OCICAT: The Ordinary Lives

part I - all cats are grey in the night


01:45, Torre dos Vingadores – Nova Iorque

Tony agora estava determinado a ir para o seu quarto depois da sua pequena conversa com Natasha, andando com passos largos e rápidos pelos corredores, esfregando os olhos, mais cansado do que nunca – e tentando não pensar em tudo que estava acontecendo. O resto dos Vingadores estavam escondidos, ele ainda não tinha superado todos os problemas com Pepper – obviamente – e agora essa história de Ocicat.

Ele tentou prometer a si mesmo que não se importaria com isso, mas era difícil. Sabia que ficaria acordado até de madrugada, como sempre, provavelmente trabalhando em algo novo para se distrair. Sabia que não teria uma boa noite de sono, mas esperava tentar descansar antes de acordar no dia seguinte e ter que se preocupar com tudo novamente.

Ele devia estar um pouco mais preparado.

— Boa noite, chefe.

Ele suspirou.

— Boa noite, FRIDAY.

Tony continuou andando até que a voz retornou.

— Tem alguém na sala de reuniões principal. Sem perigo detectado – Tony parou.

Ah não. Eram quase duas horas da manhã, ele tinha tido uma noite – ano – péssimo e tudo o que queria era o mais simples que poderia ser. Arranjar problemas naquela hora era a última coisa em sua lista de desejos, mas se alguém tivesse invadido então ele teria que lidar com aquilo do jeito difícil.

Ele andou novamente até a sala de reuniões, seus passos determinados disfarçando o cansaço e a completa falta de interesse em tudo que podia estar por vir – e tinha uma arma na manga – literalmente – caso algo desse errado.

Mas quando ele entrou na sala, só se deparou com uma figura que tinha suas costas virada para ele, parada do outro lado. Os cabelos vermelhos não mentiam.

— Cat? – Ele perguntou, parado em frente a porta.

A jovem virou-se lentamente, olhando para ele. Não parecia nem perto de estar impressionada por ter sido pega invadindo a sala de reuniões dos Vingadores. Ela só estava ali, parada na frente da parede de vidro, a linha do horizonte da cidade dando à ela uma estranha iluminação azulada. A garota sorriu.

— Oi, Tony.

— Faz um tempo que não nós vemos – Ele deu alguns passos para frente, lentamente, como se a menina fosse um animal selvagem prestes a fugir a cada movimento brusco.

— É, eu acho.

— Pode me dizer por que você invadiu minha casa no meio da noite? – Ele perguntou, encostando-se na mesa. Ela merecia levar um sermão, com certeza, mas ele estava cansado demais para tentar parecer bravo e a sua curiosidade falava mais alto. – Além disso, como é que você entrou aqui?

— Eu só pensei em dar uma volta, ver como as coisas estavam... não esperei que você voltasse tão cedo.

— Que surpresa. Você cortou o cabelo.

— Já fazem três anos.

O homem revirou os olhos.

— Bem, não é minha culpa. Eu sou um cara ocupado e você está sempre livre para vir visitar – obviamente não precisa ser convidada. Você recebeu o presente que te enviei no seu aniversário?

— Sim, Tony, obrigada. Não sei como eu vou usar aquilo, você podia ter só me mandado um cartão.

Tony cruzou os braços, visivelmente ofendido.

— Eu te presenteei com um avançado computador científico de última geração e você me pede um cartão?

A garota olhou para baixo, dando de ombros.

— Eu não sou uma cientista.

— Obviamente não.

Ela suspirou. Os óculos de proteção redondos estavam em sua cabeça, puxando o cabelo para trás. O lenço vermelho estava amarrado no pescoço, numa posição perfeita para que a garota pudesse rapidamente puxar sobre seu nariz e cobrir metade de seu rosto. Ela usava um casaco verde-exército e usava luvas. Como ele podia ter deixado aquela escapar?

É claro que ele não perdia seus dias vigiando a garota – além de não ter tempo para isso, também não tinha interesse. Natasha, por outro lado, parecia ainda ter certo afeto por Catherine, e como qualquer boa espiã, ficava de olho nela sem ser percebida. É claro que Natasha teria percebido antes do que ele a identidade de alguém com um nome tão óbvio quanto Ocicat, mas aquilo significava mais confusão para que ele tomasse conta. Se a garota estava se colocando em perigo por aí, aquilo não era problema dele

— De qualquer jeito, foi bom ver você, Tony – Ela interrompeu seus pensamentos, acenando uma mão, seu tom de voz sarcástico sendo abafado pelo lenço vermelho que puxara sobre a boca. – Eu tenho que ir agora.

— Você não está levando nada com você, está?

Cat parou, cruzando os braços e semicerrando os olhos – parecia ofendida e ele levantou os braços, rendendo-se.

— Levando? Eu não sou uma ladra, Tony!

— Ah, eu não sei! Desde que você começou com toda aquela historinha de vigilante é bom desconfiar, não é, Ocicat?

Ela arregalou os olhos por uma fração de segundo, somente o bastante para que ele conseguisse perceber. Seu rosto tomou uma tonalidade mais pálida e ela permaneceu imóvel, mas um sorriso desconfiado apareceu em seus lábios rapidamente. – Como sabe que sou eu?

— Eu tenho uma espiã russa no meu time e esses seus óculos de proteção baratos e cachecol são o pior disfarce que eu já vi.

— Eu estou trabalhando nisso – Ela virou-se novamente para ir embora, mas ele a segurou pelo braço.

— Isso é perigoso, Cat!

— O que? – Perguntou, irritada.

— O que você está fazendo! Vai acabar morta.

— Até parece.

Tony definitivamente não estava com paciência para lidar com rebeldia adolescente típica às duas horas da manhã depois de uma reunião estressante. Não mesmo.

— Ah, vamos lá, como é que você faz isso, Cat? Eu vi os vídeos. Não é algo que você aprende da noite para o dia.

— Você ficaria surpreso.

— Quem está te treinando?

— Ninguém está me treinando!

— Então o que aconteceu?

Ela fechou os olhos, levando os dedos à lateral de seu rosto como se todas as perguntas de Tony estivessem dando uma dor de cabeça. “Bem-vinda ao meu clube”, pensou Tony, que agora estava sentado em uma das cadeiras com os braços cruzados, esperando respostas.

— Se eu soubesse eu te contaria, tudo bem? Mas eu não sei! Não tenho a mínima ideia.

Tony puxou uma cadeira, apontando para que ela se sentasse. A garota esperou alguns segundos, ele continuou a encarando e ela rolou os olhos, andando até a cadeira e sentando-se na sua frente. Tony sorriu triunfante, mentalmente é claro – já tinha sido um adolescente chato, também. Sabia como lidar com essas coisas.

Enquanto isso, a postura de Cat tinha mudado completamente. Ela tinha os braços sobre a mesa, olhando para baixo, a testa franzida e a respiração pesada.

— Eu só sei que um dia eu acordei e as coisas tinham mudado, tudo bem? – Ela começou, seu tom de voz baixo lhe dava agonia. – Eu consigo... consigo escutar melhor. Consigo ouvir coisas há quilômetros de distância. E fazer todas aquelas coisas que eu não podia antes, estou mais rápida... forte. Eu não sei o porquê.

Ele descruzou os braços, olhando para os lados. Algo de errado estava acontecendo – algo muito errado. A lugar estava em silêncio, exceto pelo baixo murmurinho da cidade ao seu redor, o que dava ao momento certa estranheza e privacidade.

— Você quer saber? – Ele perguntou.

— Como assim? – A garota levantou os olhos, uma expressão confusa em seu rosto.

Tony levantou-se, andando ao redor de sua cadeira e parando ao lado da mesa.

— Cat, eu posso te ajudar. Nós podemos descobrir o que está acontecendo com você.

— Por que eu precisaria da sua ajuda? – Ela perguntou, se afastando um pouco.

— Por que você- não, nós precisamos saber o que está causando isso. Pode ser perigoso, e se você está em perigo então eu não estou cumprindo a promessa que fiz ao seu pai.

Ela riu pelo nariz, zombando – olhando para ele como se ele tivesse contado a pior piada do mundo.

— Como se você fosse o melhor em cumprir promessas – Ela suspirou. – O que você sugere?

— Doutor Banner pode nos ajudar. – Ele sorriu, e então parou. – A Bailey sabe disso tudo?

— O que? Não, claro que não! – A garota arregalou os olhos, balançando as mãos. – Eu não sei nem como contar a ela. Aposto que ela não acreditaria em mim, de qualquer jeito.

— Ótimo. Venha aqui depois da escola, eu chamarei o Doutor Banner e nós vamos ver o que podemos fazer. Se o que for que está acontecendo com você seja perigoso, é melhor descobrirmos logo.

Ela assentiu, olhando para seus pés como se tentasse entender tudo o que ele tinha dito tão rapidamente. Então a garota parou, olhando para ele – e ele não conseguiria descrever o olhar em seu rosto. Era uma mistura de incerteza e medo.

— Você está querendo me ajudar por causa do meu pai, não é?

Ele suspirou, cansado.

— Eu fiz uma promessa muito tempo atrás. Estou tentando cumpri-la.

— Certo – A garota acenou, virando-se.

— Cat? – Ela parou, olhando para ele. – Da próxima vez, entre pela porta.

Ela sorriu, revirando os olhos de brincadeira e acenou com a mão, sumindo pelo parapeito da janela. Ele não se preocupou.

Do lado de fora, a cidade permanecia barulhenta e reluzente no meio da madrugada, como em qualquer outro dia comum.