–Então você vai ficar assim só pra conquistar o Maurício?- perguntou Plínio.

Os dois estavam em pé em frente a Toca, e Malu toda de preto, tentava explicar ao pai o porque da mudança.

–Isso.

–Mas filha, se ele realmente gosta de você, é do seu jeitinho.

–Por isso mesmo, pai! Eu fico assim por um tempo até ele perceber que realmente gostava de mim da outra forma entendeu?

–Sim, mas e se ele realmente gostar da Amora?

–Pai! Você ta ou não comigo?

–Claro, agora vai se trocar, se não nenhuma criança da Toca vai te reconhecer.

–Mas outra coisa, pai: Se alguém perguntar diz que eu mudei, viu?

–Mentir, Malu?

–Ah, pai... Por favor...

–Plínio!- gritou uma voz conhecida no meio da rua. O garoto saiu de trás da vã da Acácia Amarela e entrou na Toca. –Desculpa, eu to interrompendo?- ele perguntou olhando pra Malu a sua frente, sem reconhecê-la.

–Não, Bento, pode falar.

–Ah, eu queria saber onde ta a Malu, é que nós temos uns planos pra Toca e...

–Bento, sou eu. –ela disse meio assustada.

–Malu?! Por que você ta assim?

“Ok, hora da verdade. Ou da mentira? Afinal, se eu contar pra ele, ele conta pra Amora, que conta pro Maurício e ele vai achar que sou uma maluca doida por atenção. Sem contar com o papo de rouba-namorados que a Amora vai espalhar. Mas o Bento é como um irmão pra mim...” pensou Malu.

–Aí Bento! Saí do meu pé, cara! Isso não te interessa.

–Bom, vou deixar os dois a sós. –disse Plínio deixando os dois sozinhos no jardim.

–Calma, Malu. Se não quer me contar não tem problema. –ele disse chateado.

–O que você veio fazer aqui? –ela perguntou sem paciência.

–Vim falar dos nossos projetos.

–Chegou numa péssima hora, to sem saco pra isso.

–Sem saco? -Você ta surdo?

–Quer saber... –ele disse calmo. –Me liga quando puder.

–Ta, tchau!- ela disse grossa.

–Até mais.

Assim que ele saiu, Plínio saiu correndo pelo jardim.

–Filha, você não acha que passou dos limites, afinal o Bento é seu amigo.

–Eu sei pai, mas é um risco que eu tenho que correr.

...

Já era de tarde, e Bento colhia flores na Acássia, até Tio Gilson gritar.

–Bento, vem ver a linda moça que veio te visitar.

–Amora?- ele gritou sorrindo. Ele largou tudo e foi atrás dela.

–Bento, nós precisamos conversar.

–Claro, vem cá. –ele disse a levando pra dentro de sua casa.

Assim que ela entrou ficou admirada com a decoração, e saiu mexendo em tudo a sua frente.

–Adorei! É tudo tão simples, bonito, prático... A sua cara!

–Que bom que gostou. Lembra que aqui era...

–O barracão do tio Gilson?- ela perguntou surpresa.

–Exatamente, depois que eu fiquei mais velho ele me deu.

–Quem diria que aquele barracão ia se tornar isso aqui! –ela disse sorrindo.

–E então... Café?

–Com adoçante, por favor.

–Serve açúcar mascavo?

–Pode ser.- ela disse sentando no balcão, com uma foto que acabara de pegar de cima de mesa. –Você ainda tem essa foto? A minha desbotou...

–Eu te mando por e-mail. –ele disse sorrindo. –E então? O que você tinha pra me falar?

–Ah... Então... –ela falou pondo a foto no lugar. –Eu queria saber como você está.

–Você não veio até a Casa Verde pra saber como eu estou. –ele disse lhe entregando o café.

–Ah, não? Por que?

–Porque se não já teria feito isso antes, sem contar que era só pedir o meu número de celular pra Malu.

–Ok, você me pegou, eu vim aqui falar outra coisa. –ela disse dando um bom gole no café, e depois pondo a xícara no balcão.

–E posso saber o que?- ele perguntou sorridente, se aproximando um pouco.

–Claro, mas antes, eu quero ver uma coisa. –ela disse rindo, e depois correndo até a amoreira que plantaram aos dez anos. –Ela continua aqui?

–Aham. Eu mesmo cuidei dela nesses últimos anos.

–Lembra de quando nós plantamos?

–Claro, você me sujou todo.

–Como se eu tivesse saído limpinha...- ela disse fazendo os dois rirem. – Me responde uma coisa, Bento: O que você sentiu naquele dia?

–Sinceramente?

–Aham.

–Eu senti que era o garoto mais feliz do mundo, por te conhecer e ser seu amigo, e que... Você era garota da minha vida.- ele disse causando um silencio.

–E o que você sentiu todos esses anos?

–Amor, saudades.

–Olha, eu vou ser franca: Eu te amava, mas quando a gente se afastou, alguma coisa em mim me bloqueava de pensar em você, mas quando eu te vi ontem, fiquei toda mexida, eu realmente me arrepiei, e percebi que eu sempre te amei. Mas eu devo ser doida, afinal faz tanto tempo que a gente não se vê e...- ela foi interrompida por Bento.

Ele a puxou com os braços e deu um longo e verdadeiro beijo. Os dois estavam apaixonados. Era um velho caso de amor mau resolvido. Eles ficariam dias lá juntinhos, se não fosse aquela voz conhecida e doce os interrompendo.

–Bento?- ela disse com lágrimas no olho, bem em frente a amoreira e aos dois.

–Cida?- perguntou Amora com um ar de superioridade.