Objeto de Afeição

Dar vazão ao que se sente


Anthony pôs as mãos dele ao redor da minha cintura e por alguns instantes eu quase me esqueci de que assunto eu iria tratar com ele. Mas olhar dentro dos olhos castanhos dele estando bem perto é de longe a coisa que eu mais me arrependo de ter feito na minha vida toda. O olhar dele parecia que conseguia fazer com que todos os meus segredos, até os mais ocultos, fossem desvendados.

O olhar dele era...invasivo, profundo e era praticamente impossível desviar. Quando eu o encarava de longe eu já sentia o poder da força que os olhos dele tinham. Agora que ele estava a poucos centímetros então...

Eu respirei fundo e com uma força além eu olhei na direção de Edwina e sorri para ela. Ela se encontrava atrás de Lorde Bridgerton, um pouco distante. Ela queria que eu e ele nos déssemos bem. Por isso, ela praticamente me jogou nos braços dele para que ele me convidasse para dançar.

Eu pus minhas mãos sobre os ombros de Anthony e ele que aparentemente estava relaxado ficou mais tenso. Em seguida, ele começou a me conduzir conforme o ritmo da música.

—Quais são as suas intenções com minha irmã, milorde? - Eu indaguei enquanto ele me girava.

—Acredito que eu deveria responder essa questão a Senhora Sharma, que no momento não se encontra aqui. Afinal, ela é a mãe de Edwina, milady - Ele me respondeu e sorriu prepotentemente. Eu me segurei muito para não revirar os olhos e pisar no pé dele.

—O senhor bem sabe que eu também me sinto responsável pela minha irmã e que a minha opinião é bastante importante para ela. Portanto, se o senhor pretende ainda se casar com ela é melhor que me diga em alto e bom som suas intenções. - Eu disse, olhando dentro dos olhos dele da mesma forma invasiva e profunda que ele me encarava.

—A minha intenção com sua irmã é a melhor... Eu gostaria muito de me casar com ela e lhe dar uma vida cheia de felicidade... e de prestígio da qual ela... é digna...- Ele disse e depois cessou mais uma vez como se estivesse pensando bem em que palavras usar.

—Lorde Bridgerton, não me importo se você for direto ao invés de ficar fazendo pausas, pensando em empregar palavras bonitas, que podem ser vazias de significado se não forem cumpridas. - Eu disse impaciente e ele resmungou alguma coisa ininteligível, olhando para o chão. - O que eu gostaria de saber é se você será capaz de amá-la com todo seu coração- Eu perguntei, ele olhou em meus olhos e abriu a boca para falar algo, mas não disse nada. Ele me girou novamente e quando eu retornei para os braços dele, dessa vez eu fiquei de costas para ele. Havia um espelho no salão de festa e nós ficamos de frente para este. Pelo espelho podíamos ver Edwina nos fitando.

—Edwina é uma linda mulher. Ela é atenciosa, meiga e eu aprecio muito a companhia dela. Acredito que...serei capaz de...amá-la - Ele disse as palavras bem perto do meu ouvido. Eu senti arrepios percorrerem todo meu corpo. Enquanto eu ouvia o que ele falava meu coração se contorcia dentro do meu peito. Eu estava incomodada. Eu não fazia ideia do motivo disso estar acontecendo. Quando ele parou de falar, eu vi pelo espelho que em meus olhos estavam se formando lágrimas. Eu sorri forçosamente e disse- Milorde, você tem minha aprovação para cortejar Edwina e se casar com ela. Fico feliz que ela terá alguém que tem intenções de torná-la mais feliz e que a amará de todo o coração. Quando eu estiver na Índia não terei que me preocupar com o que estará acontecendo aqui. - Eu disse e passei minha mão rapidamente pela minha face, pois uma lágrima solitária fez menção de cair.

—E o que a senhorita estará fazendo na Índia? - A pergunta simplesmente saiu da minha boca sem que eu pudesse evitar.

—Eu vou morar lá assim que Edwina se casar com o senhor. É essa a sua vontade e a vontade dela também. Já disse, não vou me opor, milorde. - Ela falou e eu soltei na mesma hora a mão dela. Eu precisava sair daquele maldito salão de festas. Aquela notícia me tirou o chão e o ar. E eu não estava compreendendo a razão de eu estar agindo daquela forma. Ora, eu devia sorrir, pular de alegria que aquela intrometida da Kate estava deixando o caminho livre para eu me casar com a bela irmã dela. E além disso, ela iria embora. Eu não teria que cruzar com o olhar intimidador e irresistível dela todo santo dia. Os sonhos que eu tinha com ela provavelmente eu não teria nunca mais. Mas tudo que eu queria era que ela ainda estivesse se opondo ao meu casamento com Edwina. Kate Sharma quando estava irritada era tentadora demais. Eu queria que ela ficasse aqui e que jamais cogitasse a ideia de ir embora.

Eu me afastei de Kate, informei ela que precisava por motivos maiores sair imediatamente dali e a deixei surpresa no meio do salão de festas.

Eu andei, pisando duro no chão, em direção ao meu escritório. Assim que eu cheguei lá, eu afrouxei o nó da minha gravata e respirei fundo.

—O que houve para que o senhor agisse daquela forma? Edwina achou que eu tivesse lhe falado algo que tivesse o aborrecido. Foi isso? Eu o aborreci? Não foi essa minha intenção. Eu estava sendo sincera quando disse que você tem minha aprovação. - Kate disse enquanto adentrava o meu escritório. Eu estava tão abalado com a notícia de que ela iria para índia que não percebi que ela estava vindo atrás de mim. Ela acabara de falar comigo como se estivesse me pedindo desculpas e eu estranhei a atitude dela.

—Eu sei que estava sendo sincera. - Eu disse sério e relaxei meus ombros, que estavam tensos por um longo tempo

—Por qual motivo o senhor se encontra assim? - Ela questionou e eu a olhei diretamente nos olhos - Eu disse que vou embora. O senhor deveria estar radiante, não é?- Ela perguntou, eu fechei minhas vistas, imaginando a cena dela partindo e o meu coração se apertou. Não era possível que ela, Kate Sharma, tão inteligente e perspicaz, não soubesse mesmo por qual razão eu estava agindo daquela maneira. Tanto eu quanto ela sabíamos que estava ocorrendo algo entre nós. Embora não soubéssemos o que fosse, nós podíamos notar que nossa relação não era apenas de inimigos e estava bem longe de ser algo fraternal.

—Acha que há chance de eu me esquecer da senhorita se você partir para qualquer lugar distante desse mundo? Acha que se você partir eu vou me livrar desse tormento que a senhorita me causa? - Eu perguntei e ela me olhou surpresa. Rapidamente, ela desviou o olhar do meu e começou a encarar o chão. Eu andei pelo escritório, me segurando para não falar mais nada que me fizesse parecer um desesperado apaixonado.

—Isso...Isso vai passar, milorde. Eu vou embora. Vou ficar bem longe do senhor e de Edwina. Não os atrapalharei. - Ela falou, ainda de cabeça baixa, andando lentamente em direção a porta.

—Minha presença te incomoda tanto para fazer com que você queira ir para tão longe? - Eu indaguei e ela parou de andar. Ela virou-se de frente para mim e o olhar dela demonstrava raiva.

— O senhor realmente é muito cheio de si. Acha mesmo que o que eu for fazer da minha vida será por sua causa? - Ela perguntou, aumentando seu tom de voz

—Eu não a entendo...Por que a senhorita me odeia? - Eu me aproximei e questionei, entredentes, pondo, involuntariamente, minhas mãos sobre os braços daquela mulher tentadoramente brava e eu percebi o quão tensa ela ficou. Eu estava farto das implicâncias e da irritação exagerada de Kate quando ela estava diante de mim.

—Porque...porque o senhor me irrita. Você me irrita tanto. - Ela disse, demonstrando estar com a respiração alterada. O mesmo que eu estava experimentando devido a nossa aproximação.

—Da mesma forma que você me irrita! Tudo o que eu causo em você, você causa em mim! - Eu revelei. Em seguida, eu aproximei nossos rostos e soltei um suspiro. Havia uma estranha força que nos envolvia e nos puxava em direção um ao outro. Eu pus minha mão sobre a bochecha dela e fiz carinho. Algo que há muito tempo eu almejava fazer. Queria poder sentir a maciez de sua pele.

—O que... o senhor está... fazendo? - Ela indagou com dificuldade.

—Me diz que você não sente nada por mim e eu me afasto. - Eu sussurrei em seu ouvido, inclinando minha cabeça na direção do pescoço dela para aspirar seu doce perfume e ela se arrepiou.

—Eu...não...- Ela tentava dizer enquanto eu depositava minhas mãos em sua cintura e ela, timidamente, colocava as dela sobre meus ombros. Minha boca procurava pela dela, querendo beijá-la. Era nítido que com Kate ocorria a mesma coisa. Ela tentava a muito custo direcionar a cabeça dela para longe de mim, mas ela sempre voltava para o mesmo lugar, que me dava completo acesso a ela. Eu estava tentando me segurar para não fazer algo que pudesse nos obrigar a nos casar.

Quando eu estava prestes a nos fazer o favor de dar vasão ao que sentíamos, a porta do escritório foi aberta.