Regina se permitiu prender seu olhar ao da loira, mergulhou nos olhos verdes brilhantes que lhe encaravam com uma intensidade intoxicante. Era reconfortante demais se enxergar neles, enxergar compreensão e apoio, conseguia sentir seu controle voltando ao corpo, respirou fundo e sorriu de forma tímida. A mão de Emma ainda repousava em seu ombro, afagando o local carinhosamente. Emma abriu um lindo sorriso de covinhas charmosas, fazendo o interior da morena se agitar, as famosas borboletas no estômago ainda existiam em relação a loira, era incrível que ainda pudesse sentir essas coisas pela ex-esposa. Regina suspirou, desviou o olhar e negou com a cabeça. Não queria sentir mais nada disso por Emma, queria que seu coração e seu corpo esquecessem da loira, não que ansiassem pela sua presença e toques. Era uma tortura querer se aconchegar nos braços da loira, querer trocar carinhos e confidências ao pé do ouvido, querer que o mundo parasse e ficasse apenas as duas se amando, com mais nada interferindo entre elas. Mas a realidade era muito diferente, estavam divorciadas por uma razão incontestável, não davam mais certo juntas, não era saudável e não fazia bem a nenhuma das duas prolongar essa situação.

— Eu posso levar Robin para casa, se você quiser. – Emma sentiu que o momento que compartilhavam havia terminado, retirando sua mão do ombro da morena. – Imagino que você precise voltar ao trabalho, eu lembro que hoje é dia de videoconferência com a diretoria da editora.

— Como ainda lembra disso? – Regina questionou surpresa.

— É todo o dia cinco do mês. – Emma deu de ombros. – Não sou tão desligada assim, Regina.

— Seria uma boa ideia, mas acredito que você também precise voltar ao trabalho. – Regina voltou a olhar para a loira. – Espero que não tenha problemas por nossa culpa.

— Não existe nada que eu não faria pela Robin. – Emma foi honesta. – Eloise e sua maldita família que se explodam. Não estou com ânimo para voltar ao trabalho agora. Ninguém me tira da cabeça que isso foi combinado entre eles, querem motivo para requererem a guarda de Robin.

— Eu tenho certeza disso, Emma. – Regina concordou com a cabeça. – Mas nem por cima do meu cadáver eles conseguem a guarda de Robin.

— Teve notícias da Zelena? – Emma perguntou em um tom triste. – Depois do nosso divórcio ela cortou qualquer contato comigo.

— Infelizmente faz meses desde a última vez que ela mandou sinal de vida. – Regina suspirou pesado. – Não foi apenas com você que ela ficou brava pelo divórcio. Ela entra em contato cada vez mais raramente. Estava na Índia quando me mandou um cartão postal, nada além disso.

— Eu sinto muito. – Emma olhou em direção ao seu carro, aonde Robin esperava sentada. A loira tinha se atrasado mais ainda, por ter que passar no pub que esteve na noite anterior para pegar o carro. – Eu pensei em levar ela no restaurante dos meus pais, uma boa refeição e descontrair cercada de pessoas que a amam vão lhe fazer bem. Depois deixo ela na sua casa.

— Robin vai amar, se deixar ela fica sempre por lá. – Regina sorriu. – Acredita que já me pediu para trabalhar um turno no restaurante?

— Sim, claro que acredito, até porque ela pediu por esse emprego para o meu pai. – Emma riu. – Ele disse que apenas se você concordasse com tal coisa. Mas minha mãe afirmou que Cora teria um enfarto caso isso acontecesse.

— Na realidade eu não neguei para Robin, apenas impus algumas condições, a primeira delas, é ela completar dezesseis anos para assumir tal responsabilidade. E que os estudos estão em primeiro lugar, caso ela tivesse dificuldade para equilibrar as duas coisas, teria que deixar de trabalhar. – Regina respondeu. – Eu nem pensei sobre a opinião de minha mãe sobre isso. Mas você sabe que ela não tem nada contra os teus pais, muito menos acha indigno tal trabalho. Ela deixou Zelena trabalhar lá quando adolescente.

— Claro, tua mãe só tem coisas contra a minha pessoa. – Emma riu sem humor. – Duvido muito que você não tenha considerado a opinião dela, já que está sempre pisando em ovos quando se trata de dona Cora Mills. Não se trata sobre ser um trabalho indigno, se trata por ser próximo de mim. Tua mãe passou nosso relacionamento inteiro me odiando, quando nos divorciamos ela deu graças a Deus. Além de deixar bem claro que sempre teve razão sobre ser contra eu estar com você.

— Estávamos falando sobre Robin. – Regina respirou fundo. – Não entendo a tua necessidade de transformar o assunto em minha mãe e sua antipatia por você. Emma, não estamos mais juntas, você não tem mais nenhum motivo para se estressar com a minha mãe.

— Pela simples razão que tudo sobre sua vida gira em torno dela, Regina. – Emma bufou. – A maior parte dos nossos problemas eram causados por ela.

— Não vai começar. Eu me nego a falar sobre isso outra vez. – Regina esbravejou. – A maior parte dos nossos problemas eram causados por você, Emma Swan, única e exclusivamente por você. Inclusive a sua incapacidade de tentar manter uma cordialidade com a minha mãe. Eu nunca tentei fazer você escolher entre sua família e eu, enquanto você me pressionava contra a minha mãe.

— Minha família nunca fez nada contra você. – Emma já estava ficando vermelha de raiva. – Sempre apoiaram e incentivaram o nosso relacionamento. Não ficavam tentando minar nossa confiança e abalar o nosso casamento.

— Chega, Emma. – Regina gritou. – Não sou mais obrigada a aguentar os teus chiliques e caprichos. Nem eu, muito menos a minha mãe somos da sua conta. Fique feliz que está livre de nós, está livre dos aborrecimentos e problemas.

Robin que prestava atenção nas duas de dentro do carro, ao ouvir Regina gritando, decidiu se aproximar. A adolescente sabia o quanto uma podia irritar a outra, quase sempre terminando em brigas e discussões. A menina era filha de Zelena e Jefferson, sobrinha da morena. Tinha sido fruto de um namoro rápido entre seus pais, ambos menores de idade na época. Quando soube da gravidez de Zelena, Jefferson tentou a convencer a abortar, quase tendo sucesso, pois a ruiva não queria perder o namorado. Mas quando foi levada a uma clínica especializada em abortos, no último momento mudou de ideia e ligou para sua irmã Regina, que até então não fazia ideia da existência de uma gravidez. No mesmo instante, Regina acompanhada de Emma foi ao encontro da ruiva, se deparando com Jefferson agressivo tentando obrigar ela voltar para dentro da clínica. Emma ao presenciar tal absurdo, partiu para cima do rapaz, quebrando o seu nariz. Fato que só não rendeu uma acusação de agressão para a loira, pelo fato da família conservadora de Jefferson querer abafar o caso do aborto. Jefferson foi obrigado a registrar a filha, mas mandado estudar fora da cidade. Zelena sofreu grave depressão pós-parto, recebendo grande ajuda de Regina e Emma para cuidar da sua bebê, que quando não estava com uma das duas, estava com alguma babá contratada por Cora. Quando Robin tinha cinco anos, logo após o casamento de Emma e Regina, Zelena foi embora da cidade, deixando a guarda da menina para a irmã. O casal recém-casado assumiu a criação da menina, lhe dando todo o amor e carinho que podiam. Durante anos, os Hood-Gardener não se envolveram na vida de Robin, tendo o mínimo de contato possível. O que mudou nos últimos quatro anos, pois Robin é a única neta que eles possuem, visando manter o legado da família eles tentam obter a guarda pertencente a Regina, querendo preparar e instruir a menina para os negócios.

— Vocês já estão brigando? – Robin falou em um tom cansado, parando entre as duas mulheres.

— Não, meu amor. – Regina acariciou o rosto da sobrinha. – Apenas estamos nervosas com tudo o que aconteceu.

— Não mente para mim, Tia Regina. – Robin suspirou. – Eu não sou mais criança, não precisa fazer de conta que está tudo bem.

— Lindinha, sua tia e eu estamos apenas conversando. – Emma se manifestou, usando o apelido carinhoso que tinha dado a Robin desde pequena. – E as vezes o assunto apenas se torna um pouco mais barulhento entre nós, você sabe como é.

Robin olhou de uma para outra, analisando a situação, pois tinha certeza que se não tivesse se aproximado, as duas estariam batendo boca. Amava as duas profundamente, tinha lembranças e recordações de sua mãe, mas as figuras maternas que tinha em seu íntimo eram as duas tias. Torcia muito que as duas pudessem resolver seus problemas e voltarem a ser um casal, era tudo que mais desejava na vida. Apesar de ter contato diariamente com Emma e com frequência dormir na casa da loira, sentia falta que vivessem todas na mesma casa e no clima de família unida e amorosa que sempre tiveram.

— Isso mesmo, querida. – Regina concordou. – Estávamos falando sobre você ir com Emma para o restaurante, se estiver disposta é claro.

— As duas não me enganam, só fiquem cientes disso. – Robin falou com ar desconfiado. – Mas vou adorar ir com a Tia Emma para o restaurante.

— Ótimo então. – Regina sorriu para a menina. – Eu preciso voltar ao trabalho, mas irei para casa assim que puder. E poderemos conversar sobre tudo o que aconteceu aqui hoje, querida. Quero que saiba que confio e acredito em você.

Robin acenou positivamente com a cabeça, dando um beijo no rosto de Regina, que lhe deu um beijo na testa. A morena se despediu, indo em direção ao seu carro para ir embora. Emma pediu um segundo a loirinha, dizendo para lhe esperar no carro que já ia em seguida, correndo até o carro da ex-esposa. Bateu no vidro do carro da morena, que revirou os olhos, mas abaixou o vidro.

— O que foi? – Regina ergueu a sobrancelha.

— Só queria dizer uma coisa. – Emma se debruçou na janela do carro, ficando com o rosto próximo ao da morena. – Foi incrivelmente sexy a sua entrada na sala da diretora, principalmente quando colocou aqueles dois imbecis em seus devidos lugares.

— Você é ridícula. – Regina sorriu. – Meu tom autoritário continua mexendo contigo, não é?

— Nunca deixou de mexer. – Emma sorriu de lado. – E não é apenas o tom autoritário que mexe comigo.

— Não começa, Emma Swan. – Regina sorriu sedutora. – Nem vem jogar esse charme barato para cima de mim, não senhorita.

— Meu charme não é barato, nem jogo para quem não merece. – Emma aproximou mais o seu rosto, ficando perigosamente perto demais da morena. – E não estou começando nada, apenas comentando algo. Foi muito excitante de assistir.

Regina prendeu a respiração, fazendo a loira sorrir sacana e depositar um beijo no canto de sua boca, se afastando devagar.

— Dirija com cuidado, Regina. – Emma tirou a cabeça de dentro do carro, sorrindo e acenando. – Até mais tarde.

A loira foi para o seu carro, com Regina acompanhando com os olhos pelo espelho retrovisor. A morena sorriu, negando com a cabeça, definitivamente ainda não estava livre da ex-esposa, só não sabia se isso era bom ou ruim.