'Mas um caminhão chega, abarrotado de sangue impuro, almas sujas e pessoas imundas.' Esse sempre, vai ser o pensamento de meu pai. Ele crê, que somos seres divinos, puros e intocáveis, e eles, os judeus, a escória da humanidade. Diante dessa visão, nossa família veio parar no Dachau, onde eu vejo homens, mulheres, crianças e idosos, sofrerem nas mãos de meu pai, Herdoc.

Este caminhão veio com pessoas mais novas, pois os idosos, que vieram antes não serviram de nada para o trabalho, aqui na fazenda, segundo meu pai. Eu consigo perceber de longe, o sofrimento e o medo, pelo qual estão passando agora.

— Anne! Seu pai está nos chamando! Venha!

É agora a apresentação, da família exemplar alemã.

Eles são realmente mais jovens, do que os outros, mas sentem o mesmo pavor. O meu pai e minha mãe se sentem superiores diante deles, mostrando todos os seus filhos, como se eu e meus cinco irmãos fôssemos, até mesmo, filhos de Hitler. Toda essa situação, me dá uma angústia enorme. Eu não consigo olhar dentro dos olhos deles, sinto a ligeira impressão de que terão o mesmo fim de seus escravos anteriores.

Minhas pernas pedem para o meu corpo, erguê-las e fugir, mas o cérebro ordena que não, pois ainda sente o que aconteceu da última vez. As marcas deixadas das últimas chibatadas ainda estão nas minhas costas, pernas e até mesmo nos braços e ainda doem.

Mas é apenas um passo, uma iniciativa, para eu sentir o toque da liberdade, que a cinco anos não respiro. Diante desse pensamento me liberto, acompanhado dos gritos de minha 'maravilhosa' família.

— Anne, volte!- Posso escutar os passos de meu pai e gritos de rebelião de seus escravos. Mas estes sons se emudecem de repente, a minha visão cega e caio, lentamente, até a escuridão me tomar para si.