhor que dirigir feito uma louca pelas ruas da cidade.

— Sugestão anotada, Swan. – Regina cortou a loira. – Obrigada por avisar, já vou resolver essa situação. Sinto que tenha atrapalhado o teu trabalho.

— Eu não disse isso...

Regina desligou o celular, sem nem dar chance ou tempo para a loira responder. Pegou as chaves de seu carro e entrou, antes de girar a chave, pensou se era prudente ir dirigindo, mas disposta a provar que podia dirigir rápido sem se meter em um acidente, deu a partida rumo a escola. Pensou se deveria avisar o resto da família, mas a escola talvez já tivesse feito isso, por isso apenas seguiu seu caminho. Cerca de meia hora depois, estacionou na frente da escola e entrou. Caminhou direto para a diretoria da escola, encontrando Emma na antessala.

— Veio dirigindo, não é mesmo? – Emma lhe direcionou um olhar de repreensão. – Sinto muito, mas chegou um pouco tarde, o pai dela acabou de entrar aí.

— Sério? – Regina ergueu a sobrancelha. – O que ele está fazendo aqui?

— A diretora ligou para ele. – Emma estava contrariada, odiava aquele homem. – Obviamente não fui eu quem avisou ao traste.

— Deveriam ter ligado para mim primeiro. – Regina olhou em direção a porta fechada e voltou o olhar para a loira. – Eu nem sabia que ele estava na cidade.

— Eu preferia que não estivesse. – Emma suspirou. – Bate e entra, com certeza sua presença não será barrada.

— A sua foi? – Regina percebeu o quanto a ex esposa estava chateada. – Entra comigo.

— A diretora não vai gostar. – Emma se surpreendeu com o convite. – Tem certeza que deseja a minha companhia?

— Problema é dela. – Regina foi firme. – E quanto ao que eu desejo, não vem ao caso no momento. Robin com certeza quer você lá dentro.

Emma concordou com a cabeça, levantando e ficando ao lado da morena. Regina deu um pequeno sorriso e bateu na porta, entrando em seguida. Olhou para a diretora sentada atrás de sua mesa, com Robin de cabeça baixa sentada do outro lado da mesa e Jefferson ao lado da filha.

— Desculpe, eu estou atrasada.