One More Night

Complicações


Emma observava seu pai, ensinando Robin como organizar corretamente as mesas do restaurante, admirava o entusiasmo e paciência do pai e a atenção que a loirinha dedicava a tudo que ele dizia. Já haviam almoçado, e como tinha previsto, Robin estava mais relaxada e tranquila. A loira não tinha entrado em detalhes sobre o ocorrido na escola com seus pais, apenas que explicaria mais tarde e eles não insistiram em saber, focando no bem-estar da menina. Emma encarou a tela do seu celular, havia algumas chamadas perdidas da escola e uma mensagem da diretora. Decidiu continuar ignorando, estava furiosa da armação que haviam aprontado para sua sobrinha, lidaria com Eloise no dia seguinte. Sua preocupação era no que mais aquela família poderia tentar fazer para conseguirem o que desejam, não tinha dúvidas que eram capazes de qualquer coisa. Sorriu ao ver o olhar de orgulho do pai, Robin estava fazendo tudo conforme ele ensinava. Estava tão distraída com a cena, que nem viu quando sua mãe sentou ao seu lado.

— David ama essa menina como neta. – Mary Margareth sorriu. – Nós dois amamos, nem poderia ser diferente.

— Verdade. – Emma olhou para sua mãe e sorriu. – E ela ama vocês, o lugar preferido dela é aqui.

— Eu lembro o quanto fiquei preocupada quando Zelena foi embora. – Mary Margareth prosseguiu. – Teu casamento era tão recente, mal tinham terminado a faculdade e já estavam com uma responsabilidade tão grande. Tive receio que pudessem não dar conta, além de querer que aproveitassem a vida de recém-casadas com mais liberdade. Mas eu lembro da tua determinação, estava convicta que era o que queria fazer, queria criar Robin junto da Regina.

— Sim, foi assustador no início, apesar de sempre estarmos cuidando de Robin, nunca imaginamos que Zelena iria embora e deixaria ela conosco. – Emma sorriu. – Não tivemos dúvidas, sabíamos que daríamos um jeito de tudo dar certo. E fizemos dar, já amávamos aquela menininha incondicionalmente.

Ambas olharam em direção a Robin, perdidas em seus próprios pensamentos. O barulho do celular de Emma vibrando, chamou suas atenções. A loira bufou e ignorou a ligação que estava recebendo, fazendo sua mãe arquear a sobrancelha em questionamento.

— Vejo preocupação nos seus olhos. – Mary Margareth analisou a filha. – Imagino que tenha a ver com o motivo de estarem aqui no horário escolar. Está tudo bem com a Regina?

— A senhora me conhece bem demais. – Emma suspirou. – Sim, imaginou certo. E quanto a Regina...

— Não deve ter lidado bem ao acordar ao seu lado hoje de manhã. – Mary interrompeu a loira. – E nem tente mentir que não passou a noite com ela, você não voltou para casa ontem à noite, sei muito bem que ainda não consegue se relacionar com outras pessoas, minha filha.

— Não ter dormido em casa não significa que dormi com alguém. – Emma respondeu. – Muito menos significa que esse alguém é a Regina.

— Emma, Emma. –Mary negou com a cabeça. – Está tentando enganar a quem?

— Não quero enganar ninguém. – Emma revirou os olhos. – Só acho muita presunção sua, conectar minha noite com a da Regina. Estamos divorciadas, lembra?

— Oh, eu me lembro. – Mary ironizou. – Vocês lembram disso?

— E que papo é esse de eu não conseguir me relacionar com outras pessoas? – Emma se ofendeu, era a mais pura verdade, mas não gostava de ouvir e admitir isso. – Meu mundo não gira em torno da Regina.

— Querida, eu não disse que gira. – Mary sorriu. – Mas você não me engana, sei o que tem dentro do seu coração, sei a quem ele pertence. E sei também, que mesmo divorciadas, vocês duas acabam ficando juntas de vez em quando.

— Pertence a mim, oras. – Emma bufou contrariada, ignorando o comentário das recaídas que teve com a ex-esposa. – Regina não deu valor a ele, perdeu qualquer direito que poderia ter.

— Duvido que realmente acredite nisso.

— Não quero mais falar sobre esse assunto. – Emma se levantou. – Sei que torce para voltarmos, mas isso não vai acontecer, mãe.

— Emma. – Mary segurou a mão da loira, impedindo que se afastasse. – Olhe para mim.

— Mãe... – Emma muito contragosto, encara os olhos da mais velha, encontrando compreensão e bondade neles. – Eu realmente não quero mais conversar sobre isso.

— Minha querida, não tem nada de errado em ser fiel aos seus sentimentos. Muito pelo contrário, é a coisa mais sensata e honesta que se pode fazer. – Mary levantou, ainda segurando a mão da filha, lhe sorriu e com a mão livre acariciou o seu rosto. – Você e a Regina se perderam uma da outra, o que não significa que não possam encontrar o caminho de volta. Não se negue a oportunidades, não feche os olhos para a realidade, se permita a sentir e agir por esses sentimentos.

— É tudo muito complicado. – Emma mareja os olhos. – Eu não sei se podemos nos encontrar novamente, tanto foi quebrado entre nós, destruído e reduzido a pó. Magoamos uma a outra profundamente, são feridas que não cicatrizam.

— O amor sempre encontra uma maneira, um caminho. – Mary limpou uma lágrima que escorreu do olho da filha. – Mas ele não vem gratuito, precisa de esforço e dedicação. As duas tem muitas coisas para trabalharem, para batalharem, tudo vai depender das ações de vocês daqui para frente. Use o passado com sabedoria, mas não fique presa a ele, saiba olhar para ele e analisar o que foi bom e pode se repetir, e o que foi ruim e não deve ser repetido. Plante no presente o que deseja para o seu futuro.

Emma acena positivamente com a cabeça, dando um pequeno sorriso para sua mãe, que lhe puxa para um abraço caloroso. Um abraço que conforta e traz força para a loira, as palavras que ouviu estavam martelando em sua mente, trazendo consigo uma esperança renovada. Sabia que tinha muitas coisas a serem resolvidas entre ela e Regina, muitas conversas não tidas que tinham minado o relacionamento delas. Em algum momento, durante o casamento, tinham parado de se comunicarem honestamente. Foram empurrando os problemas para baixo do tapete, mascarando as dificuldades e deixando acumular tensões e mal-entendidos. Esse era o seu maior empecilho, conseguir se expressar corretamente, pois sempre que tentava, o orgulho acabava tomando conta da situação e o sarcasmo reinava. Regina conseguia trazer o que ela tinha de melhor e também o que tinha de pior, na mesma medida, sua ex-esposa sabia em quais pontos fracos tocar, o que sempre causava explosões entre as duas. Precisaria aprender a contornar essas adversidades.

O resto da tarde passou em um piscar de olhos, logo chegando o momento de Emma levar Robin para a casa de Regina. Era estranho pensar naquela casa como apenas da morena, afinal tinham escolhido juntas, planejado e decorado cada cômodo conforme seus gostos combinados. Era uma bela casa de dois andares na cor azul claro, com três quartos, banheiro e a suíte principal no andar de cima, na parte de baixo composta por sala de estar, escritório, sala de jantar, cozinha, banheiro, área de serviço e garagem. Tinha um lindo jardim, repleto de roseiras e uma macieira carregada de frutos, que era o xodó de Regina. Emma estacionou o carro na frente da casa, indecisa se deveria entrar junto de Robin ou não.

— Vamos, Tia Emma. – Robin chamou descendo do carro. – Tem a tua torta preferida, vem comer um pedaço. Eu mesma colhi as maças, está uma delícia.

— Melhor não, Lindinha. – Emma desceu do carro, colocando as mãos nos bolsos de trás das calças. – Já esta tarde, não quero incomodar, me leve um pedaço amanhã.

— Não vai ser incômodo algum. – Robin puxou Emma pelo braço. – Vem logo, deixa de desculpas, é apenas um pedaço de torta.

Totalmente sem jeito, Emma acompanhou Robin para dentro de casa. Logo que pisaram na sala de estar, viram Regina descendo as escadas. A morena vinha amarrando seu roupão, os cabelos molhados e com pantufas nos pés, ficando surpresa ao perceber a presença de Emma junto de sua sobrinha. A loira não costumava entrar quando ia deixar Robin em casa.

— Emma... – Regina não esperava encontrar tão cedo a ex-esposa novamente, parando no meio das escadas, seus sentimentos tinham estado em uma montanha russa nas últimas vinte e quatro horas, sendo a loira a principal razão disso.

— Ei, Regina. – Emma também não se sentia preparada para o turbilhão de emoções que surgiam na presença da morena, ficando sem graça ao estar ali. – Robin insistiu que eu comesse um pedaço de torta.

— Eu vou apenas deixar minha mochila no quarto e trocar de roupa, já te sirvo, Tia Emma. – Robin sorriu para a loira, subiu as escadas, deixando um beijo na face de Regina. – Oi, Tia Regina. Eu já volto, tudo bem?

— Claro, minha querida. – Regina retribuiu o beijo, sorrindo para a loirinha.

Ambas observaram Robin sumir no andar de cima, voltando seus olhares uma para outra. Ficaram um bom tempo se encarando, sem nada sendo dito, olhos cor de chocolate presos ao verde esmeralda. Sentiam que os olhares conversavam, buscando um entendimento tão desejado entre as duas. Emma abriu a boca para dizer algo, quando foram interrompidas por uma voz saindo do escritório.

— Regina, tomei a liberdade de abrir uma garrafa de vinho para nós. – Milah surgiu, segurando duas taças de vinho. – Oh, não estamos mais sozinhas.

Milah Cassidy, era uma mulher alta, cabelos castanhos escuros ondulados e longos, de olhos verdes e sotaque inglês. Era acionista na editora dos Mills, pertencente a uma família nobre e bilionária de Boston. Tinha uma amizade de anos com Regina, que tinha causado algumas crises de ciúmes em Emma. Desde o divórcio, estava mais próxima da morena, sempre oferecendo um ombro amigo e a apoiando quando necessário.

Emma olhou de Milah, notando as taças de vinho, para Regina, olhando de cima a baixo e percebendo que a ex-esposa havia acabado de sair do banho, fechando a cara imediatamente. A loira fixou seu olhar endurecido nos olhos da morena, travando seu maxilar e falando em um tom perigoso.

— O que está acontecendo aqui? – O ciúme já estava correndo desenfreado nas veias de Emma, com mil cenários hipotéticos se formando em sua mente.

— Creio que não seja mais da sua conta. – Milah respondeu calmamente.

— Eu não falei contigo. – Emma esbravejou, ainda olhando fixo para Regina. – Então, Regina?

— Emma! – Regina estava em choque com a reação da loira, ficando por alguns segundos sem reação

— Bom, eu estou aqui, então tua pergunta me abrange. – Milah falou sem se abalar. – E repito que não é algo que te diz respeito.

— Claro que me diz respeito, vim deixar Robin em casa, não quero ela presenciando nada impróprio. – Emma respirou fundo. – Regina, você sabia que a Robin estava para chegar, eu não estava ciente que estava trazendo os teus casinhos para casa.

— E quem te disse que eu sou apenas um casinho? – Milah provocou com um sorriso no rosto.

— Cala a tua boca, não me dirija a palavra. – Emma desta vez olhou para Milah. – Eu não te perguntei nada, se limite a ficar de bico fechado.

Milah ergueu as mãos em sinal de rendição, deixou as taças de vinho em cima da mesinha de centro e pegou sua bolsa de cima do sofá.

— Regina, meu bem. Eu vou indo, mais tarde eu te ligo. – Milah acenou para a morena. – Desculpe qualquer coisa.

— Não há nada o que desculpar. – Regina respondeu, descendo as escadas, abrindo a porta da frente para a amiga passar. – Eu que peço desculpas pelo inconveniente. Nos falamos mais tarde sim.

Regina fechou a porta, se aproximou de Emma e negou com a cabeça.

— Que cena ridícula foi essa?

— Eu que te pergunto. – Emma bufou. – Perdeu o juízo?

— Quem perdeu o juízo aqui foi você. – Regina apontou para a loira. – Aquilo é forma de tratar uma convidada na minha casa?

— Aquela vagabunda oferecida? – Emma se indignou mais ainda. – Me poupe, Regina.

— Não chame ela assim. – Regina estava perdendo a paciência. - Ela é minha amiga, você está cansada de saber disso.

— Você acabou de sair do banho, com ela aqui embaixo, que intimidade é essa? – Emma já estava vermelha de raiva.

— Eu não te devo satisfações da minha vida. – Regina foi enfática. – Muito menos o que eu faço ou deixo de fazer, quem eu recebo ou não recebo na minha casa, nada disso te interessa.

— É a casa da nossa menina também. – Emma retrucou. – Enquanto ela viver embaixo deste teto, me interessa sim.

— Quero que vá embora, agora mesmo. – Regina apontou para a porta. – Nunca mais entre aqui e faça o que fez hoje. Milah estava aqui porque eu queria. E você estragou a minha noite. Vá embora, Emma.

— Está me mandando embora por causa daquela piranha? - Emma negou com a cabeça.

— Estou te mandando embora porque você passou dos limites. – Regina respirou fundo. – É a terceira discussão que temos hoje, estou exausta. Chega, Emma.

— A Robin...

— Eu explico que você teve que ir. – Regina apontou para a porta novamente. – Vai logo.

Emma lançou um olhar magoado para a morena, indo embora sem olhar para trás. Regina suspirou, trancou a porta e sentou no sofá da sala, pegando uma taça de vinho para tomar. Estava mais do que exausta, sentia que podia ter um colapso a qualquer momento. Problemas de todos os lados, era a família do pai de Robin, a editora, a falta de notícias de Zelena e o furacão Emma em sua vida. Após a reunião que teve de tarde, Milah havia lhe convidado para sair e espairecer um pouco. Como não estava com ânimo para isso, tinha proposto de irem para sua casa e beberem por ali, enquanto colocavam os assuntos em dia. Tinha apenas ido tomar um banho antes disso, mas quando ouviu o barulho anunciando a chegada de Robin, desceu para receber a sobrinha, com a intenção de se vestir após isso. Porém a chegada de Emma virou tudo de ponta a cabeça, terminando de forma desastrosa.

— Cadê a Tia Emma? – Robin desceu e olhou em volta.

— Ela teve que ir embora, pediu que você a desculpasse, mas que te compensa outra hora. – Regina sorriu para a sobrinha. – Vem, senta aqui. Sei que temos que conversar, mas agora só quero ficar agarradinha em você.

Robin sorriu e sentou ao lado da tia, que abriu os braços para lhe acolher, se aconchegando nela. Regina fazia carinho nos cabelos da loirinha, sentindo uma paz enorme, deixando os problemas para outra hora. Essa menina era a razão de tudo valer a pena.