–Sua louca!- gritou Malu indo atrás de Cida. –Você não tem coração?

–A culpa não é minha! Não fui eu que agarrei o florista no meio do jardim, discuti com o penetra e...

–Amora! Você tem problema? A garota ta chorando e você continua gritando e botando a culpa nela?- gritou Luz se aproximando.

–O que houve? Da pra ouvir a discussão lá de cima.- disse Dorothy esfregando os olhos de sono.

–Cida, ta tudo bem?- perguntou Kevin, vendo a menina chorando no canto da cozinha.

–Ta, podem ir dormir, gente. Foi só o capítulo na novela que me emocionou. –ela disse limando as lágrimas.

–Isso mesmo, criançada, altas emoções! Agora podem voltar a dormir. –disse Amora.

–Você acha que a gente vai acreditar em você? –perguntou Kevin, abraçado de Cida, Dorothy, Luz e Malu.

–Ah, vão!- gritou Bárbara Ellen entrando na cozinha. –Podem voltar a dormir!

–Cida, vem comigo. –disse Malu puxando a menina.

–Ah, não! Ela fica! Lugar de empreguete é na cozinha. –disse Bárbara sem perder a pose.

–Tal mãe, tal filha. –disse Malu saindo.

Todos saíram também, até Bárbara e Cida ficarem sozinhas.

–O que houve?- perguntou Valda saindo de seu quartinho.

–Nada, a Maria Aparecida só estava causando confusão como sempre. E Valda, vê se controla a sua sobrinha que da próxima vez que ela ousar não seguir as regras, é olho da rua pras duas.

–Sim, senhora.

Bárbara saiu e foi em direção ao quarto da filha.

–Maria Luiza!- ela gritou entrando.

–O que foi? Veio proteger a Amora pra variar?

–Olha aqui: a Amora pelo menos é bem melhor que você! Não cria confusão a toa, e tinha toda a razão ao reclamar com a Maria Aparecida, afinal ela destruiu a festa de noivado dela, a sorte foi ninguém ter filmado e a Sueli Pedrosa não ter sido convidada.

–Isso! Protege a sua filha favorita! Você não percebe que é por isso que ninguém gosta de você?

–Não venha com essa!- ela disse rindo. –É óbvio que você tem inveja dela! E como ninguém gosta de mim por isso se você é doida pelo Mauricio e ele é doido pela Amora, em?

Malu ficou de queixo caído. “Como ela sabe disso?” ela pensou.

–Você é doida pelo marido da Amora! Que tipo de pessoa é apaixonada pelo marido da irmã?!

–Eu sabia!- gritou Amora entrando no quarto. –Você quer roubar meu noivo não é?- ela disse levantando a mão para lhe bater.

–Amora! NÃO!- gritou Bárbara. –Não vai adiantar nada, ela já é bem castigada pelo destino, afinal, quantas vezes ela já ouviu você falando do seu casamento e já te viu beijando seu noivo?

–Tem razão mãe. Eu não preciso gastar a palma da minha mão no rosto dessa aí.

–Vamos embora.

As duas saíram e Malu ficou sozinha chorando em cima da cama, até Luz entrar escondida no quarto e consolar a irmã.

–Malu, não ouve elas não. A mamãe e a Amora não tem coração.

–Mas é isso que me irrita!- ela disse olhando pra Luz. –A Amora não tem um pingo de coração, mas o Bento e o Maurício são caidinhos por ela.

–O que você quer dizer com isso.

–Eu quero dizer que ser boazinha como eu sou, não me faz bem, nem faz pra eles, tanto é que eles gostam dela, e não de mim.

–Mas, é por isso que a gente gosta de você. Porque você é boa, legal, amiga.

–Ta, mas talvez eu fosse melhor sendo um pouco mais... Má.

–Você tem certeza?

–O que custa tentar?

–Então ta Malu. Mas vê se não exagera ok? –ela disse saindo do quarto da irmã. –Boa noite!

–Boa noite. –ela disse deitando e fechando os olhos.

...

Já eram oito horas da manha. Luz já tinha contado sobre o plano de Malu pra Kevin e Dorothy, e eles esperavam ansiosos pelo resultado da transformação na mesa do café. Bárbara tinha acabado de se sentar na cabeceira da mesa, e Amora se sentou em frente a Luz, e foi logo atacando o suco uva. Ela deu alguns goles, e assim que viu empreguete entrar na sala pra botar o resto do café foi logo armando escândalo.

–ECA! O que é isso, Cida?! Você quer me envenenar?!- gritou a patricinha.

–Claro que não Amora, eu só...

–Pra você é Dona Amora!- ela advertiu. –Você fez o suco que eu gosto? Coou tudo, cada microcentímetro?

–Claro, eu passei duas horas fazendo isso.

–Mas ta horrível! Pode fazer outro.

–Mas Dona Amora, eu...

–Bom dia!- gritou Maurício entrando pela porta da frente.

–Bom, dia meu amor. –disse Amora o beijando assim que ele chegou perto, e fazendo questão de Cida ver de camarote.

–O que está havendo aqui?- ele perguntou a noiva.

–Nada, a Cida só ia me trazer outro suco, não é Cidinha?

–Claro, Dona Amora.

–Que bom que você veio Maurício!- disse Bárbara sorridente. –Como vai o Natan?

–Muito bem, e minha mãe também, obrigado por perguntar. Ué, cadê a Malu?

–E o que isso importa?- perguntou Amora o beijando ainda mais. –Sua noiva sou eu, lembra?

Ele retribuiu com outro beijo, e se sentou ao lado da noiva.

Foi então que todos ficaram em silêncio, e uns dez minutos depois, só se ouvia um “clac, clac” na escada. Era o som de saltos batendo nos degraus.

–A Malu acordou!- gritou Dorothy animada.

Todos prestavam bem atenção pra escada, e pelo baralho dava pra ver que ela andava lentamente. Assim que ela saiu da escada, foi cambaleando pra mesa do café e se sentou na mesa com sono. Todos olharam pra ela assustados. Aquela não era a Malu que conheciam. Seu cabelo estava todo cacheado e meio bagunçado. Seu batom era vinho e sua sombra preta. Seu delineador e rimel estavam caprichados. Ela estava com uma blusa de barriga de fora, uma jaqueta preta e uma calça justa de couro preta, e uma bota que ia até o joelho.

–Malu... O que houve com você?

–Eu é que pergunto, nunca me viram em não?

–Não desse jeito! Parece até que você foi engolida por uma roqueira emo.- disse Amora.

–Isso é problema meu. Agora podem voltar a fazer o que sempre fazem, se pegar em todo lugar, na frente de todos, a toda hora.

–Maria Luiza! Que tipo de piadinha de mau gosto é essa?!- gritou Bárbara.

–Nada, “mamãe”, só cansei de ser aquela garotinha boazinha esquecida. Ou melhor, lembrada só nas piores ocasiões, afinal a Amora lembrou de me culpar por tentar roubar o seu noivo.

–Como é?- perguntou Maurício assustado.

–Mas é verdade! Ela era afim de você!- gritou Amora tentando se explicar.

–Isso, era, do verbo não é mais. Agora me da licença. –disse Malu pegando uma banana e se levantando. –Que eu tenho muita coisa pra fazer.

Todos continuavam chocados com a atitude e o visual da garota.