Episódio 1: Gamelot

Capítulo 1: Cristal

"Ei, Cristal!"

A menina abriu os olhos azuis e gemeu. Ela já sabia o que era. Ali era sempre 'Cristal faz isso' e 'Cristal faz aquilo', ela simplesmente odiava muito aquele lugar.

Mas era o único lugar que ela tinha desde que ela tinha dez anos e antes ela passara sua vida em um orfanato...

Ela só não sabia por que sua vida era assim. Onde estavam seus pais? Será que a tinham abandonado? Estavam mortos?

Bem... Voltando a sua vida ali, tinha começado com pequenos trabalhos de casa, mas conforme ela fora crescendo, ela começou a receber ainda mais trabalho, em casa e agora no café. No momento ela era garçonete. E pagamento? Esquece. Seu pagamento era comida, um lugar pra ficar e às vezes umas moedinhas, que ela guardava para ir ao Arcade.

Ela prendeu seu cabelo loiro em um rabo de cavalo e olhou para sua imagem no espelho. Ela poderia dizer que ela era uma menina bonita de 18 anos, alta, de corpo bem feito, um olhar feroz, mas um sorriso doce, nos raros momentos que ela tinha um motivo para sorrir. Algumas pessoas já haviam dito que ela parecia uma pantera selvagem. Mas ela não tinha uma coisa que uma pantera devia ter, liberdade.

"Cris!" Ela ouviu Bob, seu irmão mais velho, chamar de novo e deixou o quarto.

"Tudo bem, tudo bem, eu tô aqui, o que foi?" Ela perguntou.

"Meu pai disse para você tirar o dia de folga. Sharon vai cuidar de seu trabalho hoje."

Cristal ficou boquiaberta. Um dia de folga!? Um dia inteiro de folga?! Ela nunca tivera um dia inteiro de folga antes! O que tinha acontecido?

"O que é isso agora Bob? Eu fiz algo errado? Aconteceu alguma coisa?"

Bob deu de ombros.

"É tudo o que sei. Melhor você ir antes que ele mude de ideia. Ele pediu para te dar esse dinheiro também, disse que sabe onde você vai e que deve ser suficiente pra você ficar fora do caminho o dia todo."

Cristal pegou o dinheiro e, sem dizer uma palavra, sem pelo menos perguntar porque a queriam fora do caminho, saiu correndo.

"Último jogo, todo mundo!" Chamou Mr. Blake, o dono do Arcade Sunshine, o Arcade local, o lugar preferido de Cristal. Ela vinha ali toda vez que tinha uma chance.

Ela não sabia de onde essa paixão por os jogos viera, mas era a única coisa que ela realmente amava.

Então ela notou um garoto não muito distante de onde ela estava jogando, ele parecia olhar diretamente para ela. Até aí tudo bem, Cristal estava acostumada com pessoas olhando pra ela, mas não com a curiosidade que ela via nos olhos daquele menino.

Com sua atenção voltada para o garoto, ela rapidamente perdeu o jogo e saiu, rapidamente percebendo que o menino a seguiu.

Ela caminhou por um tempo, mas como percebeu que o menino continuou a segui-la, ela correu por algumas ruas aleatórias por cerca de dez minutos. Ela finalmente parou, mas o menino ainda estava lá.

"Você está correndo de mim?" O garoto perguntou, soando tão doce quanto parecia.

"Eu não estou acostumada a crianças me seguindo." Cristal respondeu um pouco rude, mas era verdade.

"Desculpe. Meu nome é Truffelio Marshmint. E, obviamente, eu sei o seu nome."

Ele tinha cabelos verde-hortelã e olhos cor de chocolate. Estava vestindo uma jaqueta da cor de seus cabelos, uma camisa branca com três trufas, calças marrom-chocolate e tênis marrom e branco, com laços verde-hortelã.

"Como você sabe?"

"Porque eu sei quem você realmente é." Ele respondeu.

"Oh sim. Uma menina órfã que trabalhar para ter casa e comida suficiente para sobreviver." Ela murmurou, virando-se de costas para ele e indo embora.

"Não. Você não é órfã. Você é mais do que você pensa que é."

Cristal revirou os olhos e não respondeu.

"Você sabe por que você é tão boa em jogos?" Perguntou Truffelio.

"Porque eu treino e nunca desisto?"

"Não. Porque você é parte deles." O menino disse.

"Sério?" Ela perguntou sarcástica. "Então, por que estou aqui?"

"Porque sua família te mandou pra cá, para te proteger. Você precisa vir comigo. Nós precisamos de você."

"Se você acha que eu vou acreditar nessa bobagem, pode ir tirando o cavalinho da chuva, garoto. Apenas vá pra casa e me deixe em paz." Ela respondeu e foi embora.

Ela entrou no café sem nenhuma suspeita de que qualquer coisa pudesse acontecer, até que ela ouviu uma voz chamando.

"Olá beleza!"

Ela virou-se para ver um homem, cabelos loiros e olhos negros. Ela poderia dizer que ele era em torno de três ou quatro anos mais velho que ela.

"Quem é você?" Ela perguntou surpresa.

"Você é mais bonita do que parecia na foto." Ele disse, sorrindo para ela.

"Olha, eu não sei quem você é, mas se você se aproximar você realmente vai se arrepender." Cristal avisou.

"Tão difícil também. Eu gosto de garotas como você." Ele murmurou, não prestando atenção e se aproximando um pouco mais.

Mas Cristal não estava de bom humor para lidar com bobagens assim. Ela lhe acertou com um soco e correu para o quarto, onde sua "irmã", Amanda, estava lendo um livro.

"Cristal, o que aconteceu?" Amanda perguntou surpresa.

Amanda era a única pessoa que Cristal não detestava naquele lugar.

"Quem era aquele doido?" A loira perguntou.

"Seu nome é Charlie, ele é o dono deste café."

"E..."

"Bem, ele veio aqui para cobrar o aluguel."

"E..."

"Bem, acontece que não temos dinheiro".

"Então, por que ele ainda está aqui?"

"Ele quer um acordo."

"Que tipo de negócio?"

"Ele nos dará o café... Mas ele quer..."

Cristal engasgou em estado de choque, ela sabia muito bem onde aquela história ia dar.

"E o que seus pais disseram?"

"Eu não sei." Amanda deu de ombros. "Mas eu tenho certeza que a mamãe tentou reclamar. Papai por outro lado... eu não estou totalmente certa."

Imediatamente Cristal correu para onde ela havia deixado sua bolsa, onde já estava a maior parte de suas coisas.

"O que você está fazendo?" Amanda perguntou preocupada.

"Saindo daqui."

"Mas aonde você vai?"

"Qualquer lugar é melhor do que aqui."

"Bem, pelo menos leve isso." Amanda ofereceu algum dinheiro para Cristal. "Eu acho que vai ajudar."

"Obrigado. Vou sentir saudades, mas eu tenho que ir."

Dizendo que, Cristal saltou pela janela e correu.

Ela só parou quando sentiu que estava a salvo. Ela estava em seu segundo lugar favorito, depois do Arcade, e um lugar que ninguém mais sabia que ela gostava de ir, o Jardim Zoológico. Era um lugar calmo e ela sabia que não tinha nada a temer lá. Além disso, ela sabia como os animais se sentiam, porque ela imaginava que era a mesma coisa que ela já sentira vivendo ali.

Mas o problema agora era: onde ela deveria ir? Claro que a polícia ia procurar por ela em breve, e sem família ou amigos...

Foi quando ela viu, sentado em um banco, ao lado da jaula dos leões, o mesmo menino que a estava seguindo cedo.

Ele estava distraído lendo um livro, mas quando ele a viu, sorriu e acenou.

"Você ainda está me seguindo?" Ela perguntou um pouco de raiva.

"Não desta vez. Na verdade, eu estava esperando por você."

"Como você sabia que eu ia vir aqui?"

"Ela ama o zoológico também." Ele respondeu.

"Quem?"

"Sua mãe."

"Olha querido, eu sou órfã, não tenho mãe."

Truffelio revirou os olhos.

"Você tem muito o que aprender. Mas aqui não. Você precisa vir comigo."

"Para onde?"

"Para Gamelot. Você precisa vir." Ele estava praticamente implorando.

"Tudo bem, garoto. Isso não quer dizer que acredito em você, mas qualquer lugar é melhor do que aqui."