Malévola estava apreciando sua nova forma corporal. Havia ficado mais de trinta anos sob a forma de monstros e feras horrendas, graças à maldição que a Rainha Má, Regina, havia lançado nela.

Graças à Cruela, Malévola agora estava livre.

Lógico que a Senhora de Vil tivera algumas ajudinhas da própria Malévola. A bruxa ainda lembrava-se de quando Cruela apareceu para ela enquanto ela dormia, ainda como monstro. Suplicando-lhe ajuda, sussurrando para ela um plano magnífico e totalmente… Maléfico.

Malévola providenciou, ainda como monstro, um pouco de magia para Cruela. Magia com qual a mesma matou, destruiu e massacrou vários lugares apenas para quê o ritual da Lua de Sangue pudesse ser concretizado.

—Qual será nosso próximo passo? - Perguntou Cruela. A mulher parecia tentar conter sua loucura e sua alegria, como se temesse assustar Malévola. A Fada Negra sorriu. Nada a assustava.

—Bem, me diga onde estamos primeiro.

—Storybrooke. A Rainha conseguiu lançar a maldição. Várias coisas aconteceram desde então, mas vou resumir para você… Atualmente, a Bruxa Má do Oeste está ameaçando todos na cidade. Ninguém sabe exatamente os objetivos dela, mas acho que é algo relacionado a Regina… Creio que as duas sejam meia-irmãs ou algo do tipo…

—Perfeito. - Sussurrou Malévola. Cruela conseguia enxergar algo negro pulsando dentro daquele coração. Algo cruel, algo bestial, algo insano e destruidor. Cruela sempre fora orgulhosa, o tipo de pessoa que não conseguia admitir admiração por outra, mas Malévola a fez repensar isso.

Pois se Cruela fosse idolatrar alguém, esse alguém com certeza seria Malévola.

—Vamos fazer uma visitinha para a Bruxa Má do Oeste… - Disse Malévola, sorrindo.

***

—Prefeita Mills!!! Prefeita Mills!!! Prefeita Mills!!! - Alguém socava com força a porta da casa de Regina. Ela a abriu, olhando quem batia nela.

Era uma garota do tamanho de Henry, visivelmente na adolescência. Regina não a classificaria como uma criança. Havia algo no seu olhar e no seu corpo que indicava que ela estava se transfigurando de menina para mulher.

Aquela garota era familiar à Regina.

—Prefeita… Lembra-se de mim? - Perguntou ela. Regina abriu a boca, tentando-se lembrar. Seria ela a filha de algum camponês que havia maltratado?

De repente ela relembrou. Maria, irmã de João e filha de Michael, era quem estava na sua porta.

—Eu gostaria de lhe contar algo…

***

Zelena estava cansada depois daquele dia. Rumplestilskin havia lhe dado um fora. Isso era fato, e um fato bem doloroso.

As lágrimas em seu rosto já haviam secado, e sua cabeça doía. A Bruxa Má do Oeste, Zelena, filha de Cora e irmã da Rainha Má, Regina, estava sofrendo por amor. Isso também era um fato.

Mais ainda, ela estava sofrendo de amor pelo Senhor das Trevas, Rumplestilskin.

—Sabe, querida… Eu posso acabar com sua dor. Posso acabar com todo o seu desespero. - Disse uma voz. Zelena olhou para trás, e viu uma mulher estranha. Ela tinha os cabelos loiros e embaraçados, e tinha algo parecido com chifres saindo de sua cabeça.

—Você é…?

—Malévola. Meu nome é Malévola, mas você já pode ter ouvido alguém falar de mim sobre o nome Fada Negra. Ambos são reais, e eu deixo você escolher como quer me chamar.

Zelena arqueou as sobrancelhas. Estava sozinha no quarto, e tinha certeza de ter poder suficiente para derrotar aquela mulher, mas… Algo frio e assustador começou a descer pela garganta da Bruxa Má. Algo que ela havia sentido poucas vezes na vida. Medo.

—O quê você quer? - Perguntou Zelena. Malévola deu de ombros.

—Sua ajuda. Quero Rumplestilskin emprestado, quero que você desista de abrir um portal no tempo. Preciso que você faça essas coisas.

—Sério? - Perguntou Zelena.

Malévola sorriu.

—Mas é claro. De bruxa para bruxa… Preciso de sua ajuda!

—É realmente uma pena que você queira tudo isso. Pois vai ficar querendo. - Disse Zelena, sorrindo. Malévola retribuiu o sorriso.

—Eu não quero lutar contra você, Zelena. Mas, se eu for forçada a isso… - Malévola fez surgir do ar várias espadas, que voaram para a direção de Zelena.

A Bruxa Má do Oeste fez um gesto com a mão esquerda, planejando fazer com que todas as espadas que voavam em sua direção caíssem. Mas nenhuma delas caiu.

A magia de Malévola era forte demais. Mais forte que a de Zelena.

Quando as espadas estavam apenas a alguns centímetros do rosto de Zelena, a bruxa se transfigurou em ar e saiu do lugar onde estava, indo parar atrás de Malévola.

—Ótimo truque, Bruxa… Mas eu ainda sou a melhor. - Sussurrou a voz de Malévola. Com um gesto, o corpo de Zelena foi jogado para longe.

Zelena estendeu a mãe para pegar a adaga que estava presa em sua perna, mas Malévola foi mais rápida, fazendo a adaga voar de suas mãos para as dela.

—Não, não, queridinha… Esse é um Confronto entre Bruxas, um Duelo de Magia… Homens como Rumplestilskin não são permitidos nessa luta. - Disse Malévola, sorrindo.

Zelena sentiu uma pressão em sua garganta, com se alguém estivesse apertando-a. Ela começou a se desesperar. Magia negra não podia funcionar contra ela, muito menos poderia derrotá-la. A menos que…

Quando Zelena olhou para seu pescoço, viu que a Pedra Verde que mantinha todo o seu poder funcionando não estava mais lá. A Bruxa olhou para a frente, e viu Malévola segurando o colar e exibindo um sorriso extremamente maldoso.

—Eu te avisei que eu sou a melhor. - Malévola fez mais um gesto com as mãos, e Zelena sentiu a pressão na garganta aumentar. Não podia mais lutar contra aquela bruxa, seu poder era infinitamente inferior.

O pescoço de Zelena quebrou com um ruído alto, e seu corpo caiu no chão com um baque. Malévola sorriu ao ver o cadáver da Bruxa Má do Oeste. Uma mulher outrora tão fria, tão confiante de seu sucesso…

—Eu acho que você não é tão poderosa quanto pensa, Zelena… - Disse Malévola, sussurrando para o cadáver frio e cinzento que estava na chão.

A Fada Negra estava extremamente satisfeita consigo. Malévola olhou para a adaga e sorriu.

—Eu invoco você, Senhor das Trevas… - Disse Malévola.

Logo Storybrooke seria completamente dela.

***

[FLASHBACK - HÁ DOIS ANOS ATRÁS]

Tremaine vinha levando uma vida realmente pacífica desde que a maldição havia sido lançada. Tecnicamente, depois que Cinderella havia ganhado o coração do Príncipe Thomas e Anastasia havia fugido de casa, Tremaine não vinha levando uma vida muito boa.

Era bem monótona, se formos observar bem. Nos vinte e oito anos que se passaram da maldição, Tremaine havia trabalhado com uma mulher um pouco vagabunda. Não era doméstica, não tinha emprego, não tinha nada. Sua filha Drizella era quem a alimentava e fazia tudo para ela, emboras não recebesse um elogio sequer da mãe.

Tremaine sentia que estava começando a envelhecer, e costumava olhar com inveja a vida de Ashley, sua vizinha. Ela não sabia bem o porquê, apenas sabia que toda vez que via a garota na rua sentia uma pontada de inveja atravessar seu peito.

Porém, assim que a maldição foi quebrada, Tremaine começou a ter alguns sonhos estranhos. Ela sonhava com poços escuros e frios, com céus nublados, com neve caindo e congelando pessoas, com a desgraça e a destruição daqueles que odiava...

Após o surgimento daqueles sonhos sinistros, Tremaine começou a sonhar com cenários de destruição, com despojos de guerra e com cadáveres de boca escancarada e expressões de dor. E sempre havia uma voz, que lhe dizia algumas palavras estranhas, lhe incitando a fazer coisas ruins.

Então os sonhos não apareciam apenas quando Tremaine ia dormir. Eles começaram a virar pequenos flashes, pequenas cenas que passavam pelos olhos dela quando ela estava almoçando, quando ela estava lendo, quando ela estava fazendo qualquer coisa.

Os flashes modificaram toda a estrutura de Tremaine. Por anos, ela havia simplesmente esquecido seu ódio fatal por Ashley. Mas a voz trazia aquele ódio à tona, mostrava a Tremaine que não valia a pena ser boa ou tentar se controlar. Não valia a pena ficar sentada no sofá, olhando a vida passar e Ashley sempre se sobressair e ser feliz.

Todo o ódio, toda a raiva e todo o desejo por vingança que Tremaine havia sentido alguma vez na vida voltaram e encharcaram o coração de Tremaine como gasolina. As palavras sussurradas pela voz que atormentava seus sonhos foi o fogo necessário para que o combustível queimasse e ardesse.

Dia após dia, o fogo queimava mais rápido e o ódio por Ashley voltava. Logo, Tremaine não apenas odiava e desejava todo o mal para a garota, mas também para toda Storybrooke.

Em um dia, Tremaine acordou cega pela raiva. A voz lhe instruiu que fosse até o fosse onde Malévola estava aprisionada sob a forma de um monstro, pois lá haveria uma poção que possibilitaria a saída de Tremaine para fora de Storybrooke sem perder a memória.

A voz instruiu também que Tremaine pegasse um avião para Londres, e procurasse por uma mulher conhecida por todos como Glenn, mas que gostava de ser chamada por um apelido em especial… Cruela de Vil.

Tremaine fez como a voz mandou. Achou a poção, saiu de Storybrooke, foi para Londres, encontrou Cruela, para enfim se unir a ela. E depois voltou, apenas para ser levada de volta à Floresta Encantada pelo feitiço de Regina.

Lá, Tremaine rastreou Ashley assim que pôde. Quando encontrou-a, ela simplesmente machucou Thomas e aprisionou Ashley com a Maldição Paralisante, transformando a garota em uma estátua. Tremaine apiedou-se do bebê, decidindo levar ele consigo. Criar ele. Até mesmo, quem sabe, tratar ele como um filho.

O ódio em seu peito começou a diminuir. Sua vida começou a se transformar em algo melhor, e logo o desejo de vingança não fazia mais sentido. Machucar Thomas e aprisionar Cinderella não fazia mais sentido.

Uma nova maldição foi lançada, e Tremaine mais uma vez se viu em Storybrooke.

Não demorou muito para o fogo que queimava em seu peito clamando por vingança ressurgir. Tremaine não sabia o porquê, mas algo tinha acontecido enquanto estava na Floresta Encantada. Seu coração tornou-se mais leve, e ela sentia-se livre. Mas ao voltar para Storybrooke, mais uma vez Tremaine viu a si mesma sendo consumida pela vingança.

Queria destruir Ashley, queria destruir tudo.

Não importava a quem destruisse, Tremaine queria apenas destruir.

[PRESENTE]

Quando Anastasia surgiu no chão, no meio do círculo de velas, Tremaine sentiu o peso que estava instalado no seu coração diminuir.

—Anastasia, minha querida… - Sussurrou os lábios de Tremaine. Ela nunca havia sentido-se tão contente em toda a sua vida. O momento em que Anastasia e Will Scarlet haviam fugido para o País das Maravilhas tinha partido completamente o coração daquela mulher, e ao ver sua filha ali, na sua frente, uma lágrima escorreu por seu rosto.

—Mãe? - Perguntou Anastasia, incrédula. Seus cabelos loiros estavam bagunçados e sua expressão era de alguém assustado.

—Sim, querida. Sou eu. Eu estou aqui. - Sussurrou Tremaine, sorrindo.

Tremaine tinha feito coisas ruins para estar ali. Tinha matado, tinha destruído, e ultimamente, tinha auxiliado Malévola na sua “ressurreição”. Algumas vezes ela havia agido por puro impulso; outras, por simplesmente estar cega de ódio.

Mas, no momento que viu Anastasia correr para os seus braços e abraçá-la, Tremaine esqueceu-se das coisas ruins.

Tremaine nunca esteve tão feliz em toda a sua vida.