One More Night

Familiaridade


Regina engoliu em seco, ao sentir os braços de Emma lhe rodeando a cintura, seu corpo rapidamente reagindo ao contato, sem pensar muito, abraçou a loira pelo pescoço e olhou no fundo de seus olhos.

— Convencida demais você. – Sussurrou, umedecendo os lábios com a língua. – Faz diferença eu negar ou não? Parece convicta de tal coisa.

— Seria bom ouvir de sua própria boca. – Emma roçou seu nariz no da morena. – Apesar de não estar negando.

— Estou nos seus braços, quer resposta melhor? – Regina ronronou nos lábios rosados da loira, provocando e mordendo seu próprio lábio inferior. – Tudo lhe diz, não é mesmo?

— É difícil dar o braço a torcer, Regina? – Emma sorriu, o olhar intercalando entre os olhos castanhos e a boca carnuda da ex-esposa.

— Eu já dei, Emma. – Regina sorriu. – Ainda não percebeu, loira?

— Está me chamando de loira burra? – Emma franziu a testa.

— Lerda, Emma, lerda. – Regina negou com a cabeça sorrindo. – Nem continue questionando. – A morena aproximou a boca do ouvido de Emma, sussurrando. – Sinta as respostas para as tuas dúvidas.

Regina mordeu o lóbulo da orelha da loira, arrastando beijos pelo pescoço dela, que tombou a cabeça para o lado, dando total acesso para os carinhos recebidos. Depois de dedicar um bom tempo ao pescoço alvo, a morena subiu beijos pelo maxilar de Emma, segurou seu rosto com as duas mãos e lhe tomou a boca em um beijo sedento.

— Se ainda precisa de confirmação verbal. – Regina apoiou sua testa na da loira, de olhos fechados. – Eu não nego, Emma. Pelo menos não hoje.

— O que isso significa? – Emma acariciou o rosto da morena.

— Ainda não tenho resposta para essa questão. – Regina abriu os olhos e sorriu fraco. – Mas vou me empenhar para descobrir, isso eu te digo.

— Também tenho empenhos para realizar. – Emma deu um selinho nos lábios carnudos.

Regina sorriu e concordou com a cabeça. Emma se afastou devagar, soltando lentamente suas mãos da cintura da morena, sorriu bobamente e fez sinal que ia pegar a bicicleta. O caminho até a casa de Regina foi feito em passos lentos, não apenas pelos machucados da morena, mas principalmente por não estarem com pressa para se despedirem, estavam apreciando a companhia uma da outra. Chegando em frente da casa, ambas olharam para a construção por um tempo, antes de voltarem o olhar uma para a outra, sorriram sem graça, sem saberem direito como proceder no momento. Emma coçou a nuca e resolveu quebrar o gelo.

— Prontinho, entregue sã e salva em casa. Posso deixar a bicicleta na garagem?

— Sim, claro, por favor. – A morena pegou de dentro do bolso da bermuda as chaves, apertando o controle da garagem para abri-la. – Obrigada, Emma.

Emma foi até a garagem, deixando a bicicleta encostada na parede e voltou para perto de Regina, que estava em frente a varanda da casa. Antes que pudessem falar qualquer coisa, a porta da frente se abriu, Robin sorriu para as duas e falou em falso tom de repreensão.

— Isso são horas de chegar, Dona Regina? – A loirinha repetiu o que já ouviu da tia diversas vezes, segurando-se para não rir. – Tem celular para enfeite? Aonde já se viu não responder as mensagens e ligações? Não sabe que isso provoca preocupações?

Emma caiu na risada, enquanto Regina de boca aberta olhava para a sobrinha, não acreditando no que ouvia.

— Robin, me desculpe, eu não pretendia demorar, por isso deixei o celular em casa. – Regina respondeu, o sentimento de culpa não deixando perceber que a sobrinha estava brincando com ela. – Mas você tem razão, foi irresponsável da minha parte...

— Regina, ela está zoando contigo. – Emma ainda ria. – Olha para a cara dela, se segurando para não rir também.

Regina olhou de Emma para Robin e negou com a cabeça, percebendo que era apenas uma brincadeira. A loirinha riu e foi até as tias, deu um beijo no rosto de Emma e depois no de Regina.

— Ah, Tia Regina, não podia perder a oportunidade de poder dizer isso. – Robin sorriu. – Realmente fiquei preocupada, você não é de sair sem o celular. Mas quando a Tia Emma me respondeu, eu fiquei tranquila.

— Eu estava andando de bicicleta e acabei caindo, tive sorte de Emma me encontrar por acaso. – Regina explicou, enquanto fazia carinho nos cabelos da sobrinha. – Mas não te preocupa, não foi nada grave, só uns esfolados.

— Caiu? – Robin ficou surpresa. – Deixa eu ver esses machucados.

Regina mostrou o cotovelo e joelho ralados para Robin, que olhava atentamente.

— Só tem que passar um antisséptico. – Emma avisou. – Não deixa tua Tia esquecer, tá Lindinha?

— Pode deixar. – Robin concordou. – Mas entra conosco, Tia Emma? Eu preparei uns sanduíches para nós, pensei que podiam estar com fome.

Emma olhou para Regina, indecisa se devia aceitar ou não. Apesar dos últimos acontecimentos entre as duas, não sabia bem como seguiriam a partir de agora. A morena sorriu e reforçou o convite.

— Vamos, Emma? Acredito que assim como eu, você deve estar faminta. – Regina olhou para Robin. – Meu amor, você acertou, foi muito atencioso da sua parte fazer isso.

— Sanduíches caem muito bem para a fome de agora, contem comigo para acabar com eles. – Emma sorriu e passou o braço pelo ombro de Robin, lhe abraçando de lado, caminhando para dentro assim. – Quero só ver teus dotes culinários, hein.

Robin sorriu radiante, feliz que compartilharia uma refeição com as duas tias juntas novamente, sentia muito falta de momentos como esse. Regina olhou as duas entrando na sua frente, sentindo uma nostalgia boa, seguiu as duas para dentro de casa.

— Antes de mais nada, Robin me traz um antisséptico, pois conhecendo tua Tia, sei que é mais seguro passar agora mesmo, antes que ela deixe cair no esquecimento. – Emma disse, no meio da sala de estar, soltando a sobrinha e fazendo sinal para Regina sentar no sofá. – Senta aí, que eu mesma vou cuidar desses ferimentos.

- Eu não costumo deixar as coisas cair no esquecimento, Emma. – Regina revirou os olhos, mas estava gostando dos cuidados que a loira demonstrava consigo. – E nem sou uma das tuas alunas, que precisa arrastar para a enfermaria.

— Quando se trata de cuidados com você mesma, sabe que tenho razão, sempre acaba deixando para depois. – Emma sorriu serena. – Senta logo e me deixe cuidar disso.

Regina revirou os olhos novamente, mas sentou no sofá indicado. Robin trouxe o antisséptico e avisou que ia terminar de ajeitar a mesa para comerem. Emma pegou o spray e se ajoelhou na frente do sofá, para borrifar primeiro no joelho da ex-esposa, em seguida sentou ao lado de Regina e fez o mesmo em seu cotovelo. Emma se certificou que estava tudo bem aplicado, esticou o pescoço até sua boca estar próxima do ouvido da morena, sussurrando pausadamente.

— Estou muito ciente que não é uma de minhas alunas. – Emma mordiscou a orelha de Regina. – Pois se fosse, eu não estaria fazendo isso.

Emma deu um beijo demorado no pescoço da morena, que suspirou fortemente. Estava prestes a virar o rosto de Regina para o seu e lhe tomar a boca em um beijo, mas a voz da sobrinha chamando para comerem lhe deteve.

— Salva pelo gongo. – Emma se afastou e levantou, esticando a mão para ajudar a morena levantar.

— Quem disse que eu queria ser salva? – Regina disse ao aceitar a mão da loira, levantando e seguindo para a sala de jantar.

O jantar transcorreu de forma leve e descontraída, com muitas risadas e sorrisos fáceis nos rostos de todas as três. Os sanduíches foram elogiados por ambas as tias, que sentiam orgulho do talento da loirinha para culinária, feito que atribuíam a influência do pai de Emma. Relembraram histórias e momentos engraçados vividos entre elas, tornando a refeição mais agradável ainda. As horas passaram, quando perceberam já era quase meia noite, o que fez Regina mandar Robin dormir, que sob protestos, se despediu das tias, dizendo o quanto tinha adorado tudo. Emma insistiu em lavar a louça, mesmo a morena dizendo que não era necessário. A cozinha era ampla e bem decorada, com armários aéreos em cima da bancada da pia, que tinha fogão e lava louças embutidos. Na parede ao lado, tinha uma geladeira de porta dupla, um freezer e uma bancada com micro-ondas e máquina de café expresso. E uma ilha ao centro, com duas cadeiras de cada lado, tudo nas cores preto e branco.

— Engraçado te ver fazendo isso. – Regina se apoia na ilha, observando a loira tirando os pratos da lava louças e secando. – Era uma briga para te convencer a me ajudar na cozinha.

— Temos que evoluir um dia, certo? – Emma deu de ombros. – O nosso divórcio me fez perceber várias coisas que precisava mudar, minha preguiça é uma delas. Sempre fui muito acomodada, e isso acaba atrapalhando tudo.

— Não posso dizer que não te avisei sobre isso. – Regina fica pensativa. – Mas fico contente que tenha percebido essas coisas, mudanças só ocorrem quando vem de dentro da gente, por mais que ouçamos conselhos, é internamente que conseguimos resolver o que precisamos.

— Verdade. – Emma concorda, terminando de secar a louça e guardando em seus respectivos lugares. – Bom, obrigada por ter me convidado, foi realmente ótimo.

— Não precisa agradecer. – Regina sorri sincera. – E foi muito bom mesmo.

— Vou indo então. – Emma caminha até ficar de frente para a morena. – Tente não esquecer de passar mais antisséptico amanhã.

— Pode deixar, Emma Swan. – Regina revira os olhos e sorri. – Posso não ter todas as tuas habilidades de primeiros socorros, mas consigo me virar muito bem.

— Se você diz. – Emma sorri amplamente.

— Eu digo. – Regina se desencosta da ilha e caminha em direção a sala de estar, com a loira logo atrás dela. – E mais uma vez, obrigada por ter me socorrido lá no parque.

— Fico feliz de ter ajudado. – Emma olha para o relógio de pulso. – Nossa, nem notei as horas passando.

Regina olha para o relógio na parede da sala, percebendo que passava da uma e meia da madrugada.

— Está muito tarde, Emma. – Regina olha para a loira. – E você está sem carro ainda, muito perigoso de voltar para casa assim.

— Eu chamo um über.

— Ou pode ficar no quarto de hóspedes. – Regina rapidamente ofereceu. – Não dá para confiar totalmente nesses motoristas, ainda mais uma mulher sozinha a essa hora.

— Não quero incomodar, Regina. – Emma não sabia se aceitava ou não, sendo pega totalmente de surpresa pelo convite.

— É o mínimo que eu posso fazer, depois do que fez por mim. – Regina respirou fundo. – Não vou ficar sossegada se deixar você ir assim, principalmente quando pode perfeitamente passar a noite aqui.

— Eu não sei. – Emma suspirou. – Não vai ser muito estranho?

— Apenas se você deixar ser. Realmente acho o melhor a se fazer, Emma.

— Eu nunca dormi no quarto de hóspedes. – Emma divagou e nem percebeu que falou em voz alta.

— Quer um convite para dormir no meu quarto? – Regina riu.

— Não. – Emma rapidamente respondeu. – Quer dizer, não que eu não gostaria, mas...

— Calma, Emma, respira. – Regina estava se divertindo com o embaraço da ex-esposa. – Eu entendi o que quis dizer, não se preocupa.

— Eu só...

— Ficou nervosa com o convite. – Regina analisou. – Olha, pense nisso como algo simples. Está tarde e tem um quarto logo ali em cima, disponível para você, onde passará a noite segura.

— Colocando desta forma. – Emma deu um sorriso sem jeito. – Talvez você tenha razão.

— Eu normalmente tenho, não se acostumou ainda? – Regina provocou. – Vou pegar um pijama para você, a roupa de cama está limpa lá naquele quarto, sinta-se à vontade.

— Ainda não disse que aceitei. – Emma ergueu a sobrancelha.

— Eu sei que já aceitou. – Regina deu de ombros. – Parece que as vezes, você esquece que te conheço muito bem.

— Como poderia esquecer tal coisa?

Regina sorri e revira os olhos, subindo as escadas para ir até seu próprio quarto, quando percebe que a loira continua parada no mesmo lugar.

— Você não vem? – A morena vira e olha para baixo. – Ou precisa que eu te mostre aonde fica?

— Muito engraçado. – Emma revira os olhos. – Eu já vou.

Regina concorda com a cabeça e vai para o andar de cima. Enquanto Emma caminha até a ponta das escadas, colocando a mão no corrimão e hesitando subir. Um turbilhão de pensamentos atinge a loira em cheio, que não sabe como se portar naquela situação atípica. Todos beijos e carinhos trocados com Regina borbulhando dentro de si, querendo mais, mas sem saber como agir e o que pensar. A morena estava se mostrando diferente desta vez, não estava lhe atacando e nem a expulsando de perto dela, pelo contrário, tinha insistido para ela passar a noite ali. Fato que a deixava em pânico, dormir no quarto de hóspedes de sua antiga casa era desconcertante. Quarto esse, que ela mesmo tinha pintado e organizado, quando compraram a casa. Respirou fundo e decidiu dar um passo de cada vez, torcendo para não se afobar e atropelar as coisas. Queria progredir na relação com a ex-esposa, queria que pudessem acertar seus problemas e minimizar seus conflitos. E para isso acontecer, sabia que precisava controlar seu temperamento explosivo e impulsivo. Com tudo isso em mente, subiu as escadas se dirigindo para o quarto de hóspedes, que ficava no começo do corredor, anterior ao quarto de Robin e ao quarto principal.

Ao mesmo tempo que, Regina procurava em seu closet algo confortável para a loira vestir, pois sabia que ela não gostava de camisolas, preferindo pijamas de algodão. Remexendo no fundo de uma prateleira, encontrou um velho moletom da faculdade de Emma, que tinha sido esquecido por ali. Sorriu, lembrando o quanto a ex-esposa tinha usado aquela peça de roupa ao longo dos anos, recusando a se desfazer dela, pois tinha um apego afetivo enorme. Lembrou também, que logo após o divórcio tinha encontrado o moletom e planejado devolver, porém num momento de carência e saudade, pegou a peça e inalou o cheiro da loira, terminando por dormir com ele, pois tinha encontrado um certo conforto, em ter algo tão importante para Emma junto a si naquele momento. Ficou pensando no que a loira pensaria ao rever o moletom, poderia adivinhar que tal peça tinha lhe servido de consolo? Além dele, pegou uma calça de tecido leve e uma camiseta branca, saindo do seu quarto e seguindo para o de hóspedes. A porta estava aberta, encontrou Emma olhando para fora pela janela.

— Emma? – A morena chamou, entrando no quarto. – Está tudo bem?

— Ah, oi. – Emma se virou, meio aérea. – Sim, claro. Só me perdi em algumas lembranças.

— Posso saber quais? – Regina se aproximou e estendeu as roupas em direção a loira. – Te trouxe essas, espero que goste.

— Boas lembranças, da nossa mudança para cá. – Emma sorriu, pegando as roupas, ao reconhecer o moletom, olhou para a morena. – Você realmente o guardou.

— Como assim? – Regina não compreendeu, franzindo a testa.

— Deixei para você. – Emma mordeu o lábio inferior, nervosa por estar prestes a revelar um segredo que havia guardado. – Não esqueci ele por acaso. Quando vim buscar as minhas coisas, foi uma época que você não podia nem me ver, mas eu sabia que assim como eu, você estava sofrendo muito com a nossa separação. Por isso deixei esse moletom, querendo deixar uma parte de mim contigo, pois sabe o quanto eu era apegada a ele. Pensei em três hipóteses para quando você o encontrasse. A primeira que mandaria de volta para mim, a segunda que jogaria fora, e a que eu torcia para ser, que guardaria para lembrar de mim. Sempre me perguntei qual tinha acontecido, agora vejo que meu desejo se realizou.

Regina olhava perplexa para a loira, um sorriso de admiração e encantamento se abrindo em seus lábios. Mal podia acreditar, que mesmo magoada e sofrendo, Emma tinha se preocupado em lhe deixar algo para lhe fazer se sentir melhor. E isso agitava todos os seus sentimentos.

— Você fez isso por mim. – Regina se aproximou mais, tocando o rosto da loira carinhosamente. – Saiba que guardei sim, mesmo pensando em devolver, ele me trouxe conforto quando precisei, por isso o mantive.

Emma sorriu, sentindo realização, que seu ato tinha surgido o efeito desejado. Sentia a mão de Regina lhe fazer um carinho gostoso, olhando profundamente nos olhos cor de chocolate a sua frente, que lhe encaravam com tanto afeto que sentia que podia se desmanchar.

— Oh, Emma...

Regina suspirou e fechou a distância que restava entre elas, colocando seus braços em volta do pescoço da loira, lhe puxando mais de encontro ao seu corpo e lhe beijando apaixonadamente, sendo correspondida na mesma intensidade.

— Estou perdendo o juízo. – Regina sussurrou e tornou a beijar.