OCICAT: The Ordinary Lives

part III - chasing after time


15:31, Torre dos Vingadores — New York

— Tudo bem, então se eu vou te treinar, você precisa entender uma coisa – Tony começou, enquanto a garota estava sentada em cima da mesa, a cabeça apoiada em cima de um dos joelhos. – Eu sou uma pessoa muito, muito ocupada – o que significa que você não pode depender de mim para tudo.

A garota continuou o encarando, ação que ele revidou – e então ela piscou lentamente e acenou a cabeça.

— Certo. Em primeiro lugar, como você está explicando para Bailey e aquele idiota sobre porque estar fora de casa todos esses dias depois da escola?

Ela sorriu.

— Eu digo para eles que fiquei estudando na escola depois da aula – Explicou. – Se quer saber, é uma desculpa bem convincente.

Se Stark não conhecesse os tutores de Cat, Bailey e Glenn – melhores amigos de sua mãe quando era viva, ele não acreditaria. Mas os dois pareciam idiotas o bastante de pensarem que uma criança como aquela ficaria na escola após a aula. Ela parecia exatamente o tipo de pessoa que não fica na escola nem durante as aulas, quem dirá estudar em seu tempo livre.

— Certo, podemos falar sobre sua falta de interesse mais tarde. Você vai precisar arranjar uma nova desculpa, porque eu te mudei de escola.

Ela pendeu seu rosto para um lado, parecendo um filhote confuso por um segundo - e então seu rosto ficou branco, seus olhos arregalados. Cat sentou na mesa, seus pés balançando há uma grande distância do chão. Embora sua reação tivesse sido engraçada, Tony estava tentando ter uma conversa séria.

— Você fez o que? – Sua voz estava muito mais aguda do que o normal, e antes que Tony pudesse responder, ela continuou falando. – Por que você fez isso? Para onde é que eu vou? E como você me mudou de escola assim?

— Okay, pra começar, você vai para a Midtown High School.

—Mid-o que agora? Onde é que isso fica?

— Fica meio que entre a sua casa e entre Forest Hills... – Ele disse numa voz baixa, gesticulando com as mãos e esperando que a garota não o escutasse.

— Forest Hills? Forest Hills? No Queens? Isso é longe pra caramba, Tony!

— Não é tão longe assim, você está sendo dramática – Ela abriu a boca para começar a falar, mas ele a interrompeu, fazendo um barulho de shhhh enquanto ela o fuzilava com o olhar. – Foi fácil te mudar. Eu sou, legalmente, uma das pessoas responsáveis por você – quer aquele dois gostem ou não. Além disso, eu sou o Tony Stark.

Ela revirou os olhos, cruzando os braços em descrença.

— Tá, continua falando. Como é que você quer que eu explique pra Bailey que de um dia para o outro eu passei a estudar no Queens ?

— Então, chegamos na parte em que você vai ter que – parcialmente – contar a verdade para eles. – Ele olhou para seu relógio de pulso. – Eles provavelmente já devem ter recebido uma carta explicando sobre sua aprovação num projeto de estágio das Stark Industries.

Cat tomou uma expressão que era uma mistura de desespero e exaustão, levando uma mão a testa dramaticamente e fechando os olhos, com os dedos na lateral da cabeça como se estivsse sobre estresse intenso. Tony revirou os olhos.

— Eu não sei se eles vão cair nessa. Em primeiro lugar, eu, me inscrever para um projeto de estagiários das Stark Industries? Eles vão me comer viva!

— Cat, sei que os dois me odeiam e vou ser sincero, eu não dou a mínima – Tony começou a explicar, sentando-se e dando de ombros. – Diga a eles que você está usando isso para subir na vida ou coisa do tipo, essas coisas de futuro acadêmico e tudo mais. Ou seja uma pirralha sarcástica como sempre, eles não estranhar.

A garota ignorou o insulto, mordendo o interior das bochecas e finalmente deu de ombros, sua expressão ainda um pouco incerta.

— E como eu vou explicar que para entrar nesse projeto de estágio eu preciso mudar de escola?

— Você não vai precisar explicar nada, está tudo na carta. Diz que é um dos requisitos e blá blá blá. Então tudo o que você precisa dizer é que isso fazia parte de um dos requisitos e as Stark Industries cuidou de tudo! Confie em mim, vai funcionar!

Cat riu pelo nariz. O jeito como sua expressão mudava rapidamente de incerteza para indiferença não tinha preço – e tudo o que Tony conseguia pensar era que se a garota passasse um tempinho a mais com Natasha Romanoff, talvez pegasse ainda mais suas manias. O jeito despreocupado da menina não disfarçava o fato de que ela estava preocupada com tudo, o tempo todo, e Tony tinha a constante sensação de que qualquer passo em falso ou palavra errada faria Cat fugir como um gato de rua assustado.

A garota tossiu, chamando sua atenção.

— É uma desculpa esfarrapada, mas tudo bem. Você ainda não me disse porque você me mudou de escola.

— Certo, certo. Na sua escola antiga eu não tinha ninguém para ficar de olho em você.

Sua boca se abriu em um "O" perfeito e ela virou seu rosto para o lado como se não acreditasse no que estava ouvindo. Tony podia começar a rir, mas estava ocupado demais tentando manter sua melhor expressão séria paternal. Aquilo era mais difícil do que ele pensava, mas também era um pouco mais divertido do que o esperado.

— Ah! Então agora você tem espiões? Caramba, Tony, você joga baixo-

— Não são espiões! – Ele interrompeu, na defensiva. – É só uma criança, igual a você. Achei que seria bom já que você não tem amigos nem nada do tipo.

— C-como é que você sabe que eu não tenho amigos? – Cat indagou, cruzando os braços desconcertada.

— Porque eu tenho uma espiã russa no meu time! – Ele argumentou, novamente. E então olhou para o lado, falando mais baixo e timidamente – E nós também achamos a sua conta no twitter.

Antes que a garota pudesse abrir a boca para reclamar novamente, ele a interrompeu e continuou falando.

— Quando eu estiver livre para começar o treinamento, eu vou te avisar. Não venha aqui em outros dias porque eu vou estar ocupado, entendeu? – A garota balançou a cabeça, afirmando. – Eu vou te dar meu número, caso você precise de alguma coisa. Mas se você começar a me mandar trotes-

— Vai mandar um robô destruir minha casa?

— Você joga baixo, Catherine – Ele reclamou, empurrando-a levemente para fora da sala. – Vou te mandar o endereço da sua nova escola. Quando você estiver lá, procure por um garoto chamado Peter Parker. E seja legal com ele, ele não é um espião, entendeu?

— Eu sou legal com todo mundo – Ela se defendeu e ele riu, debochado.

— Claro que sim. Agora tem uma surpresinha que acho que você vai gostar. Vamos, caí fora daqui, está te esperando lá embaixo!

16:04, Torre dos Vingadores — New York

Cat entrou em um dos elevadores para ir até o último andar. Era loucura pensar em tudo que estava acontecendo nos últimos dias – era bem mais fácil aceitar que ela tinha conseguido super-habilidades causadas por radioatividade do que acreditar que estava aceitando ajuda de Tony Stark. Não que ela odiasse Tony – é só que ela pensava que ele era um idiota superficial movido a dinheiro. Não que ele não fosse, mas agora era um idiota superficial movido a dinheiro que estava a ajudando, e isso ela não poderia recusar.

Ela sabia que Bailey e Glenn, seus guardiões por lei, não gostariam nem um pouco da ideia da garota estar envolvida com as Stark Industries – não depois de tudo que eles falavam. É claro que os dois culpavam Tony pela morte de seus dois melhores amigos, mas seu pai se importavam muito com o trabalho deles. Aquelas pesquisas, aqueles estudos – eram a vida dele. Sua mãe fora arrastada nessa história por questão do destino, estando no mesmo carro no dia do acidente, apenas.

Mas a garota se perguntava se seu pai se arrependeria se soubesse que depois de tanto trabalho, tudo o que conseguira foi um acidente e uma filha radioativa. Ah, que vida adorável. Ele se importaria em saber que sua única filha arriscava sua vida pelas ruas do Brooklin para salvar pessoas desconhecidas, em troca de só um pouco de adrenalina e emoção na sua vida anteriormente monótona e segura? Não sabia responder e não tinha tempo para pensar.

A porta do elevador se abriu. Do outro lado, uma ruiva a fitou, um sorriso no rosto.

— Nat? – A garota exclamou, sorrindo, saindo do elevador e indo à encontro da ruiva, abraçando-a. – Não acredito que é você!

— Você cresceu, Kittycat! – A jovem fez uma careta para o apelido que a agente havia dado à ela quando era criança. – O que está fazendo aqui?

A menina arregalou os olhos por um fração de segundo, olhando para o chão procurando por alguma desculpa.

— Eu estou brincando. Sei o que está acontecendo com você – Natasha revelou, e a mais jovem sorriu aliviada. – Aliás, foi eu que percebi que era você pelas filmagens e contei ao Tony. Você devia ser mais cuidadosa, Ocicat. Óculos e um lenço amarrado no rosto, sério?

— Ah, isso... é, eu sei. Mas eu estou trabalhando nisso e Tony disse que vai me ajudar.

Elas começaram a andar em direção à saída do prédio.

— Tony te contou que eu vou ajudá-lo a treinar você?

Cat olhou para ela, não acreditando. – É sério?

A ruiva acenou com a cabeça, afirmando. Cat sorriu. Ser treinada pela Viúva Negra, também conhecida por ela como Tia Nat quando ela era criança – porque elas eram próximas assim – era provavelmente a melhor notícia do dia. Quase balanceando a tragédia que era Tony ter a trocado de escola, o que fora uma total falta de bom senso e ousadia da parte dele, mas ela estava tentando superar. Haviam coisas mais importantes com o que ela tinha que se preocupar.

Sua vida já tinha mudado muito desde que começara a sair de noite, combatendo crimes. Tudo bem, ela não fazia um trabalho tão grande quanto o do Homem-Aranha, e com certeza não era tão boa e sigilosa quando o homem vestido de Demônio que lutava nas ruas de Hell's Kitchen. A verdade é que ela morava em Bushwick, um bairro no Brooklyn cheio de pessoas velhas, jovens artistas e paredes grafitadas, que era relativamente quieto quando comparado com outros em New York, mas mesmo assim, haviam crimes – roubos, assaltos, assédio, vandalismo. Coisas que ela repudiava e agora tinha uma chance real de ajudar. Podia reagir, fazer alguma coisa para mudar aquilo.

— Vamos nos divertir, mas não pense que vou pegar leve com você – Natasha comentou e Cat sorriu, concordando. A ruiva abriu a porta de um carro. – Entra, vou te dar uma carona. Ainda mora na casa daqueles dois idiotas, certo?

— Como se você não soubesse, Nat – Cat riu, entrando no carro. – Pode me ensinar a disfaçar hematomas usando maquiagem? – A garota perguntou, em voz baixa, fazendo uma careta quando tocou num pedaço do seu rosto que ainda estava levemente dolorido de uma de suas aventuras de alguns dias atrás.

Natasha riu, olhando para a garota. Ela podia ser a nova vigilante de Nova Iorque, podia ter habilidades sobre-humanas e lutar contra o crime, mas ainda sim era uma garota relativamente inocente. Treinar Catherine e ensiná-la o que sabia não fazia parte dos planos de Natasha para a garota. É claro que ela planejava ensiná-la a se defender - no mundo em que viviam, todos deviam saber se defender. Mas ela realmente achava que a garota teria uma vida normal e segura vivendo com as duas pessoas mais comuns da cidade – longe de Indústrias Stark, longe de heróis e mutações causadas por radioatividade. Longe de ter que lutar por todos porque resolveu que lutar pela própria vida não é o bastante.

Esse definitivamente não era a vida que Natasha imaginara para Catherine Burgundy. Mas se era a vida que ela tinha escolhido ter, então era seu dever ajudá-la. A agente sorriu, convencida, olhando para a garota sentada no banco ao lado.

— Eu posso te ensinar a matar um homem usando só um batom e um espelho.

É, aquilo seria divertido.