OCICAT: The Ordinary Lives

part II - heading for a meltdown


14:56PM, Stark Industries New York

— Vou tentar explicar isso da maneira mais simples possível – Bruce Banner começou, andando pela sala com um jaleco branco e óculos. Cat parecia tensa enquanto estava sentada em uma cadeira, atenta a tudo que o homem tinha a dizer.

— Ah, obrigada, não é como se eu entendesse de ciência nem nada do tipo – Tony comentou, fingindo estar ofendido. O Doutor Banner o ignorou voltando sua atenção para a jovem sentada na cadeira à sua frente, que parecia impaciente.

— Pelo que sei, seu pai costumava trabalhar com substâncias radioativas enquanto estava nas Indústrias Stark, certo? – Ela não sabia responder, mas Tony acenou a cabeça, afirmando. – As, uh- como podemos dizer? As mudanças que estão ocorrendo com você são causadas por radioatividade.

Cat arregalou os olhos, olhando para Bruce e em seguida para Tony, que só deu de ombros. Ela parecia bem mais pálida que o normal, e quando abriu a boca nenhum som parecia querer sair de sua garganta. Ela gesticulou com as mãos e então cruzou os braços, fechando os olhos e respirando fundo.

— Desculpe, Doutor Banner, mas radioatividade não mata as pessoas? As deixa terrivelmente deformadas ou coisas do tipo? – Bruce fez uma cara que dizia que era bem mais complicado do que aquilo. Ela olhou para Tony, em busca de respostas. – Além disso, meu pai não usava nenhum tipo de proteção enquanto trabalhava com essas porcarias radioativas?

Bruce interviu, impedindo que Tony começasse uma discussão inevitável sobre a segurança dos experimentos nas Indústrias Stark. Ele sentou-se na frente de Cat, mostrando-lhe resultados de exames e arquivos sobre radioatividade que ela não entendia muito bem, mas a presença do Doutor Banner a confortava de certa forma – o jeito calmo com que ele lidava com as coisas. Era até irônico para ela pensar que de todas as pessoas ali, Bruce Banner seria o mais calmo.

— Acredito que, embora seu pai usasse roupas e máscaras de proteção enquanto fazia as experiências e estudava essas substâncias, elas podem ter se impregnado nele de certa forma. E você, como vivia com ele quando era criança e interagia com ele, estava em constante contato indireto com essas substâncias. Uma quantidade pequena, claro, mas existente. Isso te afetou com o passar dos anos.

— E por que elas não afetaram o meu pai diretamente?

— Acredito que elas poderiam tê-lo afetado de certa maneira, mas não houve tempo – Ele explicou, tentando não soar insensível. Cat não pareceu abalada, mas Tony parecia mais quieto que o normal.

Ele não dizia nada, apenas observava silenciosamente enquanto os dois conversavam e tiravam suas dúvidas. É claro que além da morte dos pais de Cat, ele também era responsável pela intoxicação da garota. Um ótimo jeito de cumprir a promessa que tinha feito à Simon Burgundy anos atrás - “Claro que sim, se algo acontecer com você eu irei cuidar dela. Vou mantê-la a salvo. Vou mantê-la a salvo fazendo com que você – indiretamente – a transforme numa criatura radioativa com super-poderes”.

Céus, seus problemas não acabariam nunca.

— O que vocês dois devem entender é que tudo isso que está acontecendo com Catherine não é nada não-humano. Segundo os resultados dos testes e as descrições dela, todas as suas habilidades são habilidades humanas que foram aprimoradas.

Uma luz se acendeu no rosto da garota e o fantasma de um sorriso podia ser visto em sua expressão.

— Habilidades sobre-humanas, então? – Ele perguntou.

— Exatamente, Tony. Força avançada, agilidade, super sentidos como percepção auditiva e visual e todas essas habilidades com ginásticas e acrobacias que eu acredito não terem sido adquiridas com treinamento pesado...

Cat riu.

— Definitivamente não.

— Então é isso – Bruce completou, suspirando e ajeitando seus óculos.

Por um momento, um momento muito rápido e agoniante, os três ficaram em silêncio, focando suas atenções para nada em específico além do que estava passando pelas suas cabeças.

— E não há como parar isso? – Tony perguntou.

— Ei! – Cat exclamou, olhando para Tony como se o mesmo a tivesse traído.

— Acredito que não – Bruce respondeu.

— Eu não vou parar o que estou fazendo! – Cat continuou, levantando-se e cruzando os braços.

Tony suspirou – essa discussão não iria parar nunca.

— Cat! É perigoso!

— E então? O que mais eu vou fazer com essas “habilidades sobre-humanas”? Usar para fazer vídeos de parkour na internet?

— A-ah, eu vou deixar vocês conversarem – Bruce cumprimentou Tony, tentando fugir da situação o mais rápido possível. – Foi um prazer conhecê-la, Senhorita Burgundy. Espero ter sido útil.

Ele se retirou da sala, despedindo-se dos dois. Levou cerca de um segundo e meio para Tony virar sua atenção para a garota completamente, pronto para dar mais um de seus sermões épicos sobre como ela estava louca e ele tinha que fazer de tudo para impedir que ela continuasse com aquele trabalho de vigilante.

— Você não sabe no que está se metendo – Ele avisou e ela revirou os olhos, uma ação que o irritava muito mesmo sabendo que ele mesmo fazia aquilo diversas vezes. – É sério, você acha que pode sair fazendo essas coisas por aí, parando assaltos, salvando pessoas – mas o que acontece quando você se machucar?

A garota não parecia afetada por suas palavras, nem um pouco – do contrário, parecia mais confiante do que nunca.

— Eu prometi ao seu pai que-

— Que iria me proteger, eu sei, você disse isso dez mil vezes desde que eu entrei na sua sala alguns dias atrás. Mas o meu pai não está mais aqui, Stark, e ele não se importava tanto comigo quanto fazia parecer – Ela sorriu e, se ela sentia uma pontinha de tristeza dizendo aquilo, sabia esconder bem. – Você disse que iria me ajudar e já me ajudou. Eu sei porque isso está acontecendo e isso é ótimo, mas não vou parar de fazer o que eu faço.

— Eu vou contar à Bailey sobre isso!

Ela parou, uma expressão surpresa em seu rosto. Cruzou os braços novamente, olhando para ele como se dissesse “Ah, então é assim? Tudo bem!”

Bailey era a melhor amiga de sua mãe, Alicia Burgundy. Depois que seus pais morreram, Cat fora morar com Bailey e seu namorado, Glenn – e os dois odiavam Tony por acreditarem que ele fosse o culpado pela morte de Alicia e Simon Burgundy. Resumindo, Bailey não ficaria nada feliz com toda essa história.

A garota riu, tentando disfarçar o pouco nervosismo que sentia. A atitude dessa garota era tão irritantemente cínica que Tony podia jurar que ele mesmo a havia criado.

— Ela não vai acreditar em você. E se acreditar, ela vai odiar ainda mais meu pai, e vai odiar ainda mais você.

Ela estava certa.

Tony não sabia porque isso tinha que ser tão difícil. Tudo bem que ele não era uma pessoa fácil quando tinha 16 anos, mas desde que começara a lidar com adolescentes ele se perguntava o que havia de errado na cabeça daquelas pessoas. Claro que Peter Parker era um caso separado – ele fazia tudo o que Tony dizia para fazer, não fazia tantas perguntas – não perguntas perigosas, pelo menos – e era inteligente.

Catherine Burgundy era um verdadeiro pé no saco.

— Catherine, o que você ganha saindo por aí, batendo em criminosos? – Ele tentou, cruzando os braços para imitar sua atitude. – Por que está fazendo isso?

Ela piscou, parecendo surpresa pela pergunta repentina. Mordeu o interior das bochechas, incerta - então respirou fundo e encostou-se, olhando para qualquer lugar que não fosse o rosto insistente de Tony Stark.

— Tem um monte de coisas horríveis acontecendo ao nosso redor e não há pessoas suficientes que podem parar isso. Se eu consegui essas habilidades, eu vou usá-las. Eu não vou sentar e assistir sabendo que eu posso estar lá fora, fazendo alguma coisa para mudar o que está acontecendo. Eu posso ajudar.

Ele acenou com a cabeça, um movimento tão leve que poderia ter sido apenas um reflexo. Ela esperou por uma resposta, mas ele parecia pensativo – seus olhos fitando-a, uma ideia correndo por sua mente.

– O que você está pensando?

Ele suspirou, exausto, e deu de ombros.

— Se você não vai parar com essa loucura, então eu suponho que você precisa de algum treinamento...

Ela se levantou, seguindo-o enquanto Tony andava em direção a porta. Suas pernas pareciam feitas de gelatina por um instante, e ela perdeu a noção de seus sentidos por um segundo – fazendo com que tudo parecesse muito mais alto e claro do que realmente era.

— Pera aí, você vai me treinar?

Ele a ignorou, parando em frente ao elevador e apertando um botão.

— E também precisa de uma roupa melhor.

— Uma roupa? Vai me dar um uniforme?

A porta do elevador abriu, ele entrou – Cat indo bem atrás dele.

— Não fique muito animadinha.

— Parece que alguém quer que eu entre para os Vingadores...

— Não! – Ele respondeu, enquanto ela sorria e observava enquanto o elevador descia até o primeiro andar.

21:45, Torre dos Vingadores – New York

Natasha encontrou Tony em sua sala, consertando um pequeno objeto que não estava realmente quebrado – ele só queria algo para se distrair. Ela parou do seu lado, observando por um momento. Ele percebeu sua presença, mas não desviou sua atenção.

— Você é a pior espiã do mundo – Tony comentou, sem tirar seus olhos do objeto em suas mãos.

Natasha sorriu.

— Banner me disse o que está acontecendo com Cat.

Ele murmurou alguma coisa incompreensível e então desistiu do que estava fazendo, jogando de lado. Olhou longe, observando a silhueta dos prédios e as luzes alertas e brilhantes de Nova Iorque.

— Ela disse que não vai parar – Ele suspirou, cansado.

Natasha sorriu, satisfeita. Ela era uma das mais próximas de Catherine. Quando a garota era criança e era trazida em festas pelo seu pai, costumava passar um bom tempo com a agente. Tony sempre achou engraçado que a ruiva tivesse um jeito tão bom com crianças, sendo uma espiã russa altamente treinada e tudo mais.

Depois que os pais de Cat morreram e ela se mudou para a casa de Bailey e Glenn Lovehartt, Natasha manteve contato por um tempo e depois parou – sabendo da opinião dos guardiões legais de Catherine sobre Os Vingadores e todos relacionados as Indústrias Stark. Mesmo assim, ela deixava claro que estava constantemente de olho na garota, não que ela corresse muitos perigos. Não vivendo uma vida comum como a dela.

— Eu disse que vou treiná-la.

— Você disse o que?

— Que eu vou treiná-la! Ah, Natasha, a garota não vai parar. Ela é igual a você. Não vou conseguir tirar essa ideia da cabeça dela, então é melhor que eu a ensine o melhor jeito para que ela não morra lá fora, certo?

A ruiva desviou o olhar. A expressão em seu rosto geralmente neutro era uma mistura de preocupação e contentamento – mas, finalmente, ela sorriu.

— Certo, certo. Só fico ofendida por você ter se oferecido para treiná-la sendo que eu seria muito melhor nisso.

Tony riu, balançando a cabeça, afirmando.

— Claro, se você insiste, então é menos trabalho para mim. Vai ser bom pra você fazer amigos – A expressão no rosto da agente deixaria qualquer um sentindo-se pelo menos um pouco ameaçado. – Você vai fazer uma noite das garotas e coisas do tipo?

— Nossa noite das garotas será eu a ensinando como te passar a perna, Stark.

— Ah, eu estava brincando, Nat. Boa sorte com ela – Ele riu, levantando-se e andando em direção a porta. – Só deixe claro que ela não é uma Vingadora.