Objeto de Afeição

Perdendo a cabeça


Meus olhos marejavam. Minhas mãos tremiam. Meu coração batia forte. Eu estava me odiando naquele momento. Eu podia fugir da senhora Bridgerton, podia fugir de Anthony e até mesmo de minha família, mas eu não podia fugir de minha consciência, que estava me atormentando.

Como eu pude estragar o futuro e a felicidade de minha irmã? Tudo por causa desse desejo incontrolável que se apossava de mim quando eu estava diante de Anthony...

Eu era uma péssima irmã. Como eu olharia nos olhos de Edwina para anunciar meu casamento? Um casamento forçado com o homem pelo qual ela estava desenvolvendo afeição. Eu pus minha mão sobre minha bochecha e sequei uma lágrima que escorreu. Eu comprimi meus lábios. Respirei fundo e adentrei meu quarto. Eu falaria com minha irmã apenas no dia seguinte. Eu precisava processar tudo o que estava acontecendo. Eu estava desnorteada.

Me deitei sobre a cama. Pus minha mão debaixo do travesseiro e repousei minha cabeça sobre ele. Fechei minhas vistas e a lembrança do rosto de Anthony perto do meu me invadiu. Seus olhos demonstravam o quanto ele estava desejoso. O quanto ele queria quebrar a distância mínima que estava entre nós. Eu queria o mesmo. Eu estava me sentindo muito culpada, muito errada. Eu não prestava. Naquele momento, eu pensei apenas em mim e me esqueci de minha irmã. Tais pensamentos negativos e prejudiciais vinham a minha mente e me sufocavam.

Eu amava muito Edwina e eu queria vê-la feliz. Mas eu estava sendo naquele instante a pessoa responsável por aquela grande decepção.

Era três horas da manhã e eu ainda não havia conseguido dormir. Eu me levantei da cama e me dirigi até a biblioteca da mansão Bridgerton. Estávamos passando o fim de semana no interior da Inglaterra em uma das mansões daquela influente família. No dia seguinte, iríamos embora. Ainda bem.

Andei em passos lentos e cautelosos até o meu destino e assim que eu adentrei e fechei a porta, logo me aproximei da estante cheio de livros muito interessantes. Meu favorito era Megera Domada de Willian Shakespeare. Naquele momento, eu queria relê-lo.

Eu principiei minha leitura. Cada linha que eu lia, eu me deixava envolver cada vez mais por aquele universo do livro.

Eu não conseguia fechar meus olhos e dormir. Meus pensamentos estavam a mil por hora. Eu estava enlouquecendo por um quase beijo entre eu e Kate. Tudo nela me atraía. Tudo nela me fazia parar e refletir: Como uma mulher linda, inteligente, de personalidade admirável estava solteira até aquele momento? Para minha sorte ou azar, eu me casaria com ela. Isso me deixava extremamente nervoso. Aquela mulher me fazia duvidar da minha capacidade de não me apaixonar, não amar alguém...

Eu me levantei da cama e me dirigi até a cozinha da mansão. No caminho, eu andei perto da biblioteca e notei que ela estava com a luz acesa. Só podia ser Eloise com insônia, lendo algum livro relacionado a política. Eu revirei os olhos e adentrei o local. Minha intenção era apenas verificar se estava tudo bem e irritá-la um pouco. Eu adorava isso. Mas para minha surpresa quem estava lá era Kate, minha futura esposa. Ela estava concentrada demais lendo o mesmo livro que meu pai adorava ler que nem notou minha presença.

Eu pigarreei para chamar sua atenção e assim que ela me viu, ela arregalou seus olhos. Ela se pôs de pé e começou a andar em direção a porta. Ela fez menção de passar por mim e ir embora, mas eu segurei-a pelo braço, delicadamente e a impedi de sair.

—Por favor, espere. Precisamos conversar sobre...nós. - Eu falei, um pouco tímido e baixo. Ela negou com a cabeça. - Kate, por favor, me escute, pelo menos.

—Por favor, não me chame de Kate. - Ela pediu, séria, desvencilhando seu braço da minha mão e se afastando.

—Nós parecíamos ser muito íntimos ontem...- Eu brinquei, sorrindo convicto apenas para provocá-la e ela revirou os olhos.

—Eu vou embora senão eu vou perder minha cabeça e vou bater em você. - Ela avisou, entredentes. Seu rosto estava ruborizado.

—Se você perder a cabeça, você me agarrará. Isso sim. É isso que você realmente quer. Eu sei. Eu também quero. - Eu afirmei, sincero, olhando-a dentro dos olhos. O desejo forte que eu sentia por ela se fazia presente ali como em todos os nossos outros encontros. Mas naquele instante, ele estava insuportável. Eu precisava dar vazão ao que eu sentia.

Kate abriu a boca para falar algo, mas não conseguiu. Eu me aproximei dela, colando nossos corpos. Seu corpo estava tenso no começo, mas depois relaxou entre meus braços. Eu acariciei seu rosto. Ela fechou os olhos e suspirou. Eu arfei. Sua respiração se misturava com a minha. Nossos narizes se tocaram. Eu fiz carinho em sua cintura. Ela depositou sua mão sobre meu ombro e me trouxe para mais perto dela. Eu parti a distância quase nula entre nós, roçando em seus lábios. Eu pude sentir a maciez de sua boca. Algo que eu almejava como nunca. Eu pressionei-a com a minha e aprofundei o beijo após ela consentir.

O beijo foi lento no início e se intensificou aos poucos. Nós nos aproximávamos mais e mais. Nós nos acariciávamos. E nós nos beijávamos, totalmente rendidos um ao outro e aquele instante. Era claro que ansiávamos por isso há muito tempo e evidenciávamos isso através das nossas ações.